PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

CRIME DA BRASKEM - PARTE II

“a CPI foi instalada”

Pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) já apontavam os riscos de afundamentos, em Maceió, devido à exploração mineral da Braskem, há mais de uma década. Estudos já indicavam que a exploração do sal-gema pela Braskem estava provocando aumento do nível do lençol freático, e que o aumento de pressão poderia causar o afundamento do solo. 

Por sua vez, esta exploração trabalha liquefazendo o sistema na injeção de água e que lubrifica o subsolo, pois se retira o sal e lá ficam muitas cavidades logo após, sendo que estas cavidades são preenchidas com fluido, e mesmo com a interrupção da mineração por completo, a Braskem tem que continuar com o monitoramento diário. 

O colapso do sistema de extração se dá, por conseguinte, quando há perda da auto sustentação de uma estrutura. Quando se fala de cavidades subterrâneas, seja cavernas, minas subterrâneas etc, o colapso causa a subsidência (afundamento) da camada acima da cavidade.

No campo jurídico é bom lembrar que a Justiça Federal de Alagoas já aceitou o pedido de tutela de urgência contra a Braskem, que já foi intimada devido aos danos causados, esta que disse que “avaliará e tomará as medidas pertinentes nos prazos legais aplicáveis e manterá o mercado informado sobre qualquer desdobramento relevante sobre o assunto.” 

O valor da causa é de R$ 1 bilhão e já foi ajuizada pelo Ministério Público Federal, pelo Ministério Público do Estado de Alagoas e pela Defensoria Pública da União uma ação civil pública contra a companhia e o município de Maceió, além do Ministério Público Federal, junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), ter pedido a suspensão imediata da exploração mineral em Maceió.

Foi solicitado pelo documento que a União e a Petrobras “intervenham junto à Braskem para a suspensão imediata de todas as atividades de exploração mineral” e também a “adoção de medidas emergenciais destinadas a impedir ou minimizar os danos ora vislumbrados.”

Segundo o governo de Alagoas, as minas da Braskem são cavernas abertas para a exploração de sal-gema durante décadas de mineração que, contudo, começaram a ser fechadas desde que o SGB (Serviço Geológico do Brasil) confirmou que a atividade mineral da Braskem provocou o fenômeno geológico de afundamento do solo na região. Por sua vez, houve um aumento do monitoramento após 5 abalos sísmicos registrados apenas em novembro último. 

Por fim, no domingo, dia 10 de dezembro, houve o rompimento da mina 18, que foi preenchida pela Lagoa Mundaú. Mais um crime ambiental da Braskem, após a destruição de cinco bairros e dos lares de 55 mil pessoas. A Defesa Civil alega que o rompimento da mina 18 se autopreenche, portanto, não oferece risco. Por outro lado, houve tanto o rompimento, ocorrido às 13:15 h, como outro abalo às 13:45 h. Por sua vez, a Braskem disse que a área está sendo monitorada.

No final de novembro último, a Prefeitura de Maceió decretou situação de emergência por risco iminente de colapso da mina da Braskem na Lagoa Mundaú. O rompimento de domingo, no dia 1o de dezembro, foi notado pelo movimento nas águas de um trecho da lagoa. Após o incidente, o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL) solicitou uma reunião urgente junto ao governador de Alagoas, Paulo Dantas, marcada já naquele domingo, na análise dos desdobramentos do episódio e para busca de soluções.

Com o rompimento da mina 18 temos o comprometimento da fauna e da flora da Lagoa de Mundaú, principalmente na ameaça ao mexilhão Sururu, iguaria tradicional da culinária alagoana, espécie que se for extinta na região pode prejudicar o sustento de 400 pessoas. 

Por sua vez, o contato da água da lagoa com o sal minerado pela Braskem no subsolo elevará os níveis de salinização da água, com possível extinção de espécies na região. Ou seja, os crimes ambientais da Braskem são consequência de uma intervenção irresponsável na natureza, com foco exclusivo no lucro.

A reação institucional e civil em relação a estes absurdos parece deixar a empresa em maus lençóis, embora a controvérsia continue, pois se levanta que as indenizações não são justas e nem legais, e que em qualquer teoria econômica e jurídica a empresa deveria decretar falência, e ainda segundo as leis do mercado. 

Mas, com acionistas milionários, incluindo os Odebrechts, e a contenção de danos também se dando pelo fato de a Petrobras ser uma acionária relevante da Braskem, já temos  as manchetes dos jornais estampando que “o governo teme que a CPI da Braskem respingue na Petrobras”. Por sua vez, a Braskem tem ainda ações preferenciais e o governo detém 10 % de ações da empresa. Ou seja, o respaldo da sobrevivência da Braskem se dá por meio de acionistas e do próprio Estado. 

Entretanto, mesmo com interesses contrários, a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Braskem foi instalada nesta quarta-feira, dia 13 de dezembro. Omar Aziz (PSD-AM) foi escolhido por aclamação como presidente da CPI. Embora instalada, os trabalhos da CPI só começarão após o recesso parlamentar, em fevereiro de 2024.

Por sua vez, apesar do contato de Lula com o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), aliado político do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tanto Lira como Renan Calheiros (MDB-AL) tentam conter os problemas envolvendo a petroquímica e as autoridades locais, e o governo tenta também conter a rivalidade entre Lira e Renan na política e disputa de poder em Alagoas.  

Contudo, não houve êxito do governo Lula na contenção do avanço da investigação, e a CPI foi instalada. O temor do governo, por sua vez, também reside na Petrobras, acionista que detém 36,1 % do capital da Braskem, com a CPI podendo afetar os negócios da petroleira. Outro problema é que a CPI da Braskem possa arruinar a venda da empresa pela Novonor, antiga Odebrecht, que há anos tenta efetuar esta venda.

O TCU (Tribunal de Contas da União) acolheu o pedido do Ministério Público para fiscalização da Braskem no caso da mina afundada, uma vez que o TCU entende ter competência para a investigação, pois a Petrobras é uma acionária relevante da Braskem. Por fim, a fiscalização de recursos minerais também cabe à esfera federal. O ministro Aroldo Cedraz determinou que em 5 dias a Braskem e órgãos federais deem explicações ao TCU.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/colunas/crime-da-braskem-parte-ii










   



terça-feira, 19 de dezembro de 2023

O MAR DE MÁRMARA

Quando eu bebia o mar, me embriagava 

das tempestades de Netuno, das ondas

de Tritão, do sol vívido Inca, metafísico,

da unio mystica, de satoris búdicos,

na levitação dos sonhos de festivais.


