PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

domingo, 27 de outubro de 2019

O MITO BRASILEIRO

O Brasil ruiu entre
pólos que se digladiam,
o butim do óbvio
que pulula,
a rachadura em uma
direita de baixo clero
no poder,

a direita chauvinista
que fez crer do mito
seu delírio,

e faz da esquerda o títere
que faz arenga
em lula livre,
mantra que engessa
todo o discurso,
outro mito
a derruir as bases
de um novo caminho,

a mitologia política
e seus salvadores da pátria,
desta pátria infantil
que precisa de heróis,
mesmo que sejam
mitos.

27/10/2019 Gustavo Bastos

AS LUTAS DA PENÍNSULA

A Catalunha grita por liberdade,
a Espanha em seu sonho delirante
juntou as nações sob
uma herança franquista,
bascos, aragoneses, navarros,
a dor em Granada
depois da expulsão
dos árabes,

nunca um parlamentarismo
foi tão inconstante,
nomeia sem maioria,
novas eleições,
e surgem novas
frentes,

do Podemos um novo sonho,
mas temos a nova direita,
a ditar de dentro dos basfonds,
novas velhas direções,

se pende ao PSOE novamente,
um Sánchez redivivo,
e um cadáver insepulto
e autoritário
que brada contra
os independentistas
de Barcelona e Tarragona,
em que o sangue e o fogo
se impõem.

27/10/2019 Gustavo Bastos

DIÁSPORA CONTRA O PODER

Ao fio da espada estouram
as revoluções de veludo,
efeito dominó
entre as nações.

E nos dias de hoje
venho ver Órban
a descortinar sua
xenofobia com um
Fidesz obscuro,
a Polônia tão
perseguida
ser engolfada
pela Lei e Justiça,

ah, que dentre estes
povos não morra
o cosmopolitismo
da imigração,
para uma nação
de povos,
e não barbarismos
atávicos de
delírios medievos,
qual nostalgia
passadista.

27/10/2019 Gustavo Bastos

OS CURDOS

Os curdos se armam
no exército de libertação,
este, o povo sem destino,
na liberdade de sobreviver
seu atinar ao átimo
de se armar,

entre as fronteiras da Síria
e da Turquia, mais lépidos
no Iraque, contra nuvens
tóxicas do Daesh,
contra Erdogan,
com santos do pau oco
de seu partido dos trabalhadores,
também eles herdeiros
do terror,

a nação sem país,
vítima da divisão
fria dos territórios,
ao fim de um sonho
otomano de seus
califas e sultões
de barro.

27/10/2019 Gustavo Bastos

OS MITOS E AS LEIS

Já penso em como Che
não soube mais de seu caminho,
escolheu morrer
na Bolívia,
seu destino lhe chamando
ao grito das balas,

eu, vendo os horrores do Haiti,
as ilusões de Havana,
as lutas renhidas
em Kingston,
sei da febre
em Tegucigalpa
e das hordas
que morrem
no cartel de Sinaloa,
a dizer que El Chapo
era o vilão cruel,
qual foi Pablo Escobar
nas suas pirotecnias
em Medelín,
o mito cruel
do crime
que vira História.

27/10/2019 Gustavo Bastos

FÚRIA LATINO-AMERICANA

Na noite dos tambores,
entre os endividados,
estoura o choque.

A América Latina grita
entre as fumaças,
Piñera se assusta
com a explosão
em Santiago,
eclode a fúria
em Quito,
Lenín Moreno
se refugia
em Guayaquil,

eu vejo ceder no Uruguai
a Frente Ampla,
e os estertores de Macri
no país que revive um peronismo
redivivo em unidade,
com a La Cámpora
na periferia esperando
de Férnandez
sua anuência,

ah, se este grito renasce
no Brasil, a manada
vai ao Planalto com
a sede dos que não
creem em mitos.

