PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

terça-feira, 21 de junho de 2011

PÁSSARO MORTO

Hoje não tem festa,

o sol desapareceu dos meus olhos,

eu tenho o câncer da maldade

na azul meia-noite vampiresca.



O sangue é o tesouro da caça,

e o emblema dos devoradores

de pássaros

é o canto negro

da solidão.



31/05/2010 Gustavo Bastos

NEGAÇÃO

Tenho vontade de gritar,

quero morrer,

ainda estou aqui.



Nestes dias não tenho palavras,

palavras para bendizer

a maldição dos dias ...



O que faço de minhas estultícias?

Quero o prazer do fogo

em minhas veias explodindo.



Tenho vontade de voar,

mas não posso.



31/05/2010 Gustavo Bastos

DE POETAS E GUERRAS

Espero tanto pelo dia vindouro,

que da cascata anuncia uma água fluvial

de esmero e torpor de céu aberto.



Quanto eu espero! Olor da rosa,

tão misteriosa e formosa!



Ali, onde jaz o funeral da traição,

não temo a tua dor escarlate,

não enxergo a tua pátria ferida.



Conclamo que todos esqueçam

os horrores da noite,

que todos tenham no olvido

todas as dores deste mundo.

Eu que não tenho medo do inverno

e nem da morte,

eu que sou forte.



Tantas são as delícias do caminho,

que nesta vida não vejo

satisfação eterna

nos sacros campos da História.



Os homens fazem as guerras,

e os versos fazem os poetas.



26/05/2010 Gustavo Bastos

OLHOS DA CANÇÃO

Olhai a vasta canção,

é feita de pó e de estrela,

é do céu a mais perfeita sonoridade.



Seja esta canção o encanto

da magia de viver,

que por um soluço após o silêncio

seja farta de belezas.



Não será uma visão pueril

e nem um verso escasso,

pois de poetas vive o viço das árvores

e o marulho do mar no seu abismo.



Olhai a vasta canção,

sua origem é o coração,

que morto ou vivo está,

que na poesia está ...

tudo mais será ruínas,

a fatalidade do tempo

é a música que brota

no eterno campo revelado

sob a forma de poema.



Não tenhais medo,

vós todos que nunca sabem

qual será a hora da morte,

se vivo estais.



12/05/2010 Gustavo Bastos

INSATISFAÇÃO

Eu não quero o suficiente,

eu quero o excedente.

Pra mim ainda é insuficiente,

eu quero o sempre.

Pra mim é pouco,

eu quero o impossível.

Eu quero mais, muito mais,

mais que o impossível,

eu quero o inimaginável.

Nunca será suficiente

de todas as coisas que quero,

para sempre vou amar

o que está além de mim,

dos poderes supremos

e do sobrenatural

e do eterno e infinito

terei tudo num segundo

que um dia acordará

no poema sem fim.



30/04/2010 Gustavo Bastos

SONHOS ENIGMÁTICOS

Pelos cantos atávicos de uma tribo

se ceifou a vida noturna em fumaça,

e toda a prole da selvageria

se ungiu em fonte eterna e pagã.



A seita na qual o enfermo convalesce

é a ordem fundamental do cosmos em poesia,

e tudo que é rarefeito torna-se sólido

como um verso de pedra.



Antigas cavernas tinham caçadores

de sonhos e delírios brutais,

hoje são apenas fósseis desnudos

e que eram enterrados sob fogueiras.



Do além o grito subterrâneo

acorda um diabinho azul

fazendo corte às mulheres do sultão,

e o cadáver revive qual lazarento

disforme em filosofal ressurreição.



Os donos das palavras

vivem no silêncio da noite,

pois é o mistério da vida

o grande enigma do pensamento.



15/04/2010 Gustavo Bastos

OCEANIA LAGUNA (THE LAKE)

Peço à vida que não perdi

um oceano de calma

sem um rio de mágoa.



Peço ao transeunte que me ignora

que olhe ao redor e não pro chão.



Poucas coisas são tão belas

quanto a enseada e o binóculo

que quer todo o horizonte.



Eu sei de coisas que não ouso confessar,

das vidas possíveis

sobrou uma boa fome

de palavras.



Exilado fui de minha cabana

e de meus idílios,

sou o corpo desfigurado

do verso como um fogo

de astúcia e vento.



15/04/2010 Gustavo Bastos