PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 24 de setembro de 2011

SINTONIA METAFÓRICA (A HARMONIA DA PALAVRA)


   Queria deixar os vinhos desta vida,
   partir numa canoa sem angústias,
   no céu de nuvens a metáfora perfeita.
   Seria eu um nada flutuante.

   Em perfeita sintonia,
   abrindo todas as portas,
   sem verdade alguma
   a alma consome o vento.
   Os dias serão amenos,
   mesmo com a urgência de tudo.

   Se delicia o espírito na doce névoa,
   a solidão é arrastada para a contemplação
   no lago das lembranças.

   Deito-me na grama num voo silencioso,
   reconduzido ao templo da serenidade,
   onde a plenitude reina vitoriosa.

   Nos seus deleites sobrenaturais
   a alma canta a sua liberdade vulgar.
   Dormente, docemente, luminosa e fecunda.
   Versos explodem em chamas sob o sol fulminante.

   Regendo a obra numa orquestra voluptuosa,
   a riqueza da palavra harmoniosa se emana
   como raios de luz que intensificam
   por toda parte seu arrebatamento simples.

COSMOGONIA


    O mundo foi criado pela energia dos possíveis. Na sua harmonia tão caótica me faço no desespero. Vemos uma nuvem de proto-homens, prontos para uma labuta poderosa. Selva malcriada de rumos incertos, onde se combina uma escalada de progresso. Aparecem os sóis que induzem à vida! Nascemos livres. Aonde vão tão raras criaturas? Era noite quando não existíamos. Muitos ainda surgirão e serão jogados no mundo como nós. É a lei.
   Nos expulsaram do paraíso, o sofrimento é um bem hipócrita. Poderíamos contemplar uma felicidade insana e esquecer dos deveres de um pecador. Somos restos de um inventor exigente com seus filhos. Era sol invencível na juventude mundana, época em que o mar nos convidava para o seu baile de ondas, para esquecermos de tal memória de renegados.
   Como um verde campo inocente, tinha vontade de me afundar ocioso. Minto em cadeias bem articuladas, voo rasante em que a voz do futuro acorda oráculos. Nos séculos seguintes se fundou um conflito de desdentados, sedentos que agonizam, olhos fundos. Uma lágrima para cada rosto, não crio fantasmas ... eles existem. No fim tudo se queima, meu acorde fatalista, é então o vale dos que se arrastam.
   Andava no crepúsculo, nada mais era real ... atravessei aquele tempo de fluxo em agonia, senti bem perto um desastre irreparável, no ar bolorento de qualquer pesadelo. Era a vida uma certeza, e a morte uma incógnita, o que esteve antes e depois? Os mundos evoluem, certamente. A origem é reinventada, os termos se comportam no todo da linguagem das esferas. Não há doutrina visceral, uma cosmogonia que nos expõe, movimento incessante de violência criadora.

INEBRIANTE POESIA (LIRAS DE DELÍRIOS)


   Eu clamo de corpo ébrio pela liberdade,
   desta que se encontra na ciranda celeste,
   procurando a fusão harmônica e universal.
   Nirvana! Espetáculo divino de plenitude!
   A poesia que nasce de sutis eflúvios,
   a prece que vigora em cantos silvestres,
   de uma paz já finda e ornamentada.

   A canção é vívida e sempre ecoa,
   como este poeta inebriado
   que vos fala e que luta inutilmente,
   se esvaindo e se debatendo por fogo e vento.
   Ungindo na santidade à calmaria dos anjos
   e profanando narrativas gloriosas de fontes ocultas.

   Nas águas argênteas da poesia que emana a liberdade,
   me encanto com o mundo.
   Desde as liras delirantes harmonizadas pelos aedos,
   rapsódias primitivas de canção remota,
   lembrando-me de deuses mortos,
   que circundavam o universo.

   Hoje, já não há olimpo, nem alvoradas pagãs.
   Os poetas não cantam mais os mitos,
   somente suas dores, para levá-las ao sublime.
   A poesia ainda vive, desde seu habitat grego
   nas liras de delírios.

   Todo poeta que delira e morre de saudade,
   é dominado pela nostalgia
   que traz uma iluminação coroada.
   Tenta viver da arte na qual arde,
   lembrando-se poeta, na alma da poesia.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

ESTUDOS SOBRE O NIILISMO

Terapia de porra nenhuma, masmorra.
Que cê quer? O que cê quer de mim?
Vou ao alto, parado não estou.
Vou com o introito da dona flor,
Florbela Espanca está em meu
nariz de palhaço,
na clínica psiquiátrica
eu tinha 3 metros,
me perguntaram se eu era idiota,
respondi que era poliglota,
vou descarnar a miséria,
afogar minha luxúria,
beber em goles fajutos
a cachaça da anarquia,
sou tempestade no mar,
vinho salutar,
de muito em muito
vou cair no poço profundo,
imundo, quimbundo, vagabundo.
(Flor bela espanca, dizia eu.)
Noite adentro sou Rei,
noite afora sou esmola.
Não me digas o meu dever,
eu sei o que devo fazer,
não te ouvir, te calar,
te matar.
Não me arrependo de nada,
sou estoico mesmerizado
por um espírito de confusão,
sou asfalto na cara ralada
no chão.

