Passo os olhos sobre a mesa,
documentos de uma vida perdida
passam pelos meus olhos
sobre a mesa,
vi o indecente sinal
das torturas
na minha xícara de café,
sentei e pensei em como julgar
as tarefas ínfimas
a um compasso universal,
dormitando as minhas feras
no azul de minha camisa,
olhos fixos na caneta preta
da qual saem poemas pretensiosos,
e uma voz oca em meu coração
com sede de sal,
ouvindo o livro cair em meu peito
como o drama longo da estante,
como o lamento dolorido
de uma biblioteca.
Me vingo com a substância escarlate
de minha túnica de sensaboria.
Com o gládio talvez eu possa
me defender da máquina
de fazer monstros,
o hospício e seus algozes
com réus de cérebros devorados,
o céu habita a loucura,
mas a regra da loucura
é um grito no inferno.
Passo os olhos sobre a mesa.
Papéis há muito esquecidos
saem de suas profundezas abissais
e eclodem na superfície,
palavras infindáveis
saem como de um poço
sem fundo,
o mundo inteiro contido
em versos excluídos,
o cadáver e o imortal
numa flecha envenenada,
como as rimas que se perderam
no fundo do oceano,
e as várias canções derramadas
nas ilusões da noite.
Eis o notívago, boêmio cancioneiro.
Manda em teu trôpego soluço
os gritos de liberdade,
faz o eterno em microcosmo
num átimo do átomo fundamental.
27/04/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)
sábado, 27 de abril de 2013
SOBRE O ESPANTO
Espanto, terás sido morte ou amor?
O amor da morte vinga a tua flor,
os olhos pecam na força-motriz,
o corpo se espanta
da alma,
a alma se espanta
por todo o corpo.
Espanta a tua fúria,
meus olhos te completarão,
espanto é findo
em cada sorriso,
espanto de tudo.
Espanto, terás sido o que foi?
Seja o que é,
bem assim
ao espanto
calado
no fundo
do peito.
Caminha, desejo de carne e sol.
Teu espanto é o calor
no frio do abismo,
espanto que é
vontade de viver,
espanto de morrer
e renascer,
espanto de ser
o poema que fere.
27/04/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)
O amor da morte vinga a tua flor,
os olhos pecam na força-motriz,
o corpo se espanta
da alma,
a alma se espanta
por todo o corpo.
Espanta a tua fúria,
meus olhos te completarão,
espanto é findo
em cada sorriso,
espanto de tudo.
Espanto, terás sido o que foi?
Seja o que é,
bem assim
ao espanto
calado
no fundo
do peito.
Caminha, desejo de carne e sol.
Teu espanto é o calor
no frio do abismo,
espanto que é
vontade de viver,
espanto de morrer
e renascer,
espanto de ser
o poema que fere.
27/04/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)
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POEMA DO MUNDO
Hasteada a bandeira,
os pés correm
com as mãos abertas
e o peito atento.
Desperta tu que dormes!
O dia renasce
como nasce
o poema.
Vai, e diz tuas estultícias,
outro dia qualquer
serás sábio,
e do alto clangor
das esferas
verás a terra
de que és
parte.
Vai ao mundo, no céu profundo,
e o inferno nos olhos.
Volte ao mundo,
e tudo será belo
como o poema
em tudo.
26/04/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)
os pés correm
com as mãos abertas
e o peito atento.
Desperta tu que dormes!
O dia renasce
como nasce
o poema.
Vai, e diz tuas estultícias,
outro dia qualquer
serás sábio,
e do alto clangor
das esferas
verás a terra
de que és
parte.
Vai ao mundo, no céu profundo,
e o inferno nos olhos.
Volte ao mundo,
e tudo será belo
como o poema
em tudo.
26/04/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)
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O SAL DOS OLHOS
Mais límpido será o incenso
em seu cheiro à flor vindoura,
do cais não é mais que porto,
e ondas jazem nos pés
de um morto.
Asas são sonhos silvestres,
a pura hora da dor
vigia os passos ligeiros,
ode desce à terra,
qual carta de náufrago
ao navegador.
A luz invade o templo absorto
em funda meditação,
monges do átrio partem
às novas ilusões,
o sol se expande
em nau nos mares
do descanso.
Treme a terra devoluta.
Frêmito do pássaro negro
pinta o quadro
da arte
em pó
e sal.
26/04/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)
em seu cheiro à flor vindoura,
do cais não é mais que porto,
e ondas jazem nos pés
de um morto.
Asas são sonhos silvestres,
a pura hora da dor
vigia os passos ligeiros,
ode desce à terra,
qual carta de náufrago
ao navegador.
A luz invade o templo absorto
em funda meditação,
monges do átrio partem
às novas ilusões,
o sol se expande
em nau nos mares
do descanso.
Treme a terra devoluta.
Frêmito do pássaro negro
pinta o quadro
da arte
em pó
e sal.
26/04/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)
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