PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 2 de outubro de 2010

SÉRIES LACÔNICAS - I


               I

Nas ondas que me levam,
o mar é o dono
da direção,
ele é o senhor do horizonte
em que se perde
o meu coração.

           II

Desespero é a fraqueza
dos suscetíveis ao acaso,
o universo nos chama
à luta
e a vitória
é de quem
diz a verdade.

         III

Seja o instante o tempo
impreciso de uma dança
sem relógios
num vagar livre
e inteligente.

        IV

Doses de alegria
na vida
são fontes de sabedoria
para quando fatos absurdos
levam embora o teu humor.

        V

A vida é doce
se o amargo da decepção
acaba com um novo amor.

02/10/2010 Delírios (Gustavo Bastos)

MEDITAÇÃO NO PALCO




I

Quantas voltas vai o meu coração dar

Até te encontrar?

Peguei a chave da noite

No acorde da lua,

Trouxe a minha viola

De vinho para beber

Com o teu olhar,

Persisto na rua para olhar bem

O teu olhar.



Quando eu esperava,

Sem notar que a espera

Era uma falta de peito e emoção,

Summertime tocava com Janis

No meu colo.



Eu estava numa peça de ação,

Perdido em festas e loucuras,

Com o doce coração sem fel,

Com a lucidez de um fumante de erva,

Eu estava numa ação desordeira,

Num concerto do verão anunciado

Ao pórtico e às estátuas do além.



Fazem anos que os mundos desabam,

E o canto frenético

Na minha alma que ri,

Com flores do sol e da amplidão,

Cortando o meu choro

Num blues bem velho.



Eu, em pouca noite,

Nem tive que percorrer

Os antros em que os vadios

Se comprazem no vício,

Eu estava em toda madrugada

Com uma certeza libertina

De tudo festejar,

Como eu era então filho da virtude

Por horas de beberagem,

Recitando Neruda e Lorca,

Sendo a alma titânica

Dos confins em que viveram

Os devotos do mito,

Eu que não sei amar muito bem

O céu e o horizonte,

Eu que gosto de me perder

Nas flores maléficas de Baudelaire,

Por me fartar na nuvem

Do espólio dos que giravam

No mar do desejo,

Como uma estrela queimando

As ordens lógicas,

Como um petardo antiaristotélico.



Era, em bem pouco tempo,

Meu coração partido,

Um batimento com o tempo

Das coisas inversas,

Que versam para o nunca distante,

Para o caminho das mudanças

De estações,

Que ouço num átimo o espírito de luz

Que me pegou desvairado,

Vento que surge no ar,

Faz de conta que é uma estória

De roubo

Nos vizinhos corações

De que tantos pecados

São conquistas,

O meu itinerário de fantasia.



II

Minha visão que sentiu

O último sentido da vida,

Minha visão da montanha do céu,

Imersão de lírica e drama,

Desta música do ar,

Miles Davis nuclear,

Para os fins de unção do verso

Que já se declarou festeiro

Até a morte,

Que já montou a ponte

Aos melhores dias da vida.



Não tive, não senti,

A surpresa da vingança,

Andava distraído

No ódio do mar aberto,

Com o sangue ferino

Para o ódio do meu ser de bronze,

Com a emoção de fluir

Para um delírio de hippies.



Uma era de amor,

Aquário que me possui

Sobe à minha janela.

Eu era o olho da chuva

E depois o olho do sol,

Eu era uma chuva

E depois virava sol.

Tua mão, mulher,

Eu a queria para o meu anel de ouro.



Indo à casa do infinito

Pelo que me mantém vivo,

Muita aventura de comédia

Para o caminho que encontrei,

Uns sentimentos caridosos

Me invadiam a alma

Que eram o vento

Dentro das minhas sensações artísticas,

Eu tinha a estética pura

No meu coração de poeta,

Desenvolvida do pranto.



Primeiro momento

Que se eterniza

Na chama do prazer carnal,

O teu corpo em fogo

Que vem ao meu corpo em fogo,

A nuvem do destino

De dois corpos prontos

Ao devaneio da noite furiosa,

A ilusão carnal

Como a verdade que irrompe,

Quando eu era jovem e sedento,

Perdido quando era necessário,

Futuro homem de artes e de paz.



Te chamei, nobre noiva da ilusão,

A tua boca que não me temerá,

O teu corpo que não me temerá,

A tua coragem que não dormirá

Em mim impunemente,

Eu te dou um poema

E eu tenho a você.

