PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

TEXTO DO CERIMONIAL DO CASAMENTO DE JÉSSICA E MARCELO

  J e M, Jéssica e Marcelo, pode ser de juventude e mocidade, ou juntos e muitos, Marcelo que nasceu com o M de música, de músico, baixista, desenhista também, Jéssica com seu J que junta a tribo, daquelas que frequentavam os shows do Noção de Nada, e lá em São Paulo, cidade amante da música e do rock, olhou e ouviu  a música de Marcelo, de sua banda, ela que vem de lá, Marcelo que vem de cá, São Paulo e Rio de Janeiro, oh yeah, J de junção com o M da música, Jéssica e Marcelo juntos, por obra da música, o baixo sedutor do meu primo Malni.
   O Noção de Nada não existe mais, temos os discos e as músicas, hoje o tempo anda, mas Marcelo e Jéssica estão juntos mais que na música, estão na vida, e hoje é o selo maior desta junção, desta união, em que dois corações vão tocar a mesma música, e que é música de amor, romântica, de casamento, coisa que a vida lhes dá agora, e que os dois ganham porque querem, e então são, juntos, mais que dois, serão eles e nós todos aqui, seus amigos e familiares, vibrando boas energias para este momento de paixão, amor, fraternidade, de laços sagrados, do momento principal no que diz respeito à Marcelo Cunha e Jéssica Torres.
   A música foi a semente, no meio do show do Noção de Nada, coisa de roqueiro. Mas, no rock também tem amor, e este amor foi em frente. E tudo isso, levar o som da música para dentro do coração, nos salva; e Marcelo e Jéssica, hoje, estão no amor, na plenitude, união do coração, e agora o som do coração dos dois é um só, uma música de amor. Marcelo com seu baixo monstro, Jéssica com seus poemas originais, e toda esta arte junta, com os desenhos legais de uma grife própria também de Marcelo, e nossas vidas agora, aqui, em volta, vendo duas vidas na mesma sintonia. Viva o rock, viva a história do Noção de Nada, banda que deu vida à história de Jéssica e Marcelo que hoje ganham seus votos de fé e de amor.

Gustavo Bastos, para o casamento de Jéssica Torres e Marcelo Cunha.

(texto feito em 28/11/14 para o casamento de 29/11/2014)

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

LUZ DA RONDA NOTURNA

A ronda dos invasores da noite
é a febre das rodas,
carros fúnebres
nos lençóis da cidade,
rock tocando alto
no ouvido
da morte,
e os brutos capitais
jorram d`alma
à mais funda arma,
e brota, à sorrelfa,
cantares lindos
como
exéquias
à luz
baça
dos corpos
que dançam.

16/12/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)

CORTE

Vai o corte profundo
à carne estupefata,
qual nada!

Lá, dos montes aos coqueirais,
na praia dormita
um lenho de poder,
destas potestades
de mata dentro,

destes anjos brutais
de fogo,

destes campos infindos
do coração,

que ao se exaurir,
a alma de luz,
rumoreja seu credo
sob cruz
e madeira seca.

16/12/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)

MODA CORPORAL

Alva flor, que à moda
faz cantiga.

Desdenha meu poema
tal alvor,
alvorada nua,
alvo de flor.

Remenda as messes
desnudadas,
dos nadas de nenúfares
que o cais sempiterno
prorrompe,

fera enlutada, que à borrasca
ferve, se o mais do coração
se fere,
ao menos da força
o corpo fenece.

16/12/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)

RESTOS DE MIM

Concreto armado, da viga ao aço
o termo da geografia.
Alvo indócil, que à terra a fauna
medita.

E de través, no subsolo,
o corpo jaz mortiço
sem alma,
qual pedra.

Dos arenitos, dos sais minerais,
o nitrato fustiga
o enredo,
com água o mais de sal
corrói a estrada.

Areia está, no dorso,
como falta de água
ao fim do estio,
e sob chuva,
após a noite,
alma encantada
se tornará
esta terra,

que demudada em riacho,
muda a geografia
dos restos de mim.

