PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quarta-feira, 22 de março de 2023

DESEJOS VORAZES

Tudo querer na noite da arte,

em tudo desejar a plenitude,

abraçar tudo em seu todo

de peito aberto.


Sim, semeia a vida

a planar poesia,

na visão ampla,

o voo que se ergue

em paixão e razão.


Tem poesia no ar,

cheio dos risos

que a arte felicita

qual pendor

para a festa.


Tem tudo, abarca o mundo,

pinta a paisagem edênica,

vira ao sol a esperança.


22/03/2023 Gustavo Bastos 


O ESTUDO DAS HORAS

O curso da vida é um dom

que nunca será domado,

pleno este é o caminho,

mais forte, mais longe.


Certo o poeta que bebe e dorme,

e depois de um mergulho no rio,

verte o champanhe sobre a cabeça

e vê o foguetório na noite funda

de estrelas cadentes e fugazes.


Norte este desiderato, como fonte 

ígnea, a paixão que se tece

em poemas de bruma.


Sem mácula se navega

o amor risonho, túrgido,

brota da flor a flutuação

de todos os sentidos,

um voo e acalanto.


22/03/2023 Gustavo Bastos 


DANÇA DOS VENTOS

Dança dos ventos, 

a taça está cheia

e os passos são firmes. 

Todo mar investe para 

o sol seu sopro.


Vejo os ventos desta galáxia,

e o luar marinho que 

a dançarina dá à noite

seu baile das miragens.


O baile dos corpos livres,

a dança dos ventos

que a plêiade dizia

em versos de estrelas.


Dança dos ventos,

a maior obra do poeta

e sua vileza de mártir

na sutileza de luz decomposta,

vendo a retina fascinada

e a boca sequiosa.


Dança dos ventos,

esta que o mar

bailou pelo navio,

e levantou sua 

onda de caravela.


22/03/2023 Gustavo Bastos 


O NASCEDOURO DO VERSO

Este libelo, que na astúcia envolve

o mistério, se faz poema

e veste a nuvem de 

sentido.


Como se faz este verso?

A pergunta do que se faz

com o que não se sabe, pois,

é a frase do mago que nasce

germinada, sem fonte

desvelada.


A astúcia envolve 

o mistério como

se tudo fosse 

revelado à face,

mas a dureza

da incógnita

é que deixou

ao verso

seu direito

de nascer.


22/03/2023 Gustavo Bastos 


segunda-feira, 20 de março de 2023

CANTUS FIRMUS

O canto livre tem firmus

como um eco de egrégora,

os sumos sábios

em êxtase, na porta 

do céu as asas 

do espírito santo,

e a loucura da cruz

com todas as promessas

da febre dos profetas.


Anarquia, saúde qual

grande vento, o sopro

de pneuma com toda

a obra zéfira à contravento,

um burilar de sais

e montanhas

e o mistério gozoso

e sua chave ao 

paraíso.


20/03/2023 Gustavo Bastos 


NOITE ESTRELADA DA FOME

Através da floresta o espelho remonta

a imagem da vida em face crua,

não há a saída para a água doce

na morte mercurial da serra,

em que o escravo morre neste feudo

fétido defronte aos montes de mortalhas

na calada da noite.


Na terra ressecada

que grita junto ao urubu,

vem o bruto calor de um mensageiro,

este Sebastião renascido,

com a medalhinha do santo 

e o grunhido da porca do mato

que foi sacrificada e salgada

para a festa dos sertanejos.

Lá se fumava o pango

na noite estrelada

do cordel.


20/03/2023 Gustavo Bastos 


FANTASIA - A CANÇÃO DO ALBATROZ

Bem que o dia se estende nos trigais,

a faca passa rente ao canto do corvo,

um girassol se serve de todo o calor,

e o poeta ferve a sua pena como

um rouxinol, mergulhando que 

nem um albatroz

e pescando seu porvir

com o encanto

prolífico em que 

se fundiram

seus versos

com o coreto

da fantasia.


20/03/2023 Gustavo Bastos 


EVOLUÇÃO DA FORÇA

Para cerzir, puxar, cortar,

torcer, abalroar,

nascer, todo o cinzel,

a goiva, o facão,

remove a pústula

da preguiça,

demove a paixão

folgazã de sua 

moleira amarfanhada. 


Volta e meia um viço

de civilização não 

temerá seus futuros.

Os domínios e impérios 

são o governo

da força, um leviatã

que ergue seus halteres

e ganha o tempo

da vitória.


Move o mundo

a harmonia celeste,

pois se move

a translação e a 

rotação, pois se 

move todo o corpo

que não morreu,

que não sucumbiu,

e que venceu.


20/03/2023 Gustavo Bastos 


ODE À VALENTIA

Valente, tome cuidado

com a faca e seu dente,

tua face doída

e o dia que chove

de chofre.


A tua aguardente

não anestesia,

teu coração

deprime e chora,

tua valentia

é de esponja,

bêbedo é

como um sonhador

dando porrada

no ar e caindo

na sarjeta.


Fala sozinho na rua,

teu nome é cachorro

louco, aquele bicho

velho e sarnento,

que delira e que 

já perdeu uma 

órbita em briga

de faca.


20/03/2023 Gustavo Bastos 


REMANSO DE ENSEADA

Se canso na estrada, a língua seca

e o peito oprimido, na vila sem vintém,

a cara no chapisco, como um indigente,

não esmoreço, o osso duro de roer,

o muque de tomar à frente da ribalta,

e o pensamento que não hesita,

não desliza, não titubeia,

decide.


Pois o poema resiste,

a força aberta, 

a medida do tempo

e seu intento,

com cada camada

de verso.


Bom, o viajante desnuda

a paisagem,

crê no sol

e na praia,

viaja bem longe,

ao fim da enseada,

com o sorriso

na face alegre,

tal o palhaço

da feira e o

acrobata

do mar.


20/03/2023 Gustavo Bastos