PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

HACKERS CONHECIDOS - PARTE 2

“o caso dos hackers russos tem causado polêmicas diplomáticas”

Jeanson James Ancheta foi um hacker que ao explorar o funcionamento dos bots, que eram robôs que tinham base em softwares que infectavam e controlavam sistemas de computador, usou uma série de botnets de larga escala, realizando o primeiro ataque desta modalidade, atingindo mais de 400.000 computadores em 2005 e foi condenado a 57 meses de prisão. 

Ancheta não tinha interesse em fazer justiça social, como alguns hackers, ou como outros hackers, que pensavam em roubar dados para obter vantagens financeiras como em invasões de sistemas de dados de cartão de crédito. 

Ancheta alugou estas máquinas invadidas com botnets para agências de publicidade, e acabou sendo pago para instalar diretamente bots ou adware em sistemas específicos. Sua condenação à prisão foi a primeira de um hacker que usou botnets para os seus ataques.

Michael Calce ficou conhecido como “Mafiaboy” e quando tinha apenas 15 anos descobriu uma forma de tomar o controle de redes de computadores de universidades, e usando seus recursos combinados conseguiu corromper o mecanismo de pesquisa que era líder de mercado nesta época, o Yahoo.

Em uma semana o hacker também derrubou o eBay, a Dell, a CNN e a Amazon ao usar um ataque de negação de serviço (DDoS) dedicado que sobrecarregou servidores corporativos e também interrompeu o funcionamento de sites. 

Kevin Poulsen, por sua vez, tinha 17 anos em 1983 quando invadiu a ARPANET em 1983, em que ele usou o codinome Dark Dante. A ARPANET é a rede de computadores do Pentágono. O hacker recebeu apenas uma advertência na época.

Depois o hacker cometeu novos crimes, por exemplo, a invasão de um computador federal em 1988 em que acessou arquivos do então presidente das Filipinas, Ferdinand Marcos, e depois de descoberto, o hacker sumiu. Depois de outras invasões, Poulsen deixou a sua atividade de hacker e se tornou jornalista, e passou a escrever sobre segurança de computadores como editor sênior da Wired.

Jonathan James, outro hacker, usou o codinome cOmrade e invadiu diversos sistemas de empresas, ganhando notoriedade pela invasão de computadores do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, quando o hacker tinha apenas 15 anos.

Em uma entrevista o hacker falou que foi inspirado pelo livro The Cuckoo`s Egg, que narra a caçada a um hacker de computadores nos anos 1980. O hacker acabou condenado, também foi acusado sem provas em 2007 pela invasão do sistema da loja de departamentos TJX e em 2008 se suicidou com um tiro na cabeça.  

O hacker ASTRA, por sua vez, nunca teve a sua identidade revelada, especulou-se ser um matemático grego e dizem que ele foi responsável pela invasão dos sistemas do Dassault Group por quase cinco anos seguidos, em que roubou programas de software de tecnologia para armas de última geração e dados que vendeu para cerca de 250  mil pessoas. O Dassault Group contabilizou um prejuízo de U$360 milhões com as invasões.

Nos últimos tempos, o caso dos hackers russos tem causado polêmicas diplomáticas, uma vez que o FBI (polícia federal norte-americana) se viu em meio a investigações envolvendo origem russa de ataques cibernéticos.

Muitos destes hackers são acusados de serem pagos pelo governo russo, como assalariados, e outros faturam com os roubos da internet. O fato é que tais hackers não deixam a Rússia para não serem presos, pois dentro do território russo podem continuar atuando em liberdade.

O FBI anunciou em 2019 o indiciamento de membros do Evil Corp, em que foram citados os hackers russos de nomes Maksim Yakubets e Igor Turashev. Nove membros foram nomeados pelo FBI e Yakubets apareceu como o líder do grupo, e a revelação veio junto com a acusação sobre o grupo de um roubo que somava US$100 milhões em ataques que atingiram 40 países diferentes. Muitos destes ataques foram realizados com ransomware.

O Evil Corp tirou bitcoins de seus ataques, e o hacker Turashev, por exemplo, esteve atuando localizado em empresas que negociam criptomoedas, incluindo os bitcoins. A Federation Tower, por exemplo, abriga inúmeras empresas de criptografia que funcionam como máquinas de dinheiro para os criminosos cibernéticos.

