PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

OS SONHOS (POEMA ONÍRICO)

Todos os ares cantam esta fábula,

a vinha que sorri e faz a dália,

corre a noite neste rio da bruma cálida,

em um verdor de brilho que não falha.


Toda a floresta em festa,

que o mar assim faz querer,

e nenhum louco contesta,

este poema e seu poder.


Assim é, digo à nuvem o vento,

e perto do fogo o frio desaparece,

e meu estro que no mar sustento,

tem neste vigor a sua prece.


Os ares desta fábula existem,

disse o asno da floresta,

e teu palco é vertigem,

faz o poeta em alegria manifesta.


Assim vai e volta toda poesia,

faz frio na noite da bacanal,

e faz calor neste peito que vicia,

do mar que vem da aurora matinal.


18/08/2022 Gustavo Bastos 


CONTO SELVAGEM

Os guizos balançam no circo,

um infante chamado zezezinho

fez um espetáculo grotesco,

soltou o gorila no picadeiro,

a fada de nome Tila

que não tinha vara de condão,

bateu no menino com 

uma enxada,


zezezinho, o infante

que fazia graça, 

filho de um madraço 

alcoólatra que morreria

de infarto na semana

seguinte, sua mãe,

farofeira, girava

sua girândola

que nem uma 

alucinada,


oh poeta, 

serve aos guizos

do bobo que corre,

os palhaços da corte

que nem idiotas

sem salvação,

o norte deste poema

sem eira e nem beira,


leram a sorte

numa borra 

de café mijado,

cheio de haxixe

e haustos

frementes

de demência,


este infante

crescerá 

madraço,

disse a fada,

e o poeta 

haurindo

seu cachimbo

fez que sorriu,

falou uma asneira

qualquer,

e o circo fechou 

sua tenda,

os nômades

seguiriam

viagem,


a fada Tila

bateu neste 

demente,

dizia o dono

do picadeiro,

e um leão foi solto

e devorou

pedaços de carne, 

disse Tila,


neste tilintar de

metais de prata,

uma grande cova

foi onde se jogaram

os restos de nada

destas girândolas

e os cinzéis

de uma escultura

espatifada.


18/08/2022 Gustavo Bastos 


AS BACANTES

Gerânio no bosque e a porra

que escorre da boca do lixo,

um certo cafetão que gritava

e escrevia em letras garrafais

que entrava o bêbado

e o esfolador,


a serpente serelepe

fumava como 

uma broca 

que abria

a vala,


flores do campo

e o cáften

com loucas

no pátio 

e o barulho

dos gemidos

na porta,


ventilava

um ar viciado,

cheiro de mofo,

a vertigem

cortando o peito

como uma adaga,


o poeta acendeu

seu cigarro,

na escarradeira

um pedaço de

bolota de sangue,

era a enfisema

tomando os 

pulmões,


de outro lado

estava um vate,

já nas últimas, 

louco de vodka,

como um delirante

que sofria de gota,


o cafetão sorria,

na placa de entrada

do bar estava escrito

a frase lapidar

que guiava

o caos :

foda-se.


18/08/2022 Gustavo Bastos   


O SOM DA BATIDA

Burroughs sonhava seu aperto

contra o peito ao atirar,

e neste meio de doidices

Cassady morria na linha

de trem.


Kerouac imaginava sua 

escrita automática

como seu grande rolo

qual pergaminho,


o poema se dava de 

um fôlego à edição

de Ferlinghetti,


por último,

hippies olhavam

com admiração

a declamação

tonta e bêbada

de Ginsberg

ao nascer da lua

e um farol

que surgiu

em onda beat

e satori.


Eu escrevi

estes poemas 

há muito tempo,

de lá nascidos

o rock era 

meu motor,


há muito

que estas 

doses cavalares 

me davam overdose,

e eu ouvia sinestesia

no horizonte

e músicas

no mar.


