sábado, 18 de dezembro de 2010
O DIA EM QUE MORREREI
Nunca saberei de que maneira morrerei
se vou deixar os meus iguais tristes
nunca sentirei a pálida sensação dos que enterrei
onde posso sentar-me em nuvens agrestes
Nunca morrerei sabendo se vou pairar
no alto da madrugada com o sabor da terra na boca
ou se encontrarei o símbolo da vida no mar
e se terei tempo para a minha noite louca
Nunca ouvirei os pássaros após este fato
vou me embora sem tempo de acumular os dividendos
vou sair por aí numa nuvem preta como um rato
acabar com os meus poemas apenas como elementos
Nunca arrumarei os livros que posso ler
numa ordem lógica dos rumores que eles guardam
e apenas morrerei sem saber se posso ainda ver
os olhos de minha amada que na noite se fecharam
Nunca levarei em mim o amor pétreo
de uma redoma chamada mistério
Nunca saberei de que maneira morrerei
qual o dia e em que espírito estarei
nunca vou mudar até este dia
onde a guerra fará sua armadilha
28/02/2009 Gustavo Bastos
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SENTIMENTOS INÚTEIS
Nesta paixão que me devora
vou seguindo o idílio e esperança
de um dia te ter nos raios da bonança
numa paz que já em mim é a tua memória
Paixão da vida devorada em sândalos
primeira fêmea despida nos ardores
em que canto a liberdade em clamores
nos meus amores que foram escândalos
Nasci de um parto partido de luta insana
fui o meio do caminho em uma dor profana
Mel da flor sou o teu trovador
o teu fulgor na casa dos meus vinte anos
anos de feras e fantasmas dos campos
uma vil flor do meu amor
Nesta paixão nasci de um parto sério
na vida que devora o fundo mistério
Sou o acaso e o ocaso de um bruto sentido
vida sentida em pavor com os ares dançantes
das minhas canções em tuas curvas insinuantes
onde posso me refestelar em teu gemido
A paz que já não me habita e me consola
é uma paz que foi embora plantada numa estaca
onde o coração transborda uma adaga
que me mata e me esfola
Antes de te perder para todo o sempre
sou a vida remota de um nubente
Sou a semente no acaso do ocaso
ocultada pela nuvem infernal
de um karma déspota e imoral
fruto do meu trabalho e roçado
Me devora a paixão de uma estrela brilhante
e eu a esqueço já agora no meu peito vacilante
23 de janeiro de 2009 (Gustavo Bastos)
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PALAVRA ASSENTADA
Completo serei com o sentido da vida
existência fluida que completa o idílio
sou peça do mundo um pouco cronista
do mesmo mistério em que povoo o delírio
Sou o índio o menino e o autor da poesia
uma estrela cansada na queda do ser
um poeta desesperado no tempo do ver
aqui eu canto profundo o canto do dia
Eu levo a canção para onde o magma explode
vou angariando votos múltiplos de orgia
sábio numa delícia de vida onde o poema é minha sorte
miríades exatas de um poema de sabedoria
Não atinjo o cume da palavra
palavra é o que eu quero
palavra destemida onde há verso
palavra escrita e lida onde há morada
Desde então tenho o poder da letra
a letra infinita e o tempo infinito
a letra que é um cometa
para o sol do vivido
Somos então poetas e visionários
assuntos diversos da pena louca
imagem solta
de um poeta e seus dicionários
10/01/2009 Gustavo Bastos
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VIRTUDE DEMONÍACA
No vitral reflete uma imagem angelical
onde dormiam as catacumbas dos cristãos
em fervor o demônio ameaçava do umbral
de quebrar o vitral e perder-se no mal dos pagãos
Verte o sangue a paz emudecida
taciturna e cadavérica num sopro
ardendo por sete dias de uma semana perdida
onde o imortal seria apenas o denodo
De ter tal ousadia a peste correria
enlameada peste dos algozes
na nua vida de sons de artilharia
fazendo o enterro do que veio de risos ferozes
O vento espatifaria o sacro vitral
e a dor seria um pânico irremediável
num antro de espectros sem moral
onde a astúcia é a virtude venerável
Vai o santo e o demônio na contenda do universo
fazer da manhã seguinte a paz de antanho
onde o que se dá é um amálgama diverso
na ferocidade do eterno rebanho
09/01/2009 Gustavo Bastos
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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Desta Terra Indômita
Dos frutos da terra
emergiu a poesia,
infante da harmonia
com a força dos signos
que passam pelos olhos.
A batalha do verso
não teme nada,
não há razão
para temer,
o céu é todo nosso
em seu refúgio
contemplado
de sedução.
A vida contempla
esta sonhada virtude,
que existe em descampados
para a amplitude da visão,
como se os seres fossem
atores das sensações
tal um licor de vinhos
em bebidas cáusticas,
eis o evento da existência
no seu furor carnal
em espírito imortal.