Eu sou a noite que te busca,

A boca que te afoga,

Um refém do amor das coisas,

Uma alma no calor das visões.



III

Onde foi o destino encontrar o amor?

Onde está aquela que me fez arder

No corpo que eu toquei?

Na alma na qual me derramei?

Lá longe foi, como uma noite

No sótão escondida,

Como um beijo que foge no amanhecer,

Breve correndo diante do que se deu,

Uma mansão dos hinos antigos

Com as cores da imaginação,

Foi um momento,

Há pouco tempo que foi a dor

Que um dia existiu

Na condição humana da dor,

Uma estrela que guardei em mim

Como era a noite,

E como era linda,

Como era uma menina

Dessas que vai embora

Para o palácio dos sonhos,

E onde permaneci

Na ilusão de segurá-la

Para mim.



Eu esperava a canção misteriosa irromper

Como sete espadas de metal nobre,

Investigando cada átomo das coisas indizíveis,

Como quem não dormiu na noite anterior,

Ou que derramou álcool na roupa suja,

Até um triste seria mais desenvolto

No precipício do grito,

Naquela noite passada

Às madrugadas tolas,

Como o tempo de ser malandro

Procurando fortuna,

Como um alguém

Que já muito se perdeu pelas ruas

Do desencontro,

Procurando a mulher silente

De seus delírios intensos,

A única que poderia me salvar

Do abismo de todo artista torturado

Pela existência,

Quando eu me vejo refém do que brilhou,

Quando tudo era diversão,

Quando tudo era poeira no desvario,

Nesse tempo longo e solitário

Em que vivo sem um coração

Na minha sala ou no meu quarto,

Com um pesar de estar morrendo

Sem sorrir para o dia

Quando acordo.



Faz tanta falta

Um maravilhoso descanso

Pelas músicas

Do abismo que sinto?



Se faz tanta noite

No meu eterno pecado,

Quem foi arte

Para o céu que vi?

Quem era o meu sol de verão?

Quem será que virá

Da selva da cidade

Me encontrar com o tédio

Me subjugando o coração?

Quem me acordará?



Fui para a manhã

Que rumou para o norte,

O norte do céu de cima

Que descansa eternamente.

Não posso mais morrer,

Não posso mais fugir,

Não consigo ficar sóbrio.

Onde foi o castigo?

Onde foi a maldição da vida boêmia?



Venha, ó fonte me perdoar,

Porque fui insano

Ao perder a paz

Que você me daria,

Porque sonhei,

Porque existo!



Já faz muito tempo

Que o coração foi embora,

Eu adorava um parque

Das canções ébrias,

Que nem uma amante louca

Um dia pensou,

Perto da glória

Das coisas grandiosas

Que o céu guardou

Para voar no salto

De uma revolução.



Summertime ainda toca

Enquanto eu escrevo

Este poema.

O coração ventila

O êxtase da canção solitária,

Tudo me invade agora.



Já tanta noite perdida

Pelas voltas das várias vidas,

Que eu poderia ter sido um assassino,

Que eu poderia ter sido um feiticeiro,

Um monge, um anarquista,

Um palhaço ou um vigarista.

Talvez me tome a loucura de um santo,

Homem pássaro

Que poderia se inebriar

E depois galgar os cimos

Do que o coração quer.



E aqui estou num último recital:

“Que ela ainda fenece em mim,

Que ela me queira,

Que regresse ao sol que me clareia,

Que ela não se esqueça

Do que no meu peito intumesce,

Paixão de adolescente.



Quero ela ela toda ela.

Mais bela que a pose para a pintura,

Mais bela que a bela do príncipe.”

O ENFERMO



Antes, éramos luzes, neste solo contaminado, trevas! Não que goste de me ver entre as profanações, minha alma titubeia e se afoga, o corpo se entrega ao desvario, e estarei sempre no recreio do inferno, na enfermidade! Só que não me fazem livre o dogma e nem a santidade da razão, são todos porcos. Serei a heresia! A heresia é sã e o fanatismo não! Meu testemunho vai de encontro aos pudores atrofiantes do domínio das pulsões, meu gozo será de extremo prazer. Viva o desbunde! Que seja ingênuo! Pouco importa!

