PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 15 de outubro de 2016

JOHN KEATS, UM DOS EXPOENTES DO ROMANTISMO INGLÊS – PARTE II

“Keats acreditava na equivalência de beleza e verdade”

O GRANDE ANO
1819 é o ano mais importante da produção literária e poética de Keats, pois é neste ano que aparecem suas maiores obras, exatamente as que na sua posteridade o colocaram no panteão dos grandes poetas ingleses da História. Este período de Keats ganha sua expressão madura, e o poeta está pleno do domínio de sua pena.
Em janeiro escreveu “A véspera de santa Inês”, poemeto que se fez como se fosse uma iluminura, com uma atmosfera de cores que vão ao encontro de uma herança medievalesca. Em março escreveu o soneto “Por que esta noite eu ri?”, fez o soneto “Um sonho”, no mês de abril, compôs “La Belle Dame sans Merci”, os sonetos “Sobre a glória” e “Ao sono”, assim como a “Ode a Psiquê”. Em maio continuou a série das odes, conjetura Robert Gittings que se deram na seguinte ordem: “Ode sobre a indolência” (dia 3), “Ode sobre a melancolia”, “Ode a um rouxinol” e “Ode sobre uma urna grega”. Entre julho e setembro esteve na ilha de Wright, onde terminou a primeira parte de “Lamia”, poema inspirado em Burton, que seguira Filóstrato, e começou a escrever, de parceria com Brown e visando a um possível lucro no teatro, a tragédia de “Oto, o Grande”, e em setembro completou “Lamia”. Ainda escreveu a ode “Ao outono”, com a qual encerrou a série das grandes odes. Leu A divina comédia, de Dante. E ao fim escreveu o soneto “Partiu o dia”.
 A DOENÇA
Em dezembro, sua saúde se abalou, e em 3 de fevereiro de 1820 teve uma hemoptise. Vendo o sangue arterial, percebeu, com seus conhecimentos médicos, que havia recebido sentença de morte. Em 1° de julho, saiu publicado o seu grande livro Lamia, Isabella, The Eve of St.Agnes and Other Poems, inclusive “Hiperíon” e as odes, favoravelmente recebidos pela crítica. Entretanto, sua doença progrediu rapidamente e logo Keats ficou em estado desesperador. Faleceu em 23 de fevereiro de 1821, às 11 horas da noite, e está sepultado no cemitério protestante de Roma, perto da pirâmide de Caius Cestius, afirma-se que num lindo lugar. Próximos dele iriam jazer no ano seguinte os restos de Shelley, que ao ser retirado do mar onde morrera afogado trazia num dos bolsos o livro de Keats.
A CARREIRA
Embora Keats lesse poetas estrangeiros como Dante, Ronsard ou Ariosto, ele se inspirou mais em seus autores compatriotas ingleses, podendo citar aí a constante influência de Shakespeare, além de Spenser e Milton. Sendo Spenser o ponto inicial de sua aventura poética, e o passo seguinte com Milton seria na confecção de Keats de seu “Hiperíon”, poema em versos brancos, com um tom solene e grave, que narra a queda dos Titãs e a ascensão dos deuses olímpicos. Shelley e Byron, por sua vez, tomavam o Hiperíon como a grande obra de Keats, não tendo considerado especialmente as odes, que seriam a grande notoriedade do poeta Keats histórico.
A carreira de Keats teve uma dupla frente: a primeira vai do Endimião aos dois poemas sobre Hiperíon; e a segunda dos sonetos às odes. “Lamia”, por sua vez, tem influência de Dryden na versificação e “A véspera de santa Inês” segue a tradição spenseriana, que teve fonte horaciana. E as grandes odes são, na ordem de composição imaginada por Gittings, a “Ode a Psiquê”, a “Ode sobre a indolência”, a “Ode sobre a melancolia”, a “Ode a um rouxinol”, a “Ode sobre uma urna grega” e a ode “Ao outono” – todas de 1819.
Os críticos se dividem no que diz respeito à preferência de cada um quanto a essas odes: Robert Bridges prefere “Ao outono”, T.S.Eliot a “Ode a Psiquê”, Allen Tate a “Ode a um rouxinol”. A “Ode sobre uma urna grega”, que tem grande importância e destaque na literatura inglesa, fonte de controvérsias, como todo texto vivo é, pode funcionar como uma espécie de Hamlet em miniatura. E isso devido ao dístico da coda, que é, em todos os tempos, a maior controvérsia da obra de Keats que, segundo meu ponto de vista, é uma polêmica mais exaltada do que funcional: “A beleza é a verdade, a verdade é a beleza/- é tudo/O que sabeis na terra, e tudo o que deveis saber.”
Há vários modos de interpretar os versos. Já se disse, por exemplo, que podem ter fundamento platônico – “o belo é o esplendor do verdadeiro” – ou aristotélico. Se o estagirita afirmou que a arte é a imitação da natureza, a arte é verdadeira, enquanto imitação do real; e também bela, enquanto a natureza for bela. Por sua vez, Keats acreditava na equivalência de beleza e verdade, verdade significando “realidade”, como já assinalava Garrod e salienta Bowra. Numa carta a Bailey, de novembro de 1817, gizava ele: “O que a Imaginação apreende como Beleza deve ser Verdade, preexistente ou não. (...) A Imaginação pode ser comparada ao sonho de Adão: este acordou e viu que era verdade”. A Taylor, em janeiro de 1818, escrevia que ao elaborar o Endimião dera “passos regulares da imaginação em busca de uma verdade”. Em carta a George e Georgiana, de fins de 1818, frisava: “Nunca tenho certeza de verdade alguma, a não ser percebendo claramente sua beleza”. Mesmo depois, em carta à noiva, incerto sobre o futuro de sua obra, asseveraria que “amara o princípio da beleza em todas as coisas”.
POEMAS:
ODE A PSIQUÊ : O poema, uma versão em versos do mito de psique, relata seu périplo, esta que humana se torna deusa nas mãos apaixonadas de Eros (Cupido), poema que abre assim: “Escuta, ó deusa, os versos que, sem melodia,/Doce coerção e grata relembrança me tiraram;” (...) “Hoje sonhei por certo; ou contemplei/Psiquê, a de asas, com olhos acordados?” (...) “Numa floresta eu caminhava descuidoso,/Mas de repente, e desmaiando de surpresa,/Vi duas belas criaturas respirando lado a lado/Na relva mais profunda”. O poema tem seu estro na estória entre o ser alado Eros (Cupido) e a migração da alma, que de lagarta, se torna a imagem clássica da borboleta como imagem da jornada espiritual, e que no poema, livre ou aquém das interpretações psicanalíticas, em poesia se dá em forma narrada e versificada, uma vez que aqui é o poema e não a psicologia: “Reconheci o alado jovem; mas quem eras,/Ó afortunada, afortunada rola?/Sua fiel Psiquê!” (...) “Mais bela, embora não possuas templo/Nem altar de flores cumulado;”. Keats percebe que Psiquê é uma deusa tardia no panteão olímpico da tradição mitológica grega, e então o poeta se vê na missão e destino de erigi-la ao cume, no que se manifesta, com o poema pleno na pena: “Ó a mais brilhante! Embora muito tarde para antigos/votos,/E muito, muito tarde para a lira apaixonada e crédula,” (...) “Assim, seja eu teu coro, e erga um lamento/Nas horas em que a noite vai em meio;” (...) “Sim, eu serei teu sacerdote, e erigirei um templo”. Assim Keats faz a justiça poética com o templo imaginado para Psiquê, donde o estro responde com ardor ao mito nunca reconhecido da Antiguidade, que veio a dar cara tardiamente com O asno de ouro de Apuleio: “E para ti lá estará todo o prazer suave/Que pode obter o pensamento umbroso,/Um claro archote, e uma janela aberta à noite/Para que tenha entrada o ardente Amor!”. A coda celebra então o amor consumado, da relva ao panteão, Psiquê está salva, e agora tem o deleite dos deuses.
AO OUTONO : O poema outonal, como um floreio da pena de Keats, não deverá nada à primavera, como se vê na abertura: “Quadra das névoas, do fecundo j`maduro,/Amiga íntima do sol” (...) “Quem não te viu amiúde em meio a tuas posses?/Às vezes quem sai buscando pode achar-te/Sentada, descuidosa, em chão de algum celeiro,”. O outono aqui aparece como ente feminino, de muitas posses, quadra das névoas, sua cor madura é de transição, mas é passagem de deleite, e Keats bem a vê: “Como respingadora atravessando o riacho/Manténs a fronte erguida ao peso de seu fardo;” (...) “Onde as canções da primavera? Onde é que estão?/Não penses nelas, também tens a tua música.”. E a canção, a ode, se fecha feliz, consciente do outono poético que tem tanta música quanto a primavera.
SOBRE O GAFANHOTO E O GRILO : O poema, fruto de uma competição poética, tem resultado satisfatório, se realiza bem, e seu intento tem alcance e clímax, e abre já como o jardim em que o gafanhoto vai se esbaldar: “A poesia da terra nunca, nunca morre:/Quando o vigor do sol languesce a passarada/E se abriga nas ramas, um zizio corre/De sebe em sebe, em torno à várzea já ceifada;/É o gafanhoto, que a assumir o mando acorre”. O gafanhoto ganha ares livres, zizio libertário, fonte que corre, de sebe em sebe, e quem manda no poema, não diga, é o gafanhoto, como bem vês: “A poesia da terra nunca se termina:/Do inverno em noite só, quando com a geada cresce/O silêncio, do fogão se ergue de repente/O zinido do grilo, sempre mais ardente,/E para alguém zonzo de sono ele parece/O gafanhoto em meio à relva da colina.”. A coda eleva o inseto ao cume de uma poesia aparentemente despretensiosa, e com graça e leveza no resultado. Keats faz do gafanhoto um poema bem urdido.
ODE SOBRE A MELANCOLIA : A ode se abre com preocupação, há um tipo de ameaça no ar, e que é a fronteira do Lete, rio do esquecimento, que vai para o Hades (Tártaro) e que tem na melancolia o sentimento predominante, um sentimento que pode ser artístico, mas repleto de veneno e perigo, então vai o poema, sem mais, ao alerta: “Não, não, não vás ao Lete”. E segue com estro, em sentimento terrível, que logo se abrirá para um tipo de esperança: “nem sofras que te beije a fronte pálida/A beladona, a rubra uva de Prosérpina;” (...) “Nem falena-da-morte nem escaravelho sejam/Tua Psiquê lutuosa, nem partilhe o mocho penugento/Dos mistérios da tua nostalgia;/pois sonolenta a sombra à sombra chegará,/Afogando a aflição desperta de tua alma.”. Paixão ou afecção de destruição iminente, mas seu acesso ou surto tem uma cura sutil: “Mas quando o acesso da melancolia/De súbito cair do céu, como se fosse a nuvem lacrimosa/Que alenta as flores todas de inclinada fronte” (...) “Sacia então tua tristeza em rosa matinal,/Ou no arco-íris de salgada onda sobre a areia,” (...) “Sim, no próprio templo do deleite/É que a Melancolia tem, velada, o seu supremo/Santuário,/Embora só a veja aquele cuja língua estrênua/rebente a uva da Alegria contra o céu da boca;/A alma deste provará a tristeza que é o seu poder,/E em meio aos seus troféus nublados ficará suspensa.”. O paradoxo entre a alegria ébria e a melancolia ganham resultado magistral na pena de Keats, o poeta aqui aparece como o tradicional decifrador e entendedor dos sentimentos que veem à alma, e como o exercício precípuo da pena e do estro são imaginar saídas, o poeta, todo poeta, mesmo o mais concreto, está nessa busca do sentido, e para um romântico como Keats, as afecções da alma ganham contorno e finalidade gritantes, o poeta tem em seu serviço conhecer este jogo entre zênites e nadires que estão não só na alma do poeta, mas também em toda alma humana e da natureza.
ENDIMIÃO (I, 1-33) : O poema se abre com verso célebre: “Tudo o que é belo é uma alegria para sempre:”. E o idílio se defronta em seu tecido com forças obscuras, mas a luta empenhada de Keats é a da elevação do ente humano e de sua sobrevivência e boa vida: “Toda manhã, portanto, estamos nós tecendo/Um liame floral que nos vincule à terra,/Malgrado o desespero, a carestia cruel”. Keats sabe das sombras que sempre se insinuam no caminho, mas é destemido, não tem a perder, só a ganhar, e por isso faz poesia: “E todos os sombreados e malsãos caminhos/Abertos para nossa busca: não obstante,/Alguma forma bela afasta essa mortalha/De nossa lúgubre alma.” . A forma bela, seja a poesia ou a própria vida, tem percalços, e o estro junta-se ao dom da vida, força gratuita que rompe as sombras e vê a luz, pois crê como poema e como coração: “E assim também é a majestade dos destinos/Que imaginamos para os mortos poderosos;/Os lindos contos que nós lemos ou ouvimos:/Uma fonte infindável de imortal bebida/Que da fímbria dos céus a nós se precipita.”. E a coda é nada mais que a luta eterna da vida contra a morte: “A poesia paixão, infindos esplendores,/Obsedam-nos até tornar-se luz que incita/Nossa alma, e unem-se a nós de modo tão estreito,/Que existam sobre nós ou trevas ou fulgor,/Devem estar sempre conosco, ou bem morremos.”. Luz e sombra, vida e morte, encontram neste poema o fecho da coda que escolhe a luz e escolhe viver.
POEMAS:
ODE A PSIQUÊ

