Tanto faz o que se faz de um mesmo poema
Que sempre foi algo que não se assume:
Alma e fartura, corpo e orgulho.
Tortura de sujeitos, leituras de pré-textos.
O que atormenta na trovoada dos fantasmas.
Muita insanidade descoberta, exposta ao caos.
Muitos derrames, muitas notícias,
Vários palcos sem realismos,
Vários danos sem prosaísmos.
Que dia! Meu Deus, que dia!
Voltem um pouco aos rituais,
Terão muito do que se entreterem
Os fantásticos homens de porte espaçoso,
Gordos de infarto e mediocridade,
Imundícies descoloridas dos mundos,
Sujeitos pós-partos paridos em acasos.
Que mundo! Meu Deus, que mundo!
É o dia e o mundo do fim da beleza.
Poesia enfeitada é coisa fresca
Como uma moçinha virgem.
Daqui para a frente só o frontispício
Do poeta pós-pós-sei-lá-o-quê.
Entrego-me. Devaneio pouco posso tê-lo.
Ditames do pretexto de tirar sarro
Dos croporritmos rímicos
Sem um bom escarro.
Neste campo belo, ó fonte inelutável!
Somos românticos à reboque do tempo.
Vamos dizer belezas: mistério e lua.
Agora voltemos ao descoberto:
Arte de perfídia, pagão impagável
Do mesmo vinho que bebemos em festanças.
Daqui para a frente não tem regra.
Posto o prefácio apologético do autor poeta!
Ao lúdico estamos: o culto dos puteiros,
O culto dos bêbados, o culto dos verdadeiros.
Aqui estamos. E todo o resto do futuro
É poesia que marcha nos tambores.
(Ba-ti-cum, ba-ti-cum, ba-ti-cum-dum ...)
Depois se desmonta sem freios,
É leve sem obrigar-se
Ao tédio do céu e ao tédio da terra,
E aos não-sujeitos que o poema deglutiu,
Todos mecânicos repetidores do sistêmico.
Ora, tem-se atitude
Dos mesmos poemas sem pudor
Para finalizar num clichê:
Fuck the system!
sábado, 19 de junho de 2010
domingo, 13 de junho de 2010
PALAVRAÇÃO
Os mares fogos teatro lampejante touro fecundo, morte de tronos asfaltos brasas terras de pompa austera. Que da lua crateras correm sol, faz-se do ar cada dia débil das coisas póstumas. Que bela viagem dos ouros bronzes climas trópicos infernos casa de praia. Cigarros na janela, à porta os jornais de anteontem, os lixos espalhados na cozinha, o chulé do chinelo, as minhocas e as moscas e as formigas, pobre podre anjo suicídio, progresso da festa, calças compridas de inverno incenso cola de sapatos cheiradas para ver duendes, que as mortas putas lambidas são carne de gado. Perfume. Fogo. Sambacanção e esferas. Lilases sonhos doenças faro nariz, desejos desejos fornalhas desventuras. Ponte até o nada. Cidade-motriz-força-sem métrica, confuso sonho se tivesses teu deleite. Confessionário do sexo, léxico da história do mundo em língua morta. Fedendo a eternidade, neuroses do século, febres do milênio, vulcão do tempo, relógio em que penso, porcos vorazes, revoluções de imbecis, insurreição polêmica tarde nababesca. Busco o dia, busco bando de bandos verrugas cicatrizes suvacos cotovelos feiura bebida vômitos, busco beleza corpo dinheiro roupas cheques firmamento segurança trapaça bênçãos, por onde ando é o que pensei, seria monge, seria prostituta, seria presidente frade rabino rabo rabada roubada com joias armas olhos bocas ouvidos ignorância profunda e filosofia, seria poeta, oh sim! Poeta dos piores, experto, impertinente, agressivo, parvo, um dândi antes fosse, marginal das quimeras, bárbaro mendicante dos uivos dos laivos das deusas, incoerente avesso fantasma chefe porteiro viciado estrume salada cachorro verme extintor.
Sabeis vós todos:
Detive-me detento sol sol
Do éter, pouco se sabe
Da ressaca do bêbado
E da conquista do poeta,
Sol comarca estaleiro
Palavra pronta na madrugada.
Perfeito mundo da ideia motocicletas atalhos recheios filas de impostos grávidas, perto perfeito mundo oceano torre flagelo mordida, falarei de trabalho outro dia, conseguiremos amizade, amor e fama, consegui brigas bares cerveja barata choca mofada, bengaladas dum velho, xingamentos velozes. Eia! Eia! Já passa o cometa, tiro fotos de cadáveres, passeio co’os olhos defumados de maconha íris púrpura pupila tosses petróleo usina nuclear.
Canto porque existo sempre
E canto porque sinto sempre
E canto porque é a hora
Escrever escrever escrever
Morrer deitar frutos
Favela vela abandono
Corre o sangue, já voei sem ser divino,
Se é mistério
O meu mistério
Monástico mito metamorfose auréola diabos.
Conquiro, ergo sum!
Aos mares! Vos digo:
Sabeis devorar o tempo
Sabeis gozar o instante
Que se exaltem segredos divertimentos
Calvários chamuscados ventos bucetas.
É puta das mais putas: poeta.
Sabeis vós todos:
Detive-me detento sol sol
Do éter, pouco se sabe
Da ressaca do bêbado
E da conquista do poeta,
Sol comarca estaleiro
Palavra pronta na madrugada.
