Relembrarei em cada cidade
o fio de ouro que abate
o corpo, num cio incontrolável
de pantera,
corpo reluzindo no fotograma
seu alvo e sua cólera.
À cada cidade um destino.
Foi pouco o que restou dos estancieiros,
uma espada e um machado,
um escudo e uma flor,
tudo era pétala e era esmeralda,
tudo era pedra
e o cio da pantera.
Não era suave a montanha e sua geometria.
No caos das lembranças
uma sombra junto ao roseiral,
era a sombra do passado
com suas dores e com o seu sonho,
a descoberta da chama que animava
o corpo do meu mal sinal,
tudo era escuridão e passos lentos,
a noite nos cravejava de estrelas
com a sua língua,
e no ouro do rico
se julgavam os mortos de antanho.
Tal era a roda da vida,
uma vez julgada e outra abolida.
Tal era o norte da sedução.
Eu não sei em que campanha
o meu corpo morreu.
Os atalaias seguravam seus escudos,
e o meio-dia acordava
numa canção devoradora,
tudo ruína e pasto,
tudo claro depois da noite em festa.
Mas era no claro-escuro
da pintura,
onde estava o rubi e a plataforma,
onde os atores sociais
ficavam embriagados,
no tempo de viver
com as moças virgens
e dos vinhos sentimentais.
Eu não posso desistir deste amor,
qual era o amor ou o celibato,
e a seiva e o orgasmo
numa raiz e nos ramos
da videira.
Eu sou o corpo.
Eu sou a luz.
Tudo que morre, renasce.
E assim se faz o desespero
e a flor do campo.
Eu sou a estrela da devoção
num clarim e numa harpa.
Este é o sentido do meu corpo:
o cio da pantera
numa noite acetinada.
Todas as cidades do delírio
estão entre as sombras e a luz.
Quando o delírio se apaga,
só restam as cordilheiras
e o sal,
quando todos cantariam
suas desditas
sob o outono e o sangue
que nos faz viver.
15/05/2009 Gustavo Bastos
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