27/10/2019 Gustavo Bastos

UMA MOÇA CAROLINE

A cantarolar : ah, sorte ou azar!
A moça Caroline em sua
estrela não se fia
em fraqueza ou langor,
em seu campo de batalha
fica forte como uma leoa,
guerreira de luz
em seus passos firmes
e quedas sublimes,

a moça Caroline vem de longe,
lá das terras mais brutas
da batalha, e seguiu
seu sonho como uma flecha,
acertando o seu alvo
em cheio.

27/10/2019 Gustavo Bastos

PAOLA COM MEL

Arde doce qual mel
na noite de melodia,
e se jacta qual
flor no fastígio,

brio em seu floral de
azul e rosa,
da botânica
a orquídea
em seu coração,

plena, das asas
a mais formosa,
e profunda
em sua hora
de brilho,

a hora da estrela,
de seu mel
o meu dharma,
de seu mel
a minha visão
livre que
sente o peito
cheio da luz
prometida.

27/10/2019 Gustavo Bastos

PAOLA NAS NUVENS

Sobe e desce, volteia entre
madeixa e anca,
se encanta de palavra
e holofote,
tem olhar forte,
qual felina.

Já lá, no alto do sonho,
não se deixa entrever
o que pensa,
mas me dá sinal,
diretamente.

Ou, por outros caminhos,
meio que enigma,
meio que já respondido,
faz que não faz,
e aparece num átimo
com sorriso e simpatia,
fazendo das suas,

segue o caminho,
este da via estelar,
como sempre quis.

27/10/2019 Gustavo Bastos

VIAGEM DO TEMPO

Canto d´areia esta miragem,
qual voragem e floração,
festa de paisagem,
explosão da visão.

Me livra deste canto caudaloso,
tempo sombrio deste Deus
surdo e supremo,
golpeando o meu mármore
para que ele fique
esperto, e despertando
minha fúria para
que a espada
corte este tempo
de guerra entre
o fio e o poder
da palavra,

canto d`areia o sangue,
venho por ter do
flagelo o grito primal
da ousadia, qual cometa
de andrômeda
à via láctea.

27/10/2019 Gustavo Bastos

DESÍGNIOS DOS ARCANOS DA POESIA

É bom que a paisagem não se desenhe
sempre por expectativas,
que sempre as contrarie,
demolindo as certezas
com seus uivos delirantes,
um bom martelo
destrói para poder
edificar nova obra,
o espanto como guia
e a força como caminho
único destas visões,

não se engane, os arcanos
têm seus desígnios
para a poesia,
e lhes surpreende,
aos ignaros,
os tambores da História
quando lhes estouram
os tímpanos,

pois a poesia é campo de batalha,
e nesta quem é forte
não se cala,
e falando qual
boca de fumaça,
queima com destreza
o inimigo.

27/10/2019 Gustavo Bastos

OS ANACRÔNICOS

A letra dos iletrados
é o canto geral,
faz de todo alfarrábio
canto supérfluo,
fonte melíflua
de poetaços
castiços,
citando
inúmeros
cantochões
anacrônicos,
e um hinário
de antiquário.

A língua da pátria viva
ignora solene os atavios
rebuscados dos pretensos
trovadores feéricos,
e lhes ri de suas roupagens
que edulcoram o kitsch
como se fosse
uma vanguarda
meio aparvalhada,
feita dos basfonds
das sobras e raspas
dos que se foram.

27/10/2019 Gustavo Bastos

CANTO TRIUNFANTE

Quebrem os muros da Turíngia à Bavária,
e me venho dentre os odores
da Bretanha, descer os Alpes
qual aventureiro,

passo aos Pirineus com uivos e laivos,
altiplano de neve, um ósculo
de novo, lá em Bergen,
entre as auroras boreais,

sem lamúrias dos fracos,
sem os lamentos dos derrotados,
um uivo esteta entre
as brutas noites
da Islândia,
um calendário novo
entre os ditos de Londres,
uma capa de revista
entre os passos
de alamedas
de Champs-Elysées,

o grito cruel da vitória,
abrindo os portões
do Arco do Triunfo.

