Relembrarei em cada cidade
o fio de ouro que abate
o corpo, num cio incontrolável
de pantera,
corpo reluzindo no fotograma
seu alvo e sua cólera.
À cada cidade um destino.
Foi pouco o que restou dos estancieiros,
uma espada e um machado,
um escudo e uma flor,
tudo era pétala e era esmeralda,
tudo era pedra
e o cio da pantera.
Não era suave a montanha e sua geometria.
No caos das lembranças
uma sombra junto ao roseiral,
era a sombra do passado
com suas dores e com o seu sonho,
a descoberta da chama que animava
o corpo do meu mal sinal,
tudo era escuridão e passos lentos,
a noite nos cravejava de estrelas
com a sua língua,
e no ouro do rico
se julgavam os mortos de antanho.
Tal era a roda da vida,
uma vez julgada e outra abolida.
Tal era o norte da sedução.
Eu não sei em que campanha
o meu corpo morreu.
Os atalaias seguravam seus escudos,
e o meio-dia acordava
numa canção devoradora,
tudo ruína e pasto,
tudo claro depois da noite em festa.
Mas era no claro-escuro
da pintura,
onde estava o rubi e a plataforma,
onde os atores sociais
ficavam embriagados,
no tempo de viver
com as moças virgens
e dos vinhos sentimentais.
Eu não posso desistir deste amor,
qual era o amor ou o celibato,
e a seiva e o orgasmo
numa raiz e nos ramos
da videira.
Eu sou o corpo.
Eu sou a luz.
Tudo que morre, renasce.
E assim se faz o desespero
e a flor do campo.
Eu sou a estrela da devoção
num clarim e numa harpa.
Este é o sentido do meu corpo:
o cio da pantera
numa noite acetinada.
Todas as cidades do delírio
estão entre as sombras e a luz.
Quando o delírio se apaga,
só restam as cordilheiras
e o sal,
quando todos cantariam
suas desditas
sob o outono e o sangue
que nos faz viver.
15/05/2009 Gustavo Bastos
domingo, 27 de março de 2011
O MILAGRE DO VISIONÁRIO
Desde já se tem um deserto
pelo fogo e pelo vento.
Fui destituído de minha filosofia
e entrei numa veste sutil
dos brandos corações.
A cimitarra cortou-me os sonhos
rotos de uma esfera do sepulcro.
Toda a saciedade do bom poeta
nunca se sentiu tão alijada,
foi posta de fora dos padrões,
e era santo o seu nome.
Desde que se tem um deserto no coração
não se conhece a época em que a nau
foi roubada.
Oh mar oh perdição!
Tuas murmurantes espumas
são absinto e embriaguez,
já de um verde e azul turquesa,
que foi valente onda
pelas praias nuas de uma ilha remota,
foi desde sempre o planeta
e suas maldições.
Minha saudade é o exílio.
Que eram os dias naquela nau de ametista?
Sou o escravo do horizonte.
Quem mede o sofrimento
de mortes se reveste.
Tem o tempo seu refúgio
numa sensação de engodo.
Fui enganado pela vinha
em seu espraiado vento de canções.
Sou o terrível capitão e náufrago.
De agora e para sempre
deverei estar sob as velas
que rumam no sopro invernal.
Oh sol avistado na aurora!
Logo ao cair do céu
estava o meu rosto
entregue ao mistério
do mar.
Que eram as vicissitudes
do bom amigo?
Tenho feito muitas obras plácidas
de cântaros e altares.
O sacrifício de uma nova febre
foi trasladado
pelo morto das saudades,
qual era o meu crepúsculo
e a fadiga das ambições.
Sou eu quem faz o fogo de meu pranto
acordar numa uva
e reconfortar-se
nos peixes,
eis o milagre.
Tanta sonhadora visão
secou-se depois do mergulho,
e a visão
era o milagre da multiplicação
dos pães,
desde já o pobre tornou-se santo
e vicioso foi embora.
Esta é a história dos meus dias,
uma centelha que sou
do destino humano.
15/05/2009 Gustavo Bastos
pelo fogo e pelo vento.
Fui destituído de minha filosofia
e entrei numa veste sutil
dos brandos corações.