16/12/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)


MEDICINA

Luz que abscôndita reluz:
eu guardo o susto sob terra fresca,
malgrado o grito,
vou ao sistema de fogo
que tem poema ignoto,
sou vítima ignara
dos delírios frouxos
de vozes brutas,
sou algoz de teus encantos,
oh flecha veneno
em maus caminhos,
desço aos ínferos
com loucura
de noz moscada
em meu dorso,
e sei que se morrer
nada ficará
de resto
à paixão paupérrima
de que morreria,
ou se trata de mais
um receituário
que de boa monta
se cala
por se medicar.

16/12/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)

BEBEDICE

O silvo, encontro dos átrios,
no meu pasto fugidio
encontra a neve,
trabalho almejando a cicatriz
dos meus ferimentos,
ócio de batalha
com meus remendos.

O bruto lagar seca a vinha,
solo pétreo, labor infernal
de vindima,
mosto absorto
de outono.

Oh, se me tenho em pranto,
clangor ébrio de febre,
contorcendo o sadismo
sob mortes espúrias,
                           oh, que salvo estaria,
                          sob neve,
ao me lembrar saudoso
                       da rua sem fim,
                       da noite sem fim,
                       do passo ao largo
dos montantes que sumiam
na rara bebedice
dos poemas.

16/12/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)
                   

DOUBLET - III (FRACO/FORTE)

fraco
fraca
fraga
praga
prata
preta
poeta
porta
porca
forca
força
torça
torço
torto
morto
morte
forte

16/12/2014 Horizonte Opaco
(Gustavo Bastos)

DOUBLET - II (PRESO/SOLTO)

preso
presa
preta
poeta
porta
morta
morte
sorte
sorve
solve
salve
salvo
salto
solto

16/12/2014 Horizonte Opaco
(Gustavo Bastos)

DOUBLET - I (SOLAR/LUNAR)

solar
somar
tomar
tocar
locar
logar
lugar
lunar

16/12/2014 Horizonte Opaco
(Gustavo Bastos)

LEMNISCATA

                   ondula                                 ao mar
             onda      ondina              o poema    que urra
       radical                  que      asa                           livre
    que                                 voa                                   qual
       nasce                     tudo    vai                        força
               lá           onde              que             caudal
                   dentro                            torrente

11/12/2014 Horizonte Opaco
(Gustavo Bastos)

PALÍNDROMO

sou
eu
quem
corre
que
poema
vai
no meio
vai
poema
que
corre
quem
eu
sou

11/12/2014 Horizonte Opaco
(Gustavo Bastos)

POEMA-RABO

o rabo                                                o rabo
       do cão                                    do gato
             o rabo                         o rabo
                   de cavalo       do rato
                  balança o rabo do cão
                   (abana abana abana)  o rabo  
                                 o
                               rabo
                               reto
                          rabo  rabo
                      curvo       curvo
                               rabo
                              cauda
                               reta
                               rabo
                                de
                              bicho

11/12/2014 Horizonte Opaco
(Gustavo Bastos)
    

TRIÂNGULO

                                        as
                                 três pontas
                             firmes       frouxas
                      longas                     curtas
              madeixas       corações          mãos
          de três             os   dos   os          de três
 frases loucas     como a chave de três      sons fatais

11/12/2014 Horizonte Opaco
(Gustavo Bastos)

ETERNO RETORNO

                                                 começo
                                              vida     bom
                                           da                que
                                 palavra                     no silêncio
                          começa                                    ao lidar
                   aonde                                                     no lugar
            o termo                                                                 enfim
                 desce                                                        sobe
                        até                                              o que
                           o mesmo                             está
                                       tal                       tudo
                                          sinal       do qual
                                                   fim

11/12/2014 Horizonte Opaco
(Gustavo Bastos)

PLENITUDE DO CANTO D`ESTRO

Quando será a noite meu amor d´lua?
Ah, novilúnio plenitude
de meu silente campo!

Rei da noite, cai em mim doce
vinho de luna,
completa e nua,
farol da noite
em vento que lufa.

