PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

ANELO

Entre as jogatinas da madrugada,
um bêbado que sonhava
acordou entre as buzinas
e uma manhã cáustica,
seu brio de ébrio
dormia, e sua hora
se perdia.

No domínio das letras,
com poucas notas
um poeta delineava
em verso seco
o sentido de saturno,
um anelo de anéis.

16/09/2019 Gustavo Bastos

TEORIA DA LOUCURA

As semelhanças que vejo entre
os portais interdimensionais,
é que eles são imaginados
como escape, como fuga,

os que fogem e não conseguem
voltar vivem como vegetais
delirantes, que enumeram
seus duendes em febricitante
enigma,

os enigmas que eles não decifraram,
neles estão mergulhados
em transe místico
ad infinitum,
como seres do infinito
que se perderam
no monumento
concreto
do mundo.

16/09/2019 Gustavo Bastos

JOGOS DE POETAS

Jogo para os montes os seus
livros seminais,
e dentro do coração
em manto verde,
uma semente de sentimento
brota vívida,
fez floresta
e arboriza
a estrada.

Os montes bem vistosos,
a estrada livre
como máquina,
os poetas em
cornucópia
que veem tudo
e enlouquecem,
se matam
no ópio,
se morrem como
ébrios,
e vivem
plenos.

16/09/2019 Gustavo Bastos

NOITE PROFUNDA

A ciência das coisas, na lida
que o teatro emula e simula,
é a ciência dos fantoches,
dos ídolos de poros mofados,
dos cântaros quebrados
e dos cantos desafinados
em desalinho.

As coisas, sobre as nuvens
de delírio, viram-se em
anelos, no chão,
como podres indigentes,
aqueles em desdita,
como que arrebentados
sobre os cacos,
entre vidros e cortes,
e o coração gelado
que falhou,

de outro lado, na sorte da estrela,
eleitos com cantigas de bêbado
na noite profunda.

16/09/2019 Gustavo Bastos

VIDAS PASSADAS

As vidas passadas no barco,
com a febre vítrea
e as cordas de aço,
ah, meu bem,
sofrem com a armadura
e a carapaça,
soltam gritos,
se estapeiam.

O poema, na luta enviesada
dos corpos, que as notas
soam em paisagem,
soçobram como máquina
de sangue nobre,
a pintar entre escalas
muralhas de mármore,
e sonhos de ouro,

dentro dos pilares que
soam entre dentes,
uma mordida
e o garfo
na testa,
um doente
entre os rios,
e um assassino.

16/09/2019 Gustavo Bastos

A CIÊNCIA DO LADINO

Como um trôpego ou malquisto,
o indigente fazia das suas,
armava esquemas de estelionato,
como se estivesse sob
lutas inglórias
de ladinos,

veio, de entre seus balões,
fazer troça de mais
um otário,

saiu pelo dia, todo serelepe,
em uma vida folgazã
que só os românticos
vagabundos poderiam
conceber,

e, de sua mão leve,
como pluma,
eis que lhe
deram,
de súbito,
algemas.

16/09/2019 Gustavo Bastos

O POETAÇO

Contra o muro dos pedregulhos,
vivia um urubu,
sob fezes e carniças,
um grande poetaço,
desses afetados
e estrambóticos,
um sonhador.

Em sua febre de plumagens,
sonhava como um esteta
kitsch o seu castelinho
de diamantes,
e romanceava,
emocionado,
sua musa
de algodão,
imaginária.

16/09/2019 Gustavo Bastos

FRENESI DOS IDIOTAS

Ponteios, em vil sono e vinco
de ópio, meus lares capitulados
fazem a pena capital,
dois mortos.

Frente ao vício da rua,
meus doutores de farda
agitam suas lâminas,
e entre os copos de cerveja,
um arroto interrompe
a música, é o bêbado
prosador que ataca,
e faz cara de esperto
com notas do submundo.

Dentro das casas as mazelas,
e as vidas atribuladas
como o cão,

verte, de um lado torto,
os jorros de água
como potes de mel,
e os dias sob auspícios
de um farol laranja
em arrebol.

16/09/2019 Gustavo Bastos

JOGO DE CARTAS

Sem leguleio ou rame-rame,
tiro a fotografia da capa
e a enfio no bolso,
converso com meus botões
e eles estão bêbados.

Mas, ah, porém,
os cavalos dançam
seus semi-tons
de ferradura,
e eu caio
em anarquia.

Sete valetes, sete damas,
um ás na estrada,
eu tenho joker,
bato a mesa
com a canastra
suja.

16/09/2019 Gustavo Bastos

A BRISA

A brisa, sob manto, escrutina
as páginas que ali jaziam,
roto, o poema escala a
sua música úmida,

oh, quantas cinzas sob o forno,
em que a alma suja se faz imunda,
um ardor e o pó de heroína
sobre a mesa, e toca
jazz.

longe, no balaústre de alabastro,
e o candelabro febril,
vêm paixões dúbias,
como que parindo ratos
desesperados,
e de outro lado,
pasmos,
místicos entoam
uma canção,

oh, ah, que nada!
solucei algaravias
como montes de merda,
arrulhos, atavios,
e de súbito
a cantiga
como
ladainha,
um estouro.

16/09/2019 Gustavo Bastos