Neste tempo de demência santa, serei então traficante de sonhos, de artes grotescas, de poemas idiotas! Minha feira será exposta no vernissage do Diabo, lá onde corações são devorados por cães no fogaréu! E meu riso será só gargalhadas, no vinho transbordante, no meu ácido imaginário. Serei guardião da agonia, ou ainda, outro santo do pau oco, o animal mais apavorante, viverei de pesadelos ... e tudo que era antes tão bonito, sendo hoje vistas cinzas. Logo, a resignação é sádica, é ironia, disfarce da vontade primitiva que quer tudo explodir. Não creio ser ímpio, nem tampouco franciscano, admiro todos. Mas, sou da corja dos enfermos da epidemia! Minha natureza é por demais inquieta para a resignação e nunca tive disciplina para nada.

Vou aniquilar todas as pretensões, nem a ciência e nem a Igreja responderão por mim, serei eu a própria fonte de minha plenitude ou de minha destruição. Mas, tendo a desgraça à espreita, morrerei de peste sob um manto azul, sou batizado e tenho a salvação do ar, sopro de plenos vapores! Por mim, serei imortal, pela carne, morrerei! Este é o destino inexorável, origem das aflições, a alma ferve até esgotar o corpo. Estamos todos cercados! O pelotão de fuzilamento da vida é eficiente, a morte já vem como garantia. Eis a ironia de Deus!

Em franca derrota, no abismo, estarei agonizante. Flutuarei sobre o meu cadáver alinhado entre flores com um sorriso cataléptico no rosto. Voltarei, acordarei e morrerei sufocado debaixo da terra, meus novos vizinhos serão vermes, será então a liberdade? Não creio na liberdade! Ora, discutindo sobre a liberdade seremos livres? Ou ela própria designa sua impossibilidade? Será para sempre impossível ser livre, não podemos fugir do si-mesmo, eis a enfermidade, nossa prisão, o tormento, a violência, o problema sério de existir, a doença provocada pelo estar-no-mundo.

O Senhor me deixa queimar neste inferno, não lhe devo favores. O delírio é meu altar! Sou degeneração psicodélica! O êxtase da juventude! Tento ser simples, mas a percepção é caótica, queimarei de febre, tremerei de frio, a doença será da epidemia, mais alucinações! O desastre será então o relâmpago da criatividade! Inspirações serão descargas elétricas! Minha luz nesta via apagada. E que será do mundo? Eis o enfermo! Seremos convertidos em energia depois de megatons titânicos? Não me preocupo mais, também estou doente, agora tenho respeito pela ignorância, me vejo nela, sou o mais estúpido, de festas arrombadas, não tenho dinheiro, me torno pilantra.

Lendo todos os filósofos pragmáticos, tentando curar a minha falta de praticidade, serei megaespeculador até que os megatons me desintegrem, e depois, aí sim, poderei contemplar o universo nu e livre da humanidade, e já não serei eu que estarei ali, e então, será a liberdade? Não sei, quero que tudo vá para o inferno! A existência é, na verdade, um imbróglio, não sou pessimista, só reclamo, não tenho o que fazer. Também nunca serei livre.

A natureza humana é dúbia e confusa, espero talvez um céu a posteriori, mas vivo aqui e agora, e é onde o infinito se torna, e onde nos confundimos e o conflito se funda, mas, conheço este mundo ainda muito pouco, sei muito mais do sonho. Mesmo que caminhe enfermo como o mundo, creio na verdade, não nas que são impostas, creio no discurso do silêncio, a contemplação do momento, o qual é instante raro.

Não consegui afastar de minha alma a doença que me oprime, por enquanto, continuo a tomar venenos, não sinto culpa, isso é coisa de idiota. O pecado é idiota! Somos idiotas! Afinal, o erro é necessário na busca da verdade. As frases me parecem estranhas, tudo o que digo é pérfido e não merece bênção, nem peço qualquer piedade. Minhas queixas também são idiotas. Mas, tenho tempo para as tolices, prefiro escrever do que ler, a diversão é única! É quando construo toda a sordidez da minha dialética orgânica.

Não tenho régua para metros, a vida não pede medida, e logo não tenho limites! Minha vida tola pode ser salva pela literatura ou serei para sempre vício, enfermo? Ainda posso ser livre? Não escaparei, deitarei na cama suando frio e entrarei no redemoinho, sendo sempre transe onírico e letárgico que se expande inutilizado. Mesmo assim, encontro ainda alguma compreensão de toda essa loucura, apesar da minha própria incapacidade, e descanso após ter fumado erva.