18/08/2022 Gustavo Bastos 


FEBRE DO LÁUDANO

No láudano esparge o perfume

desta lótus topázio que lacrimeja,

o pendor ao incenso e a 

carne nervosa que espera

a consumação do sexo,


para esta beladona 

a alucinação é 

qual spleen

de um poema

langoroso de 

ópio na vertigem,


vai-te ao vate maior,

beber a mandrágora

deste demônio

que mora no 

absinto,

este diabo 

verde que 

sussurra

a poesia

como 

quem 

canta.


18/08/2022 Gustavo Bastos 


SATURNAL

Saturno aparece na 

pompa de suas

saturnais,

o vinho abastece

este lupanar

de suas

vestais,


o mar salga

a fúria

neste tear

poema 

desvairado,


corre a folha seca,

deste pasto verde

e a fábula

da borboleta

incide sobre

o sol que espera

descansar em sua

lua,


o mar que ruge

esta espada

e a saturnal

nesta abóbada

e o cetro firme

que balança

as ondas,


neste dorso da montanha

a pedra este ângulo

qual fera escala

a colina rumo

ao céu,


verte todo poema

neste que é 

poeta em seu aço

de porrada.


18/08/2022 Gustavo Bastos 


CONFIANÇA

O templo reza a reza

com a fé e tempestade,

eu escrevo meu sangue

e dele em mim eu fervo,

com o coração astuto

para a fé prorromper.


Violento o mar deste martírio,

e o canto paradisíaco

que da praia

quer seu sal

e enseada.


Do verbo seminal,

tua mulher lhe dirá

o que semear,

a virtude está

na força que 

renasce.


Vento que o sopro

ecoa, em cada palavra

este verso feliz

sussurra

a beleza,

e meu vinho

faz verbete

e entra

no coração

da vida.


Faz o tempo

deste templo

e reza a reza,

este verbo

semeia

tudo em tudo.


Faz deste templo

teu sacrifício,

a uma glória

que explode

vigor e ternura.


O poema é este

templo, então

reza a reza

e confia.


18/08/2022 Gustavo Bastos 


CANTO DO TRIUNFO

Venero a minha própria febre,

o poema que cai da mão, 

de sua palma escrita

em turbilhão.


Do féretro dos algozes,

a dor vicária que morre

em seu sepulcro

abscôndito,

a faca cega

do horror.


Venero o meu próprio fausto,

e o triunfo que me levanta.

O nome escrito em pedra,

e o provérbio lá 

como um dito

angular

e definitivo.


Senta e vê a glória,

esta procissão vitoriosa

de sua luta,

escreve na cal

e no osso

o vinho

de teu

fastígio,

oh triunfante,

da beleza

corpórea

que bebe

alucinadamente.


18/08/2022 Gustavo Bastos 


quarta-feira, 17 de agosto de 2022

PIADA PRONTA

Bruma deste inquérito,

se monta a comédia

dos costumes devastados,

se entrechocam os 

caracteres prontos,

uma janta é feita,

se ouvia os ossos 

que sobraram,

chupava a ossada

uma velhinha sinistra

que sorria na frente

daqueles caracteres

agora atônitos,

estupefatos, 

ou diria,

perdidos

em suas 

estultícias,

como num 

belo apocalipse

de idiotas.


17/08/2022 Gustavo Bastos 


MIRAGEM POÉTICA

Cercar-se do auspício,

o vate vai e segue,

sua flecha eterna

no alvo,


a alvíssara, 

o poema

o vinho

de seu

tear,

a sua 

miragem.


17/08/2022 Gustavo Bastos 


O BOÊMIO

O vinho e seus langores,

a rua está vasta,

o flâneur bem 

que sabe,

a boêmia

é seu canto

da noite,

as estrelas 

suas 

miragens

diletas.


Seu delta,

seu arquipélago,

seu continente,

a noite o seu 

chão, a noite 

langorosa

do ópio.


17/08/2022 Gustavo Bastos 


CHAPELETA ROXA

Suave nasceu um cogumelo

na janela do sol,

fazia-se um arco de luz

em minha visão

psicodélica,

se ouvia o rosa

e o azul,


vai-te morrer viver

como um pássaro,

deste canto

e o verniz

irizado

da bruma,


faz o poema

e delira,

tua escrita

ferve.


17/08/2022 Gustavo Bastos