Penso na amplidão, no horizonte,

em que descanso os meus ossos,

meus músculos, minhas costas,

e me previno do ataque,

com o escudo da fé,

no canto prenhe

da praia, com a bênção

fervente do sol.


Os poemas continuaram

seu fluxo, contra os

dizeres da insciência,

contra a correnteza

infame da terra arrasada.


Pleito visceral, os hinos cascudos

da nau vitoriosa, os cânticos

verdejantes, na bruma, no cio

desta nova terra famélica,

furibunda, em que a mão forte

bate o vento na cara

da idiotia.


Diante das misérias

e das fantasmagorias

de fantoches, que caem

bebuns como patuscos

na chuva, o soco atinge

o peito dos hipócritas,

da pantomima exangue

que se desespera.


O poema está reto

como uma adaga,

corta e traça,

sem delongas,

e com nada em vão,

seu verbo ferro aço

traço dicção de prata

brilhosa, lustrada,

do canto da vida

e da matança,

da arte solar

e da boêmia

noturna.


19/12/2023 Gustavo Bastos 

CANTO DOS MISERÁVEIS

O pastoreio dos que se perderam

é a renovação de nossas noites

perdidas, das estrelas caídas

como anjos da danação.


Este páramo, de fundo escuro,

inspira as falanges contra

os sonhos dos boêmios,

em que o coração contrito,

na fossa, sucumbe.


Ver a saída dos hinos de misereres,

dos cantos de lamúrias,

ladainhas, melodias plangentes,

de um peito dorido,

é ver que da fossa

o espanto estava adormecido,

e a alegria abafada.


Que mundo ruim

que te fez bagaço!

O mundo cruel

que você blasfema,

deste Deus que lhe

deu uma botinada.


Nada restará

enquanto o choro

e o ranger de dentes

não se superar.


19/12/2023 Gustavo Bastos 

AMÉRICA

Se acende o sendero, a pátria traída

é o golpe de faca na democracia.

Um bastão dá uma pancada,

os guerrilheiros reagem.


O presidente foi morto,

se soltam fogos, a cocaína

sai para viajar, o povo

quer cantar novamente,

a grande canção continental,

dos mares de enseadas 

descobertas por degredados.


Sim, a América está nova,

na proa de seus sonhos,

toda esta grande poesia

continental, absurda,

entre oceanos

vastos, e cadeias

montanhosas

de mundos

antigos.


O poeta canta o pampa,

canta a cidade, canta

todo o continente,

e a casa diante

do rochedo

parece um barco,

em que o vento

levava a bordo

Macondo e delírios

de revolução.


19/12/2023 Gustavo Bastos 

OS VERSOS DA TERRA

Se estuda a vida, o mapa é denso,

de toda fauna e flora a música,

e os tons juntos às cores que formam

a imagem nítida da paixão.


Com as asas abertas, o peito

aberto, o mar batendo e a pele

respirando, a vida está plena,

um canto vira hino,

e a alegria vira felicidade. 


Na lira está Afrodite, 

e vem Eros, que se ergue 

no céu, mas não se mira 

em Tânatos.


O amor verseja, 

estes que são 

os versos da terra, 

os versos mortais, 

feitos por criaturas, 

mas levados

pelas musas.


Divinos, os versos

também se despertam

do sopro eterno,

do mundo de aurora

da magia.


Éolo, pneuma,

um zéfiro

que canta. 

Os versos da terra

também são os

cânticos do céu.


19/12/2023 Gustavo Bastos 

VENTO

Vento vem me dizer de teu sopro,

que a voz e o som, na batida das 

águas, venta forte a maresia.


Dos dias que estão espalhados

no verão, o sol cai na varanda,

se abre uma grande enseada,

e se desenha a lua na constelação, 

nesta miragem da via láctea,

neste tempo tão límpido

que os olhos veem.


Vento que me leva,

na noite e no dia,

pintando o sol e a lua,

e a prata de Bárbara

na escultura que 

sonhei. 


19/12/2023 Gustavo Bastos 

PASSEIO DO CORAÇÃO

Vamos sair, vamos ver o mar.

Não existe mal para lá do sol

e na noite oceânica.

Vamos por aí, na noite andar.


Ver o mar e o céu,

a aurora e a nuvem.

A vida vem inteira,

com a tua e a minha 

fé. 


Bárbara, tudo está

vivo, na viva paixão

do dia.


19/12/2023 Gustavo Bastos

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

UM DIA DE SOL

A sempre-viva na luz sempiterna,

que venha a cura, os lumes

da nova era, como anjos

de fortuna no meio

da noite profunda

das almas mortas.


Que o vento, pneuma,

lhes infle novamente

o peito, e que o vagar

do infortúnio retome

a esperança, como era

nos dias de aurora,

nos dias de sol.


15/12/2023 Gustavo Bastos 

O DEMÔNIO AZUL

Ele pintava o sete, mordia as unhas,

seu sangue era astral, foram dezoito

diabos que lhe formaram o miasma.


Forma vã, de filosofia profana,

o culto pagão sempre viverá,

na sangria dos antepassados,

diante da dança das virgens,

das flores noturnas

da ceia, e a flecha

de veneno no peito

da morte.


15/12/2023 Gustavo Bastos 

A VITÓRIA ACACHAPANTE

Se adoro a canção, desde o som, 

passando à melodia, é o canto

que ferve na pena.


Vai-te amar, pois, na poesia

famélica surge o sol,

que ama e se aquieta

em sua luz.


Desde o choque com Tiamat,

a lua pintou o céu estrelado,

da lira ao cancioneiro,

do repente ao fogo

da noite, despertou

o poeta que dormia.


Junto estão uma estrela,

um sol e uma lua,

marcadas na pele de 

praia, e o olho de Osíris

acordado, iluminado,

a poesia vence,

a poesia vence,

a poesia vence. 


15/12/2023 Gustavo Bastos 

RALÉ

 

A vida áspera, desesperada, aqui na comunidade de Estrela do Norte, no morro do Genésio, tem a dor que é sofrida, não tem saída, água insalubre, bichada, com bicho nadando, arrisco dizer que toda gente desdentada come banha, assim que os mercados jogam aquilo na beira da calçada. Era assim no começo, o desespero vivo, a miséria extrema. A família do pai Balalão, chefe de família irascível, com a psiquê de uma jamanta, e a sensibilidade de um caco de vidro, mandava e desmandava nos seus.

