PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O Oceano Improvável

A boca trêmula sente sede
sabida de sua sábia condição
de verbo.
A palavra se dissolve na paisagem,
o horizonte é o termo em que afunda
o olhar iluminado de sol.

A carta que escrevo à posteridade
nunca será lida por uma caterva
de vivos, estarei morto
em minha solidão
quando a notícia
de minha vida
ecoará nos tímpanos
da velha estória
de mares sem fim.

O olhar permanece calmo
sob o invólucro da desolação,
a praia com que se alcança
o fim dissolvido na areia
é o castelo que a onda
engolfa com sua fome de caos
que volta ao enigma beatífico
do oceano e suas quedas.

20/04/2011 Delírios
(Gustavo Bastos)

A Paixão Descoberta

Quando eu desejo o teu desejo
tu me desejas ardentemente.
Quando tu me tens em tuas mãos
cálidas de fogo bruto,
eu acordo e canto,
num alvo do espanto,
quão bondoso é o amor
das vísceras
em sombras
do inferno
em céus
esquecidos.

Eu tenho o que tenho
em mim a minha jornada,
eu quero o teu querer
do que quero mais e mais.

Outras armadilhas gritam
pelo meu socorro.
E a minha dor afundada
em lágrimas é o tesouro
que o poema traz
em seu bojo
de anarquia
de verso
de tempo
de morte
de tudo que ruiu
na cidade do vento
a paixão.

20/04/2011 Delírios
(Gustavo Bastos)

domingo, 17 de abril de 2011

O Poeta em Conflito

Para calar a verdade
do pouco que sei,
digo mentiras e bobagens
para desviar do mundo
tudo aquilo que é oculto
aos olhos da sabedoria.

Piso no silêncio do coração
contrito de tristeza,
entro e saio de minha razão.

O que sobra de valentia e coragem
é o terreno complexo e tortuoso
do verso que se firma no alto
de tudo que vejo,
e não haverá firmamento sólido
no deserto da canção.

O sonho se veste ou fica nu,
basta ao poeta
decifrá-lo
ou matá-lo
em seu coração
de ilusões
e imaginação.

O poeta pode calar-se
ou gritar,
pois o fundo de sua existência
é o paradoxo de um sol
na escuridão.

17/04/2011 Delírios
(Gustavo Bastos)