PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

FLORES FINAS

[soneto decassílabo heroico]

Os abismos que choram pelo campo
vestem o azul no prado que vem doce
e o limpo dia vai vivo como fosse
a rima certa no convés quebrando

Teu frio sonho de cais tem os temores
que sorriem nas livrescas canções livres
e o canto da verdade em que tu vives
não são claros espantos sofredores

E os dias em liberdade são fúrias minhas
como o bom temporal nas fundas vinhas
E todo o campo e luto frio da dor

Quem mais a poesia grita nas ondinas
com o tédio do puro sonhador
é tão poeta que rima flores finas.

16/09/2013 Sonetos da Eternidade
(Gustavo Bastos)

DEVORANDO SAL

Devorar o silêncio no mar de sal,
cai o relógio matinal na vida
dos asseclas de uma dor profunda.
O ar se descabela na flor suada,
eu tenho os frios campos
para explorar.

Nas têmperas do céu azul,
vem o caleidoscópio
com olhos arregalados
sucumbir como fera atacada
nos altos cimos da montanha.

Frio desdém do poeta e sua ruga.
Convés de antigos corações
saboreia o pente da onda
com a espuma flutuada
em noite suja
de sexo na areia
com os karmas desnecessários
de um levitador
em chamas.

Frio tempo dos capitais multiplicados,
ouço a sinfonia no horizonte
como uma gota no oceano
da paixão.

16/09/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)

FORMAS PUERIS

A boca úmida sorri
nos instantes da carne.

Pelo tom seco da febre romântica,
os capatazes sonham
loucas românticas.

Os silêncios da carne
se fazem verbos
aos olhos
que veem
na noite
dos poetas
o sino
e a flor
nas amêndoas
da paixão.

Com a rotina das estantes
se organiza
na planta dos pés
os rios de amor
no dia de verão
dos topázios
que sorriem
com o fogo de bebida
do espanto enfurecido.

As almas cantam sem dor
com caldo da boêmia
sob a chuva mortiça do tempo.

Os canalhas cantam
com seus cigarros
no canto da boca.
As mulheres quicam
pelas espadas arrotadas
no pub de fumaça
que some
nos olhos
da noite.

Os temas se encantam
pelos risos que ferem
um triste sonho
no canto escuro
das salas
de fumaça
que queriam
ser o sol.

Na onda batismal
do prenhe fogo de poder,
acordam sonhadoras
com carne de carnaval.
E a noite se vai,
como a manhã nasce.

16/09/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos) 

domingo, 15 de setembro de 2013

ESTADIA DOS TRÓPICOS

A estação dos trópicos
fervilha de romance.
Na noite, os cantores de terno,
e as damas de fogo,
se encontram
e todos vão ao bar
caçar a estrela chuvosa
em jazz louco de terror.

Nas notas febris do coração
os dardos são lançados,
caem num poço profundo
os bêbados pela rua astuta.

Os demônios se vão,
os anjos se calam.
A noite é dos homens e das mulheres
na selvageria destes trópicos
sem razão.

15/09/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)

SEARA SOBRENATURAL

Partes de mim são canções,
outras lamentos.
Renasci na felicidade potente
de vencer os espectros da dor.
Planto a semente vindoura
com o vinho nas mãos da sorte.

Quero a flor da litania com o sol
em teu rosto.
Fervo o silente campo
nas ondas atávicas
de um sonho.

Os cristais já se quebraram
todos um dia,
mas o coração ferrenho
duro e terno
são a água de maestria
e uma pedra bem polida.

Dançam os selvagens
no mar da tarde.
Os cavalos sonham
que são deuses
quando correm
pelos campos.
E o poema acorda
na seara dos tempos.

15/09/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)

LUZ POTENTE

A luz estala no peito juvenil,
flor da idade em sangue e fúria.

Verte teu sorriso sob o abismo do sol.
As lutas travadas, com o sino atávico,
retomam versos de luto e vinha sóbria.

