PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 8 de maio de 2021

LORDS OF CHAOS – A SANGRENTA HISTÓRIA DO METAL SATÂNICO UNDERGROUND – PARTE VIII

“Dead tinha um temperamento depressivo e sombrio”

O Mayhem começou em 1984 as suas atividades, e a banda foi influenciada por bandas como Venom, Bathory e Hellhammer. A formação inicial ainda contava com Euronymous usando o pseudônimo Destructor, na guitarra, mas ele logo adotou o pseudônimo com o qual o conhecemos, que era traduzido por “príncipe da morte” (título grego mencionado em livros-texto sobre ocultismo). Ainda havia o baixista Necro Butcher, o baterista Manheim e o vocalista Messiah.

A banda se identificou como tocando “total death metal”, fato desmentido depois pelo próprio Euronymous, que afirmou que o Mayhem sempre fora uma banda de black metal. O primeiro show do Mayhem foi em 1985, e a demo de estreia foi Pure Fucking Armageddon, em 1986, com 100 cópias numeradas.

Em 1987, entra na banda o vocalista Maniac, e Messiah foi chamado por Euronymous de “ex-vocalista de estúdio”, que teve a sua aparição na demo e no primeiro lançamento oficial da banda, o mini-LP Deathcrush, deste ano de 1987, com uma tiragem de 1000 cópias.

Após o lançamento de Deathcrush, entra o vocalista Dead, que veio da banda cult de Estocolmo, na Suécia, Morbid, de onde alguns integrantes, mais tarde, montariam a conhecida banda sueca de death metal, Entombed.

Dead se mataria poucos anos depois, em 1991, e seria um dos primeiros fatos chocantes da cena norueguesa do black metal que, naquele período, se expandia. A história é conhecida no underground, e envolve detalhes macabros.

Euronymous, pouco depois do suicídio de Dead, escreveu : “Nós não temos mais vocalista! O Dead se matou há duas semanas! Foi muito brutal, primeiro ele cortou todas as artérias dele nos pulsos e aí ele explodiu a cabeça com uma escopeta. Eu encontrei ele e foi muito macabro, a parte de cima da cabeça dele estava espalhada por todo o quarto, e a parte de baixo do cérebro tinha escorrido do resto da cabeça e caído na cama.

Eu, claro, peguei minha câmera imediatamente e tirei umas fotos; a gente vai usar elas no próximo LP do Mayhem. Eu e o Hellhammer tivemos tanta sorte que encontramos dois pedaços grandes do crânio dele, e nós colocamos eles em colares pra guardar de lembrança.

O Dead se matou porque ele vivia somente pela antiga cena e estilo de vida black metal true. Isso significa roupas pretas, spikes, cruzes e por aí vai (...) Mas hoje em dia só tem crianças em roupas de ginástica e skates, e ideias morais do hardcore, eles tentam parecer o mais normais o possível. Isso não tem nada de sombrio, esses imbecis têm que temer o black metal!

Mas ao invés disso eles amam bandas de merda tipo o Deicide, Benediction, Napalm Death, Sepultura e toda essa merda. A gente tem que levar essa cena de volta ao que ela era no passado.

O Dead morreu por essa causa e agora eu declaro guerra! Eu estou com raiva, mas, ao mesmo tempo, tenho que admitir que foi interessante examinar um cérebro humano em estado de rigor mortis. Morte ao falso black metal ou death metal! E também aos modinhas do hardcore ... Aarrgghh!”

Hellhammer desmente a afirmação dizendo que : “O Euronymous espalhou o boato de que [o Dead] cometeu suicídio por causa da cena. Esse não foi o motivo, mas ele queria que parecesse que fosse porque aí ele poderia ganhar mais dinheiro e parecer mais diabólico do que ele de fato era”.