16/12/2010 Delírios
(Gustavo Bastos)
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ROSAS E MALDIÇÕES
Rosa, estrela maior da minha vida. Sou a chama livre em teu calabouço, por sentir-me só ao te ver. Ao belprazer, madona. Me é a maldição primeira, mulher. Os ritmos são belezas tuas, e eu digo só verdes em volta. A floresta, as danças, todas as fontes, todas as magias, o além que vive.
Me dou aos lobos, às presas. Eu sou o caçador, que a caça esfola, de raiva. Outros tempos morrem. E grito: “Ó Faraó! A pirâmide me jogou ao parque de Osíris.” Vês? Tu, mulher diva. Os vinhos, malditos. As paixões, carnais. Os santos, nubentes. Nas águas beatíficas de uma missa solar. Última saída.
Lá se vai o sol, vivo, no horizonte. Que o Mal nos conte todas as razões que o coração insano quer demolir. A loucura é dos alados, os presentes de grego me seduzem. Tinha a roupa de sangue, e o mar zangado. A fúria era um lençol de fogo. Os ventos roubavam as areias dos desertos, e a montanha se dissipava. Enquanto os jogos me distraíam.
Sou mais jovem que a morte. Não há mais virgens, nem leite. Tudo foi escondido. É a seca, o solo árido. Um dia sem cor. Mas, quando voltou a primavera? Lá está ... outra flor, insana flor, bela flor, o ópio.
A tumba cresce, o coração sucumbe.
Selvagem sombra dos ânimos,
Campanha de exércitos.
Um certo ritmo nos une.
Ladrões bem vestidos, todos vivos.
Como é que uma flor volta?
Que será que diz à mãe dos hinos?
Filho, à tua pátria retorna.
A realidade está nos cabelos dela,
Flor de riso deitada na areia.
O circo pegou fogo. É verdade! Os palhaços somos nós! Quem me salvou? Ó Jesus dos infernos! Um nobre de roupas rasgadas, não sou fiel aos canibais. O mundo é cruel e nojento. A pedra que atirei foi a liberdade.
Pecados infames, noites eternas.
Em minha casa, a sedução da fumaça.
Venham aos azuis, senhores vis!
Sou a arte da guerra, um chinês me doma.
Este sábio que não faz rima, só descansa.
Logo me veio o que eu pedia,
Flor sentida, me convida à simpatia.
A tenho em meus braços, e não sofro mais.
Maldição eterna? Não, só uma pesca bem sucedida. De ar e ferida. O golpe do coração me é a força! Rosa azul, rosa vermelha, violeta sorrateira. A força que me leva. É a morte? Ou será o céu? Será!
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TRIBUTO AOS ICONOCLASTAS
Devemos voltar aos salões deste inferno bíblico. Os móveis e as ilustrações dos senhores, e dos jovens que roubavam. Os ídolos são as quimeras. A Razão e a Filosofia se enobrecem sem teologia. Os santos vencem, mas perdem seus rebanhos. Qual mistério é mais miserável que este? Lembranças de um passado de sofrimentos, das guerras dos grandes líderes de nossa aventura. A mística não é mais a herança!
“É preciso fugir! Logo! Que venham às nossas prisões, os avatares.”
Deixo os símbolos, tais orgias, para os que deles se servem como execução. A fome da loucura é senhora de si, mais que a própria razão. Tudo deve ser dito em silêncio.
Quais adoradores devemos matar? Devemos perdoá-los? Por negarem o Absoluto? Ou tudo que é o tempo não é mais? Somos ainda os mesmos adoradores, os sacrílegos.
Numa noite fétida estarei num outro mar, cercado de velhas tempestades. A lua é merecedora deste castigo. E nós, infantes, mordazes, somos os destruidores.
É fácil montar uma cabana, tornar-se uma aldeia, e esquecer dos delírios da cidade. Mas, são todos, ainda, meros ladrões de corpos. Armados como bons cidadãos que são. E a palavra bela é um escarro no lixo. Um pouco de vintém não faz mal a ninguém.
Vamos voltar ao topázio, aos rubis, às safiras. Riquezas plenas e servidoras de todos os valores bons. Tal como os versos querem. Em tudo está o fim, os dias esquecidos. Vamos dar ao tributo o palco dos ferozes, dos cristãos enjaulados. O Livro, pois, foi queimado. E a História é como uma fábula, que não resiste ao imponderável.
O eterno sorriso se faz com arte, não há histéricos ou loucos. A piedade não nos leva daqui. O destino foi desacreditado. A beatitude é apenas uma conversa. O que se fazem mesmo, são fuzis. Os ídolos maiores! Verso barulhento! Como o horror deve ser. Depois, tudo volta ao normal. Que a paz não nos deixe! Ritmo que não existe mais. Desafio que foi questionado, que foi negado. Tomada de febre, rendida.
Vamos nós! Derrubar os castelos das bruxas. Os vinhos dos desertores. Para nascermos em outra barbárie, curados de todo tédio, de toda herança. Como os eremitas. Recebendo tal fartura, a comida que nos falta. Para então, recuperar o sabor do universo.
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