Perfeito mundo da ideia motocicletas atalhos recheios filas de impostos grávidas, perto perfeito mundo oceano torre flagelo mordida, falarei de trabalho outro dia, conseguiremos amizade, amor e fama, consegui brigas bares cerveja barata choca mofada, bengaladas dum velho, xingamentos velozes. Eia! Eia! Já passa o cometa, tiro fotos de cadáveres, passeio co’os olhos defumados de maconha íris púrpura pupila tosses petróleo usina nuclear.
Canto porque existo sempre
E canto porque sinto sempre
E canto porque é a hora
Escrever escrever escrever
Morrer deitar frutos
Favela vela abandono
Corre o sangue, já voei sem ser divino,
Se é mistério
O meu mistério
Monástico mito metamorfose auréola diabos.
Conquiro, ergo sum!
Aos mares! Vos digo:
Sabeis devorar o tempo
Sabeis gozar o instante
Que se exaltem segredos divertimentos
Calvários chamuscados ventos bucetas.
É puta das mais putas: poeta.
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POEMATA
A inquietação de quantos ares
Borra no sol mudo do revólver
Dispara, no entanto
Jaz nuvem da sexta-feira
Prima da luxúria
E os bagos
Volteiam násdegas
ÓCIO (belo desfazer-se)
Quem assusta mais que nada
Deu no MESMO
Com bananas d’água na terra
Descansam
Olhos
Furos
Findada caótica ditatorial
Da preguiça
Mártir de Marte guerreia a morte
Imundo fariseu depoente
Dos cachos de sulcos
Pompa faraônica
Ônix
Ópio
Society to kill
My music
De tantas tantas vezes tantas
Coisas-nada
Já é sexta-feira, ócio-inquietação
De sol-revólver-baleado
Dos bagos bostas expeliram carne
Esperma de fetos (que era ovo)
Espera de fatos
Devaneio do cuspe
Absorto quand’ando
De quantas
Físicas crepusculares
E contra-matérias pró-espíritos
Cavando covas pró-esqueletos
Dançando contradanças
Das cornetas cornucópia
Plêiades fênix desmorre
VÊNUS sexóloga
(atrás EROS flechado)
E de quantos em tantos
Pomares de alvo.
Borra no sol mudo do revólver
Dispara, no entanto
Jaz nuvem da sexta-feira
Prima da luxúria
E os bagos
Volteiam násdegas
ÓCIO (belo desfazer-se)
Quem assusta mais que nada
Deu no MESMO
Com bananas d’água na terra
Descansam
Olhos
Furos
Findada caótica ditatorial
Da preguiça
Mártir de Marte guerreia a morte
Imundo fariseu depoente
Dos cachos de sulcos
Pompa faraônica
Ônix
Ópio
Society to kill
My music
De tantas tantas vezes tantas
Coisas-nada
Já é sexta-feira, ócio-inquietação
De sol-revólver-baleado
Dos bagos bostas expeliram carne
Esperma de fetos (que era ovo)
Espera de fatos
Devaneio do cuspe
Absorto quand’ando
De quantas
Físicas crepusculares
E contra-matérias pró-espíritos
Cavando covas pró-esqueletos
Dançando contradanças
Das cornetas cornucópia
Plêiades fênix desmorre
VÊNUS sexóloga
(atrás EROS flechado)
E de quantos em tantos
Pomares de alvo.
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continuação
IMPROVISO
Tem uns olhos que entardecem,
noite que se prenuncia.
Mas o seu corpo amanhece,
claro como a luz do dia.
Há qualquer coisa de torre
na sua altura dourada.
E de alto a baixo lhe escorre
a palavra "Apaixonada".
É bela como o silêncio
e ardente como as mãos presas.
A cada adeus, ela vence-o
com amorosas certezas.
Nos seus seios, vejo a vida
rebentando de desejo -
pois sua alma enfebrecida
mora na carne que eu beijo.
Tem uns olhos que entardecem,
noite que se prenuncia.
Mas o seu corpo amanhece,
claro como a luz do dia.
Há qualquer coisa de torre
na sua altura dourada.
E de alto a baixo lhe escorre
a palavra "Apaixonada".
É bela como o silêncio
e ardente como as mãos presas.
A cada adeus, ela vence-o
com amorosas certezas.
Nos seus seios, vejo a vida
rebentando de desejo -
pois sua alma enfebrecida
mora na carne que eu beijo.
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Poesia
continuação
O REI E O REINO
Aqui nós dois a nossa vida
longe do mundo construímos
no que antes ela era perdida.
Teu corpo nu (pétala de ouro)
povoa a solidão em que ontem
eras em sonho meu tesouro.
E eu te conduzo a manhãs claras
que não havias suspeitado,
nas noites frias e de raras
luzes, em que eras só espera
de um incerto acontecimento:
inesperada primavera.
Agora, tudo é já passado
e (estranho!) tudo é só futuro,
no sonho em verdade tornado.
E assim, apenas porque és minha
nesse reino que é nossa cama,
eu sou o Rei e és a Rainha
na graça plena de quem ama.
Aqui nós dois a nossa vida
longe do mundo construímos
no que antes ela era perdida.
Teu corpo nu (pétala de ouro)
povoa a solidão em que ontem
eras em sonho meu tesouro.
E eu te conduzo a manhãs claras
que não havias suspeitado,
nas noites frias e de raras
luzes, em que eras só espera
de um incerto acontecimento:
inesperada primavera.
Agora, tudo é já passado
e (estranho!) tudo é só futuro,
no sonho em verdade tornado.
E assim, apenas porque és minha
nesse reino que é nossa cama,
eu sou o Rei e és a Rainha
na graça plena de quem ama.
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