Acidente de percurso! O vício é sórdido! Não consigo! Não consigo! Tenho sempre que cair! Sou inocente! Não! Não me prendam! Já não saio mais da ilusão! Estou enfermo! Todos estão! É o sacrifício das almas, este mundo! Não quero mais viver escravo! Espere! Será que levanto? Ah! Quem me dera a sabedoria, conseguiria talvez a paz, mas, a realidade é infernal! Pasmem!

Ainda sóbrio, talvez, possa dizer com mais sofisticação imagens supérfluas, mas, não invento, meu sangue jorra, tudo é reflexo! Poemas são como Jazz! O jogo se dá no inusitado, não é um processo pré-determinado, vamos quebrar todos os determinismos! Me perderei nos símbolos! Mesmo sem garantias de sobrevida, ainda aproveito mesmo assim. Viverei a vida, afinal! Mesmo que ande sombrio, me salvo pela arte. Não digo senão absurdos e não sei se me entenderão, mas, não importa, a arte sobretudo, é isso que importa, única salvação! A música! A pintura! A poesia! Todas as manifestações humanas são imbuídas da arte, quero dizer sobre a importância de toda arte, até para a cura, sejamos gratos. É a beleza sobretudo, esta salvará o mundo! Não sei e não a conheço, vivo no universo trágico, mas, espero um dia estar no paraíso.

Ainda vivo, e mesmo enfermo, sou o mesmo. Meu vício agora me expõe, viverei sob domínio hipnótico, o demônio interior é ardiloso. Estou no caos! O caos é a única realidade, não consigo mais me recordar das coisas, a corrupção dos sentidos é prejudicial. Mas, não é o mal que me aflige, é o medo de não viver o suficiente, o tempo é radical. O abismo muito mais. E o que me resta é fragmento, não alcançarei a totalidade, a velha ilusão da Metafísica! Minha loucura tratará de mergulhar no caos, no mundo! Sou demasiado onírico e talvez me perca, não acordarei a tempo de me salvar, mas quem disse que a salvação existe? Só acredito no instante, somos caóticos, milhões de conceitos nos formam, mas, meu tempo se dá na música, esta é que, talvez, me salvará da loucura. Mas, os conceitos, o esclarecimento que procuram, geram mais confusão, talvez sejamos idiotas procurando algo que não se pode ter e Deus ria de nossa cara. Não blasfemo, o que digo é verdade, mas também não digo que nada tenha sentido e função, estamos condenados a procurar eternamente o nada. É o destino novamente! A enfermidade é lógica, é o consumo, o devoramento, a gula do mercado! Heróis são ilusões! A selvageria não é ética! A fome! A fome! A fome! O que fazer? Corrompemos o mundo, o consumo é suicida, a humanidade é suicida, somos um mundo enfermo.

Tudo é desenvolvimento! Será? Melhor me calar. Vivo também intoxicado, as indústrias poluem tanto quanto eu degenero o meu organismo. A ganância matará o mundo! Sequestramos a realidade, queremos tudo, não abdicaremos de nosso poder! A violência, a guerra, o bruto poder! A banalização cultural que traz a anemia criativa e a demência decorrente do comodismo tecnológico! Mesmo que sejamos cada vez mais exigidos, a vulgaridade é soberana, sempre. É a ruína de toda a incerteza. Tudo é mercado, o mundo está plastificado, me deem algo natural! Não quero saber do estado de espírito do mercado, me deem a contemplação da beleza, não quero mais a enfermidade. O vício não terá mais domínio, não estarei mais aqui, voarei, porque a plenitude me espera, e nunca mais voltarei para este mundo, ou poderá ser mais uma ilusão e, na verdade, estarei morrendo lentamente. Eis aí minha lástima, perco para a doença, cairei prostrado com o olhar catatônico, no limbo.

DA ARTE DA ALMA (MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA)

O homem, por si mesmo valoroso,

enfrenta a morte da alma

como um fosso em que dorme o pensamento.



O homem acorda a alma latejante

em seu sono profundo,

desfaz a sua obra de alma bondosa,

desfaz a solidão que a embala,

segredo deste sonho

são as inúmeras fugas

da alma desnuda.