Escuta, ó deusa, os versos que, sem melodia,
Doce coerção e grata relembrança me tiraram;
Perdoa que eu module os teus segredos
Mesmo na branda concha desses teus ouvidos:
Hoje sonhei por certo; ou contemplei
Psiquê, a de asas, com olhos acordados?
Numa floresta eu caminhava descuidoso,
Mas de repente, e desmaiando de surpresa,
Vi duas belas criaturas respirando lado a lado
Na relva mais profunda, sob um teto sussurrante
De folhas e de flores trêmulas, em sítio onde corria

Um riacho apenas entrevisto.
Em meio às flores quietas, de raízes frias e olhos odorantes,
Azuis, brancas de prata e em púrpura abotoando,
Eles se reclinavam na acamada relva,
Tranquilos respirando, braços e asas enlaçados;
Os lábios desunidos, mas sem terem dito adeus,
Tal como se apartados pelo sono de mãos leves,
E ainda prontos a exceder os beijos dados
Ao madrugar-lhes pelos olhos o auroral amor;
Reconheci o alado jovem; mas quem eras,
Ó afortunada, afortunada rola?
Sua fiel Psiquê!

Ó a mais jovem e visão de longe e mais encantadora
De toda a esmaecida hierarquia olímpica!
Mais bela que no céu safira o astro de febe
Ou Vésper, amoroso vaga-lume dos espaços;
Mais bela, embora não possuas templo
Nem altar de flores cumulado;
Nem coro virginal a erguer lamento deleitoso
Nas horas em que a noite vai em meio;
Nem voz, nem alaúde, frauta ou doce aroma
A fluir de turíbulo suspenso nas correntes;
Nem santuário, nem bosque, oráculo ou fervor
De profeta a sonhar de lábios pálidos.

Ó a mais brilhante! Embora muito tarde para antigos
votos,
E muito, muito tarde para a lira apaixonada e crédula,
Quando sagrados eram os ramos assombrados da floresta,
Sagrados o ar, a água e o fogo;
Contudo mesmo nestes dias tão distantes
Do culto afortunado, as tuas asas lúcidas,
Librando-se entre os lânguidos olímpicos,
Eu vejo e canto, por meus próprios olhos inspirado.
Assim, seja eu teu coro, e erga um lamento
Nas horas em que a noite vai em meio;
A tua voz, teu alaúde, tua frauta, o doce aroma
A fluir do turíbulo oscilante;
Teu santuário, teu bosque, teu oráculo e o fervor por ti
Do profeta a sonhar de lábios pálidos.

Sim, eu serei teu sacerdote, e erigirei um templo
Em não trilhada região de minha mente,
Na qual os pensamentos, ramos recém-crescidos com
aprazível dor,
Murmurarão ao vento em vez de teus pinheiros;
Ao longe, ao longe em torno, aquelas árvores que formam
grupos negros
Emplumarão, aclive por aclive, a serra de deserta crista;
E lá os zéfiros, correntes, pássaros e abelhas
ninharão as Dríades deitadas pelo musgo;
E, bem no meio dessa larga paz,
Adornarei um róseo santuário
Com a treliça engrinaldada de um ativo cérebro,
E com botões, com sinos, com estrelas sem um nome,
Com tudo o que jamais pôde inventar aquela jardineira, a
Fantasia,
Que, produzindo flores, não produz jamais as mesmas:
E para ti lá estará todo o prazer suave
Que pode obter o pensamento umbroso,
Um claro archote, e uma janela aberta à noite
Para que tenha entrada o ardente Amor!

(O relato de Apuleio contribuiu aliás para o cenário descrito na ode. Psiquê é depositada por Zéfiro num vale profundo, em leito de relva florida, vendo uma floresta, altas árvores e um regato de águas claras. O tratamento que Keats deu ao assunto foi influenciado por Spenser (o “Jardim de Adônis”, na Faerie Queene), por Mrs.Tighe, poetisa pré-romântica, bem conhecida na época, autora de uma Psiche (1811), havendo ainda paralelos de Milton e de Erasmus Darwin. As interpretações da ode são várias. Para citar duas, Allott vê no poema a asserção de que “o amor, a poesia e a indolência são os remédios naturais da alma contra a morte viva que pode esperar da ‘fria filosofia’” e Jan Jack nele descortina “um ato de culto pagão”. A forma do poema deve algo à ode irregular, tal como a haviam praticado Wordsworth e Coleridge.)

AO OUTONO

I
Quadra das névoas, do fecundo j`maduro,
Amiga íntima do sol, o que sazona,
Com quem suspiras por benzer e carregar
As vides que se estendem nos beirais de palha;
Por vergar de maçãs as árvores musgosas
Da cabana e adoçar os frutos, até o centro,
Expandir o cocombro e inchar as avelãs
com doce amêndoa; por fazer brotarem mais
E mais as flores temporãs, para as abelhas
Que julgam não ter fim os dias de calor,
Já que o Verão levou seus favos a escorrer.

II
Quem não te viu amiúde em meio a tuas posses?
Às vezes quem sai buscando pode achar-te
Sentada, descuidosa, em chão de algum celeiro,
Cabelo erguido pelo vento de uma joeira;
Ou a dormir em campo já semiceifado,
Tonta de eflúvio da papoula, enquanto a foice
Poupa a fileira contígua e as flores enlaçadas;
Como respingadora atravessando o riacho
Manténs a fronte erguida ao peso de seu fardo;
Ou vês, hora após hora, os últimos gotejos,
Quando observas, paciente, a prensa para sidra.

