“Houdini teve sua história marcada por seu enorme talento
como mágico e escapista”
Houdini se revezava entre seus espetáculos de mágica e suas
intervenções surpresa para desmascarar sessões mediúnicas, seu método de
combater o Espiritismo era o de aparecer disfarçado, por exemplo, com bigodes e
barbas postiças, e atuava rápido quando percebia o truque por trás de um
fenômeno supostamente sobrenatural. E ele então se apresentava : “Eu sou
Houdini! E você é uma fraude!".
Houdini conseguiu, nesta sua cruzada contra o charlatanismo
espiritual, uma cobertura considerável de mídia e publicidade. E, por sua vez,
nos seus números de mágica, ele mimetizava truques que via nestas sessões
falsamente sobrenaturais, com o intuito de revelar como tais fraudes eram
confeccionadas.
A cruzada de Houdini residia num paradoxo, seu combate era
também um meio para que ele, quem sabe um dia, descobrisse um verdadeiro
fenômeno sobrenatural, mas o que ocorreu, de fato, foi que ele se tornou um dos
principais algozes das fraudes espiritualistas da História.
Houdini fez várias viagens para divulgar as fraudes que o
espiritualismo produzia, e em meio desta cruzada incansável, ele passou a
promover seu livro “Um Mágico entre os Espíritos”, publicado em 1923. Houdini
chegou a oferecer uma recompensa de 10 mil dólares a quem conseguisse lhe
provar de uma vez por todas a veracidade de um fenômeno espírita ou de uma
verdadeira capacidade mediúnica.
Mina Crandon, por sua vez, era uma das médiuns mais
conhecidas do mundo, contemporânea de Houdini, famosa espiritualista
norte-americana, ela era uma verdadeira sensação em Boston. Mina era jovem, ao
contrário de outros vultos espiritualistas, como foram também Helena Blavatsky
e Eusapia Palladino.
Mina tinha carisma e conduzia suas sessões com maestria,
tinha um domínio de seu suposto dom, o que levou o crédulo Arthur Conan Doyle a
declarar Mina Crandon como “uma das mais poderosas médiuns do mundo".
Num desafio entre o “debunker” Houdini e a grande médium Mina
Crandon, se teve uma primeira sessão na casa da médium, numa sessão com
fenômenos incríveis que logo depois Houdini denunciou como fraude e repetiu
alguns dos truques.
Houdini, logo em seguida, para dar o golpe de misericórdia na
suposta médium, decidiu convidá-la à sua própria casa, devidamente preparada
contra fraudes, no que Mina Crandon, um pouco a contragosto, aceitou o convite,
e a sessão fenomênica foi um verdadeiro fiasco, com o suposto guia espiritual
da médium nem dando as caras nesta sessão espírita fracassada. Mina,
ridiculamente, alegou que o ceticismo de Houdini provocou um bloqueio
espiritual.
Houdini veio a falecer poucos anos depois, em 1926, depois de
sofrer um golpe abdominal, pois o ilusionista, imprudentemente, mais uma vez
quis demonstrar sua incrível força abdominal, e levou um soco de um fã que lhe
provocou complicações decorrentes de apendicite aguda.
E foi logo após a sua morte que passaram a ocorrer sessões
espiritualistas em busca de contatos com o espírito de Houdini. E toda semana
aparecia um médium mistificador alegando ter tido tal contato, mas nada
comprovado, até que, em 1928, Arthur Ford anuncia que tinha uma mensagem para a
viúva de Houdini, Bess. A suposta mensagem era da mãe de Houdini e era um
recado lacônico com uma única palavra : “perdão”.
Ford então, pouco tempo depois, traz uma mensagem do próprio
Houdini, em que, dentre outras coisa, é citada a palavra “Rosabelle”, o que
emociona Bess, pois era um código combinado entre Bess e Houdini, pois se
referia à música que estava tocando quando Harry e Bess se conheceram décadas
antes.
Mas a mensagem logo caiu em contradição, pois alguns amigos
de Houdini haviam afirmado que Ford teve acesso a um diário que pertenceu ao
ilusionista. Resultado : Ford não recebeu a recompensa de Bess.
A última sessão oficial de busca de contato com o espírito de
Houdini foi em 1936, dez anos após a morte do ilusionista, com um grupo de
amigos, mágicos, ocultistas e cientistas e, claro, a própria Bess, que se
reuniram no Hotel Knickbocker em Hollywood.
Tal sessão foi conduzida por Eddy Saint, um famoso místico,
sessão esta que foi transmitida ao vivo pelo rádio, mas a sessão, mesmo com
toda a pompa de um espetáculo, não teve o resultado esperado, nenhuma mensagem
do além do espírito de Houdini foi captada, e foi quando Bess desistiu de sua
busca e se conformou.
Houdini teve sua história marcada por seu enorme talento como
mágico e escapista, de um lado, e sua cruzada que foi um paradoxo de combate a
fraudes espirituais e ao mesmo tempo de provar ao menos um fenômeno mediúnico
ou espiritual verdadeiro. Harry Houdini entrou para a História como uma figura
combativa e corajosa e, de fato, como o
maior da arte do escapismo em todo o mundo.
Link recomendado :
https://www.youtube.com/watch?v=Ubhuo1Hn54U (HOUDINI DESMASCARA O ESPIRITISMO
PARTE 2)
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : https://seculodiario.com.br/public/jornal/artigo/gurus-e-curandeiros-parte-x