Por mim bastaria esta tarde viçosa,
um embarcar de mala e cuia
no absinto.
Pois não, como a guitarra me enleva,
todo barbitúrico ou opiáceo
são (sim!) inócuos diante
da música que me faz planar,
ao eldorado, altiplano voador.
Ah, sesta doida, de tarde se amalucar
e se vestir todo de preto,
pintar a cara para dar sustos
em pedestres num conversível.
Por mim basta esta tarde vitoriosa,
mameluco e espadachim,
lutador de guerra com estopim.
À rua de baixo um lixo na boca de fome,
pelas ladeiras de cima uma embocadura
de favela, parteiros de patrulha,
carabineiros e chagas sociais,
eu-poeta me dano de dor,
ah (sim) estou por entre becos
sem saída, buscando dar água de beber
a quem tem sede, e fazer passarinhos
desenhados de grafite na noite negra.
Pois é! Meus doidos sonhos constroem
a esperança vulcânica para
o dia do despertar,
e o cuco pia por todo o planeta
com um etéreo meio-dia,
oh tardinha laranja de arrebol,
suscita em mim as drogas cavalares
de uma contemplação mística,
de uma ascese de vindima
com roxo bruto bêbado,
de uma asa porvindoura
de azul brabo montanhês.
Por mim bastou poema de feira,
por entre maçãs e laranjas
que desenham a plêiade,
por um simbolismo janota
que me conduziu
aos gritos de gabola
de uma declamação rouca,
que me instruiu
a não ter egotismo
quando se semeia
fortuna e poesia,
e para ser só alegre,
por mim bastará
ter poema e afago
no acalanto
de sol e praia.
19/10/2016 Gustavo Bastos
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