PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

FLOR LIBERTA

As ferragens dos pés
no claustro
de épocas
mortas e vivas,
e memórias vivas
mais que vivas
na vida presente
dos fatos futuros,
o vidente era o capitão
da nau nas ilhas de verão,
o general na terra devoluta
poria nos arrabaldes
da cidade sitiada
seu coração de chumbo
para que as máquinas
trabalhem duro
na dura carne,
para que não esmoreçam
na hora do ataque.

E os desvãos da filosofia
só se reuniriam em corpo pronto
na pena da poesia.
Enquanto o sol risca os olhos
do horizonte do crepúsculo
como uma flor potente
que acorda o coração
do torpor,
e a vida sem dor
pode na velocidade do som
inaugurar sua liberdade.

22/08/2012 Libertação
(Gustavo Bastos)

DANÇAS LASCIVAS

A copa densa da alma
como planta-caule
lembra a vasta floresta
que os ares cobrem.

Flor da malta devassada
em gritos de horrores
que os faunos davam
na luz da poesia.

Como colheres com carnes vermelhas
no meu ácido de meu carbono iridescente,
como naves de suntuosos bares
nas divergências entre
poetas alcoólicos,
como selvagens tropas
aniquilando
os poderes da astúcia,
como ladainhas de serpente
no sibilar da luxúria.

A alma densa condensada
em copo de crânio,
a alma imensa como vinho
na taça da longevidade.

Veria alma separada
pelos acordes
como exames
de corpo na luz
do raio cirúrgico.

Dançando na chuva de música,
aleluias eram fardos
de metamorfoses,
lucidez era o luxo
dos que nunca
saberiam enlouquecer,
sabedoria poderia
ser rima de uma menina
no meu espelho
que fere meu peito
de amor germinado.

22/08/2012 Libertação
(Gustavo Bastos)

POEMA DE LUA

O universo olha
o corpo esférico
de um poeta-sol.
O poeta-lua
chamava
o poeta-terra
para avisar
ao sol-poesia
da luz imortal
que rege a natureza.

E as lutas botânicas
dos pássaros
matavam
os caçadores
no buraco
das areias.

E as calefações
da fumaça
eram sombras
em monturos
de lágrimas
no choro do sal
que saía
dos olhos
da flor mortal
da alma pura.

Era o poema-sol
vasta terra
nas dores da lua.

22/08/2012 Libertação
(Gustavo Bastos)

SATURNO EM BRUMA

Enquanto esperava
por Saturno
nos anéis
dos satélites,
meu corpo-fogo
debandava-se
ao sinistro
da orgia,
e os ossos de meu cadáver
oscilavam em delírios
numa febre de infinito.

Vastos sonhos de outrora,
luz da magia branca
nos solos da mãe terra
a ver capitães
no sol do verão,
vinhos latentes
na dor da poesia,
gritos somente
na pátria da fúria.

Saturno, liga de metal
de suas rosas amarelas,
cantava como rouxinol
na praia de seus anéis,
e eu amava suas luas
como mulheres nuas,
e eu amava como se ama
no fim de uma película.

22/08/2012 Libertação
(Gustavo Bastos)


UMA VOLTA NA TERRA

Novamente, na dor do bruxo
o meu castelo enigmático,
um querer debalde.

Na vinha e no cais
o intramuros
das fugas
fora do muro.

E o murro, qual burro,
na face do urro.
E as mesas e toalhas,
talheres translúcidos,
bebês agonizando
no pasto
do fundo
do prato.

E a canalha boêmia,
vestes vetustas,
horas carnudas,
vozes mudas.

Novamente, o enigma da bruxaria,
o segredo da feitiçaria,
o malho sublime da orgia.

Eu era o meu caos no teu caos
no nosso caos
de corações
sem fôlego.

A dor do fogo, indolor.
A cor do olho, o meu amor.

Veria as fadas maculadas
no sabá de Mephisto,
veria nuvem na horda
e as tempestades,
veria o meu ato libidinoso
ser entregue
a hospícios
de vidros loucos,
delírios sem sentir
a náusea,
vertigens de paisagens
como eram naquelas
viagens,
morte súbita
na barafunda
dos corpos
sem ar ou carne,
apenas osso
do ócio
no templo
virtual
dos sonhos.

Apenas isso,
luz louca
de diamante
nos dentes
da paixão.

Fundas Europas,
vastas Áfricas
no meu coração,
Américas nos
meus braços,
Ásia na imensidão,
e Oceanias
sob os meus pés.

Veria mar, Atlântico
tão Pacífico
quanto a flor
do Índico,
e o Ártico
no gelo
antártico
dos frios
da alma.

22/08/2012 Libertação
(Gustavo Bastos)