Balalão era casado com Vera Rosa, uma mulher vinda de um sertão agreste, de uma cidadezinha de nome Valinhos, e na cidadezinha vizinha nasceu Balalão, no pequeno distrito de Calimã. Eles se casaram ainda em Valinhos, e um ano depois partiram e construíram um barraco no que ainda era dominado por um mangue, e que, em vinte anos, viraria a comunidade de Estrela do Norte, reunindo o Morro do Genésio, o Parque Araripe, o Mangue Zemba, o Trapeze e o Mangue Verde.

A família cresceu nos vinte anos de quando Balalão veio junto com Vera Rosa para o mangue. Quando os dois subiram o morrinho, havia junto deles apenas mais uns quinze barracos em construção, e foi o tempo do surgimento do morro que seria batizado de Genésio, nome de um fazendeiro antigo que mandava em todo mundo, um século antes, e que foi dono de terras ali perto, e mandava seus jagunços matarem seus desafetos neste morro. Genésio, depois da crise do café, morreu endividado e num sanatório para tratar a tísica.

Balalão era Balalão Maniçoba, Vera Rosa era Pontes, e virou Vera Rosa Pontes Maniçoba. Balalão era Maniçoba por parte de mãe, não tinha registro do nome do pai, que era um cachaceiro de Calimã, mulherengo, que morreu envenenado anos depois do nascimento de Balalão, provavelmente por algum corno. Balalão, portanto, deve ter alguns irmãos ou irmãs de pai que ele nem conhece, pois teve mesmo dois irmãos mais novos de seu padrasto José, este que morreu pouco antes de Balalão deixar Valinhos e o qual chamava de pai. Sua verve violenta, no entanto, veio das amizades em Valinhos, e das bebedeiras que já fazia por lá na juventude.

No Morro do Genésio, e pouco antes, em Valinhos, por fim, Balalão e Vera Rosa geraram onze filhos, sendo que dois morreram, um ainda bebê, de difteria, e um com três anos de desnutrição, e que foram o segundo filho, Carla, que morreu bebê, e o quarto filho, Bento, que morreu desnutrido. Dos que estão vivos, em ordem de idade, do mais velho para o mais novo, tinha José Antônio, 22 anos, o Dendê, único filho nascido em Valinhos, Maria de Fátima, a Fatinha, de 20 anos, que veio na barriga da mãe de Valinhos e nasceu no Morro do Genésio, de parto natural. Depois tem Luís, o Luisinho, 19 anos, gêmeo univitelino de Bento, este que tinha morrido, e ainda tinha Paulo, o Paulinho, 18 anos, Gertrudes, a Pitica, de 16 anos, Ederson, o Edinho, de 15 anos, Reginaldo, o Bica, de 13 anos, e os dois mais novos, gêmeos, o João, e Joana, os dois com 12 anos.

Balalão Maniçoba tinha cortado muita cana em Valinhos, e no Morro do Genésio virou aprendiz numa oficina do Seu João, e lá ficou, herdando a oficina, que ficava no pé do morro, já perto do Mangue Verde e do Parque Araripe. Vera Rosa começou costurando para fora, depois virou cuidadora, mas como não parava de engravidar, acabou virando dona de casa, uma vez que acabava perdendo o emprego.

Da família Maniçoba, inicialmente, todos eles moravam no mesmo barraco erguido vinte anos atrás, um cômodo, cozinha, e do lado de fora um quintal caótico, amarrotado de coisas, e não havia banheiro, pois tudo era feito na beira do valão, e o banho era num pequeno clube, no pé do morro, com fila de manhã, mas pequena, pois ampliaram os banheiros públicos, com chave, e gratuitos, feito pelo caixa da comunidade do Morro do Genésio, que era a área mais pobre de Estrela do Norte, junto com o Parque Araripe, melhorando um pouco para Mangue Verde e o Mangue Zemba (que já tinha sido uma área completamente miserável), e o local melhor da região era o Trapeze, pois ficava na saída para a cidade, na avenida principal.

“Presta atenção! Que eu não vou repetir! A janta tem que ter todo mundo porra! Cadê a porra do Dendê? Paulinho não aparece mais, parece que se mudou para a casa da mulher lá, como é o nome dela? Ela não era puta?” Resmungava na mesa antes de servir a janta um irascível Balalão. “Puta não, modelo, disse o Paulo”, respondeu Vera Rosa. “Ô meu bem, como é que é esse negócio? É puta!”. “Você sabe que esses meninos tão se perdendo, eu falo com o pastor César todo dia, ele me disse que os dois estão endemoniados, é o diabo que leva tudo embora e que não devolve, eu falei para você Rosa, e você finge que não tem nada, e esses meninos de cá, os mais novos, não vão pro mesmo caminho não, a gente leva pra igreja, tem a sessão de libertação e o cacete que for”.

Vera Rosa responde então : “A janta tá pronta, não tem carne, não tem frango, no quilo tem esse ovo cozido, um para cada um, arroz, feijão, tomate, alface, tem repolho também, mas é um ovo só para cada um, lembra que anos atrás não tinha bolsa do governo, e a gente caçava pelanca por aí, então vamos orar agradecendo.” “Vocês tem que lembrar de não brigar, no Natal era um bombom para cada um, mais os da visita, e deu confusão, tô pensando em comprar nada mais não.” Reclamou Vera Rosa.

“Essa porra de chocolate no Natal foi uma merda, esses meninos tão pirados, faltou respeito, cacete!” Disse Balalão. “Calma, paizão, tu tá lembrado que agora vc bebia e não sabe mais se bebe ou vai pra igreja virar coroinha de pastor” disse Vera Rosa. “É paizão, tu bebe lá fora e depois vai orar de ressaca” disse Luisinho, que levou um tapa na cara de Balalão. “Cala a boca, moleque! Quem manda aqui sou eu, seu merda!”

E o esporro sobrou para toda a mesa. “Eu sou o dono dessa joça, e a banda toca com o meu apito porra!”.E continua : ”Tu tá um largado Luis! Só come, dorme e vê TV. É um zé que não faz nada! Eu te chamo para a oficina e nada. E tua mãe não fala nada, ela fica te dando guarita. Quando foi que vc parou de estudar? Nem sabe. Eu sei! Foi nem terminar a sexta série, já matava aula, ia soltar pipa e jogar bola, e nem para tentar trabalhar porra, nem o que te ofereço serve, parece um viciado em televisão e sofá, é um cacete essa porra!”. Reclamou Balalão. “E eu sei que o Dendê é outro malandro, e tá metido em coisa errada há muito tempo, e você, Rosa, que finge que não vê.”

