“A Noite dos Cristais foi um marco da violência contra os judeus na Alemanha nazista”
O antissemitismo na Alemanha não
surgiu com o Nazismo, pois remonta ao século XIX, por movimentos nacionalistas,
e já era presente através de personalidades alemãs da época como Hermann
Ahlwardt e Wilhelm Marr. Por sua vez, Hitler e os nazistas levantaram a tese de
culpa judaica na derrota alemã na Primeira Guerra Mundial e propalavam que os
judeus tinham um plano de dominação mundial, e faziam críticas ao liberalismo
econômico e ao capitalismo financeiro, pois afirmavam que estes eram dominados
por judeus.
Esta ideia conspiratória ganhou corpo
em um livro de origem russa de autor desconhecido que foi sucesso de vendas na
Alemanha de título “Os protocolos dos sábios de Sião”, que foi um dos clichês
mais conhecidos desta teoria da conspiração contra os judeus no mundo. Por sua
vez, o discurso nazista se alimentou desta ideia dos judeus como bodes
expiatórios e fontes da perseguição do governo nazista e também por parte de
civis alemães.
O Partido Nazista assumiu o poder na
Alemanha em 1933 e tinha no antissemitismo um de seus eixos ideológicos. As
medidas contra os judeus tiveram uma evolução contínua neste contexto do poder
nazista na Alemanha, começando por uma orientação, inicialmente, mais eugenista
do que antissemita.
A eugenia já representava uma ideologia
de purificação da raça alemã, em que se buscava promover esta purificação
colocando como alvo de discriminação grupos como os de ciganos, doentes
mentais, deficientes físicos ou com doenças hereditárias, e homossexuais.
Em 1934, contudo, o Partido Nazista
inicia o resgate de sua popularidade, diante de um cenário de desemprego e
preços ainda inflacionados, com uma orientação abertamente antissemita, junto
com a sociedade alemã, que se voltava cada vez mais contra os judeus, exigindo
medidas de segregação por parte do governo. Portanto, em 1935 começa a aumentar
a violência contra os judeus na Alemanha nazista.
O Partido Nazista tinha seu programa
escrito em 1920 que em seu artigo 4 º dizia que os judeus não deveriam ser
considerados membros da raça ariana/alemã. Diante disto, grupos antissemitas
exigiram que este programa nazista fosse cumprido, com a aprovação de leis
discriminatórias. E uma das exigências foi a proibição de relações sexuais
entre alemães (arianos) e judeus.
Cartórios, então, começaram a negar
casamentos interraciais e as lojas dos judeus foram boicotadas, ao passo que
apareciam dizeres antissemitas espalhados pelas cidades alemãs. E uma lei
proibindo casamentos interraciais foi aprovada em maio de 1935.
Até setembro de 1935, Adolf Hitler
ainda não pensava em aprovar novas leis antissemitas, mas, diante do VII
Congresso da Internacional Comunista que declarou guerra contra o Fascismo no
mundo, e um encontro com o dr. Gerhard Wagner, um médico a favor de leis contra
os judeus, acabaram por convencer Hitler a aprovar novas leis antissemitas.
Durante um dos comícios anuais de Nuremberg, Hitler apresentou estas novas
leis.
O que surgiu foram as chamadas Leis
de Nuremberg, que formavam um conjunto de leis que tratavam das questões de
miscigenação e cidadania alemã. Estas leis foram redigidas por ordem direta de
Hitler, aprovadas por ele em 15 de setembro de 1935, e pelo Reichstag
(Parlamento Alemão) no dia seguinte.
Este conjunto de leis se agrupavam em
três leis que eram a “Lei de Proteção do Sangue e da Honra Alemã”, “Lei de
Cidadania do Reich” e “Lei da Bandeira do Reich”. Estas chamadas Leis de
Nuremberg foram o passo decisivo para a consolidação da segregação e exclusão
dos judeus da sociedade alemã. A violência contra os judeus aumentou e culminou
com o evento chamado Noite dos Cristais em 1938. Este evento foi um pogrom
contra os judeus organizado pelos nazistas na Alemanha em 9 e 10 de novembro de
1938.
O termo pogrom define um ataque
organizado contra um determinado grupo de pessoas, mas se refere sobretudo aos
ataques contra judeus. A Noite dos Cristais foi um marco da violência contra os
judeus na Alemanha nazista, pois, a partir deste acontecimento que se deu a
organização dos campos de concentração de judeus, local em que estes eram
aprisionados em massa.
O nome deste pogrom, Noite dos
Cristais, por sua vez, se refere à quantidade de cacos de vidros que se
espalharam pelas ruas das cidades da Alemanha nos locais em que ocorreram os
ataques. A chamada Noite dos Cristais aconteceu devido à uma represália de um
atentado feito por um estudante judeu em Paris contra a embaixada alemã na
capital francesa em que o diplomata alemão Ernst vom Rath foi alvejado e morreu
horas depois.
O estudante realizou o ataque como
vingança contra a expulsão de seus pais da Alemanha. Este atentado produziu
tanto uma propaganda antissemita na Alemanha como motivou uma série de ataques
contra judeus em diversas partes da Alemanha. Adolf Hitler, líder da Alemanha
Nazista, e Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda, reuniram-se para decidir
que ação tomar diante do atentado, e foi orquestrado o pogrom, de forma que não
se percebesse o papel do governo alemão nos ataques.
As lideranças regionais do Partido
Nazista foram informadas das ordens e as tropas de assalto (SA) foram
mobilizadas. As ordens foram repassadas às tropas de assalto no dia em que se
comemoravam os 15 anos do Putsch da Cervejaria, um golpe que os nazistas
tentaram realizar na Baviera. As gangues fizeram os ataques da Noite dos
Cristais à paisana, para que não houvesse a vinculação dos ataques ao Partido
Nazista.
Uma das consequências do pogrom da
Noite dos Cristais foi o aprisionamento em massa de judeus em campos de
concentração, que eram três : Dachau, Buchenwald e Sachsenhausen. O total foram
de 30 mil judeus presos pela polícia.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
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