“Salles operou uma verdadeira degradação da imagem
internacional do Brasil na área ambiental”
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, pediu demissão na
quarta-feira, dia 24 de junho, sob pressão de duas operações deflagradas, como
consequência de sua atuação como ministro, agora tendo, para além dos problemas
de desmatamento e sucateamento de instituições ambientais, denúncias de
ilegalidades.
As denúncias de corrupção sobre Salles, em seu caso, envolvem
ilegalidades com madeireiras, sobretudo no exercício de advocacia
administrativa, que é o ato de beneficiar particulares com a sua influência
como agente público, neste caso das madeireiras, fraudando documentos que
camuflavam extração ilegal de madeira.
As entidades ambientais como o Observatório do Clima, a WWF e
o Greenpeace comemoraram a saída do ministro, embora se demonstrem céticos
quanto às mudanças na política ambiental do governo Bolsonaro.
As entidades ambientais, por sua vez, acusam a gestão de
Salles de ter provocado o aumento do desmatamento, das queimadas, das emissões
de gás carbônico e, por fim, a gestão de Salles operou uma verdadeira
degradação da imagem internacional do Brasil na área ambiental.
O novo ministro nomeado, por sua vez, não sinaliza nenhuma
luz nestas trevas, pois Joaquim Álvaro Pereira Leite foi durante duas décadas
membro da Sociedade Rural Brasileira (SRB), entidade ruralista das mais antigas
e influentes do Brasil. Outro fator que não nos dá nenhuma luz nestas sombras
foi a aprovação sem debate e a toque de caixa do PL 490/2007.
Este projeto de lei inviabiliza, praticamente, as demarcações
de terras indígenas e abre a porteira destes territórios para atividades
econômicas predatórias, projeto aprovado pela CCJ (Comissão de Constituição e
Justiça), presidida pela governista Bia Kicis, com um desrespeito à
Constituição Federal e à democracia.
Ricardo Salles está com seu nome envolvido em denúncias de
tráfico ilegal de madeira e ações de obstrução de investigações em um caso de
desmatamento. A mudança de governo nos Estados Unidos, com a entrada de Joe
Biden, aumentou a pressão sobre o governo brasileiro em relação ao meio
ambiente, uma vez que sob Trump, esta pressão vinha da Europa, mas agora as
coisas ficaram mais difíceis, pois houve um forte aumento nos alertas de
desmatamento e extração ilegal de madeira na Amazônia.
Aqui temos mais uma “coincidência incrível”, esta que serve
de cortina de fumaça, pois a demissão de Salles acontece no mesmo dia em que
vem à tona o caso das denúncias de irregularidades a respeito da compra da
vacina indiana Covaxin.
Esta cortina de fumaça também foi operada quando tivemos o
caso da demissão do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que foi no mesmo
dia em que Queiroz foi preso na casa do advogado dos Bolsonaro, Frederick Wassef.
Salles é alvo de dois inquéritos autorizados pelo Supremo
Tribunal Federal no âmbito de operações da Polícia Federal: a Handroantus, relacionada
à apreensão milionária de madeira ilegal em dezembro de 2020 e a Akuanduba,
esta que desbaratou em maio deste ano um esquema de exportação ilegal de toras,
tendo as duas operações levantando suspeitas sobre extração ilegal de madeira na
Amazônia e no Pará.
No caso da Akuanduba, segundo a Polícia Federal, houve
denúncias de autoridades norte-americanas sobre “desvio de conduta de
servidores públicos brasileiros no processo de exportação de madeira".
E agora em junho a ministra do STF Carmen Lúcia autorizou a
instauração de um inquérito para investigar o então ministro sob acusação de
crimes como advocacia administrativa, criar dificuldades para a fiscalização
ambiental e de atrapalhar a investigação de infração penal envolvendo organização
criminosa.
Por fim, a pressão sobre Salles aumentou nas últimas semanas,
culminando com a apreensão de seu celular para investigações, uma vez que
Salles demorou para entregar o aparelho à justiça para análise.
O que vemos aqui é uma sucessão de eventos, envolvendo duas
operações que investigam ilegalidades, e o agravamento da imagem internacional
do Brasil em relação ao meio ambiente, mesmo com algumas colocações hipócritas
de Bolsonaro na Convenção do Clima, e a perspectiva para o meio ambiente com
este novo ministro, por sua vez, também não promete ser uma das mais
brilhantes.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/colunas/a-saida-de-salles-do-governo-bolsonaro