III
Onde as canções da primavera? Onde é que estão?
Não penses nelas, também tens a tua música.
Nuvens estriadas floram o cair do dia,
Tocando de cor rósea as jeiras não semeadas;
Então em coro os mosquitinhos se lamentam
Entre os chorões do rio, cujos ramos sobem
Ou descem, quando vive ou morre o vento leve;
E da orla das colinas balem os cordeiros;
Zinem grilos na sebe; e com um dulçor agudo
Pia o pisco-de-peito-ruivo num quintal
E em bando as andorinhas chilram pelos céus.
SOBRE O GAFANHOTO E O GRILO

A poesia da terra nunca, nunca morre:
Quando o vigor do sol languesce a passarada
E se abriga nas ramas, um zizio corre
De sebe em sebe, em torno à várzea já ceifada;
É o gafanhoto, que a assumir o mando acorre
No fausto do verão; e nunca dá parada
Ao seu prazer, pois de erva amável se socorre
Para descanso, ao fim de sua alegre zoada.
A poesia da terra nunca se termina:
Do inverno em noite só, quando com a geada cresce
O silêncio, do fogão se ergue de repente
O zinido do grilo, sempre mais ardente,
E para alguém zonzo de sono ele parece
O gafanhoto em meio à relva da colina.
(Este soneto nasceu de uma competição em casa de Leigh Hunt, entre este e Keats, em 30 de dezembro de 1816. O tema era o canto do grilo. Hunt declarou-se batido. A ideia de Keats é a de que a poesia da terra nunca morre, pois ao chirriar do gafanhoto, nos dias de verão, corresponde o canto do grilo, nas noites de inverno. Nessa e noutras competições, os sonetos deviam ser feitos em 15 minutos.)

ODE SOBRE A MELANCOLIA

I
Não, não, não vás ao Lete, nem o acônito
De raízes firmes torças para obter seu vinho venenoso;
nem sofras que te beije a fronte pálida
A beladona, a rubra uva de Prosérpina;
Não faças teu rosário com os glóbulos do teixo;
Nem falena-da-morte nem escaravelho sejam
Tua Psiquê lutuosa, nem partilhe o mocho penugento
Dos mistérios da tua nostalgia;
pois sonolenta a sombra à sombra chegará,
Afogando a aflição desperta de tua alma.

II
Mas quando o acesso da melancolia
De súbito cair do céu, como se fosse a nuvem lacrimosa
Que alenta as flores todas de inclinada fronte
E em mortalha de abril oculta o verde outeiro:
Sacia então tua tristeza em rosa matinal,
Ou no arco-íris de salgada onda sobre a areia,
Ou na opulência das peônias globulares;
Ou se amada mostrar cólera rica
Toma-lhe a mão suave, e deixa-a delirar,
E bebe a fundo, a fundo, nos olhos sem iguais.

III
Ela mora com a Beleza – com a Beleza que perecerá;
Com a Alegria de mão aos lábios sempre erguida
Para dizer adeus; e junto do Prazer dorido
Que se faz veneno enquanto a boca suga, pura abelha;
Sim, no próprio templo do deleite
É que a Melancolia tem, velada, o seu supremo
Santuário,
Embora só a veja aquele cuja língua estrênua
rebente a uva da Alegria contra o céu da boca;
A alma deste provará a tristeza que é o seu poder,
E em meio aos seus troféus nublados ficará suspensa.

ENDIMIÃO (I, 1-33)

Tudo o que é belo é uma alegria para sempre:
O seu encanto cresce; não cairá no nada;
Mas guardará continuamente, para nós,
Um sossegado abrigo, e um sono todo cheio
De doces sonhos, de saúde e calmo alento.
Toda manhã, portanto, estamos nós tecendo
Um liame floral que nos vincule à terra,
Malgrado o desespero, a carestia cruel
De nobres naturezas, os escuros dias,
E todos os sombreados e malsãos caminhos
Abertos para nossa busca: não obstante,
Alguma forma bela afasta essa mortalha
De nossa lúgubre alma. Assim são sol e lua,
As árvores lançando a dádiva da sombra
Às ovelhas sem mal; e assim são os narcisos
Com o mundo verde no qual vivem, e os regatos
Que fazem para si uma coberta amena
Contra a quente estação; a moita mato a dentro,
Rica de um jorro em flor de almiscaradas rosas;
E assim também é a majestade dos destinos

Que imaginamos para os mortos poderosos;
Os lindos contos que nós lemos ou ouvimos:
Uma fonte infindável de imortal bebida
Que da fímbria dos céus a nós se precipita.

Nem percebemos tão-somente essas essências
Por uma curta hora; não, tal como as árvores
Que murmuram em torno a um templo logo estão
Preciosas como o próprio templo, assim a lua,
A poesia paixão, infindos esplendores,
Obsedam-nos até tornar-se luz que incita
Nossa alma, e unem-se a nós de modo tão estreito,
Que existam sobre nós ou trevas ou fulgor,
Devem estar sempre conosco, ou bem morremos.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário: http://seculodiario.com.br/31043/17/john-keats-um-dos-expoentes-do-romantismo-ingles-parte-2



  

NOITE DO CAMPO

Se ergue oceano e história
cicio e zumbido
como passarim

o voo enaltece as formas
do poema

danço em todo este campo de lodo
sucesso instantâneo
com brio e vinhateiro

ouve o pirilampo se voar de noite
zunindo está o poeta
um cancioneiro lhe atesta

ah mas a música lambe os sentidos
e o poema lhe afiança
mais música e mais lambidas

este vos fala como cantor e ator
mesmerizado de espanto
um crânio levitando
em palco d`bruma

ah este vos conta os casos fantasmais
de um verso estourado como dinamite

este vos dá o zunido de besouro
na calma noite do campo

15/10/2016 Gustavo Bastos

CARTAS PARA EL-REI

Um trono manchado de sangue,
eu vi os corpos se deleitarem,
e naus breves na vida mansa.

Eleva o espírito, profunda carne,
e os dias te serão leves como a pluma,
de uma pomba que voa no páramo.

Leve, leve, leve!
Eu, com o grito estro em riste,
pranteio a galhofa de minha armada,
e o canto silvestre que soçobra
é um destino da guerra,

estes que vos narram a mixórdia,
estão tristes com a batalha,
e mordem seus fuzis com afinco.

Este poeta, oh história mal ajambrada,
levanta um esteta cor da vida,
almíscar nas veias estupefatas,
controle hipnótico sobre as linhas
férreas de que a paixão irrompe.

Oh, mas que labirinto! As naus
se embrutecem de sal e karma,
os litros de vinho são canção
em flor d`strela,
pois a canção é vigorosa,
como a astúcia de um mártir.

No cinema o paraíso é calado,
e mais que dor a febre incita.
Por mais de amor à arma,
os fellas se corrompem
em pele de risco,

os corpos, tijolos de babel,
fortalecem os sonhos,
criam para si emblemas,
olham ao todo e os pórticos
de filósofos estoicos
não sabem mais lutar,
el-rei morre de ego,
e os cantos silvestres
gritam de terror.

Eis:
oh flor desalmada! Quem é cretino
mais que o poema desandado?
A curtir fotogênicos idílios
de flores seccionadas
em cada parte da literatura?
Pois de anatomia corporal
é o fundo deste fóton
que margeia o sorriso,
e a raiz da arte
é um estupendo sucesso.

Como, das lidas dodecafônicas,
cacofonias e estouros de boiada,
lamenta o campônio sua má sorte,
e o general, senhor da canção,
referenda em seu castelo
as cartas de exílio?

O trono de el-rei sucumbe à dança,
e os higienistas nacionalistas
ganham a frente da campanha.

Vamos? Não há silêncio
no dente da morte,
não tem misericórdia
à dama enlutada,
lutuosa febre que morde
o ar sujo dos libertinos,
massa de manobra
do generalato.

Oh serpente, eis-me aqui
com cicatrizes de sonhos puros,
como um ator infortunado
com a queda de bilheteria,
como um poeta viciado em heroína
que suscita, dentro de si,
uma última gota do orvalho.

Eis-me por certas setas de coração,
levantando o negror das trevas,
montado em cavalo xucro
com limos nas pernas,
peitando o servilismo clínico
dos contadores de estórias,
um grande caudal psíquico
que adentra o templo,
um malamor descarnado
como um fantasma,

ah, fada de mestria,
corista dos encantos clássicos,
ferve teu condão como uma feiticeira,
e revele o sinal de luz
na última gota do orvalho.

Trono, pois el-rei está vermelho,
seu ego explodiu na miséria
de um poema, ele está com o veneno
na boca, as mãos lavadas,
as ancas decaídas,
e os olhos em fúria.

Meu sangue não está na moldura,
oh el-rei, que sois um celerado,
e não tem poema que lhe resista!

As naus se perdem neste vasto oceano,
a longa canção de um esteta
contra a frota de el-rei,
um mártir ou herói
que vive como vidente,
e sabe bem voar,

oh, peito varado de tiro,
por certo está o idílio
no fundo da luz,
e a câmera lhe pega bem
pelo pé, tal é o célere poeta
em surto de noz moscada,

trono de el-rei:
seu poder registra as flores mortas.

15/10/2016 Gustavo Bastos

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

LIBERDADE DIVINATÓRIA

Me leva, oh esfera, para o astral
da música, como um farol que
irrompe a paisagem,
com o coro e o corifeu
de um Téspis de dionísiacas,
com o fado sempre rijo
de meus amores de messe.

