PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

MISTÉRIOS PROFUNDOS

Senhor dos espaços, dos sons,

dos mares, dos sonhos,

senhor da realidade,

senhor dos rios, 

das esferas,

senhor das dores

e dos gozos,

da vida em todas

as suas dimensões,

vai ao norte, ao sul,

com toda a sorte

do mundo, 

me dá um oeste,

um leste,

todo o meu ocidente,

a firmeza de meu oriente,

e toda a bússola 

e astrolábio

para a fortuna

de minhas 

escolhas,

com toda bruma

e orvalho

e as flores

que cobrem

o passeio,

como o caminho

da felicidade.


10/02/2022 Gustavo Bastos 


ODE À INFÂNCIA

Rodopia o pião até tontear,

rima atravessada em toda

a rua é uma arruaça,

pois na lavada da pelada,

quem não joga nada

fica com cara de cu.


Na rua se chama

pelo apelido, se chama

para a noite e para o dia.


Na rua da amargura,

na rua da alegria,

uma prece para 

a molecada,

sem celular

na cara,

molecada

enlameada,

na febre

dos girassóis.


Eles vão

como cantoria,

como folguedo,

numa colônia

de férias.


10/02/2023 Gustavo Bastos 


LEITURAS DO MAR

Lendo as ondas eu pude ver

toda a gama de possibilidades,

o mar alto, aberto, em que se 

contempla a tempestade e o sol,

a espuma, a estrela, a lua,

se ouve o marulho, 

se sente a maresia,

em que as ondas passam 

e a arrebentação não perdoa, 

ensina, e a descida no lip

caudaloso, perfeito,

dropa como boas escolhas,

deslizando a elegância

do universo e do mar,

da vida plena como

um poema, dos 

mil sóis de verão

em que descansam

os meus olhos,

vendo tudo e 

sentindo

o todo.


10/02/2023 Gustavo Bastos 


POEMA MANIFESTO

Manifesto dos poetas, 

a flora entra ao campo

em seu horizonte verde,

do chá da mandrágora

e dos sonhos de beladona,

faz meretriz a dama 

que voa na fúria noturna.


Este manifesto escrito

sob a farra da fortuna,

na febre carmesim,

no conforto do mausoléu,

com o anfiteatro borbulhante

com faunos e vinhos

e toda a saraivada

de bardos, entre os 

cânticos do coro

e a coda do corifeu.


Este poema é emblema,

seu manifesto é todo

o passaredo na nuvem

que sonhava solar.


10/02/2023 Gustavo Bastos 


HERANÇA DOS VÍCIOS

O vinho da prece me amortece

a queda, pois a cada dia o mormaço

plana em névoa e os ares adensam

como fumo e jogatina na boêmia.


Um bêbado foi expulso do pub

levando pauladas, sua órbita

voou, sua coluna estalava,

e a algazarra era furiosa,

insensata, não havia

mais esperança

na noite varada

da madrugada.


Temos estes martírios

ao sol da aurora,

em que o canto 

dos ébrios 

cultuam

um sangue 

fervente,

de genética

canalha,

com os vícios

bárbaros

de seus 

antepassados.


10/02/2023 Gustavo Bastos 


CONVOCAÇÃO DOS FOGOS

Sentindo o aperto no peito,

os ossos tremerem e baterem,

e o sono invadindo qual Morfeu.

Contudo, caminhemos.


Se tem na carta náutica

um atlas pesado, e o olhar rígido 

diante da forma bojuda do tanque,

da armada, e de toda a fúria

em que a pele trisca

no arame farpado.

Contudo, caminhemos.


Na ânsia, no estado de morte,

com o coração explodindo,

o suor gelado, e no frio,

com os vícios que se atropelam.

Contudo, caminhemos.


Como está o poeta?

Não havia morrido?

Oh, temos este caderno

carcomido, não é?


Pois, uma letra do povo

está assinada

com o sangue

da caneta.

Um azul sombrio,

espatifado de seu

cano estourado.


A poesia é esta

chama indômita,

que a todos 

conclama : 

“Vamos ao mundo!

Vamos à vida!

Nada restará

à flor e aos

cacos.

Toda poesia vive

e morre

vendo

dor e amor

em tudo.”


10/02/2023 Gustavo Bastos 


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

OS NÚMEROS DA FACHADA

Fachada ridícula, 

o teatro dos bonecos 

fazia seus  

números patéticos,

suas momices 

de entrudos

aparvalhados.


Rezavam os néscios,

olhavam para Deus,

para cima, ao céu,

como se a Criação 

tivesse sido

feita por um 

panaca.


06/02/2023 Gustavo Bastos 


SÉCULO DO TERROR

Foi assim o terror da meia-noite

em que a espada de Átila ceifou

a vida dissipada, de carteados

romanis, de festões, de túnicas

folgazãs, e o santuário embebido

em vinho de odres rabiscados.


Já vai toda a turba ao 

Campo de Marte,

com os ritos de que Júpiter 

brotava como o senhorio

das centúrias que 

avultavam com cânticos

herdados dos espartanos.


Tais os temidos lacedemônios

de invasão dórica,

como se matassem

hilotas ao fio

da espada,

hunos eram 

da ira os

heróis. 


06/02/2023 Gustavo Bastos