Dendê tava com 22, começou com 15 de avião do tráfico, se mudou para um barraco no Mangue Verde, com uma funkeira que veio do Mangue Zemba, já tava com 3 filhos meninos e pequenos. Sua função no crime subia de importância, e já tinha matado até polícia em troca de tiros. Paulinho, como disse Balalão, era um sumido, diziam que vivia nas costas de uma família de classe média alta, da tal modelo, que tinha pai dono de hotel, e ele ficava no quarto do hotel de graça, vivia com uns trocados, não se sabe como se virava com o resto, pelo visto sempre tinha alguém para ser o mecenas da porra toda. A modelo, que Balalão achava que era puta etc, realmente era modelo, e já tinha passado dois anos no Japão etc.

Fatinha trabalhava de empregada doméstica há alguns anos e já morava num outro barraco perto do da família, mas jantava lá, pois Balalão sempre queria todo mundo lá na janta, depois da fome que passaram caçando pelanca na rua, com sobras de supermercado e açougue. Pitica estava no segundo ano do ensino médio e queria fazer enfermaria ou farmácia, ainda ia decidir. Edinho ainda só queria saber de pipa, futebol, e ficar na rua até de noite. Já cabulava aula, e parecia distante da escola, estava na sétima série, que repetiu duas vezes. O Bica estudava e tava na mesma turma do Edinho. João e Joana estavam na sexta série sem reprovar. Parecia que estes mais novos iam dar em boa coisa, pois eram de temperamentos mais pacatos.

Edinho acabou sendo salvo por um olheiro que o viu jogando bola e o levou para um teste, ele passou e foi para o juvenil de um time médio do interior, onde passou a morar, na sede daquele clube. Lá ele ganhou um outro tipo de disciplina e mudou rapidamente de conduta. Acontecia que, por sua vez, houve a invasão da facção Caveira no Parque Araripe, e depois eles ocuparam o Mangue Zemba.

Um grupo de criminosos conhecido como Os Sete, que fazia assaltos pela cidade, e que começou a também fazer tráfico de drogas, resolveu rivalizar com o Caveira e ocupou o Mangue Verde e o Morro do Genésio. Dendê, que pertencia a um grupo chamado Os Pistoleiros, se juntou a este Os Sete, e uma guerra entre facções começou. O Trapeze ficou livre, pois tinha uma delegacia e um batalhão na entrada da comunidade. Foi feita uma fusão de Os Sete com Os Pistoleiros, e mais um grupo chamado Armada Livre, e mais a cooptação de jovens do Mangue Verde e do Morro do Genésio, para formar o Comando Solar. Dendê ficou em quinto na hierarquia da facção recém-batizada. Ele era bom de conta e bom de tiro, sendo bem útil para o então proclamado líder da facção, o Cobra. Na Caveira se destacavam o chefão Marcinho, e tinha o segundo na hierarquia, o Paulo Doidão.

Quando chegou a notícia Balalão deu um escândalo, duas notícias, a primeira foi a atuação de Dendê no Comando Solar, pois agora ele desfilava de moto, rádio e uma AK-47 no ombro pelo Morro do Genésio, no que chamava de ronda, e parava para filar boia de almoço da Vera Rosa, e que Balalão acabou autorizando para não dar problema na ronda, uma vez que o morro tava dominado pela facção. E teve a notícia da gravidez da tal modelo que o Paulinho tinha caso, no que Balalão ficou puto, pois Paulinho era um boa vida e não tinha emprego fixo.

Rosa já até sabia de outro caso dele, uma grã fina mais velha que dava tudo para ele, amor de pica. Por sua vez, Dendê queria deixar picanha, maminha e peixe no barraco de Rosa e Balalão, mas Balalão rechaçou, disse “que não queria coisa de roubo etc na casa dele, senão Dendê ia ter que desaparecer dali, filar boia na puta que pariu etc”, e Rosa acatou. Os meninos mais novos reclamaram, mas logo levaram esporro de Balalão. O almoço lá podia ter frango, o ovo cozido ficava para de noite, a carne de Dendê ele teve que preparar num barraco tomado pela facção, onde ficava um menor tomando conta e armazenando armas e drogas. Lá tinha um terraço e teva tendo churrasco direto, com som alto, tiros para o alto, fogos de artifício etc.

Balalão logo proibiu qualquer filho de ir para lá, pois aquilo era problema do Dendê, que ele “ia se foder e o caralho” etc. Luisinho acabou indo em um desses churrascos, voltou bêbado para o barraco e apanhou de cinto de Balalão, e que agora ele tava obrigado a aparecer na oficina para “virar homem” etc, e que a vida boa tinha acabado. Depois de uns dias, finalmente Paulinho aparece, Balalão ameaça bater nele, mas Rosa consegue dissuadi-lo. Paulinho conta que a tal modelo tava grávida e que ele ia assumir o filho e que tava fazendo uns bicos por aí. Balalão não se convenceu e já sabia que tudo ficaria nas costas da outra família, que tinha um irmão mais novo em Valinhos que era igualzinho, tinha três filhos com três mulheres e ele levava a vida na flauta, não sustentava nenhum deles.

O que Balalão fez foi levar Paulinho para ter uns conselhos com o pastor da igreja, o que o satisfez, mas tudo tinha passado por um ouvido e saído pelo outro, pois Paulinho saiu do Morro do Genésio rumo a um bairro nobre onde ia jantar com a tal grã fina que era uns quinze anos mais velha do que ele e ele era o fodião no qual ela tava viciada. A modelo ficou sabendo deste caso e de outros e acabou perdendo a paciência e terminou com Paulinho.

Edinho volta de sua temporada no interior, ia entrar para o juniores e faria testes em quatro clubes médios e um grande, ele ainda tava pensando em um clube maior e melhor, mas neste clube do interior morava e comia bem, dividia um beliche com outro jogador do juvenil e tinha conhecido uma menina e tava de caso há uns quatro meses. Lá no Morro do Genésio ele voltou para passar férias e fazer testes em dois clubes da capital. Ele é reprovado no primeiro, um clube grande, e passa no teste de um clube médio da capital e iria morar num bairro de classe média baixa, o Coqueiral, num quarto e sala, e depois de conversar com um cara do CT junto com Balalão, descolaram uma vaga de vigia para Luisinho, que Balalão disse que “tinha que deixar de ser vagabundo”. Luisinho ia continuar morando com Balalão, Rosa e os outros filhos no barraco, pois “o apartamento era de Edinho, coisa dele” etc.

