A geração beat floresceu na literatura e na vida americana como uma afirmação de liberdade criativa que inovou todo o cenário da cultura e da arte feita até então, tanto nos EUA, lugar de referência deste movimento, como depois na França e de forma menos intensa em outros lugares. Houve até a influência do jeito beat de se vestir na moda, pois o estilo de escrita, de viver e da aparência um tanto diferente para os padrões até então conhecidos, trouxe um novo ar de aspirações para as gerações que vieram depois desses poetas, escritores e boêmios que, numa prosa espontânea, revolucionaram toda uma época. Na sua sede de vida e de liberdade plena, tiveram a influência direta do Jazz, sobretudo da vertente Bebop, de mestres como Charlie Parker e Dizzie Gillespie, que determinou o estilo de escrita desses jovens da geração beat que se firmava nos anos 50.
Além de Jack Kerouac, que escreveu o maior clássico beat, o romance On The Road, também havia outros caras tão brilhantes como ele. A grande síntese do estilo beat estará, sobretudo, na figura de Neal Cassady, o qual será o modelo ideal de vida de Kerouac, e que aparecerá na santa figura de Dean Moriarty no romance em questão. Dean Moriarty é Neal Cassady, assim como outros personagens serão representativos de pessoas reais neste romance. Lembrando que há uma mistura de ficção e realidade em On The Road, em que Kerouac transforma suas memórias em literatura. Rezando a lenda, nem tão lenda assim, de que sua primeira versão, em muitas partes censurada e corrigida pela editora Viking Press, quando da sua publicação em 1957, fora escrita em três semanas em um rolo de papel de 36 metros, o que foi afirmado pelo próprio Kerouac em uma entrevista.
Outros da sua geração que se destacaram, além da figura mítica de Cassady, que não teve uma produção grande, mas que foi, sem dúvida, um dos mais beats de todos eles, foram o mestre William Burroughs; o maior poeta dentre eles, Allen Ginsberg; além de Gregory Corso, Gary Snyder, algumas mulheres como Diane DiPrima, e o grande divulgador da literatura beat, o editor e também escritor Lawrence Ferlinghetti.
O mito da estrada tomará corpo em On The Road de Kerouac (na versão brasileira como Na Estrada) e se tornará a fuga e o encontro ideal da alma beat com sua verdade, ou seja, a viagem pela estrada como liberdade e autoconhecimento. A libertação pela vida na estrada já fora tematizada na literatura americana, mas o vigor beat, o qual se consuma em On The Road, é algo inédito, pois vinha de um ideal de renovação de toda uma concepção de vida e de escrita, a vida e a arte num improviso de Jazz. Toda a pulsação do “It”, o que poderia ser traduzido como um alcance ontológico da essência, quando tudo se torna um, e o músico e seu instrumento, tal como no Jazz, ou o escritor e sua escrita, transcendem qualquer cálculo e se tornam uma unidade perfeita, seria o grande objetivo de toda arte.
A aplicação do Jazz como modelo para a escrita beat fora praticada com muita intensidade por Kerouac. Ele encontra uma forma de escrever que lembrava a música sincopada dos grandes mestres do Jazz, sua escrita objetivava ter esse efeito estético que era realizado pelos músicos do Bebop.
On The Road é uma aventura de jovens que queriam se divertir e se descobrir na estrada, toda a liberdade em busca de um Oeste ideal permeia todo o enredo deste romance de Kerouac. Old Bull Lee em New Orleans era William Burroughs; Sal Paradise, o narrador em primeira pessoa do romance era o próprio Jack Kerouac; Dean Moriarty era Neal Cassady, como dito acima; e Carlo Marx era Allen Ginsberg, só citando aqui os maiores.
Do encontro da turma em Denver até uma viagem alucinante com Dean Moriarty com o pé no acelerador para chegar enfim onde não havia mais estrada, o extremo Oeste americano, e depois de encontros e desencontros entre Sal Paradise e seu ídolo Dean Moriarty, passando pelo México e voltando a Nova York com Sal Paradise (Jack Kerouac) já como um escritor de sucesso, este romance é leitura indispensável para entender a geração beat e sua influência na cultura americana e por que não do mundo da literatura. Kerouac sintetizou todos os sonhos de sua geração neste livro fundamental para quem tem fome de liberdade.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link do artigo na Século Diário:
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