A cimitarra cortou-me os sonhos
rotos de uma esfera do sepulcro.
Toda a saciedade do bom poeta
nunca se sentiu tão alijada,
foi posta de fora dos padrões,
e era santo o seu nome.
Desde que se tem um deserto no coração
não se conhece a época em que a nau
foi roubada.
Oh mar oh perdição!
Tuas murmurantes espumas
são absinto e embriaguez,
já de um verde e azul turquesa,
que foi valente onda
pelas praias nuas de uma ilha remota,
foi desde sempre o planeta
e suas maldições.
Minha saudade é o exílio.
Que eram os dias naquela nau de ametista?
Sou o escravo do horizonte.
Quem mede o sofrimento
de mortes se reveste.
Tem o tempo seu refúgio
numa sensação de engodo.
Fui enganado pela vinha
em seu espraiado vento de canções.
Sou o terrível capitão e náufrago.
De agora e para sempre
deverei estar sob as velas
que rumam no sopro invernal.
Oh sol avistado na aurora!
Logo ao cair do céu
estava o meu rosto
entregue ao mistério
do mar.
Que eram as vicissitudes
do bom amigo?
Tenho feito muitas obras plácidas
de cântaros e altares.
O sacrifício de uma nova febre
foi trasladado
pelo morto das saudades,
qual era o meu crepúsculo
e a fadiga das ambições.
Sou eu quem faz o fogo de meu pranto
acordar numa uva
e reconfortar-se
nos peixes,
eis o milagre.
Tanta sonhadora visão
secou-se depois do mergulho,
e a visão
era o milagre da multiplicação
dos pães,
desde já o pobre tornou-se santo
e vicioso foi embora.
Esta é a história dos meus dias,
uma centelha que sou
do destino humano.
15/05/2009 Gustavo Bastos
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Poesias 2009
PELEJAS NOTURNAS
Qual era o mistério do meu demônio interior?
Sofri qual uva no lagar,
toda a febre de espora e de luta.
Cavalguei sem rumo o destino das eras.
O que era a noite naquela noite?
Senti gotejar todas as guerras,
e eram fortes mármores de tempo negro,
eram fortes topázios no vento.
Qual era a cor da minha noite interior?
Era escura como o escuro da morte,
eram todas as trevas da imaginação
num golpe de sonho e de delírio,
uma paisagem selvagem de miragem.
Toda a imagem da viagem.
Eu entrava em lógicas misteriosas,
afogando a mente num torpor de ópio,
e a maçã do pecado já não era mais,
nem o campo de laranjas.
Tremi diante da náusea das teorias,
e numa vindima pari os meus
poemas violáceos.
Eram do castelo as meditações rubras,
e sangue era a época do meu cristal,
o qual as mãos espatifaram
na parede da quimera,
sonhos sazonais de estrume,
e queda repentina no vazio.
Gustavo Bastos 14/05/2009
Sofri qual uva no lagar,
toda a febre de espora e de luta.
Cavalguei sem rumo o destino das eras.
O que era a noite naquela noite?
Senti gotejar todas as guerras,
e eram fortes mármores de tempo negro,
eram fortes topázios no vento.
Qual era a cor da minha noite interior?
Era escura como o escuro da morte,
eram todas as trevas da imaginação
num golpe de sonho e de delírio,
uma paisagem selvagem de miragem.
Toda a imagem da viagem.
Eu entrava em lógicas misteriosas,
afogando a mente num torpor de ópio,
e a maçã do pecado já não era mais,
nem o campo de laranjas.
Tremi diante da náusea das teorias,
e numa vindima pari os meus
poemas violáceos.
Eram do castelo as meditações rubras,
e sangue era a época do meu cristal,
o qual as mãos espatifaram
na parede da quimera,
sonhos sazonais de estrume,
e queda repentina no vazio.
