PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

ESPANTO DA FATURA

Breve o capítulo dos novos ricos:
15.000 de salário por 6 meses,
300.000 em três dias,
um centavo por um ano.

Tenho vinte terras devolutas,
sete jardas delirantes
no campo,
sóis agrários e super-faturados.

lavo toda a minha indecência
com os miasmas de guerra
no alto do topo do clímax,
ápice fênix ônix,
zênite
      de meus lugares desconhecidos,

os recantos de uma alma brotada
no espanto.

06/11/2015 Gustavo Bastos

UM FAROL EMBRIAGADO DE SOM

A música é um farol de embriaguez.
Que máquina de estalo e vida!

Jaz no severo barco à Caronte,
treze meses de dilúvio,
o mar albor de suicídio
e seu esgar
            de nave d`água.

Componho na lua astuta
de amores sobrevividos.

Escalo a montanha
com os pés em fogo
e as mãos como íncubos
na pedra e no ventre.

Ventila este rock antigo
como tremor de terra
nos dilúvios de paixão
e fogo.

A música é bêbada e tonta,
da qual a poesia
é um espelho
lusco-fusco
de vítreo verso.

06/11/2015 Gustavo Bastos

DORME MENINA

Incrível como o esforço
é um pássaro de prata,
do muque o viço
que tilinta
de metal!

Para a luta feroz
uma batalha febril.
Para o albatroz
o céu de anil.

Conversas múltiplas no travesseiro,
um crepúsculo de sesta
dormitada
em vinho,
que és tão bela
como um luar,
no esbelto torpor
de lilases
e rosas plúmbeas
no ardor
do meio-dia,

e a noite já finda,
está como rouxinol
nas horas profundas
do despertar.

06/11/2015 Gustavo Bastos

HORÓSCOPO

Ventos capricornianos:
seu dia será de sol,
a montanha que tanto prezas
está com neve,
desça à praia,
se lhe convir.

O céu anuncia que deverás
ter cuidado com as palavras,
os dizeres de seu estalar de dedos
terão que ser contidos e lacônicos,

como se está na flor da idade,
um bom vinho tinto
vem a calhar,

atenção aos dramas do álcool,
beba somente com a mesa posta,
delicie-se com os esmeros
de sua amante,

não trate seus familiares
como porcos,
beije a mão de seus filhos,
não corte relações ainda,

o dia é propício
para concórdias
infinitas.

06/11/2015 Gustavo Bastos

FESTA SOCIAL

Ah, estes sapatos me apertam os pés!
Este terno bem cortado
me sufoca!

Na beca, ao estilo escorreito
de poeta-esteta,
de escritor-estrela,

ah, como sou bobo ao ler
o que está lá,
                  no horizonte
                                 do silêncio
                      profundo.

Me digo poeta como um devedor
de sonhos.
Me sonho escritor como um credor
de realismos cotidianos.

Já que devo à minha alma
um pouco de sedução,
que as bocas falem menos
e beijem mais,
que os corpos sejam verões
de um arrebol
de porres noturnos.

06/11/2015 Gustavo Bastos
                       

FUMAÇA INTERIOR

Creio que sei de labirintos
em que todos se perdem.
Esta desbotada hora
da desordem,
                  os calcanhares doídos
                  da caminhada.

Pois creio em ti toda a vida,
pois de vida creio em todo
o sabor que vou sabê-lo.

Destes labirintos carcomidos
a pupila dilata em delírios.

Como o prato fumegante,
sou um grande poeta
de dores vãs.

Da onda matinal, ao olhar d`aurora,
creio em ti no meu paladar
de infante,
com suores frios
de noite,
com retinas fúlgidas
no crepúsculo.

