PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

LADRÃO SORTUDO A GALOPE


   Para não me tocar um só desaforo sequer; tudo é engate de céu, terra e inferno.
   Tenho o Axis Mundi. O galinheiro é o pasto. Estandartes de vinho caem como óperas.
   Dou ao idiota a sorte de moleque sacana. Um probo vence sem fileiras. Os doidos são a infantaria. Fãs o amam e o querem. O barão é o ladrão dos impostos. Quem é o jovem? Que diz o jovem? Ele se ruboriza, se encastela.
   Diante da fachada, terras tectônicas!
   Quando cai o azul, sobe o fogo!
   E volta, martírios sacros queimados de luxúria, para as fogosas mortíferas, para os alquimistas. Um ladrão elegante, que leva ouro sem roubar. E que de nada se arrepende. É majestade! Tripa e gordura. Carne e coração. Vísceras, nervos, estômago faminto, pulmão cheio de fumaça. Bicha louca infortunada. Homem-máscara de outros confins. Besteira não registrada. Balas de revólver mastigadas. E os seus sectários, todos vis nas cabanas dos tabus. A morte é o tabu!
       
                                   Soa o vinho, suor latino bárbaro.
                                   Ladrão com virtude, este homem menino.
                                   Era o alerta, o comércio ilegal.
                                   O afrontador das leis.
                                   Tenebroso, dos quereres e do intelecto.
                                   Pórtico em que ele encosta.
                                   Igreja fumada até o talo.
                                   (Galope, cavalo, notícia).

   Sei de tudo isto. É certo e sombrio. Os mentirosos choram constrangidos.
   Aqui se faz tabaco e tosse. Aqui a sorte. Aqui o tempo.
   Qualquer lei ou costume se perde, tudo está subvertido.

 

BENQUISTO MANDRIÃO


   Sofre a modorra, lenda incoerente das têmporas do sol. Sereia que o buscava, em torno das luas miseráveis dos escravos lobisomens.

                                  Era o acalanto e a enfermidade.
                                  Música das celas e dos chiqueiros.
                                  Era um tonto divagando sobre o próprio caminhar.
                                  Dava uns passos ... dois para lá, dois para cá.
                                  Entoava o livro de muquifos sem móveis.
                                  Bibliotecas sem armários. Ó rua!

   Benquisto era cidadão raro. Sofria de contubérnio de alarido. Eis o casaco que lhe protegia, ou o guardião que lhe segurava. Um filho era dançante. Um filho era doutor. E as meninas encantadas com este engodo, enfático como a bosta.
   Dava de cara com a polícia, tomava cacetadas bem sensíveis.
   Na sustança de sua pensão, outros mendigos dormiam.
   E vai ... e volta ... e vai ... bem para lá ... longevidade!

                                     O poema é estranho.
                                     Um ser de cores e cravos.
                                     O terreno guardava o pó da lasca.
                                     Começava tudo sem terminar.
                                     E loas, e vivas!
                                     Aleluia ou Jah?
                                     Um demente, sai uma quentinha da costela.
                                     Adão sem pecado.
                                     Ou pecado sem Adão.
                                     Inimigo de Eva.
                                     Ou a própria serpente.

O SERVIÇAL DO SOPRO MATUTINO


Embolora o sonho pátrio,
   Era sonho caído
   Aos pés de outono.
   Corado de vergonha misteriosa.
   Cretino ou besta ou tarado.
   Sem furor, sem batina.
   Era o vento matutino, degola.
   Das arqueadas fuligens que borram o ar.
   Deste andor mal versado.
   Como dolente ou idólatra pútrido.
   Ao seu regime estapafúrdio de horas trocadas.
   Sem susto, no vento decola.
   Ouvindo o seu segredo, o vagabundo.
   Serviçal, amo, boçal.
   Consorte da dama refrigerada.
   Ou lar de solitude ou pimenta.
   Cremado e telúrico.
   Fonte do vício espesso da coragem viandante.
   Um céu solstício pouco apreciado.
   Doceria de confeites coloridos.
   Mortos chumbos vivos.
   Quem um frio lastimou.

domingo, 2 de outubro de 2011

O DEBATE SOBRE O MARCO REGULATÓRIO DA MÍDIA


   O debate sobre o marco regulatório da mídia parecia estar enterrado com o discurso do início do governo Dilma Rousseff, em que a mesma defendeu a liberdade de imprensa e de expressão. Mas, pelo que se vê, depois do 4° Congresso Nacional do PT, a ação de ressuscitar o marco regulatório da mídia voltou a ganhar corpo, o que não impediu um de seus aliados, o PMDB, base do governo Dilma, de se opor a tal investida petista sobre a liberdade de imprensa no Brasil. O debate é intenso, e há argumentos fortes dos dois lados, mas cabe aqui fazer um posicionamento franco e sem amarras.
   Por que impor uma regulação da mídia num país que se diz democrático? Não há, para tanto, ou seja,  para o controle dos jornalistas, regras civis e leis criminais contra a chamada imprensa marrom? Isto é, um jornalista que fizer mau uso de suas prerrogativas não pode ser punido pelo sistema jurídico vigente, com implicações civis ou criminais, sem a necessidade de um marco regulatório para coibir a liberdade?
   Bom, o que se vê do lado do PT é a defesa da regulação da mídia por que isso é necessário para uma democracia que defende a pluralidade de opiniões e que vai de encontro ao monopólio familiar da mídia brasileira, mas isso me cheira a chavismo e outras coisas piores. Ou seja, depois de aprovada esta regulação pelo Congresso Nacional podemos ter a oposição ao governo Dilma tolhida e censurada de suas manifestações. O que acontece na Venezuela e na Argentina? Não é isso do que se trata, na verdade? Pois então, o PT diz que não há contradição entre liberdade de imprensa e regulamentação. Ora, mesmo sem a regulamentação censuraram o Estadão, imagina com esse “marco regulatório”, para mim isso será uma mordaça aos oposicionistas, mesmo que eu ache que muitas vezes setores da imprensa abusam de sua prerrogativas, como o grupo Abril da Veja e seu jornalismo marrom, ainda bem que eu não leio a Veja!
   O que é preciso ter claro é que a regulação da mídia não se incorpora às práticas das modernas democracias, o argumento a favor do marco regulatório diz que não há menção à criação de mecanismos de censura à imprensa, mas críticas aos abusos de grandes veículos, de que o domínio midiático por alguns grupos econômicos tolhe a democracia, o argumento é por meios de comunicação democráticos. Ora, não vejo como democrática uma avaliação prévia por marcos regulatórios do que pode ou não pode ser veiculado na imprensa, o que sou a favor é da punição civil ou criminal da imprensa marrom, o que já tem respaldo, como já disse, no nosso sistema jurídico, sem a censura governista do PT e de seus “marcos”. Não há porque, por outro lado, defender o fim dos monopólios da imprensa em troca de uma pluralidade, pois isso já está acontecendo com a internet, o fim do monopólio da informação já está em curso com as novas mídias, vide as manifestações políticas independentes geradas pelas chamadas redes sociais. Para mim trocar a liberdade de imprensa por uma suposta democratização dos meios de comunicação não é nada mais do que uma falácia, disfarce de um desejo de monopólio das ideias e de um retorno à censura, como se essa já não estivesse aí, não é Sarney?

02/10/2011 Gustavo Bastos, filósofo e escritor.