PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 29 de junho de 2019

BRUMA DE MAR

A bruma vence a morte
como um lagar que
em seu canto firme
sonha gerânios,
busca em tua efeméride
a nota sucinta
de um poeta
que viria do caos
e depois sentiria
o coração ao pulo,

vem, de um certo dom,
elencar os rios vistosos
que saem da nascente
das cataratas e abraçam
o grande mar
do infinito,

o poeta, já cheio do coração
aguado, marca com faca
seu passo e seu amor primeiro
vem de um vento sábio
que não derrama
estrela, mas
a desenha.

29/06/2019 Gustavo Bastos

PENHASCO

Na água revolta do mar
das esmeraldas, fluía
o ar africano que
lutava contra
os generais,
lutava o imberbe chinês
contra seus algozes,
xoguns viravam
pó na revolução meiji,
e os cadáveres de Hitler
renasciam ao fim,
descobertos após
o massacre,

na tormenta destes mares
de sangue, dorme a
santidade exangue
que em seu bruto torpor
sonha, e a loucura
mística que lhe
inflama o peito,
lhe mata à paixão
suicida, como um
jovem que se joga
do penhasco
e desaparece
no mar.

29/06/2019 Gustavo Bastos 

ASAS IMORTAIS

No pátio refluía o meu
azul febril, da pena aloucada
um certo estro de noite e de buril,
veste túnica e traz de seus
drapeados o solto vento
que lufa sobre o vinho
translúcido de uma flor,

ramas filosóficas floreiam
no caos das horas,
e as raízes deste sonho
náufrago ecoa qual
monstro marinho
os mapas antigos
da perdição,

canto de sereia, feitiços
de circe, letargia
de lótus, o vento
leva o barco, os
sonhos de poeta
navegam risonhos
este caminho
livre,

a poesia é do mundo,
e o mundo lhe sorri
toda a esfera
que lhe dá as asas
imortais.

29/06/2019 Gustavo Bastos

FANFARRAS DOS SÓIS E DAS NOITES

Brilha no plenilúnio a fanfarra
atávica dos ébrios e suas canções,
germina toda a memória
que busca em silente anelo
a paz imortal
de um lenitivo
espiritual,

lembra, desde o mormaço
ao sol mais inclemente,
a semeadura que a chuva
fez ao brotar das flores
as folhas verdes
e os frutos vistosos
que brotam e vivem
do campo à floresta,

silvestre este canto de pássaro
ao sol da felicidade,
e vem de um azul cobalto
que permeia toda estrela
vésper qual floreio
que vai do rio castanho
ao mar turquesa
que lhe desperta
um delírio de navio.

29/06/2019 Gustavo Bastos 

POETA REFEITO

Na luz âmbar da noite calma,
eu pego meu livro de poetas
suicidas e sublinho
os sinais da morte
nas estrelas que
lhes caem,
vejo nestes corações
um azul mortiço
que foge do destino
brilhante,

ah, como sei desta dor bruta
em cores frias, mas me vem
este instinto nobre de
vencer, no entanto,

e com a espada de
dâmocles sobre
a minha cabeça,
viro o jogo todo
num lance forte
como rocha,

agora, desde a fúria
e o pendor da sabedoria,
me chamam ou de
"o filósofo" ou de
"o poeta", orientador
da turba e louco
de hospício.

29/06/2019 Gustavo Bastos

VERDOR ALUCINADO

Adormecia sobre o campo o verdor
de uma viagem de absinto,
com quatro luas espantadas,
e uma obra que enfim
rumava ao seu porto,
lhe dando a forma tratável
de um poeta que sorri
a sua nuvem qual viajante,
que delira seu estro
qual anjo de ametista,

mas, do intento à nau formosa,
recebe tua carta a soma
de toda a guerra,
uma carta assinada
de sangue nobre
com os vinhos
de mãos divinas
como sóis,

lhe registra toda a nota
febricitada em coração,
e levita o monge
de teu peito
qual vaticínio
que ferve êxito.

29/06/2019 Gustavo Bastos

LÓTUS

Longanimidade, a poesia se
tem em seu passo firme
que olha o tempo
e lhe dá a face
universal da
sapiência,

eu, quando acordei de
um pesadelo mórbido,
garanti a estrela matutina
qual flor brotada
em toda a aurora
de potência,
sem febre
e sem o anseio
de um apedeuta,

lhe vem toda a história
das cartas biográficas,
e este canto alegre
que felicita
a lótus proeminente
que lhe enleva
o coração.

29/06/2019 Gustavo Bastos

A NOITE DA TORRE

A terra vermelha a lamparina
ilumina os ossos de um velho sábio,
lograr êxito qual poeta
nesta noite atávica
é sonhar alto
todo o elenco
de fábulas,

registra seu senhorio de verso,
mas, do mar às nuvens,
retira de seu campo a flor doente,
e remete ao tempo burilado
as cores mesmerizadas
de seu canto campestre
e de floreio rocambolesco,

ah, parte à parte, corta
todos estes pedaços de ritmo
e forma um corpo de bronze
sob o prisma de volúpia
que lhe dá os sentidos de sedução
de uns versos espertos
que não somem na noite
dos ébrios.