06/11/2015 Gustavo Bastos

UM POUCO DE FERNANDO PESSOA - PARTE III

Poema de 1928, Tabacaria está localizado na obra de Fernando Pessoa na terceira fase de seu heterônimo Álvaro de Campos, da dita fase intimista. A profundidade das sensações e reflexões desta fase se juntam, por tal gravidade existencial, a um pessimismo, já com sua tonalidade moderna, versão diferente do spleen clássico que podemos ver, por exemplo, em Baudelaire. A melancolia dá lugar aqui à angústia moderna já como sintoma histórico do pós-guerra da década de 1920. O autor, neste poema Tabacaria, por sua vez, retoma o tema do cansaço, da inquietação diante do que é desconhecido nesta condição humana nossa tão precária diante da imensidão de tudo que há. Tabacaria é o exemplo mais bem acabado do último período criativo de Álvaro de Campos. Também é o poema que fecha todo este ciclo com chave de ouro. É o ápice do heterônimo Campos, pois reune em um só poema todas as características presentes nos outros poemas deste heterônimo de Fernando Pessoa.
No poema é predominante o niilismo, o sentimento de revolta e inadequação, conflito não só do heterônimo Campos como também do próprio poeta que lhe dá voz, Fernando Pessoa. O inconformismo, a desumanização e um deprimente vazio, resultando numa desilusão própria dos tempos pós-guerra, é um dos reflexos mais intensos e que dão o sentido tanto de Tabacaria como de todo o percurso poético de Álvaro de Campos. Tabacaria é um poema moderno, caracterizado por versos livres, versos que Ricardo Reis, outro heterônimo de Pessoa, em um apontamento no livro `O Eu profundo e outros eus` diz o seguinte sobre Campos:
"O que verdadeiramente Campos faz, quando escreve em verso, é escrever prosa ritmada com pausas maiores marcadas em certos pontos, para fins rítmicos, e esses pontos determina-os ele pelos fins dos versos. Campos é um grande prosador, com uma grande ciência é o ritmo da prosa, e a prosa de que se serve é aquela em que se introduziu, além dos vulgares sinais de pontuação, um pausa maior e especial, que Campos, como os seus pares anteriores e semelhantes, determinou representar graficamente pela linha quebrada no fim, pela linha disposta como o que se chama um verso."
Por sua vez, nos primeiros versos (Não sou nada/ Nunca serei nada./ Não posso querer ser nada), já temos evidente a descrença presente em relação a si mesmo e em relação a tudo durante todo o trajeto do poema Tabacaria.. O Eu-poético sabe que só o que possui são sonhos. ( ...tenho em mim todos os sonhos do mundo.). A divisão entre sonhos tão intensos (todos os sonhos do mundo) se choca com uma realidade prosaica de uma simples tabacaria, dando então, neste viés cotidiano, todo o seu ritmo moderno, que é a forma e o corpo de todo o poema Tabacaria.

TABACARIA
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
Álvaro de Campos, 15-1-1928

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário: http://seculodiario.com.br/25634/17/um-pouco-de-fernando-pessoa-parte-iii

