Nas voltas da vida, a dar o galope com meu cavalo negro,
entre as estradas que se abrem em meu sonho e minha canção visionária. A
caravana avança sobre os castelos de mármore, sobre as pedras jogadas na beira
do rio castanho, na flor ametista eu tenho meu recanto e meu refúgio, as letras
se formam no caudal das vinhas e de todo este ópio que delira calmamente sobre
as finesses da papoula. O poema, este ser estelar que gira com fúria, no
entanto, sempre pousa delicadamente depois que se esgota em sua coda, como na
saciedade depois do orgasmo, uma calma búdica de quem está completo.
O poema tem um certo rigor nas astúcias, uma manha honesta
que nada sabe e tudo faz, como aconselha toda boa sabedoria prática de ação
direta, e todo ser que realiza todas as suas possibilidades, sem regatear seu
destino e sua vontade que deve ser soberana de sua vida. O poeta é este
tradutor de enigmas, este faz-tudo que em poema escrito condensa um mundo
inteiro de noções, sua cavalgada vai a seu termo, em seu fim glorioso de vitória,
sua caravana luminosa de sol, nas voltas da vida, no poema que circula seu
espaço de ação vitoriosa, um lema e seu ás na manga, sua filosofia de vida,
vencer com o seu dom de máquina e de tear firme e resoluto, com a certeza do
amor vigoroso que não enfraquece.
A força de sua vontade soberana, seu tear de máquina que não
cede ao holocausto da loucura, que não morre exangue na batalha, o poema em seu
poeta, o poeta em seu poema, a vida em uma dose de sonho que avança implacável
sobre as horas dos dias de luta, a cavalgada que este poema dá sem hesitar
diante de um grande caminho que se abre em sua fortuna, sua Terra e sua cidade,
seu campo e sua tarde, sua manhã e o descanso em sua noite estrelada, não se
esqueça, o poeta tem todo este poder de fogo como um grande épico das batalhas
campais pela vitória, a caravana avança contra os dentes da morte, o poema não
cede, não regateia, vence, e sua filosofia é a glória de seu caminho livre, a
liberdade em seu poema, a poesia em sua liberdade.
O poema se abre em flor com um dom mesmerizante que decifra
sete céus na nota de febre de versos que se derramam na música que corre como
vinho, na praia de seu flagelo ele vive e entende o sorriso na arma derrotada,
ele, o poeta, entende de enigmas, de linguagens cifradas, de brumas
subliminares, de hieróglifos infensos à razão, entende da linguagem dos loucos,
dos bêbados, das putas, dos insensatos, dos mendigos, dos frenéticos, dos
furiosos, entende dos fracassados, entende sua vitória ao ver a desdita dos
românticos exaltados, ele lê todos os códigos, já experimentou todos estes
venenos, ele retira as quintessências depois de muitas doses de veneno e de
antídotos, ele estuda os meandros da loucura e da sabedoria, por conhecer os
venenos, lhe depreende os descaminhos, por agora conhecer as quintessências,
sabe do bem viver e abraça o universo com toda a sapiência de quem mergulhou
nos bas-fonds e saiu vivo, o poema avança, em sua cavalgada ao destino de sua
vitória.
A caravana avança, rumo ao seu ato de artista, na hora deste
dia imenso, que o poema tem por estar livre em sua vontade soberana, o poeta
monta em seu cavalo negro, avança pela estrada sem fim, anda e corre pelo vasto
campo florido, realiza seu graal e decifra seu próprio enigma, estuda a sua
própria alma, desce ao inferno, sobe ao céu, e anda sobre a Terra com seus pés
firmes e uma fortaleza de quem plantou a sua sorte na seta certeira de um
coração nobre, seu poema é seu escudo, seu poema é sua sabedoria, a caravana
avança, o destino do poeta é escrever.
Gustavo Bastos, 30/06/2020
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