Bica também começa a fazer testes, mas reprova em todos e acaba desistindo e arruma um estágio de jovem aprendiz na indústria de cosméticos e depois começa a estudar para trabalhar como auxiliar administrativo, ganha vaga num escritório de advocacia e começa a sonhar com uma graduação em Direito em faculdade pública. João agora queria fazer Educação Física e Joana sonhava com Veterinária. Pitica passa para Farmácia, e Fatinha continuava como doméstica, agora num casarão em local privilegiado da cidade.

Bica, por outro lado, foi quem gravou e preparou o portfolio de Edinho, ele tentou um clube grande de outro estado, mas reprovou. Começou o profissional num novo contrato num clube de série B do estadual. Seu sonho de jogar em clube grande não se concretizava, e ele acabou depois indo para Portugal, China e República Tcheca, terminou depois num clube de terceiro escalão da Áustria, e acabou ficando por lá, depois trabalhando de garçom e de métrie quando se aposentou do futebol.

Bica, que terminou o estágio e o curso de Direito, depois se mandou também para a Áustria, trabalhando como garçom onde Edinho estava já como métrie. Os dois então foram dividir apartamento em Viena. Lá eles ficaram e raramente vinham para o Brasil, levavam uma vida de classe média baixa, na periferia de Viena, se casaram, tiveram filhos austríacos etc, mas tudo com um regime espartano de bens e lazer, sem muitas chances de mobilidade.

Nesse meio tempo, quando Edinho ainda tentava a carreira de boleiro no Brasil e Bica cursava Direito, Dendê fazia a sua ascensão no crime organizado, até se tornar o chefão do Comando Solar. Fatinha ficou trabalhando durante anos neste mesmo casarão. Pitica começou a trabalhar como farmacêutica, casou, teve um filho, e alugou um quarto e sala com o marido, também farmacêutico. Balalão bateu muito nos filhos, mas não encostava em Rosa, ele tinha um moralismo muito rígido, só que era um louco em áreas como bebedeira e criar filho na base da porrada. Sua relação com a igreja era ambígua, pois nunca largou a bebida.

Assim que Edinho se firmou em Viena, na Áustria, Balalão descobriu que estava com cirrose hepática e foi fazer tratamento, um enfisema pulmonar lhe atingiu logo em seguida, pois além de beber cachaça, fumava dois maços de Marlboro por dia há décadas. Vera Rosa ficou inconsolável, e podia contar com João, Joana, que ainda moravam no barraco, não tanto com Luisinho, que era muito preguiçoso, e empurrava seu emprego de vigia no CT ao longo do tempo, quanto a Edinho, este já tinha saído dali há tempos. Luisinho ainda morava no barraco e gastava seu salário com cerveja e caça níquel, era o mais acomodado da família. Fatinha morava há muito tempo em outro barraco e fez melhoramentos nele, com uma laje para churrasco e banho de mangueira. Dendê tinha um casarão no topo do Morro do Genésio e liderava a tropa do Comando Solar. A essa altura, além dos três meninos, que tinham virado três rapazes, ele arranjou duas filhas pequenas com uma nova esposa, que era agora a dama do Comando Solar.

A atuação de Dendê no Morro do Genésio preocupava Vera Rosa, pois Balalão tava doente, e ela tava com medo do futuro. João e Joana ainda estudavam e Luisinho era uma mala sem alça. Fatinha era quem fazia as compras para o barraco, e como era vizinha de uma escadaria diferente, começou a ter mais presença para ajudar Rosa e auxiliar nas idas e vindas de Balalão do posto de saúde, que também ficava na entrada da comunidade do Trapeze.

O posto de saúde vivia lotado e Balalão não tinha disciplina para o tratamento, foi piorando, e depois de seis meses teve que ser internado no posto de saúde, em que Fatinha e Vera Rosa ficaram revezando, Pitica foi para o barraco para tomar conta de João e Joana, e o inútil do Luisinho vivia num universo paralelo em que trabalhava de vigia no CT, depois bebia e jogava caça níquel, levando uma existência pálida. Depois de um tempo ele foi demitido, ganhou seguro desemprego, mas logo o dinheiro acabou e ele ficou encostado no barraco de novo, pois fingia que ia buscar emprego, mas ia para o caça níquel gastar o que agora era um tipo de mesada que Vera Rosa dava para ele. Por sua vez, na guerra do Comando Solar contra o Caveira, a facção de Dendê consegue invadir o Parque Araripe e deixar o Caveira apenas com o Mangue Zemba, e na invasão do Parque Araripe, Marcinho foi capturado, e acabou executado num descampado depois do topo do Morro do Genésio, numa passagem de desova que dava para o Mangue Verde, também dominado pelo Comando Solar. Marcinho foi para o microondas e virou cinzas, tudo de madrugada, com tiros para o alto e fogos de artifício. Paulo Doidão vira o novo chefão do Caveira e jura vingança.

A guerra continua, e o batalhão que ficava na entrada do Trapeze não se mexia para nada. Havia um esquema de suborno comandado antes de Dendê virar chefão do Comando Solar, desde quando ele contava a grana da facção na secretaria executiva, e agora ele queria “otimizar o bagulho” e conseguiu trazer um paraguaio especialista em armamentos e balística e tinha um detetive infiltrado na delegacia da civil que também ficava na entrada do Trapeze.

Contudo, com a troca de sub-comandante no batalhão do Trapeze, a polícia militar começou a fazer incursões sistemáticas no Mangue Verde e no Morro do Genésio, com troca intensa de tiros com o Comando Solar. Com esta presença do batalhão nas redondezas, o Comando Solar desistiu de invadir o Mangue Zemba e expulsar o Caveira de Estrela do Norte, com eles ficando lá como último bastião de facção inimiga na região.

Por sua vez, o plano de vingança de Paulo Doidão tava de pé, e a convocação de menores para formar um sub-grupo do Caveira no Mangue Zemba fazia parte desse plano. Dendê, contudo, ficou sabendo, e mandou uns caras encapuzados, de moto, metralhar a menorzada que ficava na rua do Mangue Zemba, matando uns oito menores, uma chacina. Paulo Doidão então resolveu contratar um pistoleiro que não era da região para matar Dendê. Dendê acaba pego fora do Morro do Genésio, no balneário de Ilha Formosa, quando esse pistoleiro dá oito tiros em Dendê, que morre na hora, e deixa a dama do Comando Solar em choque, com duas meninas chorando que o pai tinha morrido, as três sendo testemunhas do crime, mas sem identificar o pistoleiro, que estava de máscara.