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

A NAVE

   Allan Kautner nasceu na São Francisco dos anos 1940, mais exatamente no dia de 3 de agosto de 1944. Aos dez anos ganhou um violão de presente de seu pai e começou a ter aulas de violão e guitarra com o primo de seu pai. Allan estudou por cinco anos com este primo de seu pai, tinha começado a dedilhar também o piano a partir dos quatorze anos, e aos quinze montou uma pequena banda, era um power trio de nome Sketches, com ele no vocal e guitarra e mais seu amigo da escola Paul Konnen no baixo e um baterista achado por um anúncio de jornais, Billy Blue.
   O Sketches teria vida curta, com dois anos de shows de garagem e uma fita gravada com três músicas. Em 1962 o Sketches daria lugar ao berçário do que seria sua superbanda em 1965. De 1962 a 1964 a nova banda Sunrise tocou por toda a Califórnia, tinha Allan Kautner no vocal e guitarra, Billy Blue agora como baixista, Dude Gilles na bateria e a moça Jana James no piano. Paul Konnen tinha ido cantar e tocar guitarra em outra banda, uma tentativa de dar continuidade ao Sketches, numa banda louca de nome Acid, até que em 1965 o Sunrise gravou um disco com 5 músicas e acabou um mês depois ao se fundir com o Acid, sendo criada então a superbanda Acid Sunrise, com vocais divididos entre Allan Kautner, Paul Konnen e Jana James, com Allan e Paul com suas guitarras e Jana no piano e teclados. Billy Blue não foi para a nova formação, resolveu tocar trompete numa banda de Jazz. Dude Gilles não entrou no novo projeto por ser considerado fraco para as novas exigências da banda Acid Sunrise. Entrou então o baterista do Acid, o ainda garoto de quinze anos John Rain. O baixo foi preenchido por aquele que seria o melhor e mais louco integrante da superbanda, Keith Black, que era um negro egresso do Jazz.
   Em 1966 tinha saído o disco de edição limitada do Sunrise que não deu muito resultado e que tinha sido todo financiado pelo pai de Allan. Mas agora as ambições com o Acid Sunrise eram enormes, e todos os músicos da banda resolveram se enfurnar na mansão do pai de Allan, dentro de uma garagem, para compor “as melhores músicas do mundo”, segundo queria fazer Allan. Foi um trabalho da banda, sem dar shows ainda, de uns quatro meses que resultaram em quinze músicas prontas e mais uma infinidade de lados B. Tudo gravado em estúdio caseiro e que seria uma tiragem de cem cópias para vender nos shows que foram de maio de 1965 até novembro do mesmo ano, resultando num contrato com a RCA Victor e um show de divulgação no The Matrix em São Francisco.
   Em julho de 1966, depois de 2 meses de gravações, com as dezoito músicas num álbum duplo, sendo o segundo descartado para gravações seguintes, tinha-se então um LP novinho em folha com dez músicas, oito da fase de garagem e duas composições novas já na RCA, sendo o álbum do Acid Sunrise intitulado “California Feelings”. E claro que todas as oito músicas da fase de garagem tinham sido retrabalhadas, tudo com o toque de gênio do produtor, Victor Bailey.
   A banda Acid Sunrise tinha agora um disco que era um petardo psicodélico, junto com uma máquina de divulgação da RCA Victor que tinha certeza que estava com uma pérola nas mãos. Em julho de 1966 sai o “California Feelings”, e com uma série de dez shows no The Matrix, é sucesso imediato.
   Allan Kautner e Paul Konnen já se aprofundavam, a esta altura, com suas experiências com o LSD, com Jana não gostando muito de sua “primeira viagem”, resolvendo ficar com a maconha que lhe dava boa inspiração. Enquanto isso, Keith Black trazia a sua heroína direto das entranhas do Jazz, com John Rain aos dezesseis anos só com sua bateria e uns porres de vinho, nada demais, em comparação com a obsessão de Allan e Paul com o LSD.
   O ano de 1966 passa como um rastilho de pólvora e sai o segundo disco do Acid Sunrise, já das sobras de gravação do primeiro, em janeiro de 1967 com o “Station Fun”. A banda vai ao The Ed Sullivan Show em fevereiro de 1967, tocam dois petardos do California Feelings, “Lullaby” e “Wine of Sun”, junto com a música de divulgação do Station, “Abracadabra”. E em junho de 1967 vem a consagração da banda no Festival de Monterrey, já com Allan Kautner dando sintomas de que não estava bem com tanto LSD na cabeça.