A União Europeia, por sua vez, seguindo medidas feitas pelos Estados Unidos, começou a fazer sanções cibernéticas e as listas apresentadas tinham em sua maioria nomes russos. Dentre os ataques apontados como de origem russa está o que provocou apagões generalizados na Ucrânia.

Também houve a acusação de tentativa de invasão de uma instalação de armas químicas logo após o envenenamento do ex-espião Sergei Skripal e de sua filha na Inglaterra em 2018. O Kremlin nega todas as acusações dizendo se tratar de russofobia e histeria ocidental.

Entre os hackers russos existe uma chamada regra de ouro em que os hackers não contratados pelo governo podem atacar o que quiserem, contudo, desde que estes alvos estejam fora de territórios de língua russa ou ex-soviéticos. O efeito é que temos menos ataques hackers nestas regiões e os malwares destes grupos são em sua maioria projetados para evitarem sistemas que tenham língua russa.

Os Estados Unidos, recentemente, junto de aliados, fizeram uma represália a tais grupos hackers, e alguns ficaram offline, com a REvil e a DarkSide, que publicaram  em fóruns dizendo que tinham parado de operar por conta da ação norte-americana. 

E ainda tivemos um esforço internacional envolvendo a Europol e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, onde supostos hackers foram presos em países como a Coreia do Sul, Romênia, Ucrânia e Kuwait.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/colunas/hackers-conhecidos-parte-2



domingo, 28 de novembro de 2021

O CONTEXTO DE MISÉRIA SOCIAL NA FRANÇA DO SÉCULO XIX EM VICTOR HUGO

“o personagem Jean Valjean se destaca como uma das grandes criações do autor Victor Hugo” 

 

Prefácio de Victor Hugo, o autor, à sua obra (romance) Os Miseráveis : 

 

"Enquanto, por efeito de leis e costumes, houver proscrição social, forçando a existência, em plena civilização, de verdadeiros infernos, e desvirtuando, por humana fatalidade, um destino por natureza divino; enquanto os três problemas do século - a degradação do homem pelo proletariado, a prostituição da mulher pela fome, e a atrofia da criança pela ignorância - não forem resolvidos; enquanto houver lugares onde seja possível a asfixia social; em outras palavras, e de um ponto de vista mais amplo ainda, enquanto sobre a terra houver ignorância e miséria, livros como este não serão inúteis." 

 

O romance 

 

O autor Victor Hugo coloca em questão em seu romance Os Miseráveis tanto a natureza das leis civis e penais, e a comparação destas com as leis divinas, como o ponto principal foi retratar tensões nas instituições políticas e sociais, em um campo vasto de narrativa que reúne todo um arcabouço estilístico e de conhecimento histórico e com ricas descrições que passeiam por Paris entre barricadas e batalhas, tendo a Bastilha como um dos eixos que se dispersam por diversas regiões da cidade parisiense. 

Em sua trilogia, que tem além de Os Miseráveis, os romances Nossa Senhora de Paris e Os Trabalhadores do Mar, o personagem Jean Valjean se destaca como uma das grandes criações do autor Victor Hugo, junto com Quasímodo e Gilliatt. Os floreios barrocos se juntam a um aprofundamento psicológico extremado de personagens intensos que são produtos da prosa romântica do autor, os personagens são sacudidos emocionalmente, um turbilhão se abre e se entrechocam anseios diversos. O movimento dramático de tais personagens desvela o estilo dominante de Victor Hugo, um romancista de sua época, sob a égide de um romantismo que se desenvolvera bem em terras inglesas e alemãs.  

Jean Valjean é o eixo em que gira toda a trama de Os Miseráveis. Pelo furto de um pão, a sua vida degringola nas galés, sua determinação para o mal, contudo, é refreada pelo seu feliz encontro com o bispo Myriel Benvenu. Jean Valjean adota uma menina de nome Cosette e passa a nutrir profunda afeição pela criança. A mãe da criança, com uma vida miserável, cai na prostituição, Fantine é quem dá o título ao primeiro volume de Os Miseráveis. 

