PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

segunda-feira, 31 de março de 2025

PENHASCO

Penso, logo, ainda sei que existir

é resistir. Sei que nada ainda sei,

e assim, criatura reles e vil,

com toda a vileza,

detenho a possibilidade

do soco, adio os ermos

da morte, sou o ser estranho

das coisas enigmas mistérios,

o mistifório dos hemistíquios,

uma poção, um unguento,

a fazer da benzedeira 

o meu caminho na hora

que o sino dobra,

eles dobram como

Donne na Bretanha,

como Baudelaire

no spleen,

e eu penso que sou,

e existo assim,

poeta e pensador,

que nem o mais

fundo mar 

do abismo.


Gustavo Bastos, 31-03-2025

Monster

O BEBEDOR E FUMANTE

A tensão do brocado, nesta urdidura,

tece toda a semântica e seu discurso.

Na terrena fábula, ao terminal conto,

na flanada poética, ao absurdo teatral,

e a escrita mecânica, abstrusa,

da burocracia, da morte venal.


A que está mais adiante,

é a língua cavalar, violenta,

dos acessos da raiva,

diante do notário,

diante do contador,

no pau d´água que bebeu

 a rodo, falando asneira,

arrotando bulhufas.


Ao que entendi a poesia

de Augusto dos Anjos.

Um cigarro, meu caro,

e tua sífilis, tua enfisema,

tua carne pútrida,

uma pleura inchada,

um verdor de anemia,

em toda a tua cara basbaque

e tua fantasia anelada

e falhada.


31-03-2025 - Monster

Gustavo Bastos 



O POEMA BRASILEIRO

Desde o polímata mais histriônico,

e toda a matemática que pairava

em cálculos de astronomia,

este vício em estrelas pairou

no esteta Ícaro, do pintor Bilac

a ver toda a ábobada,

ouvindo esta vinha,

o hinário angelical,

sua virtude de mármore.


Passaram os anos, e a fita

elencou toda uma fúria

antropofágica, se fez do

florilégio antigo, depois

de limpar a bunda,

um volume de folclore

inventado, para dizer

brasis mais que pensados,

imaginados.


Gustavo Bastos, 31-03-2025 

Vibe

TALISMÃ

Adiante, os ermos, o sereno,

tira, à fórceps, os hinos

das matas, que toda

ganância sucumba.


Eis que neste tempo,

o compasso soluça,

e toda fauna morre

na queimada,

destes livros

sobre o Homem.


Eis nada! O poema,

para quê? Neste rumo,

um atavio é a rima,

um badulaque bobo

este tal literário,

diz o idiota, 

ao repetir

um boato.


Dando de si ao mundo,

deste mundo oco

a vinha serve

para a fuga.


Rente ao peito,

com a dor da faca,

presume teu quinhão

tal poeta que deambula.


Nos rios que correm cheios,

flana como um arquipélago,

nas altas vistas da falésia.


Dentre todos os lampejos,

todo este saber é teurgia,

marcado no talismã,

com o dom da mágica.


Gustavo Bastos, 31-03-2025 

Vibe 

REVERBERA

Consegue o verbete, para imantar o vocabulário,

nas travas da língua, acontece o verso.

De chofre, ao grito súbito

que tenta e revela, 

no hausto, proferindo,

conjurando.


Doido o tempo urge a máquina,

com as hastes e as torres, os vícios

e os mares criados na imagem.


Cria, ensina a chama viva,

pois a saber o fogo,

queima sua vinha.


Dentre os poetas morde

teus conformes, se vira

nos quebrantos das noites,

os ditos poetaços.


Mas a verve, constrita,

afaga e bate, amacia e tonteia.

Destarte, os lírios agonizam,

a loucura tem toda a peste

dos tempos da revolta,

como um castelo ruindo.


Foi este o topázio achado

nos dias de esmeralda,

pois toda a pedrada,

no estro exangue,

atinge a mais longa

noite das agruras.


Pois, desde o monte,

quando cantava o lobo,

e a lua sangrava,

nos ritos de dança,

toda a poesia brotava

deste totem, um riso

mordente, a fonte

fremente, e os brios

da oração.


Gustavo Bastos - 31-03-2025 

Sublime