Me leva, pois estou exausto,
e o drama de reta curva
me espanta em demasia.

Pois o meu sentido é música,
desta vez a boa canção
com vinho e mansarda,
desta vez a flor demudada,
e abrir minha mística.

De fria densa sonolência,
a arte é um destes faróis
que medem o mar,
e tudo que emerge do caos,
pode ser um poema
em fonte de mistérios,

e tudo que nos dá o dom da vida,
pode ser este instante de fuga
que o viajor quer como astrologia,
um barco e o teatro da forma
bem tecida, meu livramento.

14/10/2016 Gustavo Bastos

FUNDO DE ARTE

Bem e mal, como as ditas contas
lhes e me chegam,
por todo o silêncio que gritava,
em todo susto de calma.

Levanto e luto,
e os dias são todos assim,
brancos e lutos,
ardor de tudo poder,
em mim como em nada.

A alma, postura de tigre,
aventa o karma por
saber-se inconclusa.

O pirata do mar, com mão
em fortunas, me rouba
também minha capa,
e se veste de brocado
com espada e coturno.

Bem e mal, das sérias canções,
roufenhas e gagas,
tem poema em linha de tiro,
e garganta de fome
com fundo de arte.

Eu sei da lida com todo viço,
e vivo por estar na pena.

14/10/2016 Gustavo Bastos

SENSAÇÃO E MOVIMENTO

Entre o movimento e as cores,
fustiga a sensação de fome,
à dor mais sustenta que decai,
e o vento afirma a densidade.

Por ar contrito, com elã de tudo,
a corromper a chuva e o claustro.

Verte, com delícia de frio,
a cor preta de um pouco calor,
e o branco ao gelo de poema,
tal a fibra e a indolência
do clima,

és flora das cantigas de ninar,
morfema que urge em messe,
e o palco que vive na cena em flor.

Entre o instante e as cores,
semeia a sensação de sede,
o prazer mais exalta que levanta,
e o mar corrobora a espuma.

Por dia de exéquias, com afã de nada,
a subverter o sol e o vício.

Venta, como em toda febre,
e a vida, escondida da dor,
navega em plano alto de astro,
por estar em tudo que a toca.

14/10/2016 Gustavo Bastos

TESTA FABRIL

A textura eclode da epiderme,
sua tez serve ao mal corpo de poema,
e por sua composição, da cor mais brava,
seleciona o silêncio da forma.

A forma, conformada ao estro,
refulge na órbita que lhe dá a pena,
e numa nuvem por sobre o campo,
dá à estrela sua urdidura.

Por entre o rocio e o fastio,
elenco de verso supõe-se vivo,
e com ébrio calor de ultramar,
confecciona o firme canto.

Tal é o campo que tem o retirante,
poeta das duras ligas,
no universo composto de frio,
e a voz que rasga o ar rente.

Dos ópios que o poeta conhece,
a forma que não se acaba
lhe é predileta,
e corpo de arma se tece.

Conhecer-se, por detrás de todas as formas,
faz-se em susto e luta corporal,
por estro que é um poeta,
e a flor em sua testa.

14/10/2016 Gustavo Bastos

domingo, 9 de outubro de 2016

MÁXIMO GORKI, SUA VIDA E SUA OBRA LITERÁRIA E TEATRAL

“Gorki tinha conhecimento carnal do êxodo e da exclusão”

O AUTOR E A ESTREIA DE PEQUENOS BURGUESES

Máximo Gorki é o pseudônimo de Aleksiéi Maksímovitch Pieshkóv, que foi um escritor, romancista, dramaturgo, contista e ativista político russo. Nascido em Nijni Nóvgorod, em 28 de março de 1868, morreu em Moscou no dia 18 de junho de 1936. Gorki seguiu a corrente naturalista na sua forma de escrita, e era a ponte mais importante na literatura e no teatro russo entre as fontes de Tchekhov e Tolstói, e a nova geração de escritores soviéticos.
Um fato curioso se deu em Moscou, no ano de 1902, quando, diante do Teatro Artístico de Moscou, uma multidão se juntou sob a vigília dos guardas do czar, estes que estavam fortemente armados. Não se sabia ainda se a peça emblemática da obra teatral de Máximo Gorki, Pequenos Burgueses, poderia de fato ter a sua estreia. Embora o texto da peça, que fora editado alguns meses antes, tenha sido muito bem recebido pelo público, tendo como resultado a venda de 60.000 exemplares, o que representava um sucesso extraordinário para a época. Só que, contudo, a censura czarista realizou inúmeros cortes na obra, o que não agradou grande parte dos leitores da peça.
Pelo fato de, em 1901, Máximo Gorki ter sido preso pela terceira vez, só conseguindo a libertação pela intervenção de Tolstói, e eleito membro honorário da Academia de Ciências, mas tendo sua posse impedida pelo czar, o que teve como resultado um protesto com a demissão de dois membros da Academia, Tchekhov e Korolenko, a presença em massa dos espectadores na estreia da peça era motivada para além do interesse cultural ou do conteúdo da peça, pois representava nada mais que uma ação conjunta de promover um desagravo ao autor.
A representação de Pequenos Burgueses foi, portanto, um enorme sucesso, e com esta peça se teve o início da linha político-social do teatro russo e soviético, uma nova orientação que ganharia, também pelas mãos de Máximo Gorki, ares panfletários e de combate ideológico.

MÁXIMO GORKI E A LUTA SOCIAL

Máximo Gorki, quando se utilizava da prosa literária, ele se servia do recurso naturalista, e neste exercício demonstrava os contrastes e os antagonismos sociais, os deixava em evidência, e daí partia para a crítica social e a fundamentação política de uma transformação social. No teatro, por sua vez, Máximo Gorki o usava também como forma de luta, e aqui a obra do autor ganha seu caráter panfletário e ideológico, toda a crítica ganhava agora uma forma que no teatro era a ação direta de personagens e o retrato de situações de conflito, muitas vezes tendo na exuberância do discurso um possível desvio de foco da ação, mas que trazia à baila toda a luta social transformadora, que também era discurso ideológico, panfleto político.
E mesmo asfixiada, a literatura russa se tornava, cada vez mais, na grande tribuna política que visava combater a repressão czarista. Gorki tornara-se, assim, o defensor dos bessiaki, um grupo social nômade que ele tinha conhecido bem, e que era um grupo marginalizado pela Revolução Industrial; e que formava a multidão que abandonava o campo, à procura de empregos nas indústrias das cidades; e que se tornava a massa de desempregados, o excesso de mão-de-obra que fugia dos cortiços, das condições subumanas, e que errava pelo país à procura de um lugar.
No contraste entre autores russos, podemos exemplificar que, à metafísica da dor – que na obra de Dostoiévski (1821-1881) atingiria suas últimas consequências – e à caridade do agnóstico-cristão-socialista León Tolstói (1828-1910), Gorki conseguiu opor uma alegria de viver, e que veio a substituir a exaltação do sofrimento por uma raiva instintiva e uma violência justificada ideologicamente, a luta social agora não era o sofrimento metafísico, mas o conflito desperto por situações-limite de injustiças e sobrevivência no meio social, um viés que era, ao fim, de conteúdo político e forma panfletária, e a luta social, já longe do sofrimento dos indivíduos, ganhava a dimensão também coletiva da visão social na sua totalidade.
Máximo Gorki sente-se, por fim, irmanado com essa multidão de “ex-homens”, como os chamaria em Ralé (1902), e com os operários. A visão do autor sobre o proletariado era, contudo, possuidora de uma tendência à romantização, e que com uma defesa apaixonada de suas virtudes, ganhava no texto literário e teatral de Gorki um arrebatamento e exaltação que tinha um caráter grandiloquente, pois, ao estar vociferando contra os burgueses, por exemplo, o texto de Gorki era prejudicado em sua fluência narrativa, e a luta para ver os burgueses vencidos e acabados, submersos na hipocrisia de uma vida medíocre e mesquinha, era no discurso uma fala de estado exaltado própria da pregação política e panfletária, o texto se tornava, ao fim, hiperbólico numa parte da obra de Gorki.
Essa tendência ao manifesto panfletário tornou-se mais evidente em sua obra teatral, e Gorki se esforçou por atingir maior autodomínio, posteriormente, passando a considerar detestáveis algumas de suas peças, como Os Filhos do Sol (1905) e Os Veranistas (1905), nas quais o discurso interfere no fluir espontâneo da ação. Ou seja, Gorki tomou consciência teatral do comedimento discursivo e não mais foi autor de uma luta social que virava estridência e barulho no texto teatral, mantendo a ideologia política, mas deixando o caráter hiperbólico de panfleto para trás.

