PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

TEMPLO DOS GURUS

   A carne medita no anzol de sua fogueira, há tempos um sofrido campo rememorava sua noite, carne funda do topázio, névoa sem destino no ar pestilento do sol, regimento da azul cintilante trevas nos sons de sombra malquista, horizonte tétrico da penumbra em dia de sevícias sob a alta altiplano rebordosa de heroína fumada. Vem o mar de Apollinaire turvar a visão mística de Ginsberg, eu bebo rimas mortas de um sândalo vertical de minha fome, nada era exato na alucinação do peiote de Tenochtitlán, mouros passeavam no sol com a flor de Granada em dó maior, Pharao is the time of your death, Amón vigiava o templo de Salomão, os alcaguetes mordiam as coronhas com a voz embargada de um terrorista de Deus.
   Lutei em vinte esferas de socorro, a galáxia de Órion mostrava sete flechas de veneno mortífero apontados para o peito da morte súbita, os lenhadores cantavam Dionisos em vinhas de sátiros num coro de Ésquilo, matraqueava a mulher insossa das cavalgaduras da vida dura, um mar se desenhou na íris do tempo, lancinou a dor com mortal ferro e aço, com o mal sobreposto no grito de um trompete, Jazzy era louco, ele lutou com um gigante cíclope na linha de ataque do exército vermelho, a KGB perseguiu o louco até as antenas de uma rádio em Los Angeles, Jazzy rateou o dinheiro de um banco e fugiu com outros para o Egito, lá encontrou uma mourisca e se casou com o nome de Ferdinand, o mesmo que provocou a guerra de um ator da Jovem Sérvia. Atrás de seus comparsas estavam os senhores da nau sincopada de um horse bem notívago, claustro em nome de Oxalá, Jazzy virou maçom e leu o Alcorão até ter a memória maometana em todos os seus gestos, o teatro era feito em Luxor com requinte e ele era o novo poeta de Omar Kayhan, incorporou Aleister Crowley e teve uma overdose de haxixe.
   Contando os dólares deste sonho eu rumei com meus pertences rumo a Luxor para encontrar o Livro das Esmeraldas, Paracelso, Agrippa, Papus, Flamel. Toda a horda mascarada era como na tragédia anterior de Ésquilo, só que agora viam etíopes com um velho karma de espíritos da floresta, numa nuvem de haxixe os poetas entravam em transe e ritmavam com tambores a prosa infinita, loucos de peiote desciam os astecas da visão de Jazzy como num luar azul da noite profunda das almas da terra, tudo era povoado por fantasmas, a noite parecia o ar misterioso da Alquimia, Crowley tinha ido embora depois do ritual, a flor mourisca fornicou com os galantes de Luxor e a flor de Lótus nasceu de sua boca como uma deusa de perfume de sândalo.
   Não havia mais teor alcoolico naquelas andanças, tudo cheirava a haxixe e os alquimistas sonhavam com a flor mais bela do canto alvissareiro de Gita e suas sinfonias. Apollinaire se manifesta no corpo de Ginsberg, Jazzy era o mentor de ambos os poetas, Lao-Tsé era o guia de Jazzy com o livro secreto da sociedade ametista, vários morreram de doenças misteriosas depois de lerem o dito livro, desta mitologia restaram fragmentos e ecos perdidos em Heráclito, o demiurgo platônico foi apenas um adendo da vinha de Atlântida na dor espantada da Maçonaria, o segredo de Blavatsky era apenas um remendo dos ritos hindus, os fantasmas do Bon foram disciplinados pelos budistas tibetanos, Jazzy depois fugiu de Luxor e foi meditar no Cantão com confucionistas moralistas, os mouros herdaram sete escritos seus: Vida Amón, Bruma do Poder, Sete Horizontes e quatro volumes sobre os mistérios de Elêusis em versos hexâmetros, o ditirambo foi a paixão dos argonautas e Dionísio sempre fez o rito de passagem para os homens vermelhos do deserto, um deserto de chumbo com aço fervendo.

14/02/2013 Libertação
(Gustavo Bastos)

SEMENTE DO CAMPO

Ventila a semente incógnita,
de seu suco a árvore medita,
do galho intercalado
ela é ametista.

