PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 4 de julho de 2015

PORRADA

Levei porrada do mundo,
não faz mal.
Eu danço.

Levei porrada de tudo,
não tem nada não.
Eu penso.

Levei porrada do mundo,
não faz mal.
Eu corro.

Levei porrada de tudo,
 não tem nada não.
 Eu pulo.

Dou porrada com a pena,
e com socos de poema.

04/07/2015 (Gustavo Bastos)

PERTENCIMENTO AO MUNDO

Longe, lá para além de mim,
um sonho convalesce,
perto de mim,
o delírio enternece
de sonho a nua bruma.

Longe que vai de perto assim ...

como nos ares madeixas e risos,
como nos ares estrelas e vinhos.

Para além de mim, perto estou.
Para longe além, perto permaneço.

Como há vida folgazã
que vive de brio!
Como há vida atribulada
que queima o pavio!

Além de todos os mundos,
perto de todas as luas,
louco varrido
de meu quedar
ritmado
de fulgor,

eis que o néctar pousa pássaro,
flor flora afora,
como longo voo,
lá longe no sonho que se tem,
perto demais como o peito
que não vacila,
perto, tão perto,
longe da sombra.

04/07/2015 (Gustavo Bastos)

VERTER SIDERAL

Verti o poema como:
vis sonhos,
ardis tristonhos.

Verti o poema como:
plácidos delírios,
comoções alegres.

Verto e inverto,
sei não sei
de saco cheio,
sei não saber
com as mãos
te dando
o que ver.

Ver-te verter a vertigem.
Verde verdor de miragem.
As mais belas canções
são sempiternas,
corações ao pulo,
corações ao alto,

no alto da torre
o crepúsculo
nos dá a noite,
estrelas vadias.

04/07/2015 (Gustavo Bastos)

VENTO TODO

Vento em popa!
Que diz? Que diz?
Vento em popa!

Poema é indelével,
cuja sonora ouvida.

Vento tremeluzindo,
reluz som e imagem,
sopra ventania,
semeia sopro.

Vento em popa!
Diz o outro?
Não, diz você.
Vento em popa!

O mundo é belo e cretino,
cheio de veias e artérias,
rios oceânicos
como longos prantos,
rios escandalosos
de pura água.

04/07/2015 (Gustavo Bastos)

NÓ E FUMAÇA

Não tem por onde ir, benquista trama.
Voz aveludada de paixão,
brinca às asas mais noturnas
que eu acho belas bonitas.

O poder, este parto móvel,
se sacia por andar em versos.
Que noite! As mais alvíssaras
dos olhos d`água de negro.

A melancolia, toda fada que chora,
verte puro drama sob fogo.
Certo:
a melancolia é notívaga.

Não tem por onde andar, benquisto drama,
voz trama ao ósculo mordente,
refaz e reflui, rio risonho,
de híbrido campo das flores.

Eis meu poema:
a trama se dissolve
em álcool,
setas sete vezes sete,
dá em nó e fumaça.