Infinitos fragmentos,

são os sonhos e as prisões

de um delírio,

são os ensinamentos dos livros

sem uma paz já definida

como a morte da alma

para a poesia,

tragédia metafísica

de morar no vazio,

meu medo irracional

de cair no vazio,

a alma não pode se negar

à sua salvação,

quando no meio da noite

acordo perguntando

por quem eu choro,

se é a minha morte

assim lembrada.



O homem, para não morrer,

deve refundar a alma

para que ela também não morra.



E que dizer do valor humano

senão a sua saga de sobrevivência

que perdura pelos milênios?



Não será onde acorda o pensamento

a salvação da alma?

Não será o governo da alma

a sua ascensão ao que

o coração sente?



E o que sentimos teria definição

de vida?

Pois que a vida seja o sopro

donde temos o sentido

que a carrega

para os altos cimos

da verdade da alma,

quando esta não mais

dorme em sua morte anunciada,

mas que sobrevive inestimada,

saudável e poderosa

para anunciar a poética dança

do mundo,

um mundo em que se vê

discórdia, guerra e desastre,

mas que é o mesmo mundo

onde se faz arte.



29/11/2008 by Gustavo Bastos

ROMÂNTICOS ETERNOS

Meu amor, se o alarme dispara

na paixão,

não é por nossa culpa ou vontade.

O amor acende a sua chama

sem avisar,

e a escolha que nos toma

é amar a vida até morrer.



Meu amor, amor meu,

se eu navego com o horizonte,

é porque te amo

sem ocultar o meu sentimento.



Sabor doce é a canção

quando começa a primavera,

e então nos conheceremos

na flor alva da compaixão,

inundados de toda luz

que ainda temos dentro de nós,

se o mar oceano da paixão,

meu amor,

permita que vivamos em paz,

e a paz de nós dois

será a paz do coração

depois do atentado

que nos feriu,

depois da mentira

que nos afogou,

mistério deste amor

eterno amor.



29/11/2008 Poemas de Amor e Outros Verões

by Gustavo Bastos

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

OS HERÓIS ANTISSOCIAIS

Caí em minha dimensão única de plenitudes e desvarios. Ouvindo “Fire” de Jimi Hendrix, um ser de cocaína pura, noite do vagar estrelado que irrita o jovem poeta com suas memórias etílicas. O flagrante o levou embora para uma esfera restante da paixão.

Oras, que horas são? O tempo desta prosa me faz cantar inutilmente para a mulher que passa e me ignora, eu sou o torpor da noite casta de sexo, farândola, faca, tesoura, copo, garrafa, relógio, objetos fúnebres sobre a minha tumba, um drink para comemorar a messe que vos deixo em meus escritos, são sinceros, sinceros e ridículos, são trevas de luz e um paradoxo flutuante.

Me lembro das tramas de Hitchcock que me envolveram de forma brutal tal como um conto de Poe. Eu li a vida de escritores e loucos, todos morreram de overdose, todos morreram por excesso de vida!

E quando estarei entre eles, no céu dos músicos? Lá onde as drogas são romantizadas com perfumes de flores e devaneio carnal? Não vou ficar aqui neste mundo sem uma vida extraordinária, não vou ficar com o terrível sonho do jardim, nem com a vã inspiração de um matadouro de santos.

Eu entendo Kurt Cobain, entendo Sid Vicious, adoro o rock`n`roll de nuas canções, sou adepto das viagens psicodélicas, sou uma floresta de arroubos e rompantes de imaturidade fatal.

Quando vejo o lugar ideal, este está no paradeiro enigmático e triste de Syd Barrett, o louco elegante. O lugar ideal é Pompéia, escutando Pink Floyd e lendo Jack Kerouac, depois me vem a insanidade de Burroughs e suas seringas, um tempo de cólera acorda com os niilistas da corja de punks sujos e bêbados brigando com skinheads anátemas.


Eu acordo do sonho dos hippies, lá estavam os doidões do Grateful Dead, vem agora o tempo me dizer que todos eles morreram, a nostalgia pode ser curada com um pouco de inalantes, a vida é uma dança macabra, e os sonhos de poeta são a passada desta dança em forma de palavras, palavras que não dizem nada de importante, mas que são palavras que harmonizam com a existência. Hoje acordei meio grunge, quero ouvir um Alice In Chains e pensar na morte da heroína, venho aqui lembrar dos heróis antissociais, estes marginais que foram devorados pelo mainstream como grandes estandartes do “born to be wild”, todos os que morreram com 27 anos, da maldição de serem atemporais, tenho no sangue o desejo destes sonhos, mas já passei pelo perigo, e agora estou são dentre os restos dos adoradores do Diabo. Tudo é passado selvagem, e a vida então vive do agora como a embriaguez da poesia, vestimenta dos revolucionários, tempo dos temerários, vida dos desregrados, sentido da arte, caos do sentimento, a intensa alma que ilumina o mundo, um dia de liberdade em Woodstock, nada mais.