No livro Lords of Chaos podemos ler : “Oysten estava rapidamente percebendo o poder que havia em criar uma imagem militantemente sinistra para a banda, como parte de seu plano declarado de ‘espalhar o mal’ para as massas. No que competia às suas empreitadas musicais, as únicas circunstâncias em que o Mayhem de fato se mostrava à altura de sua imagem eram os raros shows ao vivo que eles conseguissem organizar.

O show de Sarpsborg em 1990 se tornou lendário, posteriormente gerando um CD bootleg – cuja capa traz uma reprodução muito clara da cabeça de Dead estourada por uma escopeta e seu tronco caído, com o cérebro espalhado pelo seu colo.”

E o livro Lords of Chaos continua : “no início dos anos 1990 a moderna face do black metal já dava a sua cara macabra de corpse paint. Era algo muito distante dos velhos dias dos shows do Venom e suas torres de luz estroboscópicas, pirotecnias e trajes bregas cheios de rebites e elastanos.

O black metal norueguês havia encontrado sua alma, e estava satisfeito em se contentar com apenas algumas cabeças decapitadas, automutilação e uma oposição a tudo considerado ‘bom’ ou que afirmasse a vida.”

Dead tinha um temperamento depressivo e sombrio e afirmava não ser deste mundo, ele praticou a automutilação nos shows do Mayhem, mas era visto na cena como uma pessoa de quem nunca ninguém falou mal, mas o seu suicídio não tinha sido uma surpresa para ninguém.

Em 8 de abril de 1991 aconteceu seu suicídio, quando Dead tinha 21 anos. Pegou uma das armas que tinha na casa em que morava e carregou com munição providenciada por Varg “Grischnackh” Vikernes, e em sua breve carta de suicídio Dead escreveu : “Desculpa pelo sangue todo”.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário :  https://www.seculodiario.com.br/cultura/a-sangrenta-historia-do-metal-satanico-underground-parte-viii 

 

 

 

 

quarta-feira, 5 de maio de 2021

PIADA DE FRANCÊS

“o bolsonarismo embarcou nesta onda da cloroquina como uma panaceia”

Jim Jones fundou e foi líder do culto Templo dos Povos, iniciado nos anos 1950, em Indiana, e migrou para a Califórnia nos anos 1960. Em 1974, o Templo dos Povos arrenda uma gleba de terra na Guiana, onde se ergue o “Projeto Agrícola”, é aí que surge a comunidade denominada Jonestown.

É neste local de Jonestown que ocorre o suicídio coletivo mais conhecido da História, o do Templo dos Povos, liderado por Jim Jones, que resultou na morte de 909 pessoas por envenenamento por cianeto. Jim Jones foi encontrado morto em uma cadeira de praia com um tiro na cabeça, supostamente auto-infligido.

Diante do caso do governo brasileiro frente a milagres sobre remédios não comprovados contra a Covid-19, a conduta do presidente Jair Bolsonaro me lembra algo como uma mistificação, que, não sendo religiosa, no entanto, tem seus ares que podem remeter a uma mentalidade alienada de seita. Por sua vez, o primeiro-ministro da França, Jean Castex, na Assembleia Nacional, anunciou o fechamento da França para voos vindos do Brasil.

A revista Science colocou em evidência todo o descontrole atual da pandemia no Brasil, em um artigo, com as seguintes palavras : “O surgimento de novas variantes isolará o Brasil como uma ameaça à segurança da saúde global e levará a uma crise humanitária completamente evitável”, tal artigo foi publicado por brasileiros e americanos um dia após o anúncio do premier Castex.

O vexame, para o Brasil, desta passagem do premier pela Assembleia ficou evidente. O mico internacional do governo Bolsonaro, que no início era um exotismo que virou chacota na imprensa alemã, agora é uma extensa e dramática tragédia que, em seu outro lado, é o ridículo de um governo que compra ilusões, e que agora também virou piada de francês. Pois, na Assembleia francesa, Castex fustigou um deputado da oposição que tinha defendido o uso da hidroxicloroquina na França, em 2020, contra o Coronavírus.

