PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quarta-feira, 4 de maio de 2011

continuação

LIRA DA CONSOLAÇÃO




O nosso amor não dura muito,

mas nós também duramos pouco.

A vida é trânsito fortuito –

um gesto nunca terminado –

um despertar desesperado –

um grito rouco.



Em nosso amor, instante-e-instante

é o que nós temos com certeza.

Também na vida a hora bastante

é a que se vive no momento:

nela é que está (riso ou lamento)

a vida presa.



Mas, quando terminar e tudo

for só lembrança do passado ...

Há um consolo: só e mudo,

na madrugada-nostalgia,

terei o amor de cada dia

rememorado.

continuação

SONETO DO AMOR INSUPORTÁVEL




Trago-te em mim por onde quer que eu ande.

Acordado ou dormindo, estás comigo.

Ilha e mar, fim de estrada e recomeço

__ és o amor que não para e não descansa.



Vejo-te sempre, em cada dia e instante,

como os loucos e os ávidos e os santos.

É um amor de procura e de querença -

cansado sim, mas nunca satisfeito.



E repito a mim mesmo, e com verdade,

que esse amor dói pela razão bem simples

de ser maior que o peito que o carrega.



E um dia, sem poder mais comportar-se

como os amores vãos de todo o mundo,

rebentará, matando-me em segredo.

continuação

TEMPO E AMOR




Nossa vida é agora. Não tem ontem

nem amanhã. Enquanto o tempo passa,

estaremos vivendo cada instante.

Olhos nos olhos, mãos nas mãos, amando.



Que os outros pensem no futuro ou sofram

com o passado: nós dois sabemos que o hoje

é tudo quanto existe. E não perdemos

o que é pelo que foi ou será. Bastam



este instante e esse instante e aquele

instante.

Pois disso é feita a eternidade, nunca

do que hoje não existe. O quando é agora.



E agora nos amamos. E esse agora,

que se repete, nos verá unidos –

graças ao nosso amor, que nada espera.



1977, 12 de janeiro.

continuação

SONETO DA DEFINIÇÃO




Este amor, e não outro, é como o quero:

imperfeito, mas sempre verdadeiro.

Amor-gente que entrega por inteiro

aquilo por que esperas e eu espero.



Nossos gestos de amar nascem do fundo

de nossas almas ávidas e ardentes.

Não corrigimos erros evidentes,

pois nosso tempo é um só; não tem segundo.



Entretanto, se aos olhos das pessoas

que olham o amor dos outros e não amam

nossas entregas não parecem boas,



eu te digo que feches os ouvidos,

pois este amor é o sonho dos que tramam

morrer de tanto amar, e enternecidos.

continuação

COTIDIANO




Quando de novo os olhos tristes,

meus olhos tristes se puserem

no corpo límpido em que existes

e a ti o meu amor disserem –



Quando de novo perturbada

de mim ouvires o que digo

do fundo da alma transtornada

palavras deste amor que abrigo –



Quando de novo num carinho

as minhas mãos prenderem loucas

os teus cabelos negro arminho

para o encontro de nossas bocas –



Tu saberás de novo o quanto

E há quanto te amo, minha Amada:

__ És verdadeira como o pranto

e terna como a madrugada.