PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 1 de maio de 2010

DISCURSO QUE ESTÁ EM VOGA

DISCURSO QUE ESTÁ EM VOGA


Quem me guarda de destruir-vos?

Quem que o mundo impedirá?

Entreguei-me aos lucros, às posses,

Ao mercado das horas.



A densa certeza compôs pouca

Solidez em todos os cansados,

O mais que for de compreensão

Está longe, conhecimento

Pouco afortunado,

Palavra em verso,

Tudo notável como manifesto,

Tudo nas cartas,

Nas memórias dos canhões,

Nas estradas que eu não vi,

Ou seria mais? Seria?

Nós nos encontramos de noite,

Você é a minha dor,

Eu quero ter este tipo de desprendimento.



Quem me guarda de odiar-vos?

Quem que nada assustará

Tão forte que é a consciência?

Levou-me e fiz o meu tempo,

Dissipou-se o engano de ser estúpido.

E a maior bagunça dissipou-se?

Voltaria o medo?

Pois não há medo se já tiver

Toda a consciência.

Mas, que é impossível?

Sou nada, hipócrita leitor.



Guarda-me! Deus, guarda-me!

Deus piedoso, Deus da aflição.

Quem vai dar pontiagudas espadadas

No vão de todo golpe,

Contra nós, Poder, Moralidade?

Contra tudo: sirva-se.

Eu nem peco, nem peco e nem acredito.

Nem pouco ou muito conheço.

Nem que exista sempre

Estarei desesperado.



Vem fugir comigo, mulher,

Outra vez achei que era a querida

Que veio para mim.

Não estou torto, não estou direito.

O certo é devanear por aí.



Saio ao início de um novo calor

Ou quer que eu volte? Volto.

Tudo sem os vícios de antanho.

Sirva-se, diz o jornal.

Sirva-se! Sirva-se! Sirva-se!

Tem dinheiro? Sirva-se!



Ora, por ter o pecado pouco me preocupado,

Tendo então o pouco que me faltou,

Tendo mesmo o escrúpulo

De não proferir crenças,

Vai de mais o sentimento que

Tampouco incomoda.

Vai o Tártaro, vai o esquecer-se.



Eu vigiei noites, vigiei noites.

Eu quis tê-las, quis tê-las.

Não sinto saudades,

Não sinto, não sinto.

O vinho não me destrói, me consola.

A nuvem não é só tempestade.

Quem quer desafios?

Ah! Não sei o que desafiar.

Ora, vigiai as noites!

Eu vigiei as noites, eu quis tê-las.



Eis nada! Por ter-me conquistado

O mundo e não eu a ele.

Eis fogo! Fogo no fogo, palavra na palavra.

Todo mundo basta?

Pois tens de ir!

A cratera de existir pouco me basta.

Quem quer ser idiota?

Idiotas não sabem que são farsantes.



Uma roupa elegante é o que interessa,

Enganar o povo.

Eis nada! Eis nada! É a comida

Que salvará? Teremos o que festejar,

Temos comida.



Quem de nós? Quem será o mártir?

Eis nada! Vamos cortar a garganta,

Vamos danar no inferno mais que a desgraça.

Eu não tive o meu paraíso de confrarias,

Eu não tive o controle das leis do universo.



Uma nova geração para morrer.

Uma nova ordem para obedecer.

Talvez outra época.

Seria tão bom?

Vamos ter o que festejar.

domingo, 25 de abril de 2010

DEFINIÇÃO

A FORMA IMPREVISTA




Ela é perfeita como um círculo

Ou uma rosa de madrugada:

Esta é a razão por que em silêncio

Eu fico em êxtase a olhá-la.



Há nela a sugestão de um caule

Que suportasse frutos densos:

Um corpo esguio e delicado

Com seios túmidos suspensos.



Mas, o seu ser indefinido

Se impõe de um jeito ardente e morno:

É que se vê, vendo-a, que a alenta

Uma alma bem maior que o corpo.



Assim pequena, cabe inteira

Num breve abraço de querença:

Entretanto, sobra dos braços

Sua verdade mais intensa.



Eu, que a olho (círculo ou rosa?),

Sei que sua essência é a vida:

E eis por que é certo quando digo

Que a beleza é forma imprevista.

PRÓLOGO II

POEMA TRAÇADO A MÃO LIVRE




Que o poema seja como a água da fonte,

Que escorre livremente.

Frio, se faz frio.

Quente, se está quente.



Nada o tolha em seu caminho

Nem ele procure nada.

Canto que canta pelo canto.

Voz largada.



Que eu siga com ele e ele comigo,

Canto e cantor individidos.

Momentos que serão sempre lembrados.

E revividos.



E, assim, o que o poema seja

Não passe de uma confissão.

Sobre o que? Sobre tudo.

A quem? Um coração.



1976, outubro.

PRÓLOGO I

DECLARAÇÃOZINHA DE AMOR




De preto ou de branco,

Frente, costa ou flanco,

Eu te amo.



De longe ou de perto,

No incerto ou no certo,

Eu te amo.



Bem vestida ou nua,

No quarto ou na rua,

Eu te amo.



De qualquer forma, eu digo:

_ Fica, amor, comigo,

Que eu te amo.

JAIRO MARTINS BASTOS

DO LIVRO "O AMOR NOSSO DE CADA DIA (DAI-NOS HOJE)"

Seguirá neste marcador os poemas do meu avô Jairo Martins Bastos, falecido em 2001.
Tomei a responsabilidade e a liberdade de divulgar o seu espólio, porquanto somos companheiros de ofício, poesia está no sangue, e eu herdei algo do meu avô, fica aqui a minha dedicação à sua memória, uma vez que meu primeiro livro de poesia "Coração Maldito" é dedicado a ele, grande homem, poeta e jornalista, que Deus o tenha em bom lugar.

Gustavo Bastos