É bom lembrar que foi um médico francês, Didier Raoult, quem primeiro defendeu o uso da cloroquina para combater o vírus, e o bolsonarismo embarcou nesta onda da cloroquina como uma panaceia, um modo de não encarar a realidade, pois primeiro minimizou a pandemia, como uma gripezinha, em pronunciamento oficial do presidente Jair Bolsonaro, numa das cenas mais marcantes e abomináveis deste governo no ano de 2020.

Tivemos, também, no início da pandemia no Brasil, declarações estapafúrdias, como o dono do restaurante Madero, que disse que morreriam apenas 3 mil pessoas, e hoje temos mais de 3 mil pessoas morrendo a cada dia. Didier Raoult, por seu turno, mais tarde, reconheceu que estava errado, esta panaceia é uma ficção. A piada de francês, então, se deu quando Castex declarou : “Gostaria de avisar que o Brasil é o país onde ela é mais prescrita”, e arrancou risadas no parlamento francês.

Agora temos o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, sofrendo um processo judicial pela tragédia no estado do Amazonas, ele é acusado de improbidade administrativa pelo Ministério Público Federal, pois demorou para agir nesta tragédia, houve omissão na iminência de falta de tubos de oxigênio, e ainda temos a famigerada pressão do SUS que aconteceu para o uso da cloroquina. No mesmo dia do colapso amazônico, foi enviado 120 mil comprimidos de hidroxicloroquina ao estado do Amazonas.

A demissão de Nelson Teich do ministério da Saúde veio no influxo desta história toda, quando o ministério baixou um protocolo recomendando cloroquina para uso em qualquer fase do tratamento da Covid-19. O Laboratório do Exército passou a produzir o medicamento em escala industrial, e foram feitos milhões de comprimidos. Para piorar, o contrato com a Pfizer foi questionado entre agosto e setembro de 2020, atrasando a vinda de vacinas que já poderiam ter tido doses ainda em dezembro de 2020, e três milhões de doses até março de 2021.

No Brasil, agora, o governo começa a fazer as encomendas, mais por pressão do que por convicção, mas ainda estamos dependendo da Fiocruz e do Butantan. E isto porque a CoronaVac, atacada por Bolsonaro, que hoje responde por 70% das doses aplicadas no Brasil, foi produzida pelo governo de São Paulo, senão teríamos apenas as vacinas da AstraZeneca/Oxford. As doses da Pfizer, agora, podem chegar em maio, tempo perdido.

Tivemos um festival de ilusões sobre medicamentos inúteis para combater a Covid-19, como cloroquina, ivermectina, nitazoxanida e azitromicina, e que passaram a integrar o chamado Kit Covid que impulsionou o famigerado “tratamento precoce”. Tivemos o aval para este Kit Covid e tratamento precoce tanto do presidente Jair Bolsonaro como do Conselho Federal de Medicina.

O caso de Chapecó é emblemático, Jair Bolsonaro desembarcou no município para louvar os resultados de tal tratamento no local, o milagre da cloroquina, este que fora feito pelo prefeito João Rodrigues, do PSD, e agora temos o município com números sobre o vírus piores do que a média estadual catarinense e nacional.

O TrateCov, por sua vez, é outro escândalo que foi patrocinado pelo Ministério da Saúde, um aplicativo que recomendava o tratamento precoce, e isto durante o auge da tragédia no estado do Amazonas, e diante do escândalo todo, o retiraram do ar.

A OMS deu reiterados alertas contra o uso do medicamento cloroquina, e Bolsonaro, no entanto, continuou a vender esta panaceia que não é nada mais que uma ilusão para incautos, e produto propício para mistificadores produzirem este transtorno em torno de uma tragédia contínua, e que só pode ser interrompida com a chegada das doses de vacinas que estão sendo produzidas para a população brasileira e mundial.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário :  https://www.seculodiario.com.br/colunas/piada-de-frances