Balalão já estava nas últimas, Vera Rosa decidiu não informar Balalão da morte de José Antônio, o filho mais velho, mas a morte de Dendê acabou virando notícia no jornal local e uma semana depois, com os três rapazes, as duas meninas, a ex-mulher, mais a mulher atual, junto com Vera Rosa e Fatinha, Balalão ficou sabendo, ele tava à base de morfina e recebeu a notícia meio abstratamente. Só que uma depressão profunda lhe acometeu durante um mês, até que um infarto matou Balalão, em meio ao tratamento contra o enfisema pulmonar e a cirrose hepática. Paulinho apareceu num dia no hospital com uma loira queimada de sol a tira colo, sua filha com a modelo que agora era ex-namorada e ainda pegou Balalão vivo, nas últimas. Edinho tinha vindo umas semanas antes, nessa época ele tava jogando na China, portanto, gastou os tubos para se despedir do pai. Por fim, depois da morte de Dendê, todos os filhos vivos puderam se despedir de Balalão antes de sua morte.

Vera Rosa tinha levado duas pancadas em pouco tempo. As mortes de Dendê e de Balalão deixavam um vazio. Fatinha resolve chamar Vera Rosa para morar com ela no barraco maior para ela ficar livre de tarefas domésticas, pois Fatinha dava conta do casarão durante a semana e de seu barracão no fim de semana. Fatinha e Pitica procederam para a venda do barraco em que ficava Vera Rosa, mas Luisinho implorou para ficar lá, pois não tinha que pagar nada etc. Depois de muito chororô, Luisinho ficaria lá sozinho, recebendo o que ele conseguiu de assistência social. João e Joana iam começar a faculdade de Educação Física e Veterinária, na federal pública, respectivamente, e também foram para o barracão da Fatinha, que agora tinha dois andares e uma laje. Fatinha decidiu não se casar e lá estava com espaço para a mãe e os irmãos mais novos ficarem.

Depois da morte de Dendê, Paulo Doidão lidera o Caveira e retoma o Parque Araripe depois de uma guerra sangrenta. Paulo Doidão exerce uma liderança bem mais cruel que a de Marcinho, que ainda vinha de uma época mais romântica, tendo começado como ladrãozinho pé de chinelo, roubando mercadinhos, quitandas e bares, era conhecido como Dedé, morando num barraco com os irmãos e a mãe solteira, no Mangue Zemba. Quando começou a se formar a gangue da Caveira, ele entrou, até virar facção, sob a liderança de Orlando, que depois que morreu, deu lugar à ele, Marcinho, o antigo ladrão Dedé.

Paulo Doidão, por sua vez, era o menor Paulinho Pemba, também do Mangue Zemba, e que depois se radicou no Parque Araripe e ascendeu no crime de roubo e assalto a bancos. Entrou para o Caveira e mudou seu codinome para Paulo Doidão. O antigo menino Pemba agora ostentava a chefia criminosa mais violenta da região, com o plano de dominar toda Estrela do Norte, expulsando o Comando Solar de uma vez, desde o Mangue Verde, até seu centro nervoso, o Morro do Genésio.

João e Joana pleitearam vagas nos alojamentos da federal, para fazerem suas graduações longe dos problemas do Morro do Genésio. Os dois irmãos conseguiram vaga no alojamento do campus e podiam almoçar no bandejão de graça, pois viraram bolsistas universitários. Lá eles fizeram muitos amigos e já planejavam, junto com eles, dividir o aluguel de uma casa no bairro de Santa Mônica quando já estivessem trabalhando.

Parecia que o caminho dos gêmeos era colar com a galera alternativa de Santa Mônica e se libertar da vida áspera que tiveram no Morro do Genésio, e para isto mantiveram notas brilhantes durante toda a graduação, cumprindo iniciação científica e estágios supervisionados para já saírem empregados da universidade. João acabou saindo da Educação Física, depois de dois períodos, e foi fazer Geografia no mesmo campus, mantendo os direitos de bolsista. Joana, por sua vez, queria abrir uma clínica veterinária assim que se formasse na universidade.

João também se envolveu com grupos de músicos de Santa Mônica, colegas de campus, e foi também pegar umas aulas de violão, como amador, sem montar banda ou compor. Joana, enquanto fazia Veterinária, aprendeu a fazer artesanato com algumas amigas de campus e ganhava um extra com venda de miçangas, artigos de artesania, colares, pulseiras, enfeites e objetos lúdicos, o que também era vendido numa lojinha que ficava no próprio campus universitário.

Edinho, na sua ida para Portugal, e depois sua morada na República Tcheca, avisou que quando desse o Bica iria ficar na Europa com ele. Bica não tinha se dado bem nos testes de futebol nos clubes, estava na graduação de Direito, mas ficou empolgado com morar fora. Edinho, quando deixou o país, começou num clube de segunda divisão de Portugal, onde ele foi morar no CT do clube, em Sagres, e lá ficou por dois anos.

Em seguida foi para um clube da primeira divisão da China, ficou na reserva, jogou alguns jogos do campeonato chinês, mas, depois da temporada, foi emprestado para um clube da segunda divisão da República Tcheca, onde ficou como titular por mais dois anos, indo para um clube da série C do campeonato austríaco, da capital, Viena, onde ficou como titular por três anos e, depois de uma contusão no joelho, acabou se aposentando dos campos e indo trabalhar de garçom no restaurante de um amigo austríaco de Viena, onde fez curso de métrie e foi promovido para métrie deste mesmo restaurante, e foi quando ele chamou o Bica, que pegou passaporte e visto para morar com Edinho em Viena, com Bica indo trabalhar de garçom neste restaurante do amigo austríaco de Edinho.

A facção da Caveira, depois de retomar o Parque Araripe, invade o Mangue Verde, e depois de um tempo, começa uma guerra contra o Comando Solar, no Morro do Genésio. O novo chefão que entrou no lugar de Dendê não conseguiu organizar a facção diante das investidas da Caveira, sob a chefia de Paulo Doidão, e toda a cúpula do Comando Solar, durante uma madrugada, num total de seis pessoas, incluindo o novo líder, Magrão, foram capturados no Morro do Genésio e executados no Mangue Zemba, tudo no microondas, com a participação de Paulo Doidão.

No dia seguinte, a facção da Caveira ocupou o Morro do Genésio, expulsando o Comando Solar de Estrela do Norte, ocupando agora o Morro do Genésio, Mangue Verde, Mangue Zemba e Parque Araripe. O Trapeze continuava com a delegacia civil e o batalhão na entrada. Paulo Doidão meio que deixou de lado ali, pois lá já tinha surgido uma milícia de ex-PMs de nome Sindicato Cop, e havia um acordo de que o Trapeze ficaria sempre sem facção.