Gustavo Bastos 14/05/2009
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SONHO DE UMA ALMA EM DEVOÇÃO
Pela breve chama que um dia aportou no meu caminho
tenho o sonho vão de fazer de mim clareiras
onde o universo conspira numa veste de linho
tenho alta a amorosa luz com que me vêm as feiticeiras
Onde o alvo se esconde com a penumbra
sou o pássaro da luz distante
para o que há no voo de tanta pena rubra
faz deste céu o meu mais caro diamante
Leve e sucinta a a alva flor que desperta
pois ali é que o beijo se faz repentino
tal como se abrem as asas de um anjo asceta
em que a palavra canta seu eterno ninho
Das almas o vento traz sua veia ondulante
o tempo para os mártires de um sopro breve de vida
a viagem com que nunca terminará o amante
sua dor de brocados numa paz entristecida
Para nós basta somente um instante
o átimo em que está a resposta
apenas uma languidão de veia inebriante
que renasce em minha alma devota
02/05/2009 Gustavo Bastos
tenho o sonho vão de fazer de mim clareiras
onde o universo conspira numa veste de linho
tenho alta a amorosa luz com que me vêm as feiticeiras
Onde o alvo se esconde com a penumbra
sou o pássaro da luz distante
para o que há no voo de tanta pena rubra
faz deste céu o meu mais caro diamante
Leve e sucinta a a alva flor que desperta
pois ali é que o beijo se faz repentino
tal como se abrem as asas de um anjo asceta
em que a palavra canta seu eterno ninho
Das almas o vento traz sua veia ondulante
o tempo para os mártires de um sopro breve de vida
a viagem com que nunca terminará o amante
sua dor de brocados numa paz entristecida
Para nós basta somente um instante
o átimo em que está a resposta
apenas uma languidão de veia inebriante
que renasce em minha alma devota
02/05/2009 Gustavo Bastos
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Séries Rimadas
O SONO DOS DIAS
Ali, onde a última perda se deu,
num átimo, abriu-se a clareira.
Quem é de família?
Perguntou um coveiro.
Decerto perdeu-se em devaneio,
e com o ramalhete embebedou-se
de pranto.
Faz tempo que a escarlate de rubores
derrama,
foi-se embora um dia azulado,
e o sangue deleitou-se no carmesim.
Ali, onde a última dor se deu,
é o lugar de um advento
que nunca veio,
onde a alma do artista
nunca nasceu.
Pois é o que se dá no último dia
de uma vida,
o langor do arrependimento
com as trevas de uma estaca.
Partiu-se um coração em farelos
e a poesia chorou.
Eis o sono sepulcral.
num átimo, abriu-se a clareira.
Quem é de família?
Perguntou um coveiro.
Decerto perdeu-se em devaneio,
e com o ramalhete embebedou-se
de pranto.
Faz tempo que a escarlate de rubores
derrama,
foi-se embora um dia azulado,
e o sangue deleitou-se no carmesim.
Ali, onde a última dor se deu,
é o lugar de um advento
que nunca veio,
onde a alma do artista
nunca nasceu.
Pois é o que se dá no último dia
de uma vida,
o langor do arrependimento
com as trevas de uma estaca.
Partiu-se um coração em farelos
e a poesia chorou.
Eis o sono sepulcral.
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TEMPO DE INSENSATEZ
Para quem usa de pouco zelo
com a sua própria vida,
este cingiu-se de espinhos,
e a dor um dia tomada à mão,
estreitou seus laços com a morte.
Eis um dia em que dirão:
O vento sentenciou o alerta da alma,
os sinais da decadência
são tortuosos e a lâmpada
se acende
como uma última
miragem.
Por ter tido pouco zelo
com os irmãos,
também desceu à cova
os mais benditos sóis.
Por ter usado de pouca prudência,
um homem morrera jovem demais.
Cada dia que vem, uma sentença,
e com o tempo, tudo passa.
02/05/2009 Gustavo Bastos
com a sua própria vida,
este cingiu-se de espinhos,
e a dor um dia tomada à mão,
estreitou seus laços com a morte.
Eis um dia em que dirão:
O vento sentenciou o alerta da alma,
os sinais da decadência
são tortuosos e a lâmpada
se acende
como uma última
miragem.
Por ter tido pouco zelo
com os irmãos,
também desceu à cova
os mais benditos sóis.
Por ter usado de pouca prudência,
um homem morrera jovem demais.
Cada dia que vem, uma sentença,
e com o tempo, tudo passa.
02/05/2009 Gustavo Bastos
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