BIOGRAFIA DE MÁXIMO GORKI

Filho de artesãos, nascido num meio social muito pobre, Aleksiéi, órfão de pai, foi criado pelo avô materno, um tintureiro. Com a morte da mãe, em 1878, o menino teve de deixar a casa do avô, para ganhar a vida. Inicia assim uma peregrinação pelas mais diversas ocupações: sapateiro, desenhista, lavador de pratos num navio que percorre o Volga. Nesta última atividade, Aleksiéi dá seu primeiro passo em direção à consciência política e à literatura. O cozinheiro do navio empresta-lhe alguns livros e desperta nele o interesse pelos problemas políticos. Aleksiéi começa a sentir que seus horizontes se alargam e, a partir de então, nunca mais se separa dos livros.
Por volta de 1884, apaixonado pela cultura, muda-se para Kazan, onde imagina poder cursar gratuitamente a Universidade. Mas isso é um privilégio de poucos, dos que têm dinheiro para pagar. E Aleksiéi não pertence a esse círculo de eleitos. Acossado pelas dificuldades econômicas, emprega-se como vigia num teatro. Desiludido com sua vida de privações, torna-se pescador no mar Cáspio e vendedor de frutas em Astrakan. Vai para Odessa com uma turma de marginais nômades que erra de cidade em cidade, à procura de emprego. Trabalha como estivador, auxiliar de escritório, jardineiro, cantor de coro, padeiro. Percorre o Cáucaso, a Crimeia, a Ucrânia. Sofre a miséria, o frio, a fome, a revolta: este é seu curso universitário, batizado mais tarde por ele como Minhas Universidades.
Aos 19 anos, quando estava em Kazan, Gorki tenta o suicídio. Sobrevive à bala que lhe penetra um dos pulmões, mas contrai uma tuberculose que o acompanhará para sempre. A propósito desse gesto, Gorki escreve: “A culpa de minha morte deve ser atribuída ao poeta alemão Heinrich Heine; inventou o coração que tem dor de dentes. Junto a este bilhete meus documentos de identidade, que tirei expressamente para essa ocasião. Quanto aos meus restos mortais, peço que o submetam a autópsia, a fim de descobrirem de que diabo estava eu possesso nestes últimos tempos”. Dessa experiência, resulta o material utilizado em Um incidente na Vida de Makar (1892) e Como Aprendi a Escrever (1912).
De volta à vida, Aleksiéi começa seu engajamento na luta política, o que o leva, já na Geórgia, a entrar em contato com algumas organizações, quando lê Marx e segue os passos de Lênin (1870-1924). Em 1890, Gorki é preso em sua cidade natal, sob a suspeita de exercer atividades subversivas. O relatório policial descreve-o como “um homem extremamente suspeito; leu muito, maneja bem a pena; atravessou quase toda a Rússia (na maior parte do tempo a pé); esteve mais de um ano em Tífilis, sem ocupação certa, e saiu de lá sem saber para onde ir”. Posto em liberdade, Aleksiéi passa dois anos vagando pelas estepes, e faz parte do êxodo para o sul; quando caminha milhares de quilômetros com a massa de indigentes, vítimas da fome de 1891-92.  E ainda em 1892, publica seu primeiro conto, Makar Tchudra, na revista Kavkas, usando pela primeira vez o pseudônimo de Máximo Gorki (Máximo, o Amargo). É saudado com entusiasmo por Romain Rolland (1866-1944), que vê nele “o homem que, como Dante, voltou do Inferno, mas não sozinho, trazendo consigo seus companheiros de tormento e seus camaradas de salvação”.
Makar Tchudra desperta a atenção dos intelectuais russos por seu estilo vigoroso, e Vladimir Korolenko (1853-1921), que havia acabado de cumprir uma pena na Sibéria, interessou-se imediatamente pelo jovem autor. É por Korolenko que Gorki consegue um emprego num jornal de Samara, o Samarskaia Gazieta, no qual Gorki se projeta rapidamente como jornalista e escritor. E, em 1898, aparecem suas primeiras coletâneas, os pequenos temas de Ensaios e Narrativas, os quais alcançam grande êxito e deixa Gorki na posição de um dos melhores escritores da época. Um ano depois, Gorki publica dois romances: Romá Gordiéiev e Os Três. O primeiro é a história de um indivíduo exuberante, cuja vitalidade é tolhida pelo ambiente mesquinho de uma cidade provinciana; e o segundo é uma reelaboração de Crime e Castigo, de Dostoiévski.

MÁXIMO GORKI COMO AUTOR DE TEATRO

Em 1901, depois de se livrar da prisão, à qual havia sido recolhido por participar de um movimento estudantil em Kazan, Gorki começa, enfim, a escrever para o teatro. Numa carta a Anton Tchekhov (1860-1904), diz ele: “Escreverei um ciclo de dramas, esteja certo. Um sobre os ‘inteligentes’. Um grupo de pessoas sem ideais (...). Um outro com um operário proletário citadino semi-‘inteligente’. Absolutamente aceitável pela censura (...). Um terceiro sobre o campo (...). Um outro ainda: os sem teto, um tártaro, um judeu, um ator, a dona de um albergue noturno, um policial, prostitutas (...). Será terrível? escuto as vozes, as falas. Os motivos são claros, tudo é claro (...)”.
E, mesmo com o sucesso de Pequenos Burgueses, a censura czarista proíbe que a peça seja montada em teatros populares ou traduzida para línguas de outros povos do Império. Mas o autor não se deixa intimidar e escreve outra peça. A 19 de julho desse mesmo ano, Gorki recebe uma carta de Tchekhov: “Li sua peça Ralé. É nova e, sem dúvida, excelente. O segundo ato é muito bom: é o melhor e mais forte, e, quando eu lia, especialmente o final, quase dancei de alegria. O tema é escuro e opressivo; talvez a plateia, não acostumada com essas coisas, saia do teatro e você tenha que dar adeus à sua reputação de otimista”. Porém, a plateia não abandonou o teatro, porque mesmo que a visão de Gorki seja amarga, ela está carregada também de otimismo, até mesmo quando trata de “criaturas que uma vez já foram homens”, como em Ralé. Pois Gorki, com esta peça, cumpre a promessa feita a Tchekhov de escrever uma peça sobre os “sem teto”.
Gorki participou ativamente da encenação de Ralé, levada a cabo pelo grupo do Teatro Artístico de Moscou, sob a direção de Stanislavski (1863-1938). Por sugestão do autor, os atores visitaram o mercado de Khitrov, para conhecer mais intimamente as personagens que iriam encarnar. Gorki sugeriu que se contratasse uma prostituta para auxiliar Olga Knipper, mulher de Tchekhov, a compor a personagem de Nastia. O papel do ator Sátin foi interpretado pelo próprio Stanislavski.

AS LUTAS DE MÁXIMO GORKI E NOVAS OBRAS

E, em 1905, Gorki é detido por subversão e encarcerado na prisão de São Pedro e São Paulo, em São Petersburgo, de onde sai pouco tempo depois, graças à interferência de outros intelectuais. Organiza o jornal Nóvaia Jizni (Vida Nova), mas é obrigado a abandonar a Rússia logo após o malogro da rebelião operária de dezembro.
Vai para os Estados Unidos, onde sua permanência é dificultada pelo embaixador russo. Gorki tenta levantar fundos para a revolução soviética, mas Randolph Hearst, dono de uma grande cadeia de jornais, dificulta-lhe os passos, acusando-o de imoralidade pública, pelo fato de Gorki ter se casado pela terceira vez. O escritor refugia-se com sua mulher, Maria Budberg, em Staten Island, onde escreve o romance Mãe (1907), e uma peça de teatro, Os Inimigos (1906).
Pouco tempo antes, em Filhos do Sol, ele fez a denúncia da facção da intelectualidade russa que não se alinhava na luta revolucionária. E em Os Inimigos, Gorki aborda o problema da relação entre patrões e empregados. O romance Mãe, por sua vez, é considerado um de seus trabalhos mais importantes, e também é tido como a primeira obra do realismo socialista. Está impregnado de humanismo, como toda a obra de Gorki.
Na sua obra e na sua vida, Gorki não sente a menor compaixão pelo mundo dos pequenos burgueses, a qual o autor vê como uma multidão cinza e entediada. “Alguns deles”, considera o escritor, “tecem vagos sonhos sobre a beleza da vida há duzentos anos atrás, mas ninguém se coloca a simples pergunta: o que a tornará bela se nos limitarmos apenas a sonhar?”. E em fins de 1906, Gorki fixa residência em Capri, onde funda uma escola para imigrantes revolucionários, que funciona até 1914. Durante o exílio, escreve Os Bárbaros (1906), Os últimos (1908), Gente Esquisita (1910), Vassa Aheleznova (1911), Os Kykov (1912) e a trilogia autobiográfica: Infância, Ganhando Meu Pão e Minhas Universidades (1912-13).
Com o início da Grande Guerra, em 1914, Gorki retorna à Rússia. Dirige um jornal mensal, Liétopis (Crônica) e se alinha com Lênin e os bolcheviques, ajudando a preparar a revolução. Quando esta triunfa, em 1917, Gorki é considerado herói. Ressuscita o diário Nóvaia Jizni e escreve um ensaio sobre Tolstói (1919). Em 1921 adoece gravemente dos pulmões e vai para a Itália, permanecendo em Sorrento durante vários anos. Ali escreve Recordações sobre Lênin (1924). Os Artamonov (1925) e começa uma grande epopeia, A Vida de Klim Samgin (1927-36).
Em 1933, Gorki decidiu estabelecer-se na União Soviética, apesar de sua saúde precária. Escreve então Yegor Bolychov, retratando o fim da classe média por meio da história de um comerciante. Em 1935 concluiu Dostygayev e ainda estava escrevendo A Vida de Klim Samgin, quando morreu de pneumonia, em 18 de junho de 1936. Foi sepultado com todas as honras oficiais e seu féretro acompanhado por Stálin e Molotov.

