PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O Dia Miserável

Desejo a morte
como quero a vida,
o que será de mim
nesta via esquecida?
Ter a carne corrompida
em queda e desilusão
é como acordar nu nas ruas
da vida sem muros e proteção.

Toda vez que tenho o pesadelo
de ouvir uma sombra e uma risada,
sou levado de súbito como o tempo
para o lugar dos humilhados,
caio prostrado em terra
pois vi Elias cavalgar
no templo de Salomão,
senti que as pragas do Egito
foram bem vistas pelo
dileto filho José,
e tudo que ecoa na antiga sombra
é a voz de Lúcifer
na desdita de sua
falsa unção.

O senhor da morte
me passou ao silêncio,
eu tive que pecar
para entender
tanta dor de coração
numa pátria sem medo
e sem rumo,
sou o poeta que desfalece
na miséria do verso.

09/01/2010 Delírios
(Gustavo Bastos)

O Canto do Fauno

Muito do vinho que adormece
já está em minhas têmporas,
eu, náufrago de sangue,
ao vento que grita além do mar.

Pois de uma estrela
sabe a nau onde chegar,
e ao bálsamo vulcânico
sabe honrar a caveira
com que se cinge corsários.

Das vidas enterradas
em minha barriga,
sobra o canto maldito
de Caronte e suas almas,
eu o vi torpor e medo,
sem razão ofuscado pela
sombra do degredo,
e nada decifra a doce
tempestade do segredo.

Quando os dias se vão
em dezembro e janeiro,
quando cai a gota de orvalho
do verão dos musgos,
eu canto à minha musa
indolente em teatro pagão,
um anfiteatro da esbórnia
dos faunos sem pudor.

09/01/2011 Delírios
(Gustavo Bastos)