A semente, com dor de gesta,
funde-se à carne-cor do solo,
marrom de chumbo morde o sol,
brinca com a terra a morte-vida.

Deixa-se, no recanto dela,
uma floresta.
O campo, dito poema,
traz à margem sua flor
de hipnose.

Doida e varrida,
da semente a planta
cai folhada,
da semente o espanto
da vida,
e do fruto
o sabor
merecido.

14/02/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)

MONTE MERU

A sedução é sóbria,
marca a terra este enunciado,
fardo bruto de tez alva.

A fonte é breve e retira
do chão a água que corre,
desanda em ondas,
e chega ao mar.

As frases, como castelos,
denotam a erva do campo,
deleitam em suas sinuosidades
o sentido requerido.

O corpo, estranho em sua pausa,
retoma do lugar preciso
o semblante de uma paz quista,
e denodo ou fracasso
recaem de medos alheios.

Não há poder transfigurado
que mude o lugar do monte,
ele é sempre o mesmo
desde a fundação
dos mundos.

14/02/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)

MITOLOGIA NUA

Nunca amei o profícuo
como dancei prolífico,
rearrumei Hefesto em festa,
destilei soberba com maestria.

Olor de lilás, corpo de cinzas,
eu lutei com o mel da boca em brasa.

A língua estupefaciente
virava fome de litros de sol,
e o sol revestia a possessão
dos anátemas em poção de mar.

Ferve a nobre estrela do caos,
veste preto em Hades,
funde-se à rocha de Prometeu,
traz fogo em seu nariz
de ser eterno
com a terra devastada
de um pária
e de um iconoclasta,
traz no bojo o ritmo de Vênus
com seu desejo
mortificado
de anjo.

14/02/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)

VENTO DE GIRASSÓIS

Matéria densa do colar de ossos,
veste a nau funda furibunda.
Com meu silente horror
eu pus o homem nu.

Os corpos que se sobressaem
são os saltitantes,
num mesmo som de fúria
recorda o atonal da flor.

Vi em cada estranho olhar
o lótus perfeito
de uma noite verde,
vi o terremoto emoldurar
a espécie humana
em monturos de apocalipses.

A sombra maestra tilintava
com o coração supremo
de notas hendrixianas,
cada filete da pena
fervia em tom
de susto.

No lar do descanso do sol
ventava o cheiro da rosa
em disfarce de girassol,
e a flor retumbava
feito grito
de primavera.

Eu levantei no horóscopo
de uma praia cabalística,
saturno plêiade
rosnava em lua
de satélites e guitarras.

Vento de meu drama incorruto,
a sarça enfim delira
na carne das lágrimas,
e o totem sacrificado
ressuscita no fel
de bruma e amor.

14/02/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

PANACEIA GERAL

cai pompeia desarmada
continua a viga no teste
de fundo musical

sensação de poder
não pode acometer
a poesia

vai à esquina
dizer que a poesia
não morreu
desceu o morro
fumou tudo
de chofre
para a mente
rodar ...

canseira esta de viver
bobagem esta de nada crer
tenho mistério e mística
vou a sério com esta nuvem
passar foto P&B no meu território

quero azul farsa de comédia
vou azul zumbido de zum zum zum
cada faca corta seu próprio segredo
tô à toa de samba e jazz com uma falta
de você

o doce da miséria é todo este campo

campo
canto
pranto
no entanto
santo

já fiz de memória todo o trajeto
não sei se ando em tudo
ou se tudo esqueço.

12/02/2012 Êxtase
(Gustavo Bastos)

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

TEMPERATURA CARNAVAL

O capim cresce na perna do lobo,
um diz que é anhanguera,
outro foge pedindo socorro.
um faz que é morte
outro diz que é vida
um tanto faz se morre
outro escapa com sorte
a vida em seu prumo
a lição em seu apuro
apupos de uma peça mal vista
devaneio de cal e de terra ferida
caça caçadora de mim
veste vestimenta de carmim
festa na hora do rei
pelourinho de baía que vira chope
festa de carnaval áfrica em meu samba
dura toda a noite até o fim das cinzas.

11/02/2013 Êxtase