Gustavo Bastos, 04/07/2015.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

LUTA DOS ARES DE FAUNO

   Dentro de mim mora um abismo, calei profundamente sob um prisma de eras. Na época acima que o livro dos sofismas acirrava o ânimo, eu pequei e voltei da tempestade. Os ócios se viravam muito bem, e a estrela d’ alva ronronava sob manto azul celeste. Cada enigma porfiava rútilas sacadas. O vão da propaganda enunciava ritmo e som que faz a pena vibrar. Os muitos casos se unem na via férrea que emana do sol e colide com o mar. Vai ao templo, lutar Cartago sem muros, cidadelas de Rodes, Cós e Naxos ricas, permutando com Lacônia e fachos vivazes de hilotas. Nem tanto ao Mar Egeu, que ao caos Adriático, que morre no Tirreno, que se atira Safo do penhasco em Mitilene. Vai e doura ao topázio, morte e vida, causas e nexos dos vinhos e tempos aos dizeres de Córdoba, fundo metal gótico sob campanha, ócio na Galícia, vinho e suor no calor de Tripolitânia. Na vã filosofia nascia o território delta, fulgor e espanto brotavam com luzes na arfante rua dos areópagos. Nos dias que julgavam em pórticos, um vate gótico serpenteava com o rigor mortis de uma espadada. Cada tempo subia nos ares do mar morto, sem sal ao rio, com bruto sabor a saída ao Mediterrâneo.
   Conheci agora a palavra machadada. Lembrei agora da palavra noite virada. Noite-poeta tarda de trôpega com o linho azul sedento de lã. As estórias correm, vulto e calor são o ar místico que não vive na penumbra. As quedas do violeiro trazem notas de partituras doidas, me banho na alma, me detenho no farol, Alexandria, Constantinopla, O Mar Cáspio, Calcedônia com o ferrenho sol do Mar de Mármara. Eu corro pelo deserto com o blues de salto mortal com viés futurista. Me tenho em meu karma, danço e sofro como um renunciante. O mar alto é delta com fogo em alfa.
   Andei nas lutas sôfregas, tardo e lasso, como se vê no gládio em que a fera feria, vento e líquidos esparsos aspergidos, ásperos, temerários, renascidos, rotos, enfadados. Luto com rinhas, com ninharias. Luto com verdor na alma, castelo bruto do passo da prosa. Luto infame como um misterioso rito de corpo em bandeira vermelha. Na capa de meu disco mora uma guitarra, rente ao ébrio passa um poeta, eis que de ébrios e poetas o mapa grego registra Efialte e Péricles, com vigor passa um lance de Dionisos, rito e emplastro, em Delfos.
   Na rua de pedra eu corro, socorro os sãos, revelo os loucos. Na vida um rito se emana por toda parte, e o sol inclemente perfura a retina com seu segredo lisérgico, fadas de botas e duendes com caras de anão. Os mundos paralelos em que a História tem seu terrível soco impresso em Akasha. Não tem nada mais que a fruta uva e laranjas e maçãs e a vida frutuosa, com caldos, com lanternas, com desterros, farpas endemoninhadas, regatos filosofais, livros em pedra de cal com vinho sobre as têmporas. Lá, ou saiu o demônio ou acordou o anjo, não importa, Jano retinto mesmeriza com vate duplo em face de enigma. Zeus troveja por sustos, e o elenco é firme como um relógio, poeta mecânico sem mácula indelével, poço de riso, manta adubada em cogito totalizante, amplo com as esferas em harmonia com a própria mente espiritual, Hendrix sonhava com as pupilas dilatadas, o rock troveja vigor e erro, a música não cala nada, passo meu passaporte com o mar violento de minh`alma.
   As notas fundidas em aço potente: há em vão nada em vão, há tudo em sorte com manto persisto, o corpo vigora com ares de fascínio, levo-me ao tempo absoluto que me detém vivo, a alma recobra o pensamento esclarecido, sapere aude, rigor e fortuna na paz atônita que vem como templo e oráculo, cada dia mais ainda levitado, dando ao desdém furibundas e jocosas deambulações. Eu venho por detrás da chuva, por cima da tempestade, dentro de um sol intuitivo que brilha sunshine por todos os lados, sol eterno que pulsa qual quasar sempre espanto, mais acalanto que sol em pranto, dada a figura, toda a ventania volta sempre à Hélade, já edifiquei com a autoridade vasta de um campo de trigo, já fiz os registros necessários da empreitada, pintura de estultos, esculturas de incapazes, poemas de dramáticos, com a funda bacanal de Téspis.
Logo: chega ao esteta vinho e brio, com ardor e langor, dada à fortuna, encimada no sol pestilento que rebate no vinho da alma com segredo e desvelamento das coisas findas ou nunca fundadas. O fundo mais que tempo, o templo mais que futuro, o fulgor que aterra em Roma, Diocleciano matando cristãos, o urro de Calígula nas delirantes praias, manda o vento corroer toda a ferrugem nas belonaves, manda naves aterrissarem com todas as luzes estroboscópicas como uma orgia de luzes e cores. Todo o manto da sensação, grande Deus da droga, eviscera seus amantes, delira seus devotos, leva embora de overdoses. Pulo e salto com rebotalhos no chão, pulo e canto com espantalhos com vozes de rusgas, como se a asa de fibra renunciasse sem mais, e ao contrário, com festa e flor poetas se refazem, se recobram, e beijam o mundo com um abraço.
   Não há litígio aonde mora a filosofia, não há enfado que na poesia não morra. O poema não mais triste, não mais doente, a cabeça ao passo largo que a alma expande, lenho e fúria que não dizem nada, e dizem tudo em amálgama, como o raio violeta se expande verde, e os olhos veem. O verde que se veste de azul, e o vermelho que sorri com seu rosa. O mar que ora vai verde e ora azul, o diamante que é denso, cor de vidro quando explode. Na massa craniana moram ritos do Espírito, e com o lagar bem semeado Borgonha e Alsácia-Lorena viram o tempo com florais, clima temperado, as dunas de sal, os emblemas, os vinhedos, os carros de carruagem, a técnica lírica de escrever, passo dentro e não mais rente, o trôpego poeta cai e levanta, o sol nascente d`aurora permeia tudo o que há, o universo, meu grande sol com cor celeste de galáxia, todas as coisas do mundo em cores alteradas como prisma e mandala. “O Louco” da carta de Tarô de Marselha com a saia cigana que nunca ousou me humilhar, com o denso sabor que cai nas figuras de geômetras que descansam na Academia.
   Tomem um chá de glândula pineal, tomem os ares imaginários que flutuam com o sentido da vida, lembro de cada corpo, e os tenho em estima, todos irmanados com filosofia de sol no peito, como anjos espantados com o meio-dia, como luz e som com cores e a acústica que faz tudo brilhar com graça infinita. Eu vou ao mar, e o mar vem até a mim, até a Filosofia vira loucura de Poesia, e os viços correm com a mão na pena, eu levo toda estrela com o tempo vivido de ares mais náuticos que podem emanar do mar, oceânide que levita, mares de fogo nas minhas visões, deltas e alfas, fogo na bruma da anarquia, todos os sentidos em harmonia com o senso de justiça, a alma grega com o termo de razão tão apreciado, logo o mar de sempre com a total fortuna dos adventos de que a arte é tão pródiga. Leve o lenho, e se aqueça no fogo universal.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.


