PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 19 de junho de 2010

ONEROSAS MODERNIDADES POÉTICAS PÓS-TUDO

Tanto faz o que se faz de um mesmo poema

Que sempre foi algo que não se assume:

Alma e fartura, corpo e orgulho.

Tortura de sujeitos, leituras de pré-textos.

O que atormenta na trovoada dos fantasmas.

Muita insanidade descoberta, exposta ao caos.

Muitos derrames, muitas notícias,

Vários palcos sem realismos,

Vários danos sem prosaísmos.



Que dia! Meu Deus, que dia!

Voltem um pouco aos rituais,

Terão muito do que se entreterem

Os fantásticos homens de porte espaçoso,

Gordos de infarto e mediocridade,

Imundícies descoloridas dos mundos,

Sujeitos pós-partos paridos em acasos.



Que mundo! Meu Deus, que mundo!

É o dia e o mundo do fim da beleza.

Poesia enfeitada é coisa fresca

Como uma moçinha virgem.

Daqui para a frente só o frontispício

Do poeta pós-pós-sei-lá-o-quê.



Entrego-me. Devaneio pouco posso tê-lo.

Ditames do pretexto de tirar sarro

Dos croporritmos rímicos

Sem um bom escarro.



Neste campo belo, ó fonte inelutável!

Somos românticos à reboque do tempo.

Vamos dizer belezas: mistério e lua.



Agora voltemos ao descoberto:

Arte de perfídia, pagão impagável

Do mesmo vinho que bebemos em festanças.

Daqui para a frente não tem regra.

Posto o prefácio apologético do autor poeta!



Ao lúdico estamos: o culto dos puteiros,

O culto dos bêbados, o culto dos verdadeiros.

Aqui estamos. E todo o resto do futuro

É poesia que marcha nos tambores.

(Ba-ti-cum, ba-ti-cum, ba-ti-cum-dum ...)



Depois se desmonta sem freios,

É leve sem obrigar-se

Ao tédio do céu e ao tédio da terra,

E aos não-sujeitos que o poema deglutiu,

Todos mecânicos repetidores do sistêmico.



Ora, tem-se atitude

Dos mesmos poemas sem pudor

Para finalizar num clichê:

Fuck the system!

domingo, 13 de junho de 2010

PALAVRAÇÃO

Os mares fogos teatro lampejante touro fecundo, morte de tronos asfaltos brasas terras de pompa austera. Que da lua crateras correm sol, faz-se do ar cada dia débil das coisas póstumas. Que bela viagem dos ouros bronzes climas trópicos infernos casa de praia. Cigarros na janela, à porta os jornais de anteontem, os lixos espalhados na cozinha, o chulé do chinelo, as minhocas e as moscas e as formigas, pobre podre anjo suicídio, progresso da festa, calças compridas de inverno incenso cola de sapatos cheiradas para ver duendes, que as mortas putas lambidas são carne de gado. Perfume. Fogo. Sambacanção e esferas. Lilases sonhos doenças faro nariz, desejos desejos fornalhas desventuras. Ponte até o nada. Cidade-motriz-força-sem métrica, confuso sonho se tivesses teu deleite. Confessionário do sexo, léxico da história do mundo em língua morta. Fedendo a eternidade, neuroses do século, febres do milênio, vulcão do tempo, relógio em que penso, porcos vorazes, revoluções de imbecis, insurreição polêmica tarde nababesca. Busco o dia, busco bando de bandos verrugas cicatrizes suvacos cotovelos feiura bebida vômitos, busco beleza corpo dinheiro roupas cheques firmamento segurança trapaça bênçãos, por onde ando é o que pensei, seria monge, seria prostituta, seria presidente frade rabino rabo rabada roubada com joias armas olhos bocas ouvidos ignorância profunda e filosofia, seria poeta, oh sim! Poeta dos piores, experto, impertinente, agressivo, parvo, um dândi antes fosse, marginal das quimeras, bárbaro mendicante dos uivos dos laivos das deusas, incoerente avesso fantasma chefe porteiro viciado estrume salada cachorro verme extintor.



Sabeis vós todos:

Detive-me detento sol sol

Do éter, pouco se sabe

Da ressaca do bêbado

E da conquista do poeta,

Sol comarca estaleiro

Palavra pronta na madrugada.



Perfeito mundo da ideia motocicletas atalhos recheios filas de impostos grávidas, perto perfeito mundo oceano torre flagelo mordida, falarei de trabalho outro dia, conseguiremos amizade, amor e fama, consegui brigas bares cerveja barata choca mofada, bengaladas dum velho, xingamentos velozes. Eia! Eia! Já passa o cometa, tiro fotos de cadáveres, passeio co’os olhos defumados de maconha íris púrpura pupila tosses petróleo usina nuclear.



Canto porque existo sempre

E canto porque sinto sempre

E canto porque é a hora

Escrever escrever escrever

Morrer deitar frutos

Favela vela abandono

Corre o sangue, já voei sem ser divino,

Se é mistério

O meu mistério

Monástico mito metamorfose auréola diabos.

Conquiro, ergo sum!

Aos mares! Vos digo:

Sabeis devorar o tempo

Sabeis gozar o instante

Que se exaltem segredos divertimentos

Calvários chamuscados ventos bucetas.

É puta das mais putas: poeta.

POEMATA

A inquietação de quantos ares

Borra no sol mudo do revólver

Dispara, no entanto

Jaz nuvem da sexta-feira

Prima da luxúria

E os bagos

Volteiam násdegas



ÓCIO (belo desfazer-se)

Quem assusta mais que nada

Deu no MESMO

Com bananas d’água na terra

Descansam

Olhos

Furos

Findada caótica ditatorial

Da preguiça



Mártir de Marte guerreia a morte

Imundo fariseu depoente

Dos cachos de sulcos

Pompa faraônica

Ônix

Ópio

Society to kill

My music

De tantas tantas vezes tantas

Coisas-nada

Já é sexta-feira, ócio-inquietação

De sol-revólver-baleado



Dos bagos bostas expeliram carne

Esperma de fetos (que era ovo)

Espera de fatos

Devaneio do cuspe

Absorto quand’ando

De quantas

Físicas crepusculares

E contra-matérias pró-espíritos

Cavando covas pró-esqueletos

Dançando contradanças

Das cornetas cornucópia

Plêiades fênix desmorre



VÊNUS sexóloga

(atrás EROS flechado)

E de quantos em tantos

Pomares de alvo.

continuação

IMPROVISO




Tem uns olhos que entardecem,

noite que se prenuncia.

Mas o seu corpo amanhece,

claro como a luz do dia.



Há qualquer coisa de torre

na sua altura dourada.

E de alto a baixo lhe escorre

a palavra "Apaixonada".



É bela como o silêncio

e ardente como as mãos presas.

A cada adeus, ela vence-o

com amorosas certezas.



Nos seus seios, vejo a vida

rebentando de desejo -

pois sua alma enfebrecida

mora na carne que eu beijo.

continuação

O REI E O REINO




Aqui nós dois a nossa vida

longe do mundo construímos

no que antes ela era perdida.



Teu corpo nu (pétala de ouro)

povoa a solidão em que ontem

eras em sonho meu tesouro.



E eu te conduzo a manhãs claras

que não havias suspeitado,

nas noites frias e de raras



luzes, em que eras só espera

de um incerto acontecimento:

inesperada primavera.



Agora, tudo é já passado

e (estranho!) tudo é só futuro,

no sonho em verdade tornado.



E assim, apenas porque és minha

nesse reino que é nossa cama,

eu sou o Rei e és a Rainha



na graça plena de quem ama.