Das dálias às damas da noite,
que o querer suscita
do desejo
à clara estrela,
doida noite
de lua
louca enluarada
de meu estro.

Quando d`lua a noite estrelará?
Oh funda silente estrela,
que na manhã desperta,
plectro profundo
d`alvor amante.

04/12/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)

ESTRELA DE LUZ

Objeto clarificado:
o anátema do prisma
em luz do fogo,
manta opaca de lusco-fusco,
translúcido,
quase louco.

Da razão o diapasão, lúcido:
transfere de minha luz
seu fundo trevoso,
o corpo-fluido
da luz
como porta ao além,

del-mar ao el-rei
o mais oceânico
sol de luz,

que o fogo,
varando a noite,
cai de lua
da luz à meia-noite
desfocada,

e o destino de lâmpada
vem como ideia,

luzindo
o calor
d`alva sperança!

ÍDOLOS DO TEATRO

Jogral perfuma o cômico de seda,
vestal luminescente
canta o coro
dos hierofantes.

Cosmo-líquido:
o símbolo do proscênio
chama-se drama,
a máscara chama-se
tragédia,
o melífluo de dança
é a máscara da comédia,
ao fim perfeito
a sátira
nos dá aos pés de Baco
a relva mata bosque
dos ébrios faunos
como asnos
na fome
do ator.

Jogral ao fundo da imagem:
o som do coro
cospe fogo
e a morte do herói
é o sangue ancestral
totêmico
de vida
que gira o templo
dos ídolos.

03/12/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)

LÂMINA DO CAOS CÓSMICO

No atrito do caos está o corpo.
Freme rosa ruído de som.

Ah, que os olhares clínicos
serão o coração fúria de cores.
As minhas lutas estarão
contorcidas de batalha,
e o caos da brita bruta terra,
brava bruma guerra!

Eis o tempo cólera das asas saturnais,
e o convés espasmo de oceano,
sílfides no rio de aquário,
o peixe-bolha estourado
de praia e areia.

As montanhas, de resto ao cosmos,
caem como órbitas e cordilheiras
no peito fiel do cume.

Ei-lo poeta, de estrela prumo
aos fundos odores.
Reto fôlego de asas,
reto brio de fogo em escala.

No átrio do caos o cosmos
em nuvem,
os olhos que fluem.

E o meu canto, eu-idílio
com cosmologia
gramático poética,

os olhos do mar
em domo fera
domada,

os olhos esferas
de grito e urro
qual a nova era,

hidra eras
quando da funda fera
o cosmos era caos
em hausto
atroz.

03/12/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)

POESIA

Quando anjos e deuses
vierem à terra,
os poetas sucumbirão
como estrelas.

Anjos matarão profetas,
deuses seviciarão filósofos.

Quando os seres do mar
acordarão em voo,
quando seres da terra
cavarão os rios
desdenhosos
de fogo.

Quando anjos e deuses
caírem do céu
e os demônios morrerem
no fim do inferno,
terra e céu
serão canção,
e poesia
caso encerrado.

03/12/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)

SENSAÇÃO DOS ARES AZUIS

Agora transcrevo a minha sensação:
os olhos traduzidos
são opacas luzes,
espouca da mão o verso,
o corpo imune transvê.

Da sensação rouca roufenha
trôpega:
as farsas são os poemas cômicos
com asas,
nuvens polifônicas
de polivozes
que flutuam
plenipotentes.

A sensação inversa
emerge sensível:
como o poema é o olho que vê,
como o verso é o corpo
vidente,
e a flor flutua em mãos de fada,
os risos sequiosos
choram de mar
ao amar
a sensação.

