PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quinta-feira, 7 de abril de 2022

CORRUPÇÃO NO MEC DE BOLSONARO

 

“um grupo de gente que mistura pauta conservadora com práticas paroquiais como retribuições sob a forma de propina”

A trajetória contraditória da nova política do governo Bolsonaro ganha mais um capítulo para a sua temporada. Estoura o escândalo no MEC (Ministério da Educação) que era comandado pelo agora ex-ministro Milton Ribeiro. Não terá sido mera coincidência que este escândalo no MEC envolva pastores assediando prefeitos pelo Brasil. Com verbas em troca de favores como construção de igrejas e apoio para eventos pentecostais. Para piorar, esta propina também poderia ser uma retribuição com dinheiro vivo, barras de ouro e contratos de compra de Bíblias.

Digo não ser coincidência, pois, esta oferta de verba pública também reflete o aparelhamento evangélico na educação brasileira desde o começo do governo Bolsonaro. Um programa de costumes que tenta burlar o Estado laico em favor de uma orientação religiosa e conservadora para a educação básica e superior do país. E isto inclui a manipulação na escolha de reitores para as universidades públicas, por exemplo.

O congraçamento entre interesses espúrios em meio à coisa pública é parte desta nova política fisiológica, que sopra agora com o vento dominado pelo Centrão, e que, com este escândalo, se tem, mais uma vez, a face hipócrita da pauta de costumes. E vemos o ministro Milton Ribeiro, com sua intervenção reacionária, tomado por uma ideia do bem distorcida, que serve somente para mascarar estas ações no ministério de um gabinete paralelo, que nos lembra, imediatamente, de episódios que ocorreram no Ministério da Saúde. Nos alertando que esta é uma prática cotidiana do governo. Só não vê quem não quer.

Temos um Inep praticamente descontinuado, e que afundou depois de um verdadeiro êxodo de servidores, uma implementação de um PNE (Plano Nacional de Educação) que agora estaciona no Congresso Nacional,  e tudo isto sob uma nuvem espessa em que a proposta educacional do governo é praticamente uma tabula rasa. E temos o novo ENEM (como consequência de uma nova base curricular que se pretende ser o novo ensino médio) que irá ser implementado em 2024, e que ainda passará por dois anos de adaptações e com diversos pontos obscuros para amarrar até lá.

As contestações judiciais em edições recentes do ENEM também refletem a desorganização de um MEC inepto, embriagado por interesses revisionistas de costumes e modos de vida que são apenas a afetação de um falso beato que esconde a sua sanha por barras de ouro e demais agrados. Este fenômeno contraditório é muito comum na vetusta hipocrisia que sempre cercou qualquer pauta pretensamente conservadora, ou paladina de uma ordem de realidade imaculada.

O inquérito aberto pela Polícia Federal, o pedido de  abertura de inquérito feito pelo PGR (Procuradoria-Geral da República) ao STF (Supremo Tribunal Federal), a partir de representações feitas por deputados e senadores, somada à inspeção sobre convênios feitos pelo MEC sob o comando do ex-ministro Milton Ribeiro, e que tem iniciativa do TCU (Tribunal de Contas da União), poderão ser uma devassa em todo o sistema de trabalho do MEC.

Tais ações no MEC agora contam com a revelação feita pelo Estado de São Paulo, logo em seguida somando-se à gravação escandalosa da fala do nefando ex-ministro, feita pela Folha de São Paulo. Uma fala que se comporta como se a prática por ele citada fosse uma coisa normalizada. E isto associando o nome do pastor Gilmar, por exemplo, a ordens diretas do presidente Jair Bolsonaro, que provavelmente não terá seu nome envolvido por um PGR subjugado pelo seu protetor e engavetador, Augusto Aras, o procurador-geral.

Mais uma vez, temos a revelação de um gabinete paralelo no governo Bolsonaro, que se trata de um grupo de gente que mistura pauta conservadora com práticas paroquiais como retribuições sob a forma de propina, e excrescências como o orçamento paralelo, outra caixa preta que mereceria uma inspeção à altura. Além disso, temos um sistema político recheado por esquemas de rachadinhas de um hábito encruado nas instâncias legislativas da Câmara Federal, Senado Federal, Assembleias Legislativas dos Estados da Federação e as diversas Câmaras de Vereadores espalhadas pelas prefeituras do Brasil.

Se trata de um diagnóstico distópico de um governo que nos brindou com uma política de saúde pública negacionista como forma ideal de lidar com uma pandemia mundial. Em que pudemos testemunhar um movimento de rebanho ou de seita em torno de verdades milagrosas e nunca científicas, como trocar as vacinas por uma cloroquina sistematicamente ridicularizada por estudos científicos, nunca referendada pela The Lancet, e objeto de um culto mistificador de uma patetice medieval nas terras tupiniquins.