29/06/2019 Gustavo Bastos 

AVENTURAS DE BLAKE


Quem se abisma como fera nas ruas de uma fumaça metafísica, fuma teu intento como um mártir, o poema que lhe diz que a alma sombreia e margeia o caos sabe do poeta toda a cor de seu drama existencial. As drogas alucinógenas fazem o número do verso como um meteoro que se espatifa entre os sóis que dormiam antes da bomba.
Longe um castelo, e eu rumo a Paris com um canto de Lautréamont sob efeito de beladona, viés romântico anulado, cadafalso azucrinado como um rei decapitado, lembro de meu maldoror, de meu matrimônio do céu e do inferno, uma pintura astuta de Blake que surgia em notas subconscientes.
Veja : os silentes monges levitam sob a fumaça de erva mística, uns poucos idólatras se ressentem de um ataque de riso de um poeta, pois da poesia burilada temos um ardor e um torpor inigualáveis, maldoror veste vermelho, o fragor da rosa estoura meu olfato, eu vejo em sinestesia o sentido metafísico desta alucinação divina.
Veste a rosa fundada em espírito e corpo, dando às nuvens sentidos de sedução e vitória, com a poesia mais estourada como uma boiada e o forte impacto de um touro. Vem, e de Lord Byron tens um tanto de noite opiácea, de um Percy Shelley o naufrágio poético, se mata como Florbela, reflui e volta, se irmana de seus asseclas como um guru virado em lua, um lunático que é escutado por autoridades das mais diversas, como um Rimbaud nascido de uma lótus embriagada.
A nuvem translúcida ecoa em vento a matriz destes cantos ébrios, um ópio futurista que embebeda todas as cores de funda metafísica, o poema se funda como um eixo insuperável da flor universal, eu tenho toda esta fúria como um animal que sai da jaula, eu tenho toda esta fortuna e vitória conquistada pela firmeza de propósito e um lance divino inconteste.
Venho de longe com as sedes desérticas de um beduíno, venho de longe com as águas de um oásis que some na amplitude da visão, venho com todo o peito forte que rege astutamente toda a fábula do caos. A poesia canta na rua, os doentes mentais têm dela um vislumbre, os idiotas dela fazem troça, os embriagados dela têm o sumo supremo como uma flor nauseada que ruma ao campo vasto que dorme como um nababo depois da orgia.
Vento que se ruma todo feliz sem cadafalso ou carrasco, vento de poesia que ruma indelével e idôneo como grande saúde frente à guerra brutal dos sonhos. Passo rente aos filósofos que estudam filigranas, a visão geral me evoca novamente a mística psicografada de Blake, os martírios derramados de Florbela, os gritos primais dos poetas primatas, os lances de dados de um Mallarmé que ecoa toda a próxima poesia de vanguarda. O louco das cartas vaticina, como louco que é, a explosão de uma cidade, o louco delira como um cavalo baio que pula entre as tropas assassinas.
O oásis de seu delírio vaticina como um idiota obsediado seu caos brutal que vira pó. As notas febris e apaixonadas não eram nada mais que cartas adolescentes rasgadas depois de um surto de raiva, seu sentimento como Werther era a paixão idiota que sofre em seu âmago a dor do fim, funesto jovem que caduca sem envelhecer, seu sofrer mesmerizado que canta poesia chorosa na loucura do plenilúnio e chora rosa com um manto azul.
Maldoror e matrimônio do céu e do inferno lhe dão as flores de um espírito grande que explode como grau de mestria, a barcarola e barcos ébrios cantam e se movem como esferas numa harmonia de Kepler, ruma teu verso em atavios que sobem ao céu em ascensão de Maria, e os pássaros que voam lá são tão vistosos que ofuscariam a visão da carne mortal.
Lembra-te que o fino da bossa vem de uma resiliência máxima às intempéries brutais, e forma teu estro sob o prisma imbatível que ferve força e exibe o peito como um bicho treinado no fogo. Blake lhe serve ao espírito como uma espada que corta rente toda a sombra de palco, que ruma todo inteiro com um pincel que delira toda a cor que funda teu estro veemente e vituperante, lhe dá toda a fortuna teu brio formoso que renasce, ressuscita, e qual fênix brota do chão arrasado da morte e dá uma lufada qual um éolo louco e protuberante.
Graças ao Netuno que lida ao mar seu vinho mais fremente, e lhe dá ao peito teu estro e profundidade de máquina, dá ao teu vinho o sabor seminal que enlouquece toda a cor como uma fúria ébria que estoura champanhe na noite dos fuzis, e ruma ao capital como um corsário que vive o espanto de seu sonho qual lagar e giro de tempo em golpes de martelo. Vem a teu atavio cantar Blake e seu canto visionário como este que é poeta e que delira.
O louco das cartas bombeia seu vento qual um coração de absinto que juramenta seu trabalho como grande músico de trombeta e tambor, bate no coração das horas o tempo e ventila sobre o céu estrelado longas noites de som e de vinho, o louco delira Blake, e ressuscita, em toda a campanha em seus campos de marte, as suas batalhas sonhadas com erva e diamante.

