PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quinta-feira, 20 de março de 2025

A FLOPADA DE BOLSONARO

 “menos de 20 mil pangarés”


Ai de ti, Copacabana! A avenida, o calçadão, a praia iluminada pelo sol, em mais uma manhã aparentemente comum. Foi mais um dia para eu fazer a minha caminhada. E já se via e ouvia os sinais de um fracasso. O que pela manhã eu chamava do que seria o stand-up comedy do “imbrochável”, antessala de sua condenação, foi nada e nada menos que uma ferida narcísica em um ego frágil, mau perdedor, golpista, que deprime com a desdita. 

O que rolou, de fato, foi uma flopada inesquecível, e que pode determinar uma trajetória descendente. Mais uma história incrível do homem que encolheu, assim como acontecera com Sergio Moro, uma redução de tamanho e de relevância progressiva, gerada pelos próprios atos.

Os sabujos ainda tentaram, em vão. Os mitômanos, no sentido de bolsonarismo raiz, e não do léxico do dicionário, repetiam “mito até o fim”, e estamos no fim, é o fim. O bolsonarismo, como movimento político, continuará como uma espécie de ser folclórico acéfalo, sem trocadilho, pois o mito, a cabeça do  monstro mitológico, está para ser decapitada.

Uma aposta canhestra num bananinha acovardado já virou choradeira de um lado, e piada de outro. O filho 02, o mais convicto dentre eles, já prepara uma farsa que pretende chamar de exílio político, tentando se refugiar nas barbas da alt-right norte-americana, mendigando atenção de Trump e do trumpismo, a saga vira-lata do bolsonarismo raiz, dos moradores de Orlando do culto do Lagoinha et caterva. 

A balbúrdia bolsonarista das eleições de 2018, por sua vez, foi uma versão bem pior de populismo demagogo de direita, em comparação ao que fora a febre em torno de Fernando Collor, o caçador de marajás. Eleição de Collor que pude ver com meus 7 anos de idade, como uma criança politizada tal um adulto, pois vivia numa família que respirava política, com meu avô, Rogério Medeiros, à época, como vice-prefeito de Vitória, no mandato do prefeito Vítor Buaiz, do PT (Partido dos Trabalhadores).

No caso de Fernando Collor a febre virou revolta e movimento de rua pelo seu impeachment, depois do escândalo do Fiat Elba, da Casa da Dinda, e de PC Farias. Collor teve uma queda radical de popularidade, agravando o que já vinha desde o congelamento da moeda e confisco da poupança, e culminando no movimento dos caras-pintadas, no período em que passava a série global Anos Rebeldes na TV, sobre o período da ditadura, retratando o movimento estudantil no contexto político da época, e depois a luta armada e a tortura.

No caso de Jair Bolsonaro, depois de uma CPI da Pandemia que terminou em pizza, de coisas escalafobéticas como receitar cloroquina, ser contra vacina, negar a ciência, fazendo uma  inversão de doppelganger da alt-right, que usa o mesmo léxico de democratas, mas com sinais trocados, pois seus discursos falam de “liberdade de expressão”, “ditadura judicial”, “defesa da democracia”, etc, não teve impeachment.

O bolsonarismo foi virando um movimento político que veio do personagem exótico de programas populares, com a pretensão de apresentar um bonachão que contava piadas sem graça de caserna, culminando depois na lacrada forçada que lançou a plataforma de Jair Bolsonaro para se eleger presidente, no voto para tirar Dilma do poder.

Foi com este voto barulhento e explanado do indigitado que os tambores do apocalipse zumbi, que viria, bateram suas baquetas clamando “Brilhante Ustra etc”. E a claque foi ao delírio, saindo às ruas, mais à frente, com cartazes de inglês de cursinho de internet de 100 reais, que dizia coisas como : “Militar Intervention Already!”. E depois maçadas históricas como os alienígenas de Porto Alegre e a fatídica oração ao pneu.