29/06/2015 (poema em prosa) 

JARDIM ELÉTRICO

Dentre os dias, cortes profundos.
Nas oceânides o ventre
puro cristal
enevoa
o pensamento,
vasto, o santo sepulcro,
o graal de teatro,
hercúleo silente.

Dentre os poemas
a cor da vida
vigora
feito pombo
que voa
e vai.

Puro cristal do tenro e vítreo
arcabouço dos jardins,
jardim elétrico
e paz abscôndita
na nuvem,

eu vejo os olhares
nas alamedas,
eu quero os altares
em veredas.

Pois do olho marmóreo
os candelabros se
unem,
as flores vociferam
karmas,
o jardim elétrico
fauna e flora
sorri.

29/06/2015 Ácido
(Gustavo Bastos)

ÁGUAS FLUTUANTES

As águas flutuam em meu corpo.
Déspotas tentam fustigar
a alma herbária
com as veias latifoliadas.

Crente ao vinho e fé,
mais ao passo alegre
que é benquisto.

Jogral das astúcias
é o tempero que avulta
com os quasares.

Lento o vento ressoa
por entre ventanias.

As asas suspendem o ar,
rarefeita atmosfera
de íons,
com o canto verdor
do pequeno delírio.

Lenho e folguedo com as tintas
puras do cais,
forte o vento
e lento,
como o carvão queimado
dos corações.

29/06/2015 Ácido
(Gustavo Bastos)

RETO E INTENSO

Antes, com o coração convulso,
festa de anarquia,
eu entrava no olho do
furacão.

Vasto o coração, convulso.

Eis tudo: aos brinquedos de
minha mão,
com a pena
veloz entre
portas.

Veio à escultura, pois o olho
tece figuras emblemas
e maquinações.

Reto, pois do todo em volta
as uvas são secas
do vinho.

Rente, pois cada espírito
de arte retém sua forma
com o coração bobo.

Levita, pois rente e reto
teus dias são felizes.

29/06/2015 Ácido
(Gustavo Bastos)

SENDA

Eu entendo a estrela vã
da filosofia.
Guardo-me à respiração,
sedutor e infante.

Oh, vaga caudalosa,
vinha estrepitosa,
que saúdo com o olhar
calmo de cosmologias.

Kosmo-Kaos:
cada diâmetro denso
curvilíneo
vítreo,

eu que danço freneticamente
tomado do mundo,

mundo que dança
a senda de tudo.

28/06/2015 Ácido
(Gustavo Bastos)

ALMA DE VENTO

Dantes a figura escapava.
Dagora a luminescência
gera os sinos.

Rente:
os olhos fundos e agradáveis
somam mais viço,
os corpos saltam aos mares
o vigor de seus sonhos.

A poesia se inaugura
com vales e cimos
ao andar do monte.

A poesia delira
cônscia, rente à torrente
que caudalosa
se expande.

Sonhos gerânios rosas
fortunas da flora.

Real rocha a alma.
Alma sólida
dos risos
e das lágrimas.
Alma de vento
que à escala da rota
é imprevista.

26/06/2015 Ácido
(Gustavo Bastos)

VIVIDO

Leve-me, hausto verde do campo,
elísios como os sonhos,
ao auge, ao término,
ao começo de mim mesmo.

Será das nuvens o ar mais plácido?
Como se antevê, das dores findas,
o córtex pular de um sentido
ao outro, com a imbricação
necessária dos fatos.