O segundo volume, de título Cosette, liga a trama do romance, com seus personagens, aos eventos de Waterloo, em 1815, aqui Victor Hugo exibe seus conhecimentos históricos e do estilo de batalha de Napoleão, e traça o enigma da derrota francesa nesta batalha. O inspetor Javert, entrementes, persegue Jean Valjean, e aqui aparece a tensão principal do romance Os Miseráveis, que é o contraste entre vilania e bondade que fica borrada, pois Javert é um homem que segue estritamente a lei humana, as leis civis e penais, feitas pelo homem, enquanto Jean Valjean é um eterno degredado existencial, que vivera como condenado às galés, como um carimbo ou uma herança, a sua sina se repetia neste enfrentamento com o homem da lei de nome Javert. Contudo, a vilania recai sobre Javert, que é o perseguidor do herói romântico Jean Valjean. 

O aristocrata Marius Pontmercy, personagem liberal, é quem dá o título ao terceiro volume de Os Miseráveis, e aqui há uma imensa digressão que transita por Paris, os atos políticos de Marius até o seu encontro com Cosette. O quarto volume, por sua vez, traça o acirramento político da obra em Idílio da Rua Plumet e Epopeia da Rua Saint-Denis. O quinto e último volume tem inúmeras baixas de personagens e leva o título Jean Valjean, este que é o eixo universal de todo o romance de Victor Hugo, Os Miseráveis.  

Neste quinto volume temos a morte de muitos personagens em conflitos, e temos o intenso episódio nos esgotos de Paris, que é conhecido como “o intestino de Leviatã”, e seus longos períodos descritivos revelam a prosa romântica de Victor Hugo em ação. O esmero e até o excesso no detalhismo dos acontecimentos dão o caráter da estrutura e estilo narrativo dominante em Os Miseráveis. A culminância se dá na parte filosófica da obra que envolve o suicídio de Javert.   

O desenvolvimento do romance se dá neste temperamento caudaloso de prosa que vem da produção literária romântica anglo-germânica e que coloca Victor Hugo como um dos grandes nomes do Romantismo Francês. O romance foi gestado durante 15 anos, e muitas das máximas dos personagens foram eternizadas, e que se tornaram frases famosas ligadas ao nome de Victor Hugo, tais como “morrer não é nada, horrível é não viver” ou “chega a hora em que não resta apenas protestar, pois após a filosofia, a ação é indispensável”.  

 

O romantismo literário 

 

O romance Os Miseráveis, no influxo do movimento literário do Romantismo, é um reflexo da dissolução do classicismo e de ideias iluministas, uma obra que revela a realidade social proletária e que sai do restrito círculo dos salões aristocráticos, de uma leitura elitista, e consegue se aproximar de uma realidade urbana com cheiros, angústias, descrições humanas, e que coloca a vida social e política como campo privilegiado para a literatura.  

Além deste plano de superação do classicismo, o romance Os Miseráveis tem um caráter político que encontra ligação direta com obras icônicas tal como é a pintura de Eugene Delacroix, de nome A Liberdade Guiando o Povo, que é um ícone da cultura francesa, metonímia da arte da Europa durante o século XIX, em que a pintura famosa consiste em uma mulher que representa a liberdade e os seus ideais, empunhando uma bandeira da França, bem próxima de corpos empilhados e de outros manifestantes. 

Victor Hugo, em seu romance Os Miseráveis, com seu estilo de prosa romântica caudalosa, faz com isto ricas descrições de avanços científicos e destaca o problema crônico da fome, e neste seu retrato da miséria proletária, revela as consequências sociais da negligência e das injustiças que levam a embates e revoluções populares, quando Victor Hugo coloca em cena as lutas políticas de personagens engajados, que se movem neste influxo de lutas por justiça social e sob a égide de valores como fraternidade e liberdade. Portanto, Victor Hugo também aponta para a importância da coletividade para as ações sociais e políticas efetivas e coloca em sua escrita todo um arcabouço em que demonstra este eixo temático da vida social e política como temas privilegiados para a literatura e não como temas menores. 

 

Estilo e temática 

 

A história do romance se passa entre os anos de 1815 e 1832, em que Victor Hugo coloca os dilemas do direito sob o signo do personagem Javert, em que o autor denuncia os limites da lei civil e penal de sua época, na França do século XIX, com uma nova razão baseada em códigos, em que o autor denuncia as falhas destes sistemas de leis, com as consequências muitas vezes desproporcionais e com medidas diversas para os casos abordados. Com a tensão e contradição entre os personagens Jean Valjean e do inspetor Javert, o autor coloca em questão a relação entre lei e justiça, colocando a lei no seu contexto de aparato estatal e burguês.  