O que ocorreu foi que o sub-chefe que ocupou o Morro do Genésio, de apelido Seixas, com uma tropa que ficaria por lá, sob ordens de Paulo Doidão, estava com a missão, dentre outras, de expulsar a família de Dendê do Morro do Genésio, e foi quando a tropa invadiu o barraco em que ficava Luisinho e o expulsou do Morro do Genésio, na base de chutes na bunda e na cabeça, saindo o coitado com uma mão na frente e outra atrás. Luisinho levou um monte de chutes, pois a tropa sabia que Luisinho era um faz nada, um pobre coitado. O barraco de dois andares, que tinha o terraço, de Fatinha, como era local de família, foi expulso verbalmente, sob a mira de submetralhadoras, e a família foi autorizada a pegar todos os pertences e arrumar outro lugar para morar o mais rápido possível. Por sua vez, o barraco em que ficava Luisinho foi ocupado por dois membros da tropa para a contabilidade e despachos de drogas.

Fatinha, junto com a mãe, Vera Rosa, alugou um barraco menor que ficava na Vila Clotilde, bem distante de onde ficavam as comunidades que formavam a Estrela do Norte, e nesta Vila dominava uma milícia de nome Justiça Final. Lá elas não foram incomodadas, e a esta altura tanto João, como Joana, os gêmeos, já estavam numa casa alugada no bairro de Santa Mônica, com outros universitários como eles. Pitica, por sua vez, depois que o pai Balalão e o irmão Dendê morreram, tentava juntar a família toda para o próximo Natal.

Por sua vez, depois de uns dias na rua, Luisinho apareceu na porta do barraco em que ficava Fatinha e a mãe, Vera Rosa, e ele só foi admitido lá sob a condição de trabalhar com alguma coisa, senão continuaria na rua. Ele acabou vendendo balas e doces, entrando nos ônibus da cidade, coisa que agora lhe ocupava as manhãs e as tardes de segunda a sexta. O caso era que Fatinha não tinha a mesma paciência que a mãe Vera Rosa tinha com as malandragens de Luisinho, ainda mais agora que ele já estava mais velho.

Pitica mantinha contato constante com os irmãos de Viena, Edinho e Bica, e eles já estavam se organizando para vir ao Brasil para passar o Natal, que seria, provavelmente, no apartamento de Pitica. Não era barato eles virem de Viena, o que tinha ocorrido duas vezes num espaço já de cinco anos, mas este Natal seria o primeiro da família reunida depois das mortes de Balalão e Dendê. Dessa vez os irmãos de Viena não poderiam ficar de fora. E a organização do Natal começou já com esta garantia da vinda de Edinho e de Bica. E, nesse meio tempo, Paulinho, que tinha uma filha com uma modelo, ex-namorada, agora tinha engravidado uma outra moça, e nasceria dessa vez um menino. Parecia que, desta vez, o relacionamento era estável, ao contrário da piranhagem que ele tinha feito a vida toda, como um mulherengo inveterado. Paulinho tinha dado uma sossegada com esta moça, só não estava casado no papel, mas era uma união estável, já de dois anos.

Passam-se seis meses e chega o dia em que se faria a noite da ceia de Natal. Pitica, o marido, o filho adolescente, e agora uma filha pequena, num apartamento de dois quartos de classe média baixa, organizam a ceia,a árvore e os presentes. Todos chegam entre oito da noite e dez da noite. A saudade de alguns era imensa. Alguns irmãos, entre si, eram mais próximos, outros mais afastados, e a dor do luto ainda ecoava, sobretudo para a matriarca Vera Rosa.

“Eu sinto ainda pelo Balalão, o homem da minha vida, e muito por José Antônio, que a gente sabe foi para o lado errado da vida. Ainda bem que meus outros filhos não foram para o crime. Que bom.” Disse Vera Rosa. “Eu acho que a vida pode ser sempre melhor, esse apartamento é melhor que o outro, que era melhor que o barraco no Morro do Genésio. Agora você e Fatinha tão na Vila Clotilde, parece que aquele lugar, a Estrela do Norte, virou um inferno para sempre.” Disse Pitica. “Morar na Áustria é mais seguro, não realizei todos os meus sonhos como jogador de futebol, mas meu trabalho hoje no restaurante me deixa cada vez mais interessado em crescer na profissão de métrie. Descobri uma segunda vida depois de um sonho lindo que ficou em clubes medianos.” Disse Edinho.

Luisinho não fala nada, fica comendo os canapés e doces, acomodado como sempre. Bica não diz nada, pois ouvia tudo o que Edinho falava e assinava embaixo. João falou sobre a universidade e sobre Santa Mônica e Joana sobre a sua clínica veterinária, que finalmente ela inaugurou um mês antes. Paulinho, agora casado informalmente, disse que finalmente tinha achado o amor. Um milagre. Vera Rosa falou as palavras finais, antes da distribuição dos presentes. “A gente era a ralé, e ainda de certa forma somos a ralé. Mas a coisa melhorou. Não tinha peixe e carne na mesa, agora tem. Não tinha gente na universidade, agora tem. Que os filhos de seus filhos não sejam mais a ralé!” Finalizou Vera Rosa. Sete meses depois ela teve um derrame e veio a óbito, agora a família que veio da ralé, saía de lá, e o luto também iria passar.

 

Conto novo : Pronto em 15/12/2023

 

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

 

Blog : http://poesiaeconhecimento.blogspot.com

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

CANTUS FIRMUS - II

Eu conheci o dia da virada,

depois de lustrar os poemas,

dançar com os delírios,

fazer de conta diante

dos mistérios.


Acho que me encontrei

ainda péssimo, ainda velho,

e depois bebi da fonte,

fiquei com o brilho do sol,

e aprendi os talentos do mar.


Nada mais me ficou estranho,

se não mesmo apenas o espanto

aqui, em face do verso,

misturou-se ao encanto.



Não previ a queda 

aberta do tempo,

em sua face espantosa.


Me detive no 

desafio febril

da obra, 

com todo

o embate 

e a visão

do quilate.


Penso que tenho tudo,

desde o lagar, na vindima

bem sonhada, como esta

epítome da verve, 

em que a dicção

se firma em canto

e devaneio.


Pois sei, na mais

profunda meditação,

que do pulso brota

a força, a determinação,

e a vida vitoriosa.


