PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

ROCK

Não sei que tipo

de loving song

is too much,

mas ab-sinto

que bebo-te

que nem suco,

todo enrolado

em fumaça,

a fazer rock`n`roll

na noite furiosa.


26/08/2021 Gustavo Bastos  

CRIAÇÃO DO HOMEM

O barro se monta

o primeiro modelo

de gente, a criação

se esmera, se estuda,

funda as fundações,

dá o sopro de vida,

tudo se faz na criatura

esta luz incriada,

o sonho acorda

de um sono inconsciente,

tudo surge e se abre,

a visão e os olhos,

a paisagem,

o caminho,

e no fim

a morte.


26/08/2021 Gustavo Bastos 

MAR DA VITÓRIA

Dá-se ao mar, toda a flauta

que doce se encanta, faz-te

topázio e dança, e teu mártir,

febricitante, delira.


Mar de paraíso, o canto edênico

está em um vasto campo,

ferve as mil léguas,

e a grande esquadra

que ataca.


O poeta, feliz e bobo,

traça em seu escrito

toda esta garra

de vitorioso.


26/08/2021 Gustavo Bastos 

FILOSOFIA

Um resíduo na fuligem

se fez ao fogo, todo

este rito de fumaça

que derruba o peito.


Mormaço, cigarro,

casa de ópio.


Eu sei que a filosofia

se abre em flor,

e o seu destino

de montanha,

é a escalada

da sabedoria.


26/08/2021 Gustavo Bastos  

DONA BÁRBARA

 No gramado todo o campo,

e a vitória em seu signo.

Toda uma veia que está

assim, azul ao mar.


Canta na noite e se

espalha em seu passeio,

seu fino ar, e o olhar 

interessado.


Abre-se, teu coração

na grama, e o sonho

de vitória que 

vai além. 

26/08/2021 Gustavo Bastos 

A CASA DE PAOLA

A casa é toda bem instalada,

a sala grande tem um

sol de levante,

todo o pátio

se cria e se recria. 


O caminho de fora

e a visão do quintal

se faz em grama.


Qual janela eu vejo

as passagens, se deita

no sofá, passa a vista

no jardim, um folguedo

de violão, e o dia

que nasce de novo.


26/08/2021 Gustavo Bastos 

FELICIDADE

 Estala em seu coração

a nuvem branca, são

sete céus vestidos

de nuvem, um doce

algodão borbulha,

tudo macio,

suave.


A vida estala em seu

macio, suave, e o conforto

dos dias de nuvem

é bem feliz.


26/08/2021 Gustavo Bastos 


JAZZ

O negro toca jazz,

seu dia se estala

feito fúria, ele

pega o seu trompete

e vira rei.


O negro no show

em que ele domina

o palco, seu trompete

reluz em seu sonho.


Ele diz : "Eu sou negro!"

E toda a sua música

invade os corações

que sonham.


26/08/2021 Gustavo Bastos 

CAMINHOS

Sempre esta eternidade

morre de sopro,

venha ver a noite,

sua fuga é mestra,

de vez que tudo

se sacia, de dez fomes

a vida que grita.


Forme-se na universidade,

o campo está sempre celeste

e o dia se escreve 

com o muque.


Vai-te andar, pois a estrada

tem sonhos, vai-te todos

os caminhos, por entre

as portas e as janelas,

a ver o teu sol.


26/08/2021 Gustavo Bastos 

O SOL VIOLENTO

Um golpe e tudo o que se vê na dança de Salomé é a cabeça de João Batista, na pia batismal o impostor canta nas nuvens sua vida de nefelibata. Ardor, o horror na chuva que cai como tempestade, nada mais que o rito que foge na escada e pelo vão, a rua está imunda, o caos se instala nos becos, as garrafas de vinho estão espalhadas pela taberna, Márcio está embriagado, o Luís corre na pindaíba, está sem um puto, pede emprestado sem pagar, cai a noite, a tempestade, a mulher Salomé oferece o corpo por cem copeques. Uma roupa fajuta é que veste o menino Roque, toda a sua astúcia está em rimar o puteiro com dinheiro. Nada mais há nesta noite, o cais está manso e dormente, lá o pescador Alves está encastelado, com trinta dentões para vender na próxima aurora.

Pano rápido : a peça montada estava atrasada, o diretor sonhava em estreia rápida, mas o produtor desistiu. Nada sobra deste sonho, o poeta pinta este esmalte enfadonho, que grita, qual um demente. Desta feita, o modo frígio empresta às escalas um ar sucinto, as garras da paixão lutam contra o frio. O poeta está violento como o mar, e vil como um raio. A mulher Salomé corta a cabeça de um velho esbanjador, lhe dá o nome próprio, escroque. Um corrupto a menos, grita Márcio, e toma um gole fervoroso de cerveja alemã. Roque dá de ombros, teria uma comissão de Salomé, a santa da noite.

Os castelos das fábulas são como eram nos contos infantis, os algodões, os acolchoados, todo um conforto perdido, o choro soprando e o riso no campo, tudo se perdeu na noite suja, Roque é vil como um ser criado sem destino. A peça está cancelada, a taberna está cheia. Vai-te o músico, o sino toca a corneta, o tombo do navio, o sal que surge na esmeralda, espuma e beira de praia, um vento suave, qual zéfiro.

Estoura uma corda do violão, vinte quilômetros para chegar ao pouso, uma violência imortal, um dia fatal, uma seta no coração, os mortos da chuva, puro ataque de tiro, uma plateia chocada, um soco na cara.

Roque volta e rouba o velho adormecido, Salomé lhe dá mais uns trocados. Foda-se, diz o vil menino. Fábulas são contadas aos magotes, um puro furor de poesia encanta tomadas de set bêbado. Creia, hipócrita, que o sol não está aqui na noite, que a lua empalidece no meio da madrugada. Vento venta que nem um sopro, pois a ventania é um hausto, ao peito cheio de sonho, que infla como um balão que irrompe e cresce.

Vai-te pintor, à roda de sua tortura, trotar com o cavalo xucro de seu pincel, e uma goiva prateada para fazer um boneco mambembe. O poeta está todo cheio de marfim, um mármore pedra e salinas, toda uma fervura, seu gesso estalado, sua briga esbofeteada.

É vã a noite de lua, toda esta miséria vã, vilania e noitada, a crise social enlutada, a luta renhida e o fracasso que vai à taberna, junta-se toda uma gama de idiotas, a noite é uma febre surgida na vinha, seu elenco é medonho. O poeta se suicida, é um mártir, se regela, se fulmina, tem o peito brotado, estourado, como uma floração, tem a memória enevoada, e seu fumo se espalha no saloon.

Creia, hipócrita, que a fúria do rei mata o fraco, sua fúria de rei que mata o fracasso, tem na noite seu canto imortal, creia, idiota, que o navio chega ao porto como se sabe, o mar violento nunca nos mata, aos que nadam ao norte, de seu sul o frio e o gelo já traçados, ao que passa solene para sua praia de sal, e se banha qual peixe. O cadáver que boia na sopa, creia, hipócrita, idiota, é do pasmado que se derreteu em seu fogo exangue.

O poeta está sempre atento, e o tiro de sua bala atravessa o caminho em seu estampido, sua espoleta voa na cara do que dorme, e seu sol está sempre vivo, o ataque é sempre frontal, certeiro, atira para matar, e a vida imortal nunca cessa, o mar se abre, seu sangue se mistura à areia e ao mar, flutua seu navio que ruma, todo este sol violento, inclemente, ele bem o quis.

Poema em prosa – 26/08/2021

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.