   Em agosto de 1967 Jana briga com Allan, Paul Konnen consegue que os dois façam as pazes depois de uma batalha campal que durou de agosto até outubro de 1967. Em novembro de 1967 a banda entra em estúdio para compor para o terceiro e novo álbum. A gravação é marcada pela tensão entre Jana e Allan, sendo que os dois só não explodiam, pois a ascendência de Paul Konnen sobre toda a banda e o trabalho todo era muito forte, mesmo com Paul também se entupindo de LSD. Parecia que a resistência de Paul Konnen com as drogas contrastava com a depauperação progressiva de Allan Kautner, e Jana tinha cada vez mais horror ao LSD.
   O produtor Victor Bailey tinha uma paciência de jó com a banda, pois tudo que saía dali era ouro para ele, mas sua condescendência com Allan Kautner duraria apenas até o fim do trabalho de gravações do terceiro álbum, futuramente ele teria que escolher entre Allan e Jana, e a opção seria óbvia. As gravações terminam em fevereiro de 1968, três dias depois Keith Black morre de overdose de heroína. Jana e Allan têm uma discussão vergonhosa em pleno velório de Keith. Paul Konnen desta vez sai de cima do muro e fica do lado de Jana, decisão na qual é acompanhado prontamente por Victor Bailey que, por incrível que pareça, também era uma peça da ascendência profissionalíssima de Paul Konnen, quando deveria ser o contrário.
   Vendo o caminho que Allan tomava com o LSD, Paul Konnen toma a decisão de parar de tomar LSD e expulsa Allan da banda, com o mesmo quebrando grande parte do hotel em que a banda estava instalada após o velório de Keith. Allan é contido e levado por uma ambulância para tratamento em uma clínica psiquiátrica. Paul fica consternado, e para aplacar a sua culpa, resolve acompanhar a trajetória de Allan com lupa, para ver se ele iria ficar bem, visitando todo dia ele na clínica, mas já sabendo que as portas do Acid Sunrise estavam fechadas para Allan.
   Em abril de 1968, em meio a estas confusões, sai o terceiro álbum do Acid Sunrise, o “Bottom Of The Sea”. Em maio entram o baixista Joe Drunk e o guitarrista Phil Rusk. Allan sai da clínica em junho, mês em que o Acid Sunrise seguiria em turnê já com ele fora dos planos da banda. O Acid Sunrise se confirma como superbanda com o “Bottom Of The Sea”, e Paul Konnen ainda tinha o sonho de ajudar Allan com um álbum solo, que ficaria como uma rainha da Inglaterra, só compondo, mas evitando os problemas das turnês profissionais que agora o Acid Sunrise estava envolvido e com uma visão empresarial de Paul transformando tudo o que tocava em ouro.
   Em novembro de 1968 Paul e Jana decidem que a banda ficaria seis meses em estúdios para o quarto álbum, que seria um LP duplo, e que seria o ápice da carreira da banda. Nesse ínterim, Paul encontra tempo e produz um disco solo de Allan Kautner, “Diaries”, que tem músicas interessantes, mas que não vende bem, e o Acid Sunrise virando só uma mágoa na biografia de Allan, que se sentia abandonado e revoltado, mesmo com as atenções fraternas de Paul, seu velho amigo de infância e de escola, desde o infanto-juvenil Sketches.
   Jana, por sua vez, se recusava a tomar conhecimento de tudo que vinha do assunto “Allan Kautner”. O álbum duplo de Acid Sunrise é composto quase todo pela dupla Paul Konnen e Jana James, resultando na obra prima lançada em junho de 1969 “Soft Paradise”. Com um show antológico no festival de Woodstock em agosto do mesmo ano.
   Enquanto isso, Allan Kautner tinha um álbum solo na mão, mas voltava a dar sinais de que não estava bem. Sua depressão com a saída do Acid Sunrise era toda depositada em Jana James, mas Paul Konnen escolheu Jana, e ficava o tempo todo equilibrando dois pratos, e um para ele estava quebrado, e ele resolveu ficar com o que estava funcionando, pois sua visão de superbanda exigia cabeças poderosas, e não  pessoas sucumbindo, como era o caso de Allan. Jana James era a melhor parceira profissional de Paul Konnen, e Allan Kautner era o amigo de infância de Paul Konnen que o mesmo tinha que, de tempos em tempos, conferir para ver se estava tudo bem, e não estava nada bem o que Allan fazia e pensava da vida.
   Neste tempo o LP duplo “Soft Paradise” resulta no melhor trabalho da banda, e isso depois da fase boa, enquanto durou, com Allan, e os místicos álbuns “California Feelings” e “Station Fun”, e o conturbado, mas de bom rendimento “Bottom Of The Sea”.
   Em janeiro de 1970 Allan Kautner tem uma overdose de heroína, foi quando Paul Konnen descobriu que seu amigo tinha caído na armadilha de Keith Black. O LSD era o medo da loucura e a heroína era o medo da morte, e Paul sabia que Allan agora estava “fodido”.  
