Flores de chumbo
na máquina hospitalar
das dores e avarias
quando
o homem
de mil faces
era um só
Flores da penumbra
cor de câncer
no ar da névoa passaredo
louco de fumaça
Alertei as autoridades
da invasão das ruas
por carros sem freio
e pedestres com asas,
avisei do infortúnio
das mil vozes
de uma só boca,
das mil luzes
de um só iluminado,
das infinitas estradas
do cérebro em convulsão,
do ás e do coringa
na manga de um idiota
desesperado,
das lutas alhures
que o poema
vingava
na morte apedeuta.
Flores de chumbo
no nióbio das
máquinas de toque
à clara tela
das alienações,
nações conectadas
participando
de um nada
sem comunicar
o ser das coisas,
mas o jogo insalubre
do aparente,
e eu num acorde vital
com rimas de espora
e cânticos de coices
pelo céu mal visto
como um cogumelo mágico
na mente-espelho
sem sinal
para o sentido da vida,
quando os cavaleiros
invadem
a cor vermelha
do meu sol
na sina industrial
de um cinza
que não existe
senão no fogo,
e a viúva lamentando
a terra devastada
de todos os sonhos
da humanidade.
Chumbo fundo
na flor partida
de pétalas
pelo infinito
do finito do corpo
e a alma-ilusão
de uma dakiní
desafiando
devas
na cor de som
pelo céu
e o espírito infeliz
da negra dor
sem corpo
como um grito
corroído
de poesia
potente
como o sol.
02/08/2012 Libertação
(Gustavo Bastos)
Adélia Prado Lá em Casa: Gísila Couto
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