Os versos finais caem da catacumba,
os versos da sede caem de fome e bruma.

Vejo os olhos concisos do mártir.
As luas estouram sonhos
no cais mais frio
e o universo cintila
poema rijo e filosofia.

Mente o silêncio da mancha espectral.
Tuas sandálias me levam ao vitral,
santos humildes corroem o poço da salvação.
Vejo os dias manchados de paz e sal.
Nesta neve da noite os dias são sombras
no palco da dor de um vampiro.

Mas o ópio serve ao caos
como a flor à chuva.
Penso em poemas vertidos
na areia como o drama principal.

Levo as ondas na senda dos santos.
As trevas renascem do inferno
e o céu poderia ser rubro
se o ataque fosse total.

Gigantes acordam na noite.
A selva dá seu pulo na dor do ferro.
O ópio cintila na sevícia do poeta.
Os navios vão embora no horizonte,
a erva seca nos dentes da miséria.

Nas sombrias noites do inverno,
o sal descia nas ventas do dragão,
os risos subiam no rito fundante.
Os ritos, na cruz e na tumba,
ferviam nos espantos de loas
pelo tempo com o relógio quebrado.

Vejo o sal com o poema
ao mar na paz bruta
de um verso escarlate.
O tempo é o abismo sonhado
na flor do eterno
em todo coração.

15/09/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)  

A GANGUE DE HOLLYWOOD

"esta história é fascinante, é o exemplo extremo do que é a vida em Hollywood"