A sensação de fim de festa, em Copacabana, no entanto, depois daquela balbúrdia toda, me lembrou o início do poema de Carlos Drummond de Andrade, um mago da simplicidade universal, feitor de hits, que dizia : “E agora, José?/A festa acabou,/a luz apagou,/o povo sumiu”. E vimos um Jair Bolsonaro amedrontado, falando sobre a anistia do mini-exército brancaleone do 8 de janeiro, um conjunto de idiotas que não mediram as consequências dos próprios atos, massa de manobra de mentores que porfiavam sem parar.

Tal porfia, coisa de poltrões que vivem na moita, conspirando na surdina, como pusilânimes e mofinos que são, à caça de um pretexto, para se manifestarem como gênios que saem da lâmpada, evoluía desde o voto vencido diante das Forças Armadas, no plano de golpe militar e assasinato de Lula, Alckmin e Moraes. 

Tal trama falhou na partida, ao não se achar um táxi para começar o tal plano, repleto do ardil e azáfama golpista, que teve como um início evidente o convescote montado dos embaixadores, subvertendo qualquer cartilha fundamentada de diplomacia. Um circo dos horrores, uma farsa feita por uma direção canastrona.

O fim da festa do José da vez foi melancólico. 18 mil gatos pingados, em que o governador gaguinho do Rio de Janeiro, com sua fala ininteligível em que voam trezentos perdigotos por segundo, tentou forçar a barra com uma estatística retirada do cólon retal e disse que havia 500 mil pessoas.

Quer dizer, foi uma flopada lotada, delirante, só que ninguém viu. No caso, a matrix deu pau e revelou vazios existenciais fundamentais, aporias entre as gentes, totalizando menos de 20 mil pangarés de verde e amarelo, pois puseram um Cavalo de Troia na apuração, diria Bolsonaro em outro tempo, e pediria a recontagem, batendo na mesa. 

E a real é que quem sabotou Jair Bolsonaro foi ele mesmo, seu erro fatal foi ter feito pouco, e pior, piada de uma pandemia que matou quase um milhão de pessoas somente no Brasil, se contarmos o que as estatísticas não captaram na época. Simular asfixia e morte como piada foi algo estarrecedor, e que superou a sua lacrada forçada sobre Brilhante Ustra no voto para derrubar Dilma Rousseff. Foi o fim da picada que agora virou um fim de festa, e na minha caminhada, antes da flopada, bem cedinho, em que ouvi “Mito até o fim”, parece que este fim chegou.


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/colunas/a-flopada-de-bolsonaro/



quarta-feira, 19 de março de 2025

CANTORIA LADINA

Nos contrafortes se choca o mar. 

O feudo freme, as cantorias 

dos ébrios, na servidão das máscaras

que fazem o velho jogo social.


Vemos os convescotes pobres

de free base e morfina, 

bebendo vinho na poesia.


Uma febre opiácea dos nenúfares, 

das lótus iluminadas, ao sol místico 

que deitava seu arrebol.


O poema iridescente, 

no arco do triunfo,

tem este cabedal, 

este frontispício.


Vem uma água benta alucinada,

blasonando seu florilégio,

seu vício de Pantagruel.


É o canto dos analectos,

as ladainhas de pascácios,

e os panegíricos e pantomimas

dos saraus enfumaçados.


Ali na vernissage dos

artistas depravados,

circulava, aos magotes,

o festival mambembe

dos canapés mordidos

com fúria famélica.


19/03/2025 Gustavo Bastos - Monster 

POETA VIVO

Ventos elísios, no canto do sol, a vida presente.

Veio o poema escarlate, na indômita selva

dos ares, da liberdade plena, com os vinhos

e a sede mortífera do deserto, com os pavios

curtos das explosões de uma bomba telúrica.


Treme a base dos exangues, os dizeres entre

as moitas, na ninhada de cobra de altares

que foram destruídos pelo tempo,

as arcas vazias, os tesouros não

estão lá, os navios estão tombados,

a carranca espanta uma alma triste

do umbral, e as penas capitais

soçobram, na anarquia de rum,

na vodka penhorada dos cossacos.


Vertente dos cantos de vitória,

os poemas desta estética nova,

com os vincos e frisos retos,

são como colunatas, e que

não envergam ao desastre

e ao infortúnio, e nem 

mesmo sob o jugo

da morte estará

os cantos imortais

do poeta vivo.


Gustavo Bastos - Vibe - 19/03/2025