PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quinta-feira, 25 de março de 2021

AS BIG TECHS ESTÃO NA MIRA DA REGULAMENTAÇÃO

“O movimento nos Estados Unidos pode ter motivos antitruste, mas também envolvem  questionamentos sobre impactos na democracia”

A computação teve um grande e intenso avanço que permitiu um maior armazenamento de dados, o que fez as empresas de tecnologia crescerem e se tornarem gigantes, e algumas destas empresas desenvolveram sistemas cada vez mais sofisticados de inteligência artificial.

Este desenvolvimento tecnológico causou um controle de informações, que juntava dados pessoais, e também provocou o controle da publicidade e do conteúdo, e nos últimos dez anos surgiram verdadeiros monopólios de mercado, minando a concorrência na área de tecnologia.

A reação para regulamentar e limitar este controle das chamadas big techs veio neste contexto em que estas empresas cresceram e se tornaram gigantes do mercado mundial, contudo, com iniciativas de diferentes países e regiões do mundo, também com diferentes motivações e objetivos.

As empresas norte-americanas estão sendo questionadas na Europa e no próprio Estados Unidos, e a China, que não tem a presença do Google e do Facebook há anos, temos a tentativa de controlar os gigantes que surgiram dentro da China, como o Alibaba.

O governo norte-americano abriu uma ação federal em outubro de 2020, na direção do Google, depois de um ano de investigações antitruste da empresa, e agora dezenas de estados dentro dos Estados Unidos processam o Google, com a acusação de monopólio ilegal nos mercados de busca online e de publicidade em pesquisas, e temos também o Facebook recebendo dois processos antitruste com acusações de abuso no mercado digital.

O movimento nos Estados Unidos pode ter motivos antitruste, mas também envolvem  questionamentos sobre impactos na democracia e no fluxo de informações online, pois tivemos uma onda de desinformação e parcialidade como uma preocupação nas recentes eleições norte-americanas.

O questionamento passa por quem tem o controle de informações, e o acesso ao eleitorado, e os Estados Unidos passam pelo cálculo nas medidas antitruste no sentido de não perder o controle do fluxo de informações em outras partes do mundo.

Este fluxo de informações tem seu controle exercido justamente pelo grande poder destas big techs na Europa e em outros lugares do mundo. A resistência é evidente, a vantagem que os Estados Unidos possuem deverá ser conservada nestes movimentos.

Na Europa estas iniciativas antitruste e de um controle maior na expansão de poder das big techs já tem mais tempo, o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD) da União Europeia, que foi um divisor de águas nas leis de privacidade, foi promulgado em 2018, e proporcionou às pessoas um maior controle sobre seus próprios dados pessoais.

Em 2020 a Europa anunciou ter intenções de tornar o RGPD mais rígido, e a Comissão Europeia divulgou um conjunto de políticas preliminares que daria aos reguladores mais poderes de combate às big techs.

Tais iniciativas e planos receberam forte apoio político em toda a Europa, o limite está no fato de que tais empresas estão sediadas nos Estados Unidos, o que impede um maior controle europeu sobre as ações destas empresas, pois deverá haver um balanceamento entre interesses europeus e o que não atingiria interesses norte-americanos.

Na China, por sua vez, que trilha um caminho paralelo na indústria de tecnologia, o governo quer ações regulatórias, e aqui temos atores internos, pois Google e Facebook já forma há tempos banidos do país, o que permitiu a expansão de empresas nacionais chinesas como Alibaba (BABA), Tencent (TCEHY) e outras.

Em uma reunião de 11 de dezembro, o Politburo do Partido Comunista Chinês (o principal órgão de tomada de decisões do país) prometeu promover reformas e fortalecer o antitruste, prevenindo a expansão desordenada do capital. Mas ainda é cedo até onde irá o poder de Pequim contra estas empresas nativas, provavelmente o foco será a proteção do consumidor.

O principal regulador de mercado da China convocou representantes do Alibaba, da  Tencent, da JD.com e outras grandes empresas de tecnologia, e lançou um alerta contra dumping de bens a preços artificialmente muito baixos, que teriam o objetivo de criar monopólios, e com um abuso sobre dados de consumidores visando o lucro, e a investigação também teria foco no comportamento monopolista do Alibaba.