   A jornalista Nancy Jo Sales fez a reportagem "The Suspects Wore Louboutins" (Os suspeitos usavam Loubotins) para a revista Vanity Fair. Seu tema foi a história que ficou famosa de uma gangue de jovens adolescentes, que se formou nos arredores de Hollywood. A gangue, que ficou conhecida como Bling Ring, reunia, principalmente: Rachel Lee, Nick Prugo, Alexis Neiers, Diana Tamayo e Courtney Ames, dentre alguns outros.
   Rachel Lee foi a cabeça principal da gangue, que se especializou em roubar objetos em casas de celebridades de Hollywood. Dentre as vítimas dos jovens estão: Paris Hilton, Lindsay Lohan, Audrina Patridge, Orlando Bloom, dentre outros. Estes jovens fascinados por celebridades faziam parte do Valley, em Los Angeles.
   Nick Prugo, cabeça fraca, conhece Rachel Lee no colégio. Os dois se juntam para praticar alguns roubos, e logo depois, outras pessoas entram no "jogo". Rachel sempre destemida, Nick sempre assustado. O retrato que se constroi com esses jovens, durante a leitura do livro Bling Ring, que reúne esta história, e compila a reportagem de Nancy Jo Sales para a Vanity Fair, e que virou filme agora, pelas mãos de Sofia Coppola, é de uma juventude vazia e alienada, que vê nas celebridades, fonte de fascínio de um estilo de vida que seria a única verdade, ou a única vida verdadeira.
   Os roubos ocorreram entre 2008 e 2009. A gangue se valia do descuido das celebridades alvo, para então invadirem suas casas, e pegarem objetos de marca ou de valor. Chanel, Roberto Cavalli, Dolce & Gabbana, Versace, Louis Vuitton, Gutti, Prada ... os roubos relatados e reunidos pelo trabalho de Nancy Jo Sales, pela gangue Bling Ring, são a imagem mais medíocre e espetacular da importância dos rótulos e da aparência. A casa de Paris Hilton, um monumento à vaidade, fotos da mesma por todos os lados, e os jovens dentro da casa dela vendo aquilo tudo e extasiados no closet desta celebridade contemporânea, que é um dos novos tipos de famosos de hoje: ou seja, aquela pessoa que é conhecida não por um ofício ou feito, mas por ser apenas celebridade, no caso de Paris, produzida por ser herdeira de uma fortuna.
   Sofia Coppola comprou a história e fez o filme Bling Ring. Realmente, esta história é fascinante, é o exemplo extremo do que é a vida em Hollywood. Os jovens do Valley, e a vida fácil que é vendida nos tabloides, a invasão de privacidade e os realities shows, a fama pelo trabalho ao lado da fama profissional sem ofício, e o sonho dourado de jovens que se exibem para fotos fazendo caras e bocas, que não é muito difícil de ver em twitters e facebooks da vida. O fenômeno contemporâneo de celebrização por si mesma, que se torna o objetivo de muitas pessoas, a cultura pop que tem em Hollywood sua maior expressão. Toda a vaidade e exibicionismo naturais dos jovens ganham um sentido patológico na gangue Bling Ring.
   O que a história da gangue de Hollywood, a Bling Ring, nos ensina, é o seguinte: como a influência desta nova cultura de invasão está disseminada, muitas celebridades, embora se mostrem muitas vezes, tem seu último espaço de refúgio também invadidos, e foi isto que fez a Bling Ring: invadiram o espaço privado destas celebridades, como se fossem um espaço deles, numa mistura explosiva de fascínio, alienação e crime.
   Fica claro que tais jovens viviam pelas aparências. A busca de roupas e joias, o materialismo das It Girls, todo este caldo cultural contemporâneo, que está tomando um rumo nebuloso. A gangue Bling Ring fica então famosa por roubar famosos. Alexis Neiers ganha seu próprio reality show, eles acabam presos, mas ganham notoriedade, conseguem, atavés do crime, renome na fonte: o site TMZ vai atrás deles, a Vanity Fair, Hollywood ganha seus algozes, fãs que roubam ídolos, jovens que são um retrato fiel da classe abastada ou mediana dos arredores de Hollywood, pois, estar perto de Hollywood, é estar mergulhado neste mundo ideal das celebridades até a medula, e no caso da gangue Bling Ring, tal mergulho foi intenso, e que, agora, virou filme e tudo.
   Não há mais escapatória: os jovens da Bling Ring estão famosos, uma história incrível que reúne de forma extrema o resultado de uma juventude alienada e que busca aventura pelo estilo de vida dos ricos e famosos, e que, por não terem outra alternativa para isso, partem para os furtos nas casas de seus símbolos, um modo de homenagem pela apropriação indevida, pelo crime glamourizado num parque de glamour, ou seja, a casa das celebridades de Hollywood.
   Vivemos a cultura do exibicionismo e da vaidade, nunca as pessoas se exporam tanto, e se isso não tem uma medida ou um motivo, cai no vazio patológico de um desespero de reality show, num show do Truman concretizado, onde a invasão se torna método de notícia, e muitos acabam tentando manter tudo isso, mas de forma errada, e quando se perde a medida, temos a caricatura contemporânea: celebridades instantâneas, que depois, se não tiverem algo a oferecer, somem no ar, e ficam gritando pelos cantos atrás de novos quinze minutos de fama. E, na Bling Ring, por mais incrível que isso pareça, o objetivo não era ficar famoso, era ter os objetos dos famosos, o que virou uma bomba de efeito imprevisível.
   A fama chega à Bling Ring, e é bom estar preparado, estas celebridades do furto de casas de famosos de Hollywood juntaram tudo, e agora, num pacote completo, plasmaram a cultura de Hollywood e seu significado disseminado: exibição vazia e fortuna, invasão de privacidade, bebedeiras e drogas, marcas caras, carrões de luxo, casas espetaculares, ou seja, o materialismo total de um mundo que não mais se sustenta, o capital junto com o estilo de vida que a Bling Ring roubou, literalmente, e agora virou filme. A Bling Ring está na História de Hollywood, querendo ou não.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário:
http://www.seculodiario.com.br/12895/14/a-gangue-de-hollywood