19/09/2011 Delírios
(Gustavo Bastos)

domingo, 18 de setembro de 2011

TRÂNSITO DE PALAVRAS

Vertigem no silêncio das almas mortas,
ecoa desde o fundo do oceano.
Agarro-me à esperança da fuga,
dou-me ao féretro morto por chumbo.

A consciência de si deve se voltar
à consciência do outro,
sem esta somos ilhas de egoísmo,
pois o verso dialoga com a existência,
e desta tira o fulcro das lições.

O paraíso do amor é também uma fuga,
se este amor não vem com
promessas de felicidade.

Ouço gritos da vizinhança,
os bordéis estão cheios,
 a bebida é boa,
e todos somos ébrios.

Vertigem no falatório das almas vivas,
o que resta por viver pode
tornar-se em fumaça,
a cotovia faz seu ninho
e seu canto ecoa,
minha dama predileta
pode ser um sonho,
mas não vou sozinho
nesta vida, tenho minha
poesia com a pena delirante.

18/09/2011 Delírios
(Gustavo Bastos)

REFORMA POLÍTICA: VOTO PROPORCIONAL OU MAJORITÁRIO?


   Será votada em plenário até novembro deste ano a reforma política. Parece que esta discussão é eterna, cheia de prós e contras de todos os lados, mas urge como necessária uma definição. Lembrando que tal reforma, se de fato for votada, estará em vigor somente em 2014. Mas se trata, de fato, de uma discussão antiga e recorrente na História política brasileira.
   A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) está elaborando uma definição, o relator da Comissão Especial de Reforma Política, deputado Henrique Fontana (PT-RS) fez a proposta que será votada pelo CCJ do Senado e da Câmara para depois ser debatida em plenário e votada pelo quórum das respectivas casas.
   Não é uma solução fácil, está sendo costurado um difícil consenso entre os partidos, partidos que parecem em conflito, defendendo seus interesses e inclinações em diferentes frentes de combate. O PT quer a lista fechada, já se aventou um voto proporcional misto, ou seja, o eleitor votaria em um deputado em lista aberta, ou seja, voto nominal, e teria que ter um segundo voto para deputado em lista fechada, ou seja, na lista definida pelos partidos internamente sem consulta popular. O PMDB, por sua vez, defende o Distritão, encabeçado pelo vice-presidente Michel Temer e pelo relatório de Romero Jucá (PMDB-RR) que foi derrotado por 12 votos a 9 no Senado que também rechaçou a lista fechada criando uma indefinição, mais uma. E o PSDB com o voto distrital. Até aí, não vejo muita diferença entre o voto distrital (que não é o puro inglês) e o distritão. Entre maioria simples ou absoluta o resultado é o mesmo, enfraquecimento dos partidos e benefício para os caciques com seus currais eleitorais.
   Vejo com bons olhos a proposta alternativa do voto proporcional misto que é o mais provável de ser aprovado em plenário, enquanto o distritão me parece uma utopia diante de um país de dimensões continentais, teríamos que ter uma articulação entre o Tribunal Superior Eleitoral e os dados do IBGE. Acho a proposta do distritão ou do voto distrital de maioria absoluta com dois turnos muito complicada de ser posta em prática, e acabaria com uma democracia plena de multipartidarismo que, mesmo com os nanicos de aluguel, seria melhor do que um possível bipartidarismo antidemocrático.
   Entre os prós e os contras, o sistema proporcional tem o grande defeito dos cacarecos puxadores de voto como Tiririca, mas não vejo solução melhor para a representatividade popular do que um favorecimento aos partidos no sentido de heterogeneidade dentro das câmaras e assembleias legislativas, o preço do bipartidarismo via distritão seria doloroso para a democracia brasileira.
   Neste ponto, demorei em me definir entre distrital e listas abertas ou fechadas, mas um voto proporcional misto (metade lista aberta e metade lista fechada) acho a solução mais equilibrada em matéria de amadurecimento democrático. Quanto ao fim das coligações, não há dúvida de que isto é o correto a fazer, e o financiamento público de campanhas acabaria com a desigualdade de forças entre candidatos ricos e pobres, (apesar de muitos dizerem que será mais uma despesa para os contribuintes), visto que o poder econômico de um candidato X não seria mais possível no financiamento público. Mas o certo disto tudo é que, qual seja a solução, ela doerá do mesmo jeito, mas temos que saber o que é cada coisa.

18/09/2011 Gustavo Bastos