PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 7 de março de 2020

O CÉU SINISTRO

Um culto se oferece em holocausto,
em fractal não-linear
a alma e o corpo
viram o fragmento
de uma existência,

meu corpo, minha alma,
retesados e inteiros,
numa couraça espantosa
de auto-confiança,
a ignorar solenemente
os cacos, os cortes,
a podridão,

meu fractal redivivo
compondo a minha visão,
e eu só conseguia
olhar a minha meta,
uma vitória suprema.

07/03/2020 Gustavo Bastos 

O LUSCO-FUSCO DA VISÃO

De um movimento refratário
a contra-luz fez sombra,
contrafeito o poeta
abismou seu dossel
como poeta de sol
sem destino,

pronto estava o cartaz
com certos tons rosáceos,
a foto meio borrada,
parecia que a imagem
simulava uma bebedice,
o certo é que seria
um material de divulgação
açodado e sem astúcia,
uma anti-propaganda,
retratando o vício
de um ator canastrão,
em plena vida folgazã,

a imagem que viria depois,
em um lusco-fusco,
de papel fosco,
retrataria este mesmo
charlatão, agora abrindo
cartas fictícias de
um futuro incerto,
sem destino o poeta
as leu, e de lá saiu
pelo mundo,
fazendo acasos.

07/03/2020 Gustavo Bastos

FOTOGRAFIA

Na rua constitución
um flash cegou
um idiota, bruto cor
de carne, pintado
para a guerra,
sem um níquel
furado,

na hora marcada da sombra,
seu chapéu voou com o vento,
suas roupas rotas foram
roídas por ratos,
destes que portam câmeras
com olhos ardentes
que nada dizem,
apenas roubam,

ele se matou,
o idiota era
tão idiota,
que na sua morte,
também foi fotografado.

07/03/2020 Gustavo Bastos

OS CÔMICOS TRÁGICOS

De uma tragédia às sete da noite
na clavícula das luas,
a rosa nasce impura,
tonta e vertiginosa.

Eu paro e olho o sinal,
um lápis-lazúli
que prorrompe
entre as milhas
e meu violão
afinado meio
tom abaixo,

crente, a cruz crucifica
o dorso, o grito, o urro,
a dor poesia que vicia,

rente, ao claro clarão
do sol, vem de nuvem aos
guizos dos risos de um bobo,
Aristófanes ébrio,
promovendo seu holocausto
de figuras públicas,
a rir de si e de todos,

no lagar das horas risonhas,
me ponho neste lugar
de tragédia, absorto
de drama e de heroína,

o romance que era projeto
começou a ser escrito,
platitudes filosóficas
dominaram o pensamento
público, Aristófanes ri
destes ocos homens,
a fazer conceito evanescente
das profundas questões,
e o douto ignaro
na troça de um traço
agreste, seco,
que o poeta parou
de edulcorar,
ele também
seco como uma palha,
balbuciando mais
um poema pétreo
na curva do rio.

07/03/2020 Gustavo Bastos