O SENTIDO DA OBRA DE MÁXIMO GORKI

A obra teatral e literária de Máximo Gorki é relacionada ao naturalismo na expressão e forma de narrativa, possui uma força e um caráter espontâneo e original, sendo um trabalho com identidade legítima, obra em que podemos encontrar a transformação da realidade, sobretudo a social, e a luta, também social, a ideologia política, e o combate ao czarismo. E o que a vida e a obra de Górki demonstram não é a visão negativa do perigo revolucionário e violento, mas uma verdadeira saga pela transformação do mundo, e que no contexto russo e soviético era figurada pela revolução de 1917.
A obra de Gorki, portanto, tem como cenário o submundo russo, lugar social no qual o autor registra com vigor e emoção os personagens que integravam as classes excluídas: operários, vagabundos, prostitutas, gente humilde, homens e mulheres do povo, e como na Ralé, os ex-homens. E o fato é que já havia autores realistas e naturalistas que já tinham retratado tais grupos sociais na literatura, mas ainda era um olhar e uma narrativa formadas por fora, ou ao redor da vida dos pobres, o que com Gorki não irá ocorrer, pois o autor conhecia aquele universo por dentro, a sua biografia era a de um verdadeiro desvalido, Gorki tinha conhecimento carnal do êxodo e da exclusão, não era um literato, compassivo esteticamente pela pobreza, era ele mesmo um homem que veio dos bas-fonds e que se torna um autor, portanto, com vivência do que escreve, conseguindo, então, alcançar o que havia de mais profundo na alma do povo russo. Daí o caráter autêntico que ganhou a obra de Máximo Gorki, como o criador da chamada literatura proletária, e que ganhou adeptos no mundo inteiro em sua época.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário:  http://seculodiario.com.br/30949/17/maximo-gorki-sua-vida-e-sua-obra-literaria-e-teatral


JOHN KEATS, UM DOS EXPOENTES DO ROMANTISMO INGLÊS – PARTE I

“a posteridade foi generosa com Keats, pois ele logo se tornaria uma grande influência para poetas como Tennyson e Swinburne”

INTRODUÇÃO
Keats, embora tivesse a sensação de que poderia, com sua morte, um dia estar configurado entre os poetas históricos ingleses, quando morreu, em Roma, aos 25 anos, não parecia acreditar nisso. Por outro lado, Shelley, em carta a Severn, na qual estava o exemplar de Adonais (elegia funeral consagrada a Keats), afirmava que, mesmo com o gênio transcendente do vate, este, ainda assim, não alcançaria o grau de um poeta popular; e portanto, nem mesmo Shelley, com a sua homenagem, poderia evitar a negligência que cercava o nome de Keats, logo depois de sua morte. Contudo, a posteridade foi generosa com Keats, pois ele logo se tornaria uma grande influência para poetas como Tennyson e Swinburne; e sua balada “La Belle Dame sans Merci” seria como um padrão para os pré-rafaelitas, e, através desses pré-rafaelitas e esteticistas, atingiria, por fim, o Simbolismo francês. E hoje temos Keats como uma figura que está consolidada não apenas na literatura inglesa, como também nas próprias letras universais, onde se destacam, por sua vez, as suas grandes odes.
VIDA
John Keats nasceu em Finsbury, Londres, em 31 de outubro de 1795, e foi estudar na escola do Rev.J.Clarke, em Enfield, onde ficou até 1811. Na escola, Keats mostrava-se popular e bélico, mas de repente, em 1809, desenvolveu-se nele o gosto pela leitura, na qual começou a se aprofundar com avidez, e com isso partiu para uma imersão na mitologia. Em 1811, por sua vez, Keats entrou como aprendiz de Thomas Hammond, cirurgião e boticário em Edmonton. Keats fez, logo em seguida, uma tradução em prosa da Eneida de Virgílio, e em 1812 – diz-se ultimamente que em 1814 – escreveu uma “Imitação de Spenser”, cuja Faerie Queene o havia fascinado. E de 1815, em 2 de fevereiro, data o “Soneto escrito no dia em que Hunt é libertado da prisão”. Esse Hunt – Leigh Hunt – havia sido condenado à prisão em 1813 por um ataque contra o Príncipe Regente, publicado em seu jornal, o Examiner, que Keats lia bastante.
Keats teve o ano de 1816 como um momento importante, pois em 5 de maio viu publicado um poema seu: o soneto “O solitude!”, que saiu no Examiner. Em outubro do mesmo ano, Keats varou uma noite lendo com C.C.Clarke trechos importantes de Homero, na tradução de Chapman, e na manhã seguinte já tinha sua primeira obra tida por keatsiana, isto é, original, que foi o soneto “Ao compulsar, pela primeira vez, o Homero de Chapman”. Nesse mesmo mês conheceu Haydon, o pintor de carreira trágica, bem como o poeta John Hamilton Reynolds; e em dezembro já frequentava a casa de Hunt. E foi quando conheceu Shelley, só que Keats não se aproximou muito dele, e Keats, aliás, não se achegou a nenhum dos grandes poetas de seu tempo, como Wordsworth ou Coleridge, os quais até veio a conhecer, e tendo admiração pelo primeiro, contudo não evitou as divergências, pois considerava a poesia de Wordsworth como egotista, orientação que não era dada à sua própria poesia, e com o segundo, Keats deixou-lhe a impressão de que “já trazia a morte nas mãos”. Assim, o homem de letras mais importante de que ele cultivou a amizade foi Leigh Hunt (1784-1859), poeta, ensaísta e jornalista, autor de The Story of Rimini (1816), amigo de Byron e de Shelley, bem como de Hazlitt e Lamb.
Um artigo de Hunt (não assinado), em dezembro, chamava a atenção, no Examiner, para três poetas de futuro: Shelley, Keats e John Hamilton Reynolds. E em fins de 1816, por sua vez, Keats renunciou à medicina para dedicar-se inteiramente à poesia. E em 3 de março saíram à luz seus Poems, em Londres, editados por C. & J. Ollier, com uma epígrafe de Spenser. E apesar de algumas críticas favoráveis, o livro não vendeu bem, e então foi para o campo onde deu início ao Endimião, depois em Margate e Canterbury, em junho voltou a Hampstead, e em setembro foi para Oxford, e esteve em Stratford-on-Avon, lugar em que deu continuidade ao seu Endimião e em meados de outubro regressou a Hampstead. Em novembro, finalmente terminou, em Surrey, o Endimião. No ano seguinte, 1818, em fins de janeiro, escreveu o soneto “Se tenho medo” e em 19 de fevereiro enviou a Reynolds, em carta, “O que disse o tordo”, um belo soneto em versos brancos. E então Keats começou a escrever “Isabella”, poema tirado de um conto de Boccaccio, e produziu a “Epístola a John Hamilton Reynolds”. Endimião, um romance poético, foi então publicado em fins de abril por Taylor e Hassey. Terminou “Isabella”, e partiu para a Escócia, onde escreveu “Meg Merrillies”.
AS CRÍTICAS AO ENDIMIÃO
Setembro de 1818 não foi muito bom para Keats, pois ele recebeu, logo no dia 1º, como membro da escola “Cockney” (Hunt, Lamb, Hazlitt) uma virulenta crítica, sobre o Endimião, do Blackwood`s Magazine, e que, pela antipatia à posição liberal de Hunt, sobretudo, indicou que Keats voltasse aos seus “emplastros, pílulas e unguentos”, dizendo que era melhor ser um boticário esfomeado do que um poeta faminto. E no curso do mês, nova diatribe contra o Endimião, desta vez da Quarterly Review, e se tais ataques tinham cunho político, também tinha, contudo, razões de estilo, uma vez que o poeta não era dos que seguiam as regras neoclássicas, mas procurava a liberdade natural dos autores da época áurea da literatura inglesa. Pois Keats não tolerava seguir a linha de Pope, estando muito mais ligado ao “esmaltado e musical” que vinham de Spenser. Byron, por sua vez, ligado a Pope, não resistiu e respondeu a uma crítica de Francis Jeffrey na Edinburgh Review (1820), que era uma crítica elogiosa a Keats, e Byron chegou a expressar-se de modo grosseiro: “Nada mais sobre Keats, peço eu: esfolem-no vivo – se algum de vocês não o fizer, devo tirar-lhe a pele eu próprio. Não há como tolerar a salivante estupidez do homenzinho”. E Keats, que não era alto; comenta: “Ora, isso é abominável, também poderíamos chamar Bonaparte de ‘quite the little soldier’. Vocês veem o que é ter menos de seis pés e não ser lorde”. Mais tarde, em carta a Shelley, pouco depois da morte de Keats, Byron se explicaria: “Se eu soubesse que Keats estava morto – ou que estava vivo e era tão sensível, teria omitido algumas observações sobre sua poesia, para as quais fui provocado por seu ataque contra Pope e por minha desaprovação ao seu próprio modo de escrever”. E Byron, numa nota crítica, explica de novo que se indignara com Keats por ter este desconsiderado Pope, e, embora tivesse restrições de corrente estilística, admite que “o fragmento do ‘Hiperíon’ parece realmente inspirado pelos Titãs e é tão sublime quanto Ésquilo”.
E, depois da morte de Keats, tanto Shelley como Byron atribuíram, respectivamente, no Adonais e no Don Juan (canto XI), seu passamento prematuro às críticas adversas do poeta, mesmo com o fato de que Keats não dera importância aos destemperos. Na verdade, Keats sabia que o Endimião ainda não era a sua grande obra, pois se o Endimião ainda apresentava falhas de estrutura e ainda fosse um trabalho difuso, já continha as formas de grande poeta, num percurso que anunciava o júbilo que seria o ano de 1819 para Keats. Pois um poema que começa com o verso “Tudo o que é belo é uma alegria para sempre” e tem trechos como os do “Hino a Pã” não poderia ser ignorado, embora Keats tenha, ao fim, antes de sua morte, se queixado das críticas negativas.
FANNY BRAWNE
No mês de setembro de 1818, Keats começou a escrever “Hiperíon”, desta vez sob a influência de Milton, o qual renegaria logo em seguida, pois considerava que Milton tentara acomodar uma língua do Norte ao grego e ao latim, tendo, ao fim, portanto, um resultado poético artificial, e que, embora isso fosse até bom para Milton, seria a morte para ele, Keats. E, por fim, no mês de novembro, Keats conheceu Fanny Brawne. Pelas cartas e obras de Keats, raras mulheres parecem havê-lo impressionado antes. E conheceu Fanny Brawne, por sua vez, em Wentworth Place: vindo a relacionar-se com Fanny. O poeta conheceu por ela um amor às vezes atormentado que o acompanharia até a morte. Viriam a ter-se por noivos em outubro de 1819. E em dezembro deste ano escreveu “A fantasia” e “Bardos da paixão e da alegria”.
POEMAS:
LA BELLE DAME SANS MERCI: O poema começa em tom aflitivo, o cavaleiro que Keats vê está num tipo de perdição: “Ah! que pode afligir-te, infortunado,/Que assim vagueias pálido e sozinho?” (...) “Um lírio nessa testa eu bem o vejo,/De suor de febre e de aflição molhado;”. E os versos seguem, com a sua motivação real: “Uma dama nos prados encontrei,/Todo-formosa, filha de uma fada:/A cabeleira longa, os pés ligeiros,/A vista descuidada.” (...) “Eu fiz-lhe uma grinalda para a fronte,/E pulseiras e um cinto redolente;/Ela me olhou com ar de quem amasse,/Gemendo suavemente.”. A vida do cavaleiro estava entretecida à da dama, esta que era sem misericórdia, tal é o intento da mitologia quando das imagens femininas arquetípicas, e que conduz suavemente o amante à morte, tal uma viúva negra, mas o amor está também neste paradoxo, pois a dama ama, no entanto: “Procurou para mim raízes doces,/Orvalho de maná e mel do mato;/E numa língua estranha murmurou:/“Eu amo-te de fato”.” A dama amava, o cavaleiro também, e a vida e morte amorosas conduzem o poema, e que de dor finda ou profunda o cativeiro está posto, a dama sem misericórdia não tem pena do destino de seu amante, e Keats termina o poema com a óbvia conclusão, e a coda que dá o título e o sentido do poema como um todo: “Guerreiros, e reis pálidos, e príncipes,/Todos, de morte pálidos, eu vi,/E me diziam: - “Pôs-te em cativeiro/La belle Dame sans merci”.”
ODE SOBRE UMA URNA GREGA: O poema começa e se abre no sentido da urna grega e o que ela contém, objeto especulativo de Keats para a sua versificação: “Tu, ainda não violada noiva de repouso,/Criança, de que o silêncio e o tardo tempo cuidam,/Silvestre historiadora, que assim podes exprimir/Um florido conto com maior doçura do que a nossa rima:”. A rima do poeta não dá conta da amplitude da silvestre historiadora, e o estro de Keats ainda se esforça, e não vê saída: “Doida perseguição! Que luta por fugir?/Que frautas e pandeiros? Que furor selvagem?” (...) “Ela não pode se fanar: se não alcanças teu prazer,/Para sempre a amarás e ela será formosa!”. E o amor, mais uma vez, aparece em júbilo, como uma feliz canção: “Oh mais feliz amor! oh mais feliz, feliz amor!/Ardendo para sempre e sempre a ser fruído,/Arfando para sempre e para sempre jovem!”. O estro é de inspiração grega, a forma do poema se dá em graça e exatidão quando de seu sentido total, a urna grega tem a sua estética e seu fundo que lhe dá a origem e o caráter, no todo é a cultura grega antiga, obsessão dos poetas clássicos e românticos: “Ó forma ática! Atitude bela! com um entrelace/De virgens e varões de mármore a cercar-te,/Com ramos de floresta e com pisadas ervas,/Tu, forma silenciosa!” (...) “Quando a velhice destruir a geração de agora,/Tu permanecerás, no meio de outras dores,/Não das nossas, amiga do homem, a quem dizes:/“A beleza é a verdade, a verdade a beleza” – é tudo/O que sabeis na terra, e tudo o que deveis saber.”. Ao fim, com a gloriosa coda, o poema consegue o alcance de toda a beleza como a própria verdade, pois quando se diz, por Keats, da forma ática, atitude bela, o poema tem desenlace na própria beleza como fundamento da silvestre historiadora, o verso e o estro, que cabe ao poeta Keats, está autoconsciente e verbaliza esta “verdade/beleza” como coda e inteireza de todo o poema, a concepção aqui filosófica nada mais é que a aliança de uma verdade de existência (filosofia) com a estética poética, a poesia é o que salva a beleza da frieza de uma verdade calculada, pois aqui o resgate da verdade é feito em função do sentido da poesia, e por falar em Keats, que é poeta e faz poesia, o verso conduz esta forma ática para que a poesia, ao fim, tenha esta frente no que diz sobre a verdade, e esta ciência é a beleza como a verdade, e nada mais.
ODE A UM ROUXINOL: O poema abre neste idílio do rouxinol de um lado, e a agonia do poeta de outro, num embate sublime entre o bel canto da imortalidade e a finitude e aflição do poeta, que, por saber-se refém do rouxinol, lhe faz a homenagem, como num esforço de conquistar um pouco do sublime que está no tal pássaro: “Dói-me o coração, e aflige meus sentidos/Um torpor de sono, como se eu tivesse/Bebido da cicuta ou esgotado há um só instante/Um lânguido narcótico e descido para o Lete:/Não é porque eu inveje a tua boa sorte,/Porém porque me alegro a ver-te assim feliz/Que tu, arbórea Dríade das asas leves,/Em nesga melodiosa/De um verdor de faias e de sombras incontáveis/A plena e fácil voz celebras o verão.”. O poeta, narcotizado, descendo o umbral, na fronteira entre a vida e a morte, no rio mítico do Lete, se conduz nesta dor de coração, e admira e se alegra, no entanto, com a visão do rouxinol, que lhe dá o poema, o qual vai do lamento ao júbilo, num pêndulo existencial que o leva da dor mortal ao bel canto que lhe dá o coração e a sorte que está nesta ausculta que é o verão, por fim, e o poema segue entre o idílio do rouxinol e a aflição do poeta Keats, que tem esta doce e amarga sensação de se perder: “Esvair-me bem longe, dissolver-me e em tudo me olvidar/Daquilo que entre as folhas tu jamais sentiste,/A fadiga, a febre e a inquietação,/Aqui, onde os homens sentam para ouvir gemidos uns/dos outros,”. A sensação agora é febril, dissolver-se, esvair-se, são os verbos dominantes nos últimos versos, o olvido, nada mais que a luta contra a angústia da qual o poeta foge, sua presença como mortal, e que o rouxinol não conhece, pois aqui o pássaro se vincula à espécie de que faz parte, e o homem, o único que conhece a morte, então é antes o sujeito, o indivíduo, e a angústia dos gemidos de pensar na morte e no próprio viver subjetivo são compartilhados em humanidade com outros humanos como Keats, a constatação é grave e terrível, os homens se unem nada mais do que para ouvir os gemidos uns dos outros, e Keats se volta ao rouxinol como um último refúgio e uma doce esperança que se faz de graça e utopia, este campo verdejante que vai da idade de ouro ao paraíso perdido que conduz a canção: “Ao longe, ao longe! Para ti quero voar,/Não no carro de Baco e seus leopardos,/Porém nas asas invisíveis da Poesia,”. E o que restou desta sensação, para Keats? As asas invisíveis da poesia, seu murmúrio mortal que alcança na pena o sublime que vai em direção ao pássaro que, por sua vez, tem a canção mais bela que a miragem de um poeta.
POEMAS:
LA BELLE DAME SANS MERCI