O governo chinês também tem outros meios de combate além da lei sobre concorrência, um exemplo foi a sua ação no IPO do Ant Group de Jack Ma, que foi suspensa depois que o bilionário chinês se reuniu com autoridades do governo, e agora enfrenta a possibilidade de uma reformulação gigantesca.

As opções de controle por parte do governo chinês são infinitas, e o objetivo não passa necessariamente por aumentar a concorrência, mas garantir que o Partido Comunista Chinês continue no poder.

As normas divulgadas pela Administração Estatal de Regulação do Mercado da China visam impedir que estas grandes empresas de tecnologia vendam produtos causando prejuízo a concorrentes, e o uso ilegal de dados de consumidores, evitando também sobre estes vínculos a cláusulas de permanência.

A maneira usual de fazer negócio dos grandes conglomerados do país, que incluem  Alibaba, Ant Group, Tencent ou a plataforma de entrega de comida Meituan, seriam bastante limitadas com este novo marco. E depois desta ação sobre o IPO do Ant Group, estes estão agora na mira do governo chinês.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/colunas/as-big-techs-na-mira-da-regulamentacao   

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

domingo, 21 de março de 2021

LORDS OF CHAOS – A SANGRENTA HISTÓRIA DO METAL SATÂNICO UNDERGROUND – PARTE V

“o Bathory conseguiu criar o rascunho para o black metal escandinavo em todas as suas diversas facetas”

As bandas Venom, Mercyful Fate e Bathory foram as pioneiras no que deu inspiração e sustento para o som que caracterizaria as bandas de black metal dos anos 1990, estas bandas, ainda nos anos 1980, plasmaram a temática e a sonoridade que, depois, seria desenvolvida pelas bandas norueguesas, por exemplo. Podemos, mais arbitrariamente, incluir também bandas como Hellhammer, Slayer e Sodom.

O Venom surgiu entre 1979 e 1980, em Newcastle, na Inglaterra, e os membros da banda adquiriram pseudônimos, o que seria uma prática de muitas bandas de black metal, depois, nos anos 1990. A banda então se formou como trio, com os músicos Cronos, Mantas e Abaddon. Uma música exagerada e anormal logo surge, com Abaddon dizendo que as fontes do som vieram de bandas como Black Sabbath e Deep Purple.

No livro Lords Of Chaos, podemos ler : “Além de serem os pioneiros de um som mais sujo do que qualquer outra banda de rock ou punk da Europa da época, a notoriedade do Venom era duplamente assegurada pelo seu elaborado endosso do satanismo a um grau que causaria sonhos molhados em inquisidores medievais”.

E segue o livro : “Tais polêmicas reverberam com seus fãs, e os antigos álbuns do Venom, Welcome to Hell (1981), Black Metal (1982) e At War with Satan (1983) chegaram a vender centenas de milhares de cópias ao longo dos anos. Com o título de seu segundo álbum, Black Metal, um estilo futuro de música satânica havia encontrado seu nome.

O disco também talhou em pedra alguns dos aspectos essenciais do gênero. O principal seria uma política declarada de oposição violenta ao judaico-cristianismo, uma blasfêmia interminável, e o abandono de qualquer sutileza em benefício de uma teatralidade grandiosa que balançava na beira de um abismo kitsch e caricatura própria”.

O Mercyful Fate, também uma banda que se desenvolveu na década de 1980, tinha em seu vocalista King Diamond um leitor de LaVey, a banda que teve seu som influenciado por bandas clássicas como o Black Sabbath e o Deep Purple, combinado com um vocal operístico de Diamond, com dois álbuns principais em seu bojo, o Melissa, de 1983, e o Don`t Break the Oath, de 1984, com histórias de ritos mágicos, pactos quebrados e suas consequências e declarações de credo satânico.

A atuação teatral de King Diamond nos palcos vinha com uma pintura facial preta e branca, e como lemos em Lords of Chaos : “Diamond é um dos únicos artistas do metal satânico dos anos 1980 que era mais do que um poser usando uma imagem demoníaca para chocar. Entre sua abertura para falar sobre seu engajamento pessoal e o teatro mascarado da sua persona de palco, sua influência seria óbvia na ressurreição do black metal com sangue novo entre 1990 e 1991”.