03/12/2014 Ácido
(Gustavo Bastos)

domingo, 14 de dezembro de 2014

COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE

   Criada por lei aprovada no Congresso em 2011 e instalada no ano seguinte, a Comissão Nacional da Verdade assumiu a atribuição legal de investigar os crimes de violação aos direitos humanos praticados no Brasil entre 1946 e 1988, mas seu foco, evidentemente, ficou nos anos de chumbo, isto é, a ditadura que durou 21 anos, de 1964 a 1985. Temos agora o fim dos trabalhos da comissão, o que resultou nas 4,4 mil páginas do relatório.
   Certo que houve problemas no caminho, sobretudo o embate entre dois grupos dentro da comissão, implicando num desempenho muitas vezes errante. Os primeiros meses de trabalho da comissão foram marcados por divergências internas que separaram um grupo liderado pelo diplomata Paulo Sérgio Pinheiro e pelo advogado José Carlos Dias, este ex-ministro da Justiça no governo de Fernando Henrique Cardoso, grupo que defendia uma atuação mais discreta, isto é, sem os holofotes da imprensa, e que só divulgaria o relatório final, e outro grupo, este que tinha o ex-procurador-geral da República Cláudio Fonteles  e a advogada Rosa Cardoso, que pressionavam pela ampliação do debate público e a divulgação de relatos parciais para tentar envolver a sociedade no processo. Tal disputa entre estes dois grupos culminou no abandono da comissão em 2013 por Fonteles.
   Dentre os resultados apresentados pelo relatório, estão dados importantes: a estimativa da CNV é a de que houve cerca de 20 mil torturados, mas há dificuldade de se chegar a um número conclusivo. Dos aspectos listados da atuação da repressão, pode-se enumerar 30 tipos de tortura, dentre elas, incluem-se: os choques elétricos, palmatórias, cadeira do dragão (assento que dava choque), pau de arara, afogamento, geladeira (caixa de isolamento acústico onde as vítimas eram submetidas a calor e frio intensos) e, por bizarro que pareça, se não fosse uma tragédia, o uso de animais nas celas para aterrorizar os presos, dentre eles, cobras, ratos e até jacarés.
   Dos 191 mortos listados pela comissão, a maioria abrange a ditadura 1964-1985. Dos 243 desaparecidos, 35 tiveram o seu paradeiro identificado, 3 durante os trabalhos da comissão. Foram listados ainda 377 responsáveis pelos crimes da ditadura, entre eles, os cinco generais-presidentes, Humberto Castello Branco (1964-1967), Arthur da Costa e Silva (1967-1969), Garrastazu Médici (1969-1974), Ernesto Geisel (1974-1979) e João Figueiredo (1979-1985).
   A CNV dividiu os responsáveis pelos crimes da ditadura em três grupos. O primeiro, responsabilidade político-institucional, incluindo os presidentes militares e os ministros das três pastas militares. O segundo, responsabilidade pelo controle de gestão e estruturas, que incluem os comandantes das unidades das Forças Armadas e dos Destacamentos de Operações de Informações/Centros de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI). E o terceiro, os de responsabilidade pela autoria direta, ou seja, os que faziam o serviço sujo nos porões da ditadura, que inclui 258 nomes, entre civis, e uma maioria de militares. Dentre as informações relevantes do relatório final da CNV, está que esta traça a linha de comando durante a ditadura que levou à prática sistemática de tortura.  
 Dentre as 29 recomendações da CNV está a revogação parcial da Lei de Anistia, de 1979, para punir torturadores e outros agentes públicos e privados que cometeram crimes que violam os direitos humanos. Quanto a esta recomendação envolvendo a anistia não houve consenso, um dos integrantes da comissão, José Paulo Cavalcanti, discordou dos cinco colegas, lembrando que em 2010 o Supremo Tribunal Federal manteve a validação da Lei de Anistia. Dentre outras recomendações estão a de que as Forças Armadas reconheçam sua responsabilidade sobre as violações de direitos humanos durante a ditadura, refutando a tese de que houve somente alguns poucos casos isolados.
  As outras recomendações incidem sobre o sistema penitenciário, as Forças Armadas e as forças de segurança pública, como a desmilitarização da PM e a unificação das forças policiais existentes. A CNV também pede a revogação da Lei de Segurança Nacional de 1983. Outra recomendação está na proibição de festejos oficiais que celebrem o golpe de 1964. Outro resultado do relatório está na listagem de 27 unidades militares que funcionaram como centros de repressão, tortura e morte na ditadura, além de onze centros clandestinos onde se deram essas violações. São os casos da Casa da Morte, em Petrópolis, e da Casa Azul, em Marabá, no Pará.