Ah! que pode afligir-te, infortunado,
Que assim vagueias pálido e sozinho?
O junco à beira-lago já secou;
Não canta um passarinho.

Ah! que pode afligir-te, infortunado,
De feição macilenta e assim desfeita?
O celeiro do esquilo está repleto,
E finda está a colheita.

Um lírio nessa testa eu bem o vejo,
De suor de febre e de aflição molhado;
E uma rosa que murcha em tua face
Logo terá secado.

Uma dama nos prados encontrei,
Todo-formosa, filha de uma fada:
A cabeleira longa, os pés ligeiros,
A vista descuidada.

Tomei-a em meu corcel de passo lento,
E o dia inteiro nada mais vi, não;
Pois pendida de lado ela cantava
De fada uma canção.

Eu fiz-lhe uma grinalda para a fronte,
E pulseiras e um cinto redolente;
Ela me olhou com ar de quem amasse,
Gemendo suavemente.

Procurou para mim raízes doces,
Orvalho de maná e mel do mato;
E numa língua estranha murmurou:
“Eu amo-te de fato”.

Levou-me para a sua gruta mágica,
E com suspiros fundos me fitou;
Fechei-lhe os olhos tristes, descuidados,
_ Meu beijo a acalentou.

Na gruta, sobre o musgo, nós dormimos,
E ali sonhei – que triste a minha sina! –
O último sonho que haja eu sonhado
No frio da colina.

Guerreiros, e reis pálidos, e príncipes,
Todos, de morte pálidos, eu vi,
E me diziam: - “Pôs-te em cativeiro
La belle Dame sans merci”.

Com o negro aviso, seus famintos lábios
Vi escancarar-se à sombra vespertina;
E despertando me encontrei aqui,
No frio da colina.