27/10/2019 Gustavo Bastos 

MANTO DA NOTE DA INFÂMIA

Já está lá a bazófia
dos gabolas,
a cantarolar bêbados
sua desonra,
com cantos estourados
do tímpano, e beberagem
cultuando a infâmia,

lá, entre as noites putanheiras
e o sal da coca entre
as narinas,

lá, onde o inferno é mais
misterioso que a morte,
e os suicidas anunciam
suas galhofas
de puro álcool,

vem ver o gabola
cair em si,
da queda mais
brutal da tarde,
trincando os dentes
no seu encontro
com a morte.

27/10/2019 Gustavo Bastos

O VINHO DO BATISMO

Num átimo o poeta sestroso
quebra em pedacinhos
os sonhos do idiota,
cruel com espada
e sábio como
adaga,

vem de espanto ao cobre
e bronze em canções de
prata e um ouro maciço,
e duro qual diamante
faz sua geologia
de ataque,

contrafortes entre as fortalezas,
a virtude da força é a
qualidade da guerra,
e envelhece bem como
vinho, em odre batizado
com a audácia
das feras.

27/10/2019 Gustavo Bastos

CÉU INFINITO

As fronteiras que desenho
são sem portas,
passo direto
ao azul, e por frestas
não me detenho.

Do azul o sumo tenho,
e por vias estranhas
encanto o encanto
de tons do sal
e do sol,
e neste azul
faço o céu.

As densas moradas
deste sonho, as diluo
em leve canto,
e pelos ares brilhosos
deste azul, com o céu
me deliro e me espanto,
deste céu todo azul
tenho o canto,

pois todo azul, o céu
me desenha, e a fronteira
já não existe, eu me
perco no infinito.

27/10/2019 Gustavo Bastos

BATALHAS FEÉRICAS

A fonte enuncia o brilho
de uma água doce,
o plano que se desenha
na fonte é o ímã
da poesia fluida,

ah, mas vem com esta
de morder a isca,
qual peixe
encalacrado,
em um banquete
risonho
de espanto
eclode,

dando à danação seu destino,
e as alvíssaras ao poeta,
como um cabedal,
como um ímã,
do qual a seiva
prorrompe
e a inspiração
tonteia
em pena
de anarquia,

venho por estas bandas de cá,
caminhando qual esteta
para bulir com
uma estrela,

da lua à febre matutina,
d`aurora qual fúria
de arrebol,
o crepúsculo das eras
fazem da constelação
a noite dos cometas,
qual noite feérica
que surge da
poesia visionária,

para lá dos campos deste páramo,
como uma dor ardorosa,
um clamor para os tambores,
os amores ressurgem
em fastígio depois
da guerra,
e o rito de poesia
em sangue flui
pelo corpo inteiro,
e passa indômito
como flor na floração
e canções de novas
estações,

o visionário, em noite delirante,
prorrompe qual enxurrada
que grita os diamantes
no plenilúnio e sorri
para o vinho desta
noite febril.

27/10/2019 Gustavo Bastos 

OS OLHOS DA GUERRA

Quando os olhos lacrimejam de sal,
as portas do céu se abrem
na emoção primeva.

Era tarde no anúncio das tabelas
perdidas e dos planos malfadados,
eu estava entre os dramas
e as tragédias,
e no fio da navalha,
fazia esgares
de comédia,

bruto o passo que ia dar,
e a queda se deu,
da queda mais bruta
da noite,

os olhos do silêncio testemunharam
o grito sem piscar,

ah, e foi enorme o susto
das asas sob o aço
mais profundo,
como um baque
ou uma explosão,

o poeta sorria entre os cacos
de um vício enfermo,
e seu canto se deu
na nuvem torrencial,

lá, ou me mato ou me afogo,
lá, onde a noite mata
o sonho e o delírio,

venho, de dentro do coração sujo,
elencar os hinos ébrios
das brutas canções,
enumerar os hiatos
e os impasses,
fundar a aporia
e a contradição,

lá, ou fico aqui, vivo,
ou morro de ataque
no flanco dos heróis.

27/10/2019 Gustavo Bastos