12/09/2010 Gustavo Bastos

terça-feira, 28 de setembro de 2010

O AMOR DO MAR (EROS E O DESEJO)

A mitologia do desejo

é Eros, o arpão da paixão,

flecha possuída do desejo.



Dizem ser o amor do mar

a luz esbelta do corpo ausente.



Dizem que o amor do mar

é sincero em sua onda reluzente.



Pois sou filho do mar,

filho do amor do mar.



Severa é a chama apaixonada

que deseja uma mulher íntegra

em seu devaneio.



Eros se masturba e logo quer

o vinho que dança

no corpo desta mulher.



Eros devaneia e se embriaga

da paixão de asas e vôo.



Dizem que o amor do mar

é a imensidão pouco explorada

de suas profundezas.

É o castelo que ergui

em busca da musa misteriosa.



A mitologia do desejo

é o amor do mar

em puro devaneio,

nas suas enseadas sensuais

de corpo inteiro.



26/11/2008 Gustavo Bastos

MINHA MUSA

O que temer em teu corpo

senão o teu beijo?

O que esperar de teu beijo

senão o teu corpo?



Dourava sob o sol aberto,

e a pele que dourava

era do mesmo corpo

com que vinhas balançar

a juventude de teus olhos

nos meus que choravam

por te perder benquista chama.



O que sentir em meu poema

senão o teu amor?

Amante do que amas intensamente

o meu amor no teu canto estelar.



Quem era você na vida solar

da praia nua?

Quem diria que foi minha

e ainda é minha?



Sou o meu corpo, sou a minha alma,

mas só contigo

posso ser o nosso amor,

tal como você é

a minha estrela.



16/11/2008 POEMAS DE AMOR E OUTRAS VERÕES

A BARCA DO TEMPO

Pude sonhar com a barca

de tais sentidos

na vida entre os mares,

e entregar outra revolta

senão os cascos na noite atravessada.



Percorri todos os horizontes,

todas as chamas,

todas as uvas.



Descobri a chuva num monte gelado,

devorei a sinuosidade

da carne posta

ao supremo poder da chuva.



E depois retomei os passos puxados,

fui entre as febris montanhas

cavalgar o espírito do grito,

e levar tudo de roldão

com a barca inesperada.



Pois entrei no fundo silêncio,

e fui depositar meu elo

com a nuvem secreta

do perdão,

sem chorar

ataques de morte,

ou entregar a vida

em vão.



17/11/2008 PALAVRAS SUBTERRÂNEAS

ANÚNCIO PERDIDO

Embarquei no que restou dos sentimentos,

louvei a alma em flor

com o resto dos meus pecados.



E dei a palavra, para os sentimentos.

Eu ainda posso sentir

o cosmo que mora na palavra,

já que não posso prever o futuro

que me aguarda.



De mim sou pó, pergunto o que devo

fazer do meu pó.

E respondo ao vento

o que ele sopra de verdade.



Tanto assim o que sinto,

pois de tanto que sinto,

a falta de você me isola do coração,

e eu atravesso o relâmpago do tempo

para morrer de amor

numa praia deserta,

levantando um poema de enfim

o que é alma e palavra

no fogo de mim.



24/09/2008 Poemas de amor e outros verões

SONETO EXPERIMENTAL

(soneto decassílabo heroico)


Hoje entro na visão que me trás perto

o amor da eterna lírica canção.

Diamantes e tesouros de roldão

que caem como estrelado véu do verso.



Por detrás deste véu, posso ver crédulo

o mar se abrir no corpo de uma unção,

e não aceitar refeito o meu desvão.

Choro por ti! Os olhos teus despertos!



E sempre que tiver aqui irei vê-la,

talvez como quimera no verão,

apenas navegando para tê-la.



Logo que a vi foi a fúria do trovão,

eterno palco orgânico da estrela,

para levitar fundo o coração.



12/10/2008 Sonetos da Eternidade (by Gustavo Bastos)