14/12/2023 Gustavo Bastos 


ANARQUIA DE BACO

Com as chaves do coração, nos desvãos da alma,

em toda a lufada de socorro na pista da noite,

escrevo aos poetas que morreram de overdose

e caíram nos sussurros da madrugada.


Aqui estou, aqui vou, me voltando

ao sol mais delirante da verdade,

nos olhos do mar e de sua ferocidade

anárquica, na sua revolução de sal,

com o meu mergulho no infinito.


Infindas eras, novos vinhos,

nova vida, uma plêiade

brilhante que vive o estro.


Toda a saga báquica,

destes livros primaveris,

aos delírios das guirlandas,

e o plenilúnio das vestais.


Como rouxinol a poesia

tem lira, de vulto escarlate

e negro, e a luminosidade

espiritual que se decompõe

no prisma em um espectro

dos grandes sonhos

da palavra.


14/12/2023 Gustavo Bastos 


quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

CRIME DA BRASKEM - PARTE I

“Braskem fechou um acordo com a prefeitura de Maceió para pagamento de R$ 1,7 bilhão”

Recentemente, Maceió, capital do Estado de Alagoas, decretou situação de emergência, devido ao alerta de risco iminente de colapso da mina 18 da Braskem, no bairro de Mutange. A Defesa Civil reforçou o monitoramento, também criando um gabinete de crise. Por sua vez, no dia 29 de novembro foram registrados novos tremores.

As 35 minas abertas pela Braskem começaram a ser fechadas a partir de 2019, depois da empresa ser responsabilizada pelos surgimento de rachaduras em casas e nas ruas de alguns bairros já em 2018. A causa do deslocamento do subsolo foi a extração de sal-gema, um cloreto de sódio que serve para a produção de soda cáustica e policloreto de vinila (PVC). A fabricação destes insumos teve início na região no ano de 1976.

Devido ao registro de novos tremores, as atividades na área de Resguardo foram paralisadas. Tais registros de sismos se deram, contudo, em áreas já desocupadas. A Defesa Civil, por sua vez, recomendou que se evite a circulação de pessoas e de embarcações na lagoa que fica perto de Mutange. 

A região que já está desocupada teve um agravamento de seu quadro com estes novos sismos. Lá também fica o antigo campo do CSA, clube de futebol do Estado de Alagoas. O risco de colapso em uma das minas monitoradas na região era iminente. A Braskem garantiu, por sua vez, que acompanhava as atualizações dos dados de monitoramento compartilhados com a Defesa Civil. 

Em março de 2018 foi quando os problemas em Maceió, com a intervenção da Braskem, na exploração de sal-gema, começaram. Um tremor de terra trouxe rachaduras em casas e ruas e provocou o afundamento no solo de cinco bairros da capital de Alagoas, que são os bairros de Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto e em uma parte do Farol. Por sua vez, mais de 55 mil pessoas tiveram que se deslocar, tendo que deixar suas moradias ainda naquele ano de 2018.

Em novembro de 2019 a Braskem fez a remoção preventiva de moradores e criou a área de Resguardo, depois de estudos feitos com a participação de autoridades nacionais e internacionais. Foi também em novembro de 2019 que a Braskem anunciou o encerramento definitivo da extração do minério sal-gema na região.  35 poços de sal que eram operados nos bairros já estavam paralisados desde maio de 2019. 

Resguardo, por sua vez, fica próxima de onde eram localizados estes poços.  A Braskem disse o seguinte : “A essa área de Resguardo foi somada uma área de desocupação mais ampla a partir do Mapa de Linhas e Ações Prioritárias da Defesa Civil e suas atualizações, abrangendo trechos dos bairros do Mutange, Pinheiro, Bebedouro, Bom Parto e Farol.”

Cerca de 14, 5 mil imóveis são atendidos no Programa de Compensação Financeira e Apoio à Realocação criado pela Braskem como indenização. Os atingidos que estão sendo compensados pela companhia abrange moradores, proprietários e comerciantes.

Com o objetivo de suavizar as inclinações do terreno, a Braskem construiu um sistema de drenagem para o direcionamento seguro da água da chuva e fez a plantação de uma cobertura vegetal, isto se referindo ao trabalho de estabilização e drenagem da Encosta do Mutange. Os trabalhos se iniciaram em janeiro de 2022. 

Em 2023, por sua vez, se deu o fim da demolição e começaram as atividades de terraplanagem na Encosta do Mutange, junto a implementação do sistema de drenagem e o plantio da cobertura vegetal. 

Por sua vez, a Braskem fechou um acordo com a prefeitura de Maceió para pagamento de R$ 1,7 bilhão devido ao afundamento de solo, que inclui indenização, compensação e ressarcimento integral da capital alagoana aos danos patrimoniais e extrapatrimoniais. De acordo com a prefeitura de Maceió, os recursos servirão para obras de infraestrutura e para a criação do FAM (Fundo de Amparo aos Moradores).

A Braskem possui operações em Maceió e Marechal Deodoro, em Alagoas, e lidera a cadeia da indústria plástico-química na região. E como dito, a empresa vinha monitorando a situação da mina 18, localizada no bairro do Mutange. Por sua vez, a prefeitura de Maceió instalou um gabinete de crise no dia 29 de novembro último para acompanhar a situação.

(continua)

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário :

https://www.seculodiario.com.br/colunas/o-crime-da-braskem-em-maceio-parte-i

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

OS ETERNOS MORTAIS

Pende da boca da fera a sua presa,

foi estraçalhada na cadeia alimentar.

Vive deveras as garras da caça,

em todo o tempo faminta,

ser da guerra e da conquista.


A sede fundante dos seres viventes

é a fortuna, o entendimento e a vida eterna,

mais nada além da felicidade, a beatitude,

a perfeição da vida em sua plenitude.


Dos caminhos traçados,

os acidentes denotam a imperfeição,

os sulcos, as fraturas inevitáveis,

em que o mortal, de caçador à caça,

enfrenta o enigma de seu fim,

diante da espada e do sangue

de sua finitude.


11/12/2023 Gustavo Bastos 


LIÇÕES DA VIDA

As coisas ditas, 

ao vento que as levam,

nas pedras que as registram,

pode produzir o néctar ou

a tortura eterna, de sofrer

ou gozar a experiência.


E assim se sabe do encanto da vida,

se assim foi bem escolhida,

ou se enfrenta a tempestade

do que foi negligenciado.


Do desdouro diante da infâmia,

e na valorosa canção de coragem

dos afortunados pela justiça,

temos o tempo que não teme nada,

pois quem teme é o erro,

e o acerto vive a sua glória.


11/12/2023 Gustavo Bastos