PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 26 de maio de 2012

ALÉM-POEMA

Vertigem, abismo, socorro.
Verso nu, esporro.
Tântalo, nióbio,
semiótica,
carótida,
verso trucidado
de rimas
enfados
graus e sutilezas
               cemitério
          cigarros
cantilena
          esfera
                 pátria
        contramão
                 vício
        flauta
                 corrimão

Eu entendia das letras mortas
de poetas mortos.
O murro e a solidão
a companhia de um irmão
o cimento         o alicerce
        os pés no chão
             o passo
               além
           do que tudo
              que há
           além de mim
           além de vós

26/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)









PALAVRAS COMBINADAS

Pregar-me à visão
                 outrora    agora
                                      aurora

             vem de mim mais jovem
                            quando
                              nau
                             frágil
                            esquife
                       pela     navega
                                          ação

outrora aurora de
                         agoras
vejo sentimento
                    momento
                    que jaz
                    na nuvem
                        nu
                       vem
                      coisa
                     par  tida
                       vejo
                        se
                      mente

                     vi  da
                     hora
                    vi  vida

26/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)    

DIVAGAÇÃO NO SILÊNCIO

Vai a léguas minha emoção.
Canção das almas,
estranha canção.

Viajo, aqui mesmo sentado,
escrevendo.

O que posso e o que não posso
descubro na minha alma.
O que sinto descubro
em meu coração.
O que não sei escapa
à minha visão.

Sei pouco deste mundo absurdo,
tolo é o sonho do poeta,
tola é a sua esperança onírica,
várias vezes tentei descobrir
o enigma dos seres,
e a natureza, calada,
me dizia que nada nunca
me falaria.

26/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

O QUE AMAM OS POETAS

A Verdade, brutal
e encantadora,
veste âmbar
e reluz o denodo.

Ela canta, tal bela
que espanta,
e da nau feroz
todo pranto
suplanta.

A Verdade, moda poética,
sofre de ver a fuga
que os poetas
tanto amam.

26/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

A BOA MESSE

A Natureza, sábia moça,
dá seus tons e matizes
à bruma do orvalho.

Passam os nômades
no meio do coração
da floresta.

A rima, à qual me interessa,
sofre inda
em cada
messe
que tudo
gesta.

26/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

SORRINDO

Feliz é o homem
cujo karma
é silencioso.

De suas veias
nasce a mandala
de sua alma.

E o fim de seu existir
é o campo florido
que não morre
sem a primavera
para sorrir.

26/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

AS FLORES DO LUPANAR

As flores, desmaios fúnebres,
vergam o caule
do ódio
com o amor
do perfume,
e a marcha fúnebre
torna-se
a magia
da ressurreição.

O corpo, flecha ígnea,
azedume acre,
filho do silêncio
das cantatas,
e grito do silêncio
das mansardas,
rege o prístino torpor
de que horas
à salvaguarda
do corpo,
não tem escopo
para resistir
ao infortúnio.

E dançam as marafonas
no lupanar
em que a raiva bruta
dos jovens moços
corroem de saudade
o miasma fétido
que morre de tédio.

26/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

SENTINDO TUDO

O mestre do absinto
tem a cura.
Jogos de relaxamentos
com álcool são dores
convertidas em paixões,
e das paixões vêm outras dores
desconhecidas,
o jovem as têm em demasia,
o ancião as olha já com
bastante filosofia.

Não vejo o sinal de alerta
pelo corpo e pelo vinho
de que Deus é feito.
Sinto sofrer no astrolábio
vincos de paixonite
desandada,
suspiros de donzelas
defloradas.

Tenho e sinto o absinto,
o abismo que sinto
ab-sinto sem me
machucar,
pois as feridas doem
e deixam cicatrizes
no corpo ébrio
que vive o instante
sem beber a taça
com que a morte
fita seus olhos.

26/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

sexta-feira, 25 de maio de 2012

AMOR E EXTERMÍNIO

Ao som do extermínio
sobrevive o poeta,
com asco do infortúnio,
com pele de leão
e dentes de tigre,
percorrendo o holocausto
e a noite da sangria,
comendo as dores
na desdita dos horrores.

Faz-se de bobo, no entanto,
desperto e pronto ao bote
qual serpente no rocio,
vestes de esmeralda,
mar de safira,
rios de ametista,
fontes de ágata
no condoído e singrado
azul topázio
de sais ao convés
da morte.

Fúlgido redemoinho de sonhos,
qual nau fumegante
habita em meus olhos?
Quais singradores deste mar
irão sangrar?
Já não me basta o poema,
já não me basta o acorde,
e de nada basta
o delírio.

Venha, soldado da campanha,
a montanha se veste de aurora,
as cores matizadas de pigmentos,
os momentos sem fim
que o poeta escreve,
são catarses
deste poeta vil
que a vilania
tanto afunda
quanto funda
numa morte
e depois desta vida
o espírito do verbo
desvendando o segredo
que é incógnito
como a arte
que nunca sofreu
por amar em demasia.

25/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)


AURORA DOS INFORTUNADOS

Verei, através do espelho,
guarnições de meus olhos
em sequioso sonho
de arrebol.

Aurora, da vida intempestiva,
da vida intolerável,
do egoísmo fundamental
do poeta,
da glória à luta inglória
e os estertores
de uma paixão louca
que morre
sem gritar.