   Para defender a recomendação de revogação da Lei de Anistia, a CNV cita o Direito Internacional, além de uma decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que, em 2010, entendeu que a norma é incompatível com a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, o que vai de encontro com a anterior validação da lei pelo Supremo, algo que pode criar a necessidade de uma nova jurisprudência pelo mesmo tribunal. “A CNV considerou que a extensão da anistia a agentes públicos que deram causa a detenções ilegais e arbitrárias, tortura, execuções, desaparecimentos forçados e ocultação de cadáveres é incompatível com o Direito brasileiro e a ordem jurídica internacional, pois tais ilícitos, dadas a escala e a sistematicidade com que foram cometidos, constituem crimes contra a Humanidade, imprescritíveis e não passíveis de anistia.” Diz o relatório.
   Qual seria o sentido, então, desses dois anos e sete meses de investigações, senão como peça histórica? Uma vez que o Brasil é o único país do Cone Sul que mantém uma Lei de Anistia criada com o fito de proteger torturadores e assassinos, o que se choca frontalmente com a interpretação mundialmente aceita de que crimes contra a Humanidade são imprescritíveis.
   Por sua vez, esta comissão não conseguiu avançar muito na localização de restos mortais, uma vez que houve falta de colaboração por parte dos militares. As Forças Armadas boicotaram sistematicamente os trabalhos da comissão. Poucos agentes da repressão, a exemplo do delegado Cláudio Guerra, da Polícia Civil do Espírito Santo (ver livro Memórias de uma Guerra Suja, em que o mesmo dá um depoimento aos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros), e do coronel reformado Paulo Malhães, encontrado morto em sua residência em abril deste ano, falaram com todas as letras o que de fato houve nos meandros da política de tortura e desaparecimentos da ditadura militar. A grande maioria optou pelo silêncio, negou as denúncias e até mesmo nem atenderam à convocação da comissão.
   Por conseguinte, houve a permissão de acesso dos ex-torturados às instalações onde se efetuaram os atos de tortura, embora com uma sistemática negativa à cessão de documentos da época. O único passo importante dado pela comissão para os familiares das vítimas foi o reconhecimento de que as graves violações aos direitos humanos foram uma política de Estado, e não atos isolados. Às vítimas, Wadih Damous, presidente da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, prometeu levar adiante os trabalhos de investigação, e que do relatório nacional, este será ampliado nas investigações aprofundadas do Ministério Público e pelas comissões locais.
   Pelo que se pode ver das enumerações acima, quanto ao trabalho e resultado das investigações da CNV, podemos depreender que há dois caminhos: encará-la como peça histórica e assunto encerrado, ou como o primeiro passo para a discussão pública a respeito da Lei de Anistia, o que inclui se haverá a necessidade de o Supremo Tribunal Federal (STF) criar uma jurisprudência que ainda não existe, uma vez que pela decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, tal lei vai contra os princípios desses direitos.
   Já que a Lei de Anistia do Brasil representa uma reconciliação que se deu em circunstâncias históricas específicas, em que tal acordo era quase incontornável, e que agora quer se fazer valer como norma atualizada, e que, na verdade, não está de todo em acordo com o direito internacional. A discussão da Lei de Anistia passará pela jurisprudência do Supremo, sopesando a validação da lei com normas reconhecidas internacionalmente.
   O embate constitucional se dará no enfrentamento com tratados assinados por esta mesma nação. Ou seja, o constitucionalismo e sua interpretação terá de ser feito tanto com o resultado do relatório da CNV e suas recomendações, como por algo que ultrapassa, ao fim, a mera jurisprudência de um tribunal, as violações de direitos humanos.  


Artigo – Gustavo Bastos, filósofo e escritor, 14/12/2014.