Desde já se tem um deserto
pelo fogo e pelo vento.
Fui destituído de minha filosofia
e entrei numa veste sutil
dos brandos corações.
A cimitarra cortou-me os sonhos
rotos de uma esfera do sepulcro.
Toda a saciedade do bom poeta
nunca se sentiu tão alijada,
foi posta de fora dos padrões,
e era santo o seu nome.
Desde que se tem um deserto no coração
não se conhece a época em que a nau
foi roubada.
Oh mar oh perdição!
Tuas murmurantes espumas
são absinto e embriaguez,
já de um verde e azul turquesa,
que foi valente onda
pelas praias nuas de uma ilha remota,
foi desde sempre o planeta
e suas maldições.
Minha saudade é o exílio.
Que eram os dias naquela nau de ametista?
Sou o escravo do horizonte.
Quem mede o sofrimento
de mortes se reveste.
Tem o tempo seu refúgio
numa sensação de engodo.
Fui enganado pela vinha
em seu espraiado vento de canções.
Sou o terrível capitão e náufrago.
De agora e para sempre
deverei estar sob as velas
que rumam no sopro invernal.
Oh sol avistado na aurora!
Logo ao cair do céu
estava o meu rosto
entregue ao mistério
do mar.
Que eram as vicissitudes
do bom amigo?
Tenho feito muitas obras plácidas
de cântaros e altares.
O sacrifício de uma nova febre
foi trasladado
pelo morto das saudades,
qual era o meu crepúsculo
e a fadiga das ambições.
Sou eu quem faz o fogo de meu pranto
acordar numa uva
e reconfortar-se
nos peixes,
eis o milagre.
Tanta sonhadora visão
secou-se depois do mergulho,
e a visão
era o milagre da multiplicação
dos pães,
desde já o pobre tornou-se santo
e vicioso foi embora.
Esta é a história dos meus dias,
uma centelha que sou
do destino humano.
15/05/2009 Gustavo Bastos
A Hora das Fornalhas
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