A plenitude reverte o futuro
em sombras e cinzas,
e eu esquento minha pena
sem pena
dos humanos
que não entendem nada.

O ego e a aurora,
o sol como a vaidade da luz
que rejeita a escuridão
onde morrem os sonhos.

25/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

A CULPA HIPÓCRITA

A culpa é um sentimento hipócrita.
A culpa é o arder da memória.
Má-fé é um jeito torto
de não ser culpado,
As leis sopesam as culpas,
mas que culpas
são indesculpáveis?
Seremos sonhos de uma mente universal
sem culpa?
Seria Deus o culpado
de todas as culpas?
Seria Lúcifer ou Eva
os maiores culpados?
Seria a religião
esta moda tão culpada?

Me desculpa,
mas disso
não tenho culpa.

25/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)


DESVELAMENTO

Quando cada gesto
se torna refém
dos enigmas,
eu olho de través
ao convés
das naus sem rota
da minha urna rota
de poemas
que nascem
               e morrem
                          por temer
                          o temor
                          o fulgor
                          olor
                          aos loas e cânticos
de meus arroubos
                febre de poeta
                          pois poesia
é um gesto descarado
          de desvendar enigmas
          através de enigmas ...

25/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)      

O SENTIDO INCERTO

Vejo meu mal,
odor de carmim,
não sei ao certo
de mim,
o que é correto por vós
não me deu nada
de certo para mim.

Eu amo o incerto,
a incerteza é a alma
do poema,
o desejo é o senhor
de tudo que deu errado,
pois, por dar errado,
é muito visto
como o que ainda
não deu certo,
mas o incerto
é a única certeza
do mundo,
o mundo sem fundamento
e a crítica vazia
de que os poemas
riem na noite sem fim.

25/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

A ILUMINAÇÃO POÉTICA

A luz propagada pelo piano de Liszt
me emociona, canto fálico
de arte premiada,
como do outro lado também vivia
Chopin.
Das rútilas febres de Mozart,
eu caminhei em minha vitória
no sétimo céu azul
de Dies Irae,
no ritmo retumbante
ao sublime olor
de Confutatis.

Recobrei a minha consciência
depois de um surto de
musicistas.
            Olhei Jano bifronte
                   desdenhar
                de   minhas     serpentes
                        como crânios
            como o Delta do Nilo
            como o sonho de Osíris
            à traição de Set,
            ouço rumor de exércitos
            numa paz do oceano
            à terra desbravada
            por ingleses colonialistas,
            vejo Rosas da Ordem dos Fugitivos
            em noite sem parcimônias
nas feras indômitas
            que viviam no cérebro de um Beethoven.

Vai e vem "Mazeppa" de Liszt
enquanto nasce o poema,
eu vou e volto de rapsódias
que nem sei mesmo de onde
vieram,
rumo aos silêncios impenetráveis
de um recôndito da alma
de Apollinaire,
um assassino Villon
fugindo para sumir
sem vestígios,
um naufrágio que acaba
com Percy Shelley
ao choro inconsolável
de Lord Byron,
e uma ametista
no bolso do meu desamparo
em crise delirante
quando leio
poemas cavilosos
de Whitman,
além dos sabores
de um recheio metafísico
em Padma,
o deus tibetano
nascido do Lótus,
e a grande liberação
como a promessa filosófica
do mantra Haum.

25/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

NOTAS SOBRE FEBRES E MANDALAS

Enquanto a sombra se mescla
aos "ais" da alma,
com uma peça sutil rútila
de tuas ancas febris,
meu sino toca aos olhos da
peste,
resta auréola sem rima
nas catedrais góticas,
no passeio livre de além-mar,
nas noites incontáveis
da beberagem roçando
os pintores de abadias,
rumina o castelo
na dor da minha barriga.

Enquanto espero, vou ao vale
do mar oceano onda finda
com o karma enlouquecido
da cantoria roufenha,
vigiei os matizes de épocas
tardias, de poemas tardos
ao fardo do enfado crasso.

Olhos ao horizonte parcimonioso,
retira dos dejetos dos desejos dos
ensejos de ensaios de desmaios.
Olhos d`água por chorar
o retiro espiritual
de uma meditação tântrica
de mandalas.

Ouça o canto do rouxinol
em diamante e safira
no encontro das dálias
enfurecidas de azul e abismo.

Enquanto grito, uma miríade
de pestes bubônicas
remenda os sonhos partidos
como uma noite de doença sepulcral
nas nuvens de um demônio negro.
Desvia-se das quedas,
rumoreja na orgia báquica
da bacanal das pedras,
olha a violeta desdentada
da vida feroz
em furibunda
revoada.

Enquanto não entendo
nada desta lírica
que não encanta
a minha alma,
lírica de sonho podre
com canções embonecadas
de poetastros
aos astros que fogem
de medo à pena controversa,
e este grito meu
que é o grifo fundamental
do poema que encarno
pelo bem de mim mesmo.

Não desejo o caos do mundo,
apenas quero muito o caos em mim,
o caos das ardências argênteas
devoradas de famélica unção,
enquanto o sublime me invade
em harmonias de Mozart
antes de seu colapso.

25/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)