PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quinta-feira, 6 de junho de 2019

GURUS E CURANDEIROS – PARTE VIII

“o golpe mais cruel se deu com o trabalho implacável do ilusionista Houdini”

WILLIAM CROOKES E JAMES TISSOT

O cientista inglês William Crookes foi um dos pioneiros da pesquisa científica sobre as experiências de materializações de espíritos. Crookes se tornou reconhecido em 1878 ao apresentar à Sociedade Real seu trabalho sobre o quarto estado da matéria, que foi denominado pelo mesmo de matéria radiante.
Crookes partiu da observação dos fenômenos de materialização de Katie King (1870-1873), esta que via à lume com o uso da mediunidade da jovem Florence Cook. Crookes então tem a sua atenção despertada, pois, desta sua observação, ele depreende que havia estados especiais a partir da matéria tangível, estado estes que ainda eram desconhecidos.
O pintor James Tissot, por sua vez, também participando de tais fenômenos de materialização de espíritos, travou contato com o médium William Eglinton, um conhecido médium de efeitos físicos da era vitoriana, e ele não usava cabines, se juntava a seus assistentes e se permitia ser tocado nas mãos pelos mesmos. Foi em uma destas sessões que Tissot pode ver a sua falecida noiva, e seu guia espiritual.

ECTOPLASMIA E MATERIALIZAÇÃO

A ectoplasmia é o fenômeno que produz formas estruturais temporárias, tais formas podem aparecer junto ou até longe dos médiuns que as formam. O ectoplasma é sensível à luz solar ou elétrica normal, só sendo imune a lâmpadas avermelhadas semelhantes a dos laboratórios fotográficos. Diante da luminosidade inadequada, tal ectoplasma pode se dispersar ou voltar ao corpo do médium.
A plasticidade do ectoplasma, que atua em ambiente próprio, como descrito, em luz avermelhada, pode ter um caráter bem maleável de modificação, formando diversas coisas como bastões, alavancas, espirais etc, além de diversos efeitos.
A materialização então envolve tanto a corporificação de seres humanos, mortos, os vivos são raríssimos, mas pode acontecer (aqui não cito a bicorporeidade, um dos fenômenos descritos em O Livro dos Médiuns, e que é surpreendente), como também a aparição de objetos, plantas, flores, animais etc.
Quando falamos da materialização, ela tem sempre como seu meio de manifestação a utilização do ectoplasma, de início o fenômeno se dá como matéria ou aparência amorfa, numa mistura de solidez e vapor.
Ao elencarmos o cabedal de fenômenos de efeitos diversos do documento espírita, quando falamos sobre as materializações, temos tanto a corporificação inteira de um espírito, como a sua aparição parcial, e na ectoplasmia ainda podemos verificar efeitos telecinéticos, pancadas, pneumatofonia, voz direta, efeitos luminosos, suspensão e transporte de objetos, tudo isto formando o conjunto de efeitos físicos, este que precederam a psicografia, esta que é, por sua vez, o documento espírita mais importante e fundamental.

FRAUDES

Um fato importante é que temos diversas pesquisas espíritas e científicas sobre o fenômeno das materializações, mas uma comprovação oficial, ou seja, uma comprovação experimental de laboratório, nunca houve, e o ceticismo científico posterior colocou sérias restrições sobre a autenticidade de tais fenômenos, depois de um interesse genuíno que logo arrefeceu diante de fraudes grosseiras.
No histórico conhecido sobre os fenômenos de materialização, temos a história famosa das irmãs Fox, com Leah Underhill, uma dessas irmãs, produzindo o primeiro espírito materializado nos Estados Unidos. A irmã de Leah, Kate, um tempo depois, materializou Estelle, falecida esposa de um banqueiro, também materializando Benjamin Franklin. Na Inglaterra, por sua vez, uma pioneira da materialização foi Agnes Guppy-Volckman.
Mas logo começou uma reação de desmascaramento de tais médiuns, as irmãs Fox e Agnes logo foram expostas como charlatãs, o poeta inglês Robert Browning despistou um médium de materialização dizendo que tinha um filho morto e que desejava se comunicar com o mesmo, Browning pegou a materialização com as mãos e era o pé do médium charlatão. Browning não tinha perdido filho nenhum na infância, a fraude foi primária.
Na Inglaterra, a médium Rosina Mary Showers foi flagrada ao ser pega com uma touca, e Rosina posteriormente confessou usar roupas de camadas e rolos de musselina dentro da roupa de baixo. Os casos com musselina, por sua vez, se multiplicaram, e logo uma horda de mistificadores foi desmascarada.
Perucas, bigodes postiços, recortes de revistas, vários casos de fraudes grosseiras se sucederam, e tudo ficou à luz do dia, o fenômeno espírita perdia crédito progressivamente, as fraudes eram desmascaradas sistematicamente. E diante desta onda de combate ao engodo, só os muito crédulos ainda ficaram fascinados com tais números grosseiros de prestidigitação, de maus mágicos, que eram, por sua vez, ridicularizados e desmascarados por mágicos renomados, como era o caso de um dos maiores mágicos de todos os tempos, Houdini.
Foram expostos diversos truques de supostos médiuns, como as escritas em lousa, fotografia espírita, mesas girantes, toques de trombeta, materializações diversas, leitura de cartas lacradas, e coisas das mais grosseiras que não enganariam ninguém que já não tivesse predisposto a crer em mistificações penosas e degradantes como as que foram flagradas por alguns mágicos e consulentes mais desconfiados.
Ilusionistas de palco como William Marriott poderiam reproduzir com facilidade um cabedal de todos os fenômenos espíritas que estavam em voga, e tal ridicularização também foi empreendida pelo jesuíta Carlos María de Heredia, que dedicou toda a sua vida ao trabalho de desmascarar os truques do Espiritismo. E o golpe mais cruel se deu com o trabalho implacável do ilusionista Houdini, que não deixava pedra sobre pedra.

ESPIRITISMO BRASILEIRO

Dentre os supostos médiuns brasileiros que realizaram sessões de materialização temos o Peixotinho, Chico Xavier, Carmine Mirabelli, e Anna Prado. Atualmente, temos Divaldo Franco que, dentre outras credulidades, divulga a pseudo-tese das “crianças índigo”.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.