   Em 1970 Paul Konnen já tinha deixado o LSD para trás, e se satisfazia de vinho e maconha como Jana James. Pela primeira vez Jana sente pena ao invés de raiva de Allan, quando soube de sua nova internação, pois ela podia achá-lo um merda e tudo o mais, mas não queria que ninguém morresse. E ela lembrava que Keith Black, o cara mais divertido e melhor músico do Acid Sunrise tinha sido levado pelo “horse” (heroína) do Jazz.
   Jana decide visitar Allan junto com Paul. Ela não via pessoalmente Allan desde sua saída da banda, ou desde a briga no velório de Keith. Jana encontra Allan todo entubado e tem uma crise de choro. Paul Konnen ao pegar no braço de Allan vê que o mesmo acorda assustado e aperta sua mão com força, bom sinal, Allan não morreria. Allan melhora e vai para casa. Logo recebe outra visita, desta vez de toda a banda do Acid Sunrise, aquilo era para ver se ele melhorava do baque e acordava para uma nova vida, mas era só uma tentativa, e falhou, pois em abril de 1970, depois de uma festa regada a LSD, Allan Kautner quase morre afogado depois de nadar sem destino numa praia em plena viagem de ácido. É salvo mais uma vez, mas depois disso passa um ano inteiro enfurnado no quarto de sua casa vendo televisão, fumando maconha e tomando LSD, até que Paul Konnen vai visitá-lo já em dezembro de 1971, na véspera do Natal, e Allan surpreende Paul com uma estória mirabolante de que estava construindo uma nave.
   Paul percebe na hora que ele não estava bem, e vai conversar com os pais de Allan, e com o pai de Allan, que conhecia Paul desde os tempos do Sketches e dos ensaios na garagem de sua mansão, pede que ele prestasse mais atenção em Allan, que vivia abandonado em outra casa e que o mesmo começava a “inventar estórias”.
   Paul tinha visto que a nave de Allan não era nada, era um amontoado de peças de metal fundido, uma bagunça que ele havia feito na sala e em seu QG, o quarto. Em 1972 sai mais um LP do Acid Sunrise, “New Toys”, um álbum menos ambicioso que o duplo “Soft Paradise” e completamente experimental, como uma espécie de jam session. E Paul Konnen tem a ideia de produzir mais um disco de Allan Kautner, para ver se ele saía de seu mundo particular e de sua dita “nave”. O resultado é caótico, o álbum “Addiction” é todo produzido e ajudado caridosamente por Paul, mas Allan estava numa degradação que trouxe até Jana James para os estúdios para dar uma força, a briga entre Allan e Jana já havia acabado, pois agora Allan era monossilábico e perturbadoramente introspectivo.
   “New Toys”, enquanto isso, não era para fazer o sucesso de “Soft Paradise”, e sua turnê foi em lugares menores e festivais alternativos com bandas iniciantes. Em 1973 Paul Konnen grava seu álbum solo, com muito blues e se distanciando um pouco da psicodelia reinante no Acid Sunrise. Jana James também grava, um concerto para piano, mostrando sua faceta ainda desconhecida do grande público de musicista erudita.  
   “Addiction” naufraga, Allan Kautner desta vez é meio que deixado de lado, finalmente, por Paul Konnen, que não conseguira, depois de esforços homéricos, dissuadir Allan de seus delírios, e o pai de Allan sabia que interná-lo seria pior, ele era um caso específico, ainda produzia música, mas no meio de incensos e conversas com extraterrestres.
   Enquanto isso, “Diaries” e “Addiction” viram peças de colecionadores, e às vezes tinha uma romaria que perseguia o mítico e recluso Allan Kautner, que só assim deixava alguém entrar no seu palácio, uma mansão que era também de seu pai, e na qual ele morava sozinho, com incensos, maconha, LSD, heroína, e peças de metal retorcido que ele mostrava para seus fãs romeiros como a sua nave espacial.
   Um fã em especial consegue ter acesso maior às viagens de Allan Kautner e grava um depoimento do mesmo com a tal estória da nave, consegue contato com Paul Konnen. Mas, Paul não recebe bem aquela exploração e dá ordens expressas para a polícia para que aqueles romeiros deixassem Allan Kautner em paz. O fã resolve publicar um livro chamado “A Nave” e é logo processado por Paul Konnen, que ganha a ação e o livro é retido imediatamente. Mais uma vez, o tal livro vira peça de colecionadores e apreciadores das histórias bizarras do rock.
   Em 1974, o Acid Sunrise volta-se a mais um projeto ambicioso, o “New Toys” daria lugar a uma transição da banda da psicodelia para uma linguagem mais pop, a mística de “California Feelings” até o grande boom de “Soft Paradise”, dando uma parada na jam session de “New Toys” teria agora um grande salto para o mainstream, decisão feita entre Paul Konnen e Jana James, os chefes da banda.
