PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quinta-feira, 5 de abril de 2018

PET SOUNDS

“Pet Sounds é o resultado mais brilhante da mente de Brian Wilson”

Este álbum dos Beach Boys foi um marco histórico na música pop e no rock como um todo, lançado em 1966, redefiniu fronteiras de harmonia e era um reflexo direto do talento obsessivo e do rigor metódico de um gênio atormentado de nome Brian Wilson. É um dos álbuns definitivos do rock e do pop, um dos maiores álbuns de todos os tempos.
Durante um voo em dezembro de 1964, em que a banda seguia para uma turnê após o disco Beach Boys’ Party, Brian Wilson teve um ataque de pânico dentro do avião, e então logo após decidiu voltar para a Califórnia para fazer as canções de um próximo disco e convenceu o resto da banda de que não tinha condições de seguir em turnê. A gestação de Pet Sounds, portanto, se deu sob total controle de Brian Wilson.
Brian Wilson, por sua vez, se encontrava perplexo com a audição de Rubber Soul dos The Beatles e ficou instigado em seu ímpeto competitivo. O curioso é que Pet Sounds mais para a frente seria grande motivador para os mesmos The Beatles produzirem o fantástico The Sgt. Peppers.
Outro registro a se fazer de Pet Sounds é que este disco superava a concepção de canções populares e de apelo pop de surf music que tinha os Beach Boys até então, com músicas como Surfin USA, dentre outras, com direção comercial evidente. E foi quando Brian Wilson encontrou a outra parte fundamental do disco Pet Sounds, que foi Tony Asher, um compositor de jingles publicitários.
O trabalho era tão inovador e diferente do que vinha sendo praticado pelos Beach Boys, que o resto da banda, quando de volta da turnê, ficou chocado com o que estava sendo produzido por Brian Wilson, e houve desentendimentos quanto tanto a viabilidade comercial do novo disco como também de que maneira aquilo poderia ser reproduzido ao vivo. Al Jardine, Dennis Wilson e Mike Love não esconderam a desconfiança com relação a Pet Sounds, mas acabaram cedendo.
O disco foi um fiasco comercial nos Estados Unidos, mas no Reino Unido foi bem recebido, pois ganhou adeptos notórios como John Lennon, Paul McCartney, Keith Moon, dentre outros, chegando a segundo lugar das paradas britânicas.
O fato é que Brian Wilson tinha 23 anos de idade e conseguiu produzir um disco grandioso, que com o tempo ganhou valor histórico, muito mais intenso do que todo o trabalho comercial que também envolveu a banda, pois Pet Sounds antecipou a ideia de álbum conceitual que também viria com o Sgt. Peppers dos The Beatles.
Pet Sounds se destaca por uma espécie de pop elegante e polido, fruto de um trabalho minucioso, de harmonias indescritíveis, de um gosto refinado e de uma mente que fervia flertando com a loucura, que era a cabeça criativa e no limite da realidade que era a de Brian Wilson. Podemos citar a riqueza harmônica da abertura de Would`N Be Nice e também em Sloop John B, complexidade percussiva e um arranjo celestial de vozes.
Por sua vez, temos uma das músicas mais belas da História que é God Only Knows, uma canção de amor que evoca Deus no seu refrão inebriante, e que nos dá a dimensão total do que é o sentimento musical, faixa esta que é cantada por Carl Wilson, trabalho de uma complexidade até hoje estudada pela música contemporânea.
Pet Sounds é o resultado mais brilhante da mente de Brian Wilson, um hino do amor e o primeiro álbum conceitual que abre as portas para o infinito em matéria de harmonia e arranjos, e que coloca muito bem o atormentado Brian Wilson na categoria ilustre dos gênios. Pet Sounds é um disco clássico.


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário :  http://seculodiario.com.br/38242/14/pet-sounds




quarta-feira, 4 de abril de 2018

O VENTO DO POEMA

O vento cai ao quadrado
e vira ventania,

vendo o vento assim,
me mordo de paixão
por um vendaval,

tenho ímpeto de conceber
um furacão,

e tal ciclone que gira,
o vento é um sopro
divino que corta
o ar
com o mistério
que tudo vê.

04/04/2018 Gustavo Bastos

POEIRA CÓSMICA

Quando vir o anjo Gabriel
e lhe der tábuas
com indicações,
leia e faça seu dogma.

Quando vir Jeová
e lhe der tábuas
com leis,
leia e faça seu dogma.

Ah, para o diabo que te carregue!

Estes mares abertos
são infinitos
ao coração,

o enigma da sarça
e suas leis são
misteriosas,

mais que suratas e pentateucos,
a natureza divina
ou bastarda
nunca
se revela
por inteiro,

somos pó do pó
das estrelas.

04/04/2018 Gustavo Bastos

CORAÇÕES MOLES

Memento confissões,
sempre rubro o falso
dilema, face rúbida,
facécia fescenina.

Morte, este absoluto nada
e supremo, que nos leva
ao Letes,

memento memória, o vale suicida
nos dá um coração triste,
este que se embriaga
e cai no chão,
como um mendigo
contrito,

confissões de um apedeuta
dos sentimentos,
um frio e gélido
coração
de brinquedo.

04/04/2018 Gustavo Bastos

GAIVOTA GAIATA

Sobrevoa o inóspito campo
a gaiata gaivota,
sempre voa voa.

A gaivota gaiata
das canções
de asas,
dos jardins suspensos,
da vinha e da sarça
selvagens.

Voa voa ainda mais,
gaiata sobrevoa,
gaivota que voa,

o poema, este documento,
voa contigo,
gaivota gaiata
como este poema.

04/04/2018 Gustavo Bastos



RIO DA PRATA

No rio da prata um pescador
olhava o borrado marrom
e imenso, Almado González,
também bebedor de malbec,
um astuto jogador
de carteado.

A bem da verdade, seja alhures
suas apostas, o rio mancha
seus olhos em flor,
o rio da prata,
imenso,
em sua alma na
amplidão.

Visto de cima, o rio é o ventre
mais caudaloso do mundo,
uma bacia com o rigor
da correnteza,
e as varas de pesca
em meio ao burburinho
do aeroporto.

Conheci Almado González,
um torcedor do river
nascido em Rosário,
com o suor do rio
da prata em seu rosto.

04/04/2018 Gustavo Bastos

O TROVADOR FELIZ

Sempre pense na bifurcação
como o dilema do karma,
ouça a razão e o coração,
ouça mais ainda o instinto.

Sempre haverá a paisagem,
nua e árida,
dos sofrimentos.

Cale um pouco a dor mordente,
seja um cão guia
de cegos que se exaltam
por qualquer coisa,

note bem : as almas são ventos
que sopram amores desfeitos,
pactos rompidos,
vidas ao meio.

Sempre, poeta da rua,
cante sua loucura
e a sua liberdade
como um trovador
que parece feliz
no meio do caos.

04/04/2018 Gustavo Bastos