O próximo passo agora é começar a fazer com que o sistema jurídico acione inspeções diversas sobre a gestão de ministérios à medida que suspeitas e escândalos deem esta oportunidade, como agora no MEC. Portanto, este escândalo poderá não ter sido o último bastião a ter esta devassa como necessária. Lembrando que a repetição do fenômeno gabinete paralelo neste governo não é uma coincidência infeliz, mas uma prática cotidiana da gestão ministerial feita neste governo, vide a fala desabrida com que nos brindou o hipócrita ex-ministro Milton Ribeiro, o falso beato.

 

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/colunas/corrupcao-no-mec-de-bolsonaro 

 

 

segunda-feira, 4 de abril de 2022

ZÉFIRO

O vento me traz o pensamento,

cada sopro que enche o peito,

cada caminho que é um sopro,

e que do hausto tem o poder do

vento.

 

Venta na praia deserta, o coração

bebe água da fonte, a alma tem da fonte

sua visão original, o vento traz

boas novas, o sopro de vida,

que nunca é besta,

se anuncia assim,

cheio de luz,

na veia da

lufada

sonora.

 

04/04/2022 Gustavo Bastos

A FLOR ALUCINÓGENA

Meu broto é cheio, de meu leite e de minha

resina você obtém o néctar dos deuses,

eu vou te dar calafrios, as visões logo

virão, um caminho místico se abre,

o terror também se avizinha, na

trip se deve estar bem de saúde

e com a mente hígida, fora isto,

eu vou dar o veneno que te corrói,

o mar prometido virará em tormenta,

o suor frio e os ossos estalando,

e uma dor profunda que alucina,

após a viagem não terá mais volta,

deste meu caule e de meu leite

se obtém o sumo para uma substância

letal, o fogo da loucura.

 

04/04/2022 Gustavo Bastos

VERTENTE DO ABISMO

O lodo sempre se insinua,

o ato covarde é um disparate

que se incomoda com as nuvens

e o poder da palavra,

o domínio da língua

é um xeque-mate

que pega tudo

de supetão,

como uma redução

ao absurdo em forma

de chiste.

 

O abismo é uma boca assanhada

que tudo quer sem ter uma

luz para dividir.

 

Certo que a rua está repleta,

e meu folguedo de cerveja

não está nem aí para

quem não consegue

matar os meus

girassóis.

 

04/04/2022 Gustavo Bastos

A BELA DA MANHÃ

Pensei um dia em mergulhar

na bacia do prata,

certo convite me surgiu,

está lá, a bela da manhã,

da fala loquaz e do olho azul.

 

Nesta bacia do prata

tomei uns banhos,

tudo tilintando como

um sossego de paixão,

bem calmo num sol.

 

A bela da manhã,

que chuta e cabeceia,

faz tudo que nem boleira,

e pensa que na ocasião

propícia a luta

vitoriosa vem natural,

com um gesto simples

de prata e de sol.

 

04/04/2022 Gustavo Bastos

THE GOOD KARMA

Certa manhã, ainda era cedo,

e a matilha ainda não tinha

se manifestado, nem o corpo

sentira uma chicotada,

em uma tênue infância,

um pequeno sol reluzia,

entre a juventude e a maturidade,

o peito vacilava, dava para

sentir peso muitas vezes,

o golpe profundo de um ataque,

o coração frio, gelado,

acompanhando um clima de féretro,

 

 

qual nada, toda uma gama de conhecimentos

e a miríade que surgia de uma pena febril

criava um elenco inaudito de pensatas,

pobre diabo que pensou que

certa anarquia estava morta,

os pelos se arrepiam,

cada verso e cada tijolada

fazem parte deste caminho,

 

o golpe fica cada vez mais exangue,

toda a conspiração começa a ficar

borrada, num breve soluço

que logo sumirá no vão do tempo,

 

apenas isto :

o músculo retesado

e o olhar focado

como um objetivo

pétreo.

 

04/04/2022 Gustavo Bastos

O POETA SOLAR

Fulgurante, o meio-dia abriu em sol e despediu-se da neve,

o fogo que nem toma conhecimento dos desníveis,

começa a dar uma surra em toda evasão,

o sol diz que tem um magma que penetra

todo o corpo da luz e de todo espectro do dia.

 

Nem tanto à terra ou ao céu, o poeta não capitula,

também ignora a sanha e o assédio da derrota,

ele canta a sua vitória de um sol que também morrerá.

 

Não pensa em tomar para si o peso da pedra escura,

nem a ausência da luz das cavernas tristes

o assusta. Na via mais sagrada,

a sua imagem não borra e não fenece.

 

O meio-dia, este que pulsa em seu coração,

já levantou da queda e nas tantas armadilhas

já se safou. Crente do grande crepúsculo

e devoto de toda aurora.

 

04/04/2022 Gustavo Bastos