   Jana James decide então que o produtor Victor Bailey seria substituído por ela mesma como produtora, e Paul Konnen que sabia que os conhecimentos de Jana de música erudita e de sua experiência como produtora com bandas de São Francisco no fim da década de 60, em meio aos trabalhos místicos da primeira fase do Acid Sunrise, ainda com Allan Kautner, a credenciavam para tal, agora a banda Acid Sunrise teria, pela primeira vez, controle absoluto por todo o processo criativo deste novo álbum, já que a RCA Victor sabia que era melhor deixar com a banda do que com a própria gravadora os ditames que seriam colocados para a composição, produção e tudo o mais que representasse o trabalho do Acid Sunrise.
   Depois de um ano inteiro de experiências, gravações, produção incessante, um trabalho minucioso de masterização, em fevereiro de 1975 sai o pop álbum “Machine”. O álbum é o mais vendido da história do Acid Sunrise, superando até mesmo o “Soft Paradise”. Em julho de 1975, em meio a turnê do Acid Sunrise, Allan Kautner tem outra overdose de heroína. Ele é encontrado desacordado em seu quarto pelo caseiro da mansão.
   O caseiro diz que aquele palácio de Allan era uma bagunça total, não se podia andar na sala grande sem tropeçar num pedaço de metal ou por brinquedos montados aleatoriamente pela mente insana de Allan Kautner. E no meio disso havia uns quinze violões, sete guitarras, e um gravador em que se descobriu dezoito horas de composições caóticas e sem nexo. No topo da sala, um cartaz colado com os dizeres “A Nave”. No quarto, três televisões ligadas ao mesmo tempo, e um som com Acid Sunrise na vitrola, ou o que Allan queria que fosse sempre seu, o álbum “California Feelings”.
   Allan Kautner desta vez teve que ser internado, aquela brincadeira toda na mansão estava ficando perigosa, pois tinha uma coisinha chamada heroína no meio daquele caos. Allan fica três meses em tratamento e volta para a mansão em outubro de 1975. A turnê de “Machine” para o Acid Sunrise rende uma fortuna para os músicos, e Paul Konnen e Jana James decidem que era esse o caminho, em 1976 dariam continuidade a novas investidas no mainstream, com a psicodelia como sua imagem cool que havia se encerrado em “New Toys”.
   Desta vez, no retorno de Allan Kautner, seu pai decide colocar dois enfermeiros particulares para tomar conta de Allan para que ele não ficasse sozinho “fazendo o que quisesse”. Em dezembro de 1975, ao fim da turnê de “Machine”, Paul Konnen e Jana James vão visitar Allan Kautner em sua mansão, e encontram aquele cenário de guerra, caótico, e descobrem que Allan havia subornado os dois enfermeiros com um salário mensal extra para deixá-lo à vontade na mansão com seus divertimentos, o que significava: LSD, heroína, composições malucas para o gravador, incensos acesos por toda parte, desenhos nas paredes, brinquedos bizarros montados na hora, e tudo para o seu projeto “A Nave”, obsessão que tomava o tempo de Allan, já numa viagem de LSD permanente, além de doze televisões ligadas no volume máximo com programações variadas. E o álbum “California Feelings” na vitrola como sempre, o que levou Jana e Paul às lágrimas.
   Mas, os dois decidiram que não fariam nada e nem avisariam nada ao pai de Allan, pois se era para Allan Kautner morrer, que ele morresse feliz e se divertindo, do jeito dele. O que viria a acontecer sete meses depois, em julho de 1976, quando Paul Konnen e Jana James gravavam com o Acid Sunrise o seguimento de “Machine” nos estúdios da RCA Victor.
   O fato de “A Nave” se concretizaria numa visão alucinada de Allan Kautner, ele estava no telhado da mansão de três andares, cismou que seria abduzido ali, tinha tomado dez papéis de LSD, subiu ao telhado e viu uma abóbada branca e luminosa se aproximar dele, se jogou em direção à luz e sentiu seu corpo flutuar.
   Na realidade ele caiu do telhado e bateu a cabeça no gramado do quintal, morrendo de traumatismo craniano. A notícia correu como rastilho de pólvora e logo veio aquela romaria típica que sempre o cercou, desta vez com a imprensa, e os músicos do Acid Sunrise consternados. Allan Kautner fez a sua última viagem, não foi levado pela heroína, mas por um disco voador imaginário, “A Nave”, estava pronto o projeto de Allan Kautner, e “California Feelings” tocava no volume máximo na sala da mansão.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Conto – 05/11/2015




