ERUDIÇÕES DE NARCISO
Narciso não se contradiz, ele tem todas as astúcias.
Usa da lógica em todas as disputas.
Recita de cor qualquer Shakespeare, Goethe,
Rimbaud, Pessoa ... diz saber o que eles dizem.
E mesmo sem crer, diz ter a Bíblia no cérebro.
Ele quer um Mozart sem guardá-lo no coração.
Faz do livro o seu fundamento.
Historiador, cientista, na verdade,
Um eclético!
Ele quer livros, meticulosos, estratégicos.
Narciso é exímio em qualquer assunto.
Não sabe que é figura demagógica,
Pois se diz grande pedagogo.
Poeta eu sei que não é.
Também não admite ser ignorante em algo,
Posto que é letrado.
Sua erudição é do tamanho de um grão.
Tem o coração gelado.
Mas ele diz que seu saber é uma plantação de latifúndio.
(Daí eu penso: Monocultura).
Ele bebe o pedantismo,
Tal como seria o seu argumento:
“Exegese, propedêutica, prolegômenos,
Locupletar-se como enfadonho!”
A hermenêutica ele diz tê-la.
As frases de efeito são vigas de seus castelos.
Mais uma vez, ele quer a réplica:
“De acordo com os racionalistas,
Esta é uma sensação, de nada serve
A não ser como paixão.
Eu digo tenho tudo, pois tenho tudo!”
Mais um vate, ele diz ser crendice.
Eruditos odeiam crendices!
Ele tem suspeitas quanto ao populacho,
É um lorde.
Ora, toda problemática ele tem na manga.
(Todas questões óbvias, leia-se).
Todas as disciplinas estão sob domínio
De seu astuto raciocínio.
Eu digo, doutor patife:
“És um multicor cinzento,
Ou seja, que nada sabe ...
Nem de si mesmo.”
Uma Carta para Elizabeth: Breve Romance de Sonho
Há uma semana