29/06/2019 Gustavo Bastos (poema em prosa – Netuno)



quarta-feira, 26 de junho de 2019

GURUS E CURANDEIROS – PARTE IX


“A investigação de Houdini, portanto, tinha o fito de desvendar todos os métodos destes truques espiritualistas”

Harry Houdini foi um dos maiores mágicos e ilusionistas da História e certamente o melhor na arte do escapismo de todos os tempos, e também se destacou por ter se tornado um obstinado combatente das fraudes que aconteciam no Espiritismo, pois os truques que alguns destes supostos médiuns usavam eram todos conhecidos com facilidade por ilusionistas, quanto mais de um dos maiores deles, Harry Houdini.
Enganando pessoas que viravam crédulas por desespero e puro desamparo, alguns destes farsantes não tinham escrúpulos ou limites. E Houdini acabou se tornando uma destas vítimas, pois quando da morte de sua mãe, ele foi consultar médiuns que tentaram se aproveitar de seu sofrimento e lhe tirar dinheiro.
Sua mãe Cecilia morreu aos 72 anos e Houdini teve uma depressão profunda, e sua obsessão com a morte da mãe o levou a cometer desatinos como, por exemplo, ir ao cemitério frequentemente e ir lá conversar com a mãe e chorar, e alguns lhe aconselharam procurar consolo no espiritualismo.
Houdini foi iniciado na mágica conduzindo falsos números que simulavam sessões espíritas, e logo descobriu que supostos médiuns se utilizavam de truques baratos e canastrões de mágica, e foi quando o notório ilusionista começou seu empreendimento extremamente bem-sucedido de desmascarar estes impostores.
Houdini então empreendeu, além do trabalho de se infiltrar em sessões espíritas para desmontá-las na raiz, um trabalho de repetir estes mesmos números baratos nas suas sessões de mágica para demonstrar a canastrice embutida que havia no Espiritismo. A investigação de Houdini, portanto, tinha o fito de desvendar todos os métodos destes truques espiritualistas, o que virou uma verdadeira cruzada.
Durante sua turnê de mágica de 1920 na Inglaterra, Harry Houdini conheceu Sir Arthur Conan Doyle que, depois de ficar bem-sucedido na literatura, se destacando como o criador do personagem Sherlock Holmes, virou um fervoroso e crédulo espiritualista, e um de seus porta-vozes mais destacados. Os dois se tornaram amigos, mesmo com posições diametralmente diferentes.
Harry Houdini, mesmo com uma posição oposta a de Conan Doyle, foi convencido pelo mesmo a participar das sessões espíritas realizadas na Inglaterra, mesmo permanecendo um cético. E mais tarde, em 1922, Conan Doyle viajou para Nova York para uma série de palestras e Houdini o recebeu como seu hóspede.
A divergência dura entre os dois sobre o mundo sobrenatural continuava, e Conan Doyle então teve a ideia de convidar Houdini para conhecer uma médium que não lhe deixaria mais dúvidas a respeito da veracidade dos fenômenos espíritas. E foi nesta sessão, em um Hotel de Atlantic City, que esta médium tentou estabelecer contato com a mãe falecida de Houdini. E foi quando Houdini ficou furioso ao desvendar uma fraude.
E agora, de amigos, Conan Doyle e Houdini iriam se tornar rivais, e a credulidade de Conan Doyle era tão febril que este achava que Houdini usava do sobrenatural para fazer seus números de escapismo, pois achava que o mesmo transformava partes de seu corpo em ectoplasma para escapar de correntes e algemas em condições extremas, o que, obviamente, só aumentava a ira e a indignação de Houdini frente a tal afirmação absurda, pois o mágico dizia que o que ele conseguia fazer com habilidade era tudo resultado de muito treinamento e dedicação.
E como consequência desta fraude absurda desvendada por Houdini, depois do convite de seu agora rival Conan Doyle, era o seu ataque amplo e frontal contra os supostos médiuns de toda sorte. Houdini chegou a produzir e atuar em um filme que denunciava tais truques espiritualistas chamado “O Homem do Além”. Houdini então ganhou o epíteto de “Debunker”, que pode ser traduzido como desmascarador, pelos jornais da época.

(continua)

Link recomendado : https://www.youtube.com/watch?v=Ubhuo1Hn54U (HOUDINI DESMASCARA O 
ESPIRITISMO PARTE 2)

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.