Da ronda em fotogramas
o novelo é quintessência
sob jardas ao sem fim
dos olhos.

Mesmerizo-me ao fogo,
leste soturno, oeste faustoso.
Regateio vãos e desvãos
em mil léguas de mar.

Leve-me, ar político da cidade,
indecisos corpos,
flutuações de nada,
partos redivivos
com o âmbar anárquico
da liberdade.

Ao fim dos ninhos d`alma,
que o mar mata a sede
em voltas de horizonte.

Registro das notícias:
sete voltas da chave,
a fortuna semeia
a roda da vida,
lei áurea em vinha.

Eu experimento olores,
revelações da virtude,
demências da sorte,
levitações do sopro.

Levei-me ao tino moral
das diferentes sendas.
Ao sol, mártir da luz,
carrego o dever
e o direito.
À lua, mestra inculta,
os gritos dos loucos.

Poema-estrela, cal de mármore,
pedras de roseta
sob hieróglifo
cuneiforme:
escritas de sândalo
o canto vivo
mais vivo
vivíssimo.

26/06/2015 Ácido
(Gustavo Bastos)

POEMA-TODO

Poemas são dias sedimentados
como fotos de paisagem,
a sonda da alma própria
e seus lugares ignotos
como gargantas
e desertos
e vales aos cimos
de tudo
que tu nós
somos,
ao frigir dos ovos-cosmos
do nascente sol
alquímico
que eclode
Andrômeda,
poemas-lutos,
poemas-litros,
poemas-tudo.

31/05/2015 Ácido
(Gustavo Bastos)

TESTAMENTO SOB A CRUZ REZADA

Antes de sair não esqueça
da fita-filme
de sua história.

Cada fotograma em líquido
alucina mais ainda
com o sorriso em
flor d`alma,

sob forte temperamento
seus sentidos
entorpecem
a chama,

clara e vê
clarividente

evidente
semente
que sente

prova numérica
dos ciclos
naturais,

que vem de tudo que for
do filme-fita
em que o dia clareia,

antes de morrer
não esqueça
de registrar os nomes
todos
como numa
Pedra de Roseta.

31/05/2015 Ácido
(Gustavo Bastos)

SENSAÇÕES DE METAL

As coisas fervem na pena
com o sonho do aço,
com o delírio do ferro,
com a ternura da prata,
com o ócio do ouro.

Coisas intumescidas
da sensação,
tolas viagens de centúrias
à plebe famélica
do verão,

corruptelas do istmo original,
furibundas crateras
nos ases do templo,
como os enfermos
poetas
sonhadores
contadores de novelas,

delírio à ferro ao aço que sonha,
d`oiro ocioso à prata que ama.

31/05/2015 Ácido
(Gustavo Bastos)

LANGORES DELIRANTES

Lembranças amiúde contorcem
o plexo solar,
as comorbidades sub-atômicas,
os zênites irizados
da pupila,
as cotovias sepulcrais
dos ritos de sodoma,
Moloch apontando seu falo
para Cartago,
os moleirões e filósofos
das estirpes inter-galáticas
de um plúmbeo sonho guerreiro,
nadadeiras imberbes
sonhavam o mar,
ossos físico-químicos
e espirituais
assombravam
a meio-mastro
os mestres e gurus
da mixórdia
das sabedorias celestiais,
e os inúmeros atores
das peças poliglotas
semeavam
o sangue impuro
destas visões.

31/05/2015 Ácido
(Gustavo Bastos)

ESTRADA DO SIM

Meço a estrada,
consciente e plenipotente
com a inteligência
retirada do campo
minado.

Tem outras histórias:
um cadáver vê as estrelas,
os insetos mordem a lâmpada,
os poemas sussurram
inconsolados,

um passe magnético
sobre a penumbra,
o fantasma embriagado
restituiu à face do mundo
seu avesso de corpo
em muitas eras,

a estrada infinda enfim
mortiça, com os andaimes
trôpegos das quedas,

noite na estrada violenta
da existência,
e somente assim
persistir.

31/05/2015 Ácido
(Gustavo Bastos)


CHUVA CHUVADA

Um passo comovido, na chuva,
ao cair das lágrimas.

Este o caminho de alterar a mente,
atleta pacato
do indizível,
                como o corte na carne
                               que
                              sangra.

Choro convulso, platônico.
Riso pendente, como um enigma
no sol.

Eu, o poeta da chuva,
o réquiem do indizível,
indecifrável,
o segredo do além para
além de mim
que sou pó
e poeira.

31/05/2015 Ácido
(Gustavo Bastos)