“Pet Sounds é o resultado mais brilhante da mente de Brian
Wilson”
Este álbum dos Beach Boys foi um marco histórico na música
pop e no rock como um todo, lançado em 1966, redefiniu fronteiras de harmonia e
era um reflexo direto do talento obsessivo e do rigor metódico de um gênio
atormentado de nome Brian Wilson. É um dos álbuns definitivos do rock e do pop,
um dos maiores álbuns de todos os tempos.
Durante um voo em dezembro de 1964, em que a banda seguia
para uma turnê após o disco Beach Boys’ Party, Brian Wilson teve um ataque de
pânico dentro do avião, e então logo após decidiu voltar para a Califórnia para
fazer as canções de um próximo disco e convenceu o resto da banda de que não
tinha condições de seguir em turnê. A gestação de Pet Sounds, portanto, se deu
sob total controle de Brian Wilson.
Brian Wilson, por sua vez, se encontrava perplexo com a
audição de Rubber Soul dos The Beatles e ficou instigado em seu ímpeto
competitivo. O curioso é que Pet Sounds mais para a frente seria grande
motivador para os mesmos The Beatles produzirem o fantástico The Sgt. Peppers.
Outro registro a se fazer de Pet Sounds é que este disco
superava a concepção de canções populares e de apelo pop de surf music que
tinha os Beach Boys até então, com músicas como Surfin USA, dentre outras, com
direção comercial evidente. E foi quando Brian Wilson encontrou a outra parte
fundamental do disco Pet Sounds, que foi Tony Asher, um compositor de jingles
publicitários.
O trabalho era tão inovador e diferente do que vinha sendo
praticado pelos Beach Boys, que o resto da banda, quando de volta da turnê,
ficou chocado com o que estava sendo produzido por Brian Wilson, e houve
desentendimentos quanto tanto a viabilidade comercial do novo disco como também
de que maneira aquilo poderia ser reproduzido ao vivo. Al Jardine, Dennis
Wilson e Mike Love não esconderam a desconfiança com relação a Pet Sounds, mas
acabaram cedendo.
O disco foi um fiasco comercial nos Estados Unidos, mas no
Reino Unido foi bem recebido, pois ganhou adeptos notórios como John Lennon,
Paul McCartney, Keith Moon, dentre outros, chegando a segundo lugar das paradas
britânicas.
O fato é que Brian Wilson tinha 23 anos de idade e conseguiu
produzir um disco grandioso, que com o tempo ganhou valor histórico, muito mais
intenso do que todo o trabalho comercial que também envolveu a banda, pois Pet
Sounds antecipou a ideia de álbum conceitual que também viria com o Sgt.
Peppers dos The Beatles.
Pet Sounds se destaca por uma espécie de pop elegante e
polido, fruto de um trabalho minucioso, de harmonias indescritíveis, de um
gosto refinado e de uma mente que fervia flertando com a loucura, que era a
cabeça criativa e no limite da realidade que era a de Brian Wilson. Podemos
citar a riqueza harmônica da abertura de Would`N Be Nice e também em Sloop John
B, complexidade percussiva e um arranjo celestial de vozes.
Por sua vez, temos uma das músicas mais belas da História que
é God Only Knows, uma canção de amor que evoca Deus no seu refrão inebriante, e
que nos dá a dimensão total do que é o sentimento musical, faixa esta que é
cantada por Carl Wilson, trabalho de uma complexidade até hoje estudada pela
música contemporânea.
Pet Sounds é o resultado mais brilhante da mente de Brian
Wilson, um hino do amor e o primeiro álbum conceitual que abre as portas para o
infinito em matéria de harmonia e arranjos, e que coloca muito bem o
atormentado Brian Wilson na categoria ilustre dos gênios. Pet Sounds é um disco
clássico.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : http://seculodiario.com.br/38242/14/pet-sounds