terça-feira, 3 de novembro de 2015

AÇÃO DE GRAÇAS

Registro do meu caixa dois:
tenho lavado a minha alma
com óleo cru.
Oh, atormenta o sonho
todo o destino,
este deus de galimatias!

A poesia contenda luta briga
é a valentona
da literatura,
seu soco é livre
e seu nocaute belo.

E passo ao seguinte:
este poema torto de anjo
tem batalhas a dourar o dorso
de força, com baba de amor
e o corpo besuntado
de saliva
com os olhos lacrimais
de um sal de mar
que afoga em óleo cru
na lavagem do meu peito
indócil de revolta,
com meu caixa dois
de presente
no dia de
ação de graças.

04/11/2015 Gustavo Bastos

CAMINHANTE DOS DRAMAS

Toda luz recorta a parede
destas visões.
A que ter o crédito todo
aos curtas-metragens
dos sentimentos penosos,
pois eu acordo de meu
coração absorto, tonto,
deliciado.

A que tantas horas a noite
fumaça do meu peito
tonteia feito serpente
no fogo de fênix,
o fabuloso Esopo
com notas de falsários
numa peça de estelionatários.

Meu salário corrobora
com todos os meus delírios,
compro a prazo e à vista
todas estas visões,
oh, é de cortar os pulsos
todo o desejo acachapante
de ter a queda por abismo.

Eu, tantas vezes reles e vil,
o mais forjado para a
vilania, dourei a pílula
no meu golpe de Estado,
eu, que tenho sido ridículo
ao mais pastelão morto
semi-morto,
sob os mantos diáfanos
dos segredos de polichinelo,
com as sandálias de vento
de Rimbaud como se fosse
eu ao ser brutalmente
esquartejado na Abissínia,
e eu que estou em Nova York
e Déli, em fogos de artifício
no relógio de Londres,
com a cabeça voando no Tibete
por uma mandala de LSD,
tive estas visões
com os meus parcos
dólares de papelão.

04/11/2015 Gustavo Bastos

DELIRIUM TREMENS

Eu vejo que a política dos sabedores
nunca se porta como ases da sociedade.
Deixa o vão desta horda
assaltar à toda
suas astúcias.

O sonho-delírio é riqueza
do coração mais que morto,
decrépito.

Pois, quando se vota o projeto de lei,
um recurso cabe ao corifeu,
e os gritos das eumênides
se dizem contrariadas,
o veto é o silêncio
de todas as almas.

Como é surto todo o albor do poder.
Pois se diz de todas as notícias
o mesmo eterno retorno,
o paraíso fiscal
nunca restitui à moral
sua hipocrisia,
pois desde Lísias e Demóstenes
a oratória é o vinho dos sabedores
destas estultícias, o acorde
altissonante aos gritos de ódio.

O sonho-delírio é o vento
que já ao crepúsculo
destes deuses de barro
o vinho é verdade e poder
dos beberrões,
vultos bárbaros
que avultam
na cúpula
destes sóis
de Ícaro.

04/11/2015 Gustavo Bastos

POESIA SOB NOITE DENSA

Nas máquinas os acordes trovejam.
A poesia é inundada o tempo todo
de temporal.

Meus "ais" corroem todo o esquema,
eu vejo que a clara nuvem d`oiro
está em paz com o universo,
pois o vento lá fora
é o sopro dos quereres
perdidos e achados
de paixões.

Ah! Que o fogo me derreta
em letras de sonho,
no câmbio do infinito!

Ah! Que a sede sequiosa sede
sedenta se dê a rota da seda.

Oh! Os olhos fustigam
as lágrimas como cristais de sal
à luz do sol terroso,
e as vozes das ruas,
sempre suadas,
correm o mundo aturdido
de seus corações ao pulo.

Nas máquinas de sóis como são
lívidas rosas o doce enigma.
Pois, com os corações atirados
à parede (oh!) tem em meus
bem-vindos beijos
um corpo de alma
todo em broto
de madurez.

Pois, a que se tem aqui, ela
e todas as suas manias,
seus badulaques de mulher,
e como lhe cai bem
a sesta em meu peito.

Ah! Que o carnaval todo
nunca é em vão!

Já da queda o dedo na aliança
anuncia,
pois de todo bendito drama
é trama que se ama
de amor marcado
como tatuagem
no coração,

e ao que se deixa ser,
não há revés
diante do eterno.

04/11/2015 Gustavo Bastos