WILLIAM
CROOKES E JAMES TISSOT
O cientista inglês William Crookes foi um dos
pioneiros da pesquisa científica sobre as experiências de materializações de
espíritos. Crookes se tornou reconhecido em 1878 ao apresentar à Sociedade Real
seu trabalho sobre o quarto estado da matéria, que foi denominado pelo mesmo de
matéria radiante.
Crookes partiu da observação dos fenômenos de
materialização de Katie King (1870-1873), esta que via à lume com o uso da
mediunidade da jovem Florence Cook. Crookes então tem a sua atenção despertada,
pois, desta sua observação, ele depreende que havia estados especiais a partir
da matéria tangível, estado estes que ainda eram desconhecidos.
O pintor James Tissot, por sua vez, também
participando de tais fenômenos de materialização de espíritos, travou contato
com o médium William Eglinton, um conhecido médium de efeitos físicos da era
vitoriana, e ele não usava cabines, se juntava a seus assistentes e se permitia
ser tocado nas mãos pelos mesmos. Foi em uma destas sessões que Tissot pode ver
a sua falecida noiva, e seu guia espiritual.
ECTOPLASMIA
E MATERIALIZAÇÃO
A ectoplasmia é o fenômeno que produz formas
estruturais temporárias, tais formas podem aparecer junto ou até longe dos
médiuns que as formam. O ectoplasma é sensível à luz solar ou elétrica normal,
só sendo imune a lâmpadas avermelhadas semelhantes a dos laboratórios
fotográficos. Diante da luminosidade inadequada, tal ectoplasma pode se
dispersar ou voltar ao corpo do médium.
A plasticidade do ectoplasma, que atua em
ambiente próprio, como descrito, em luz avermelhada, pode ter um caráter bem
maleável de modificação, formando diversas coisas como bastões, alavancas,
espirais etc, além de diversos efeitos.
A materialização então envolve tanto a
corporificação de seres humanos, mortos, os vivos são raríssimos, mas pode
acontecer (aqui não cito a bicorporeidade, um dos fenômenos descritos em O
Livro dos Médiuns, e que é surpreendente), como também a aparição de objetos,
plantas, flores, animais etc.
Quando falamos da materialização, ela tem sempre
como seu meio de manifestação a utilização do ectoplasma, de início o fenômeno
se dá como matéria ou aparência amorfa, numa mistura de solidez e vapor.
Ao elencarmos o cabedal de fenômenos de efeitos
diversos do documento espírita, quando falamos sobre as materializações, temos
tanto a corporificação inteira de um espírito, como a sua aparição parcial, e
na ectoplasmia ainda podemos verificar efeitos telecinéticos, pancadas,
pneumatofonia, voz direta, efeitos luminosos, suspensão e transporte de
objetos, tudo isto formando o conjunto de efeitos físicos, este que precederam
a psicografia, esta que é, por sua vez, o documento espírita mais importante e
fundamental.
FRAUDES
Um fato importante é que temos diversas pesquisas
espíritas e científicas sobre o fenômeno das materializações, mas uma
comprovação oficial, ou seja, uma comprovação experimental de laboratório,
nunca houve, e o ceticismo científico posterior colocou sérias restrições sobre
a autenticidade de tais fenômenos, depois de um interesse genuíno que logo
arrefeceu diante de fraudes grosseiras.
No histórico conhecido sobre os fenômenos de
materialização, temos a história famosa das irmãs Fox, com Leah Underhill, uma
dessas irmãs, produzindo o primeiro espírito materializado nos Estados Unidos.
A irmã de Leah, Kate, um tempo depois, materializou Estelle, falecida esposa de
um banqueiro, também materializando Benjamin Franklin. Na Inglaterra, por sua
vez, uma pioneira da materialização foi Agnes Guppy-Volckman.
Mas logo começou uma reação de desmascaramento de
tais médiuns, as irmãs Fox e Agnes logo foram expostas como charlatãs, o poeta
inglês Robert Browning despistou um médium de materialização dizendo que tinha
um filho morto e que desejava se comunicar com o mesmo, Browning pegou a
materialização com as mãos e era o pé do médium charlatão. Browning não tinha
perdido filho nenhum na infância, a fraude foi primária.
Na Inglaterra, a médium Rosina Mary Showers foi
flagrada ao ser pega com uma touca, e Rosina posteriormente confessou usar
roupas de camadas e rolos de musselina dentro da roupa de baixo. Os casos com
musselina, por sua vez, se multiplicaram, e logo uma horda de mistificadores
foi desmascarada.
Perucas, bigodes postiços, recortes de revistas,
vários casos de fraudes grosseiras se sucederam, e tudo ficou à luz do dia, o
fenômeno espírita perdia crédito progressivamente, as fraudes eram
desmascaradas sistematicamente. E diante desta onda de combate ao engodo, só os
muito crédulos ainda ficaram fascinados com tais números grosseiros de
prestidigitação, de maus mágicos, que eram, por sua vez, ridicularizados e
desmascarados por mágicos renomados, como era o caso de um dos maiores mágicos
de todos os tempos, Houdini.
Foram expostos diversos truques de supostos
médiuns, como as escritas em lousa, fotografia espírita, mesas girantes, toques
de trombeta, materializações diversas, leitura de cartas lacradas, e coisas das
mais grosseiras que não enganariam ninguém que já não tivesse predisposto a
crer em mistificações penosas e degradantes como as que foram flagradas por
alguns mágicos e consulentes mais desconfiados.
Ilusionistas de palco como William Marriott poderiam
reproduzir com facilidade um cabedal de todos os fenômenos espíritas que
estavam em voga, e tal ridicularização também foi empreendida pelo jesuíta Carlos
María de Heredia, que dedicou toda a sua vida ao trabalho de desmascarar os
truques do Espiritismo. E o golpe mais cruel se deu com o trabalho implacável
do ilusionista Houdini, que não deixava pedra sobre pedra.
ESPIRITISMO
BRASILEIRO
Dentre os supostos médiuns brasileiros que
realizaram sessões de materialização temos o Peixotinho, Chico Xavier, Carmine
Mirabelli, e Anna Prado. Atualmente, temos Divaldo Franco que, dentre outras
credulidades, divulga a pseudo-tese das “crianças índigo”.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : https://seculodiario.com.br/public/jornal/artigo/gurus-e-curandeiros-parte-viii