A riqueza descritiva de Victor Hugo em Os Miseráveis nos apresenta uma quantidade colossal de referências históricas e culturais, pois ficamos sabendo bastante coisa sobre a batalha de Waterloo em 1815 e também sobre os motins em Paris ocorridos em 1832. Ainda temos referências literárias a nomes como de Dante Alighieri, Virgílio, de personalidades políticas, tudo revelando sinteticamente o vasto conhecimento adquirido pelo autor Victor Hugo. Outro detalhe importante é que quando o romance Os Miseráveis foi lançado, em 1862, o autor tinha 60 anos de idade, já tendo sido deputado, senador e vivido no exílio por desavenças políticas. 

“Além de influente político em seu tempo, dedicou-se ao teatro, à poesia, ao romance e ao gênero memorialístico. Ele também tinha talento para o desenho e a pintura. Tratava-se de um homem erudito e profundo conhecedor da história de seu país; respeitado também como crítico literário, e que se tornou porta-voz dos escritores românticos.” — CHAUVIN, 2014 

 

Os Miseráveis no Brasil 

 

A influência do romance Os Miseráveis no Brasil se deu sobre figuras importantes de nossa cultura como Castro Alves, José de Alencar e, sobretudo, Machado de Assis, que acabou por se tornar tradutor de diversas obras de Victor Hugo para a língua portuguesa.  

 

Sobre a publicação e adaptações 

 

O autor Victor Hugo começou a rascunhar a obra em 1846, interrompendo a escrita em 1848, até que em 1851 ele retoma a redação da obra e faz novos capítulos e lapida detalhes que precisavam de ajustes, até que no dia 3 de abril de 1862 a obra é publicada. A obra se torna sucesso de público, sendo rapidamente traduzida para outros países e se expandindo para fora da Europa. O lançamento foi organizado e compreendeu oito cidades que fizeram a publicação em simultâneo: Leipzig (Alemanha), Bruxelas, Budapeste, Milão, Roterdã, Varsóvia, Rio de Janeiro e Paris. 

A obra Os Miseráveis já recebeu inúmeras adaptações teatrais e cinematográficas, uma das contas coloca em torno de cinquenta produções que se basearam neste clássico literário francês e mundial. A mais famosa adaptação para o cinema foi realizada pelo diretor Tom Hooper, em 2012. O filme foi sucesso de público e de crítica, levando prêmios no Óscar, BAFTA e Globo de Ouro.  

O musical baseado no livro de Victor Hugo ganhou a sua primeira montagem na Broadway no ano de 1987, e se tornou o quarto musical que mais tempo esteve em cartaz na história de Nova Iorque. Por sua vez, Les Misérables é uma das peças mais populares do mundo, que teve a sua primeira estreia em outubro de 1985, em Londres, no teatro Barbican. A mais nova montagem da Broadway, por sua vez, foi encenada no teatro Shubert, tendo sua estreia sido feita em março de 2004, sob supervisão do produtor Cameron Mackintosh. 

 

Sobre o autor 

 

Nascido no dia 26 de fevereiro de 1802, em Besançon, França, de família ilustre, com o pai tendo sido general de Napoleão, Victor Hugo foi criado praticamente fora da França por conta das viagens do pai. Victor Hugo desenvolveu bem as suas habilidades como escritor e chegou a ser líder do movimento romântico na França. Escreveu, em 1831, O Corcunda de Notre Dame (intitulado originalmente de Notre Dame de Paris) tendo tido imenso sucesso, o que o capacitou a alcançar uma vaga na célebre Academia Francesa, em 1841. 

Victor Hugo também atuou na política, tendo sido deputado na Segunda República, em 1848. Acabou exilado e teve que viver por muitos anos fora de Paris, voltando à França em 1870. Também foi eleito para a Assembleia Nacional e para o Senado. Faleceu aos oitenta e três anos em 22 de maio de 1885. Seu corpo foi exposto diversos dias sob o Arco do Triunfo e posteriormente enterrado no dia 1º de junho no Panthéon. 

 

Gustavo Bastos, filósofo e escritor. 

 

Link da Século Diário :  https://www.seculodiario.com.br/cultura/o-contexto-de-miseria-social-na-franca-do-seculo-xix-em-victor-hugo