PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

TERRAS VASTAS DA VISÃO

A terra que abre a estrada recebe a lufada,

o vento mais forte do ar selvagem,

a casa isolada em que o fogo do gás

ainda persiste no alvorecer,

o tear é ligado, as fendas das rochas

brilham em ocre, os pássaros

matutinos avizinham a janela

da senhora centenária

que costura uma roupa de bebê,

o cenário é vasto, o plano aberto,

e o olhar se perde num 

horizonte verde e azul,

e que fica laranja na aurora.


Nada lembrava a sevícia

dos filhos da guerra,

dos meninos que morreram

no abismo com espingarda

e fardão, nem se lembrava

aquela senhora da viuvez,

apenas de que sua neta,

esperta no trabalho

daquela terra bruta,

engravidara de um 

homem rústico,

que matava cabritos,

descamava peixes,

andava de cavalo árabe,

marchava com a boiada

para o lago e para o estábulo,

media as distâncias daquele

mundo selvagem e sem fim,

esta senhora que já enevoava

a vista, da catarata que crescia,

e costurava o futuro

com alegria, um bebê

na roça incógnita

que veria o sol e 

a chuva e a terra

e o fogo, que 

teria esta vida

cândida ao 

se levar de vento

e sabedoria.


Quem sabe o desenho

das nuvens neste

alvorecer não diga

a verdade divina

apenas com reflexos

de sol e com os veios

das montanhas esta

cresça em onipotência,

um Deus selvagem

feito de vento

e de sopro,

com o hausto

sagrado da vida

naqueles campos

infinitos.


Gustavo Bastos, 03/08/2023 


segunda-feira, 31 de julho de 2023

COMETA

Andei pelo lodo da rua, 

périplo da rima e do ritmo,

em que a insanidade 

flerta com o caos,

e a letra dançante 

surge qual cometa.


Vem o canto 

como dom canoro,

dá de ombros 

ao néscio, ao pascácio,

dá de dez e nó em pingo d`àgua

o poema que não ficou refém

destas pregas farsescas,

destes ódios

pegajosos, 

destes ritos fúnebres

de burocracia,

teia escamosa

deflorada pela

liberdade plena.


Quiseram um dia prendê-lo,

o poeta da fuga e do verso.

E hoje o elogio é postiço,

dos mesmos vicários

que estavam na moita

na hora da tempestade.


Qual nada! 

Veste-se a rigor,

com o plano definido 

da honra,

e tem neste 

investimento espiritual

o dom, a força 

e a moral astuta

dos vencedores.

Este que é poeta,

e do sangue e do mar 

é mensageiro.


31/07/2023 Gustavo Bastos