E este é o motivo pelo qual eu me acho
Aqui, vagando pálido e sozinho,
Malgrado, seco o junco à beira-lago,
Não cante um passarinho.

(Poema dos mais célebres da literatura inglesa, base de sustentação para os pré-rafaelitas, foi escrito em abril de 1819 e revisto em 1820. A primeira versão consta de uma carta-jornal a George e Georgiana Keats e foi publicado por Colvin no Macmillan`s Magazine de agosto de 1888; a segunda, no Indicator de 10 de maio de 1820, com uma nota de Leigh Hunt. A expressão “la belle dame sans merci” já havia sido usada por Keats na “Véspera de santa Inês”, XXXIII, para denominar uma “cantiga de Provença”. Embora o título remonte ao de um diálogo de Alain Chartier (1385-1433), Keats parece tê-lo colhido num poema do século XV, de Sir Richard Ros, que ele viu na coleção The Works of English Poets from Chaucer to Cowper (1810). Muitas fontes, entre as quais Spenser, Wordsworth e Coleridge, têm sido citadas para explicar o poema ou versos dele. Amy Lowell apontou trechos do Paimyrin of England que apresentam analogias de situação com a balada e ofereceram talvez algumas sugestões a Keats, que leu o romance com avidez. E tem sido vista na “belle dame” uma transposição da noiva, Fanny Brawne, e até da arquetípica deusa branca (vide Robert Graves, The White Goddess, cap.24, onde também conclui que a “belle dame” representa para Keats o Amor, a Morte por consumação e a Poesia.)
(O poema foi escrito em 1819, um dos anos de maior produtividade literária de Keats, pois ele havia lido o Livro III da obra "Faerie Queene", de Edmund Spenser, onde uma das personagens principais, Florimell, é a representação da Beleza. Tudo isso serviu de inspiração para Keats escrever o poema. "La Belle Dame sans Merci" significa "a bela dama sem misericórdia". E como dito, o título do poema é, na verdade, o título de um poema do escritor francês do século XV, Alain Chartier. E é também provável que Keats conhecesse uma versão supostamente traduzida por Chaucer.
O poema é uma literary ballad, inspirada nas folk ballads da época medieval. É possível observar várias características típicas de uma balada, como a centralização em um único evento (a história da dama relatada pelo cavaleiro), e a apresentação da história por meio de um diálogo, com pouco uso de figuras de linguagem como metáforas e metonímias.
A interpretação mais comum é a de que um cavaleiro conhece a Belle Dame, se apaixona por ela (e o amor parece ser recíproco), e então ela o leva até a sua gruta, mas quando ele acorda, ela não está mais lá.  E, arrasado por ter sido desprezado por sua amada, ele começa a vagar pelos campos e colinas geladas, pronto a morrer de desilusão amorosa. Pode-se relacionar isso ao que Carl Jung chama de arquétipos, uma vez que a sereia, as ninfas, as fadas etc., eram figuras femininas que, em qualquer cultura, seduziam os homens e os conduziam à morte. Isto significa que estas entidades simbolizavam a própria morte através do encantamento por uma figura feminina. E Keats usa, então, a Belle Dame como representação feminina da morte pelo encantamento, como uma força que arrebata os homens e os leva para um lugar insólito.)

ODE SOBRE UMA URNA GREGA

Tu, ainda não violada noiva de repouso,
Criança, de que o silêncio e o tardo tempo cuidam,
Silvestre historiadora, que assim podes exprimir
Um florido conto com maior doçura do que a nossa rima:
Que legenda franjada de folhagens te rodeia a forma
De divindades ou mortais, ou de umas e outros,
Pelo vale de Tempe ou nos da Arcádia?
Que homens são esses ou que deuses? Que virgens
relutantes?
Doida perseguição! Que luta por fugir?
Que frautas e pandeiros? Que furor selvagem?

É doce a melodia que se escuta; mais ainda,
Aquela que não se ouve; soai pois, ó brandas frautas;
Não para o ouvido material, porém mais gratas
Tocai-nos para o espírito árias insonoras:
Formoso jovem sob as árvores, não podes mais cessar
Tua canção, nem estas árvores despir-se;
Jamais, jamais, afoito amante, podes tu beijar,
Embora próximo da meta – entanto não te aflijas;
Ela não pode se fanar: se não alcanças teu prazer,
Para sempre a amarás e ela será formosa!

Felizes, ah! felizes ramos! não podeis perder
As vossas folhas, nem dizer adeus à primavera;
Melodista feliz, infatigável,
Para sempre a modular cantigas para sempre novas;
Oh mais feliz amor! oh mais feliz, feliz amor!
Ardendo para sempre e sempre a ser fruído,
Arfando para sempre e para sempre jovem!
Amor acima da paixão dos homens que respiram,
Essa que deixa o coração desconsolado e farto,
A testa em fogo e ressequida a língua.

Quem serão estes que estão vindo para o sacrifício?
Para que verde altar conduzes, misterioso sacerdote,
Esta novilha que levanta para os céus o seu mugido,
Tendo os sedosos flancos revestidos por guirlandas?
Que pequenina urbe junto ao rio ou mar
Ou construída em montanha, com tranquila cidadela,
Por esta gente é abandonada, esta manhã piedosa?
Cidadezinha, para sempre tuas ruas ficarão silentes,
Nem alma alguma voltará jamais para dizer
Por que razão está desabitada.

Ó forma ática! Atitude bela! com um entrelace
De virgens e varões de mármore a cercar-te,
Com ramos de floresta e com pisadas ervas,
Tu, forma silenciosa! como a eternidade
Além do pensamento nos perturbas: fria pastoral!
Quando a velhice destruir a geração de agora,
Tu permanecerás, no meio de outras dores,
Não das nossas, amiga do homem, a quem dizes:
“A beleza é a verdade, a verdade a beleza” – é tudo
O que sabeis na terra, e tudo o que deveis saber.

ODE A UM ROUXINOL         

I
Dói-me o coração, e aflige meus sentidos
Um torpor de sono, como se eu tivesse
Bebido da cicuta ou esgotado há um só instante
Um lânguido narcótico e descido para o Lete:
Não é porque eu inveje a tua boa sorte,
Porém porque me alegro a ver-te assim feliz
Que tu, arbórea Dríade das asas leves,
Em nesga melodiosa
De um verdor de faias e de sombras incontáveis
A plena e fácil voz celebras o verão.

II
Oh! um trago de vinho! que se tenha refrescado
Longa idade no seio da profunda terra!
Que saiba a Flora e a campos verdejantes,
A dança, a canto provençal e a júbilo queimado pelo sol!
Oh! uma copa que transborde o quente Sul,
Cheia da verdadeira, da Hipocrene rubra,
Tendo a piscar nas bordas bolhas como pérolas
E uma boca de púrpura tingida!
Que eu pudesse bebê-la e sem ser visto abandonasse o
Mundo,
E contido esvaecesse na floresta escura!

III
Esvair-me bem longe, dissolver-me e em tudo me olvidar
Daquilo que entre as folhas tu jamais sentiste,
A fadiga, a febre e a inquietação,
Aqui, onde os homens sentam para ouvir gemidos uns
dos outros,
Onde a paralisia faz tremer uns poucos, tristes, últimos
cabelos cinza,
E a juventude empalidece e morre espectralmente
macilenta
Onde apenas pensar é encher-se de tristeza
E de desesperanças de olhos plúmbeos;
Onde à beleza não é dado conservar olhos brilhantes,
Nem, além do amanhã, a um novo amor languir por
eles.

IV
Ao longe, ao longe! Para ti quero voar,
Não no carro de Baco e seus leopardos,
Porém nas asas invisíveis da Poesia,
Embora o cérebro, pesado, hesite e me rearde.
Já estou contigo! meiga é a noite,
E talvez em seu trono esteja a Lua, essa rainha,
tendo a enxamear-lhe em torno as suas Fadas
estelares.
Mas aqui não há luz,
Senão aquela que dos céus com as brisas é soprada
Por entre sombras verdejantes e caminhos tortos e
musgosos.

V
Não posso ver que flores a meus pés se encontram,
Nem que perfume suave paira sobre os ramos,
Mas adivinho, em treva embalsamada, todos os aromas
Com que o mês favorável dota a relva,
A moita e as árvores frutíferas do mato;
O branco pilriteiro e a rosa brava pastoril;
A violeta que logo murcha oculta sob as folhas;
E de meados de maio a primogênita,
A rosa almiscarada que reponta cheia de orvalhado
vinho,
Pouso de moscas murmurantes pelas noites estivais.
(A “Ode a um rouxinol”, uma das prediletas no grupo das grandes odes, trata da felicidade que é o canto do rouxinol, das tristezas do mundo e da sedução da morte; todavia o canto da avezinha transcende a mortalidade e é tão belo que o poeta, no fim, indaga se não terá sonhado. Jorge Luis Borges toma a ode como “fonte de inesgotável poesia”. Keats seguiu a inovação de Coleridge, que foi o primeiro, diz-se, a fazer do canto do rouxinol um canto de alegria. Dias antes de escrever a ode, Keats conversara com Coleridge, e na palestra entraram rouxinóis. A ode foi publicada nos Annals of Fine Arts em julho de 1819, contendendo-se sobre se foi escrita no início ou em meados de maio, se antes ou depois da “Ode sobre uma urna grega”.)

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário: http://seculodiario.com.br/30948/17/john-keats-um-dos-expoentes-do-romantismo-ingles-parte-1