Em Lords of Chaos, temos então o livro descrevendo as origens da banda Bathory, no que temos : “O grupo sueco Bathory, junto do Venom, foi inaugural na evolução do black metal moderno. O Bathory tirou seu nome da “Condessa de Sangue” Erzebet Bathory, uma nobre húngara do século XVIII que foi julgada pelo assassinato de centenas de garotas jovens, em cujo sangue ela supostamente se banhava para manter sua beleza juvenil.

É muito provável que uma canção antiga do Venom, “Countess Bathory”, do álbum Black Metal, tenha sido a inspiração direta para o nome, já que o Bathory deve muito da sua sonoridade e aparência inicial aos ingleses fundadores do black metal. O motor por detrás do grupo é um homem que usa o nome artístico Quorthon (curiosamente, o Bathory nunca em sua carreira tocou um show ao vivo para o público)”.

O Bathory surgiu com um som ainda mais potente do que era o Venom, uma música que veio como um arsenal de distorção, no livro podemos ler “a seção rítmica hipermovimentada fica borrada até se transformar em um turbilhão rodopiante de frequências – o pano de fundo perfeito para os vocais vociferados de natureza indecifrável”.

Em Lords of Chaos, podemos ler em seguida : “Conforme o Bathory amadureceu ao longo dos seus álbuns seguintes, The Return ... (1985) e Under the Sign of the Black Mark (1987), a música desacelerou notavelmente, as canções ficaram mais elaboradas, e os assuntos começaram a comunicar um grau de sutileza e ambiguidade que estava a quilômetros de distância dos primeiros singles. A essa altura, ocorreu uma notável mudança de foco que, da mesma forma que o primitivismo do primeiro álbum, também influenciaria profundamente a cena black metal do futuro”.

Em 1988, o Bathory lança o álbum Blood Fire Death, com uma sonoridade ainda potente e barulhenta, mas saindo da temática de um satanismo infantilizado, e entrando na seara do paganismo com foco nos antepassados escandinavos, sendo que esta exploração de arquétipos ancestrais seria  um dos eixos centrais que inspirariam bandas de black metal que surgiriam anos depois, se tornando um componente essencial do gênero.

Em 1990 sai o álbum Hammerheart, que coloca foco na exploração da mentalidade de um praticante da religião Ásatrú na Era Viking. Ásatrú que é traduzido por “lealdade ao AEsir (o panteão de deuses nórdicos pré-cristãos), segundo o livro Lords of Chaos, “é a palavra moderna para o ressurgimento  e a reconstrução das crenças religiosas dos europeus nórdicos e teutônicos do norte do continente.

Ela é frequentemente acompanhada por um forte ódio ao cristianismo, considerado uma religião estrangeira que foi imposta aos antepassados sob ameaça de morte”. Em Hammerheart temos músicas mais longas e um vocal mais claro, com cantos corais.

Segue a narrativa de Lords of Chaos : “O último lançamento da “trilogia Ásatrú” do Bathory veio em 1991, com Twilight of the Gods, que enfatiza ainda mais os elementos musicais de composição clássica europeia.

Os temas das letras eram inspirados pelos terríveis alertas de Nietzsche sobre a doença espiritual que afetava a humanidade contemporânea. Além disso, elas continham também referências veladas às divisões da SS da Alemanha na Segunda Guerra Mundial na canção “Under the Runes”, que Quorthon admite ser uma provocação deliberada”.

E podemos encerrar a análise sobre o Bathory, aqui, com mais um trecho de Lords of Chaos : “Apesar de não estar consciente de sua própria influência, o Bathory conseguiu criar o rascunho para o black metal escandinavo em todas as suas diversas facetas :

Da cacofonia alucinada à grandiloquência melódica orquestrada : da farra nos excessos da adoração medieval ao Diabo à explorações profundas do paganismo viking : das inspirações das tradições europeias ao flerte deliberado com a iconografia fascista e nacional-socialista. Os primeiros seis álbuns do Bathory resumiriam os temas que causariam uma erupção sem precedentes na juventude da Escandinávia e de outros lugares do mundo”.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/cultura/lords-of-chaos-a-sangrenta-historia-do-metal-satanico-underground-parte-v