PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 17 de abril de 2010

PANDEMÔNIO

Era um tempo danoso, cá as estrelas cantam.

Me dizem para esquecer da febre,

as chuvas eram avalanches,

mortais quedas cheiravam a erro.



Peste dourada, do universo impossível.

O jardim queimado

Das palavras aventureiras.



Quando caí, me tornei um demônio.

Ora, por quais vales eu dormia?

O espírito ressurgiu nas minhas mãos.

Estava certo de todas as honras.

Quantas mortalhas eu recriei

Até reclamar numa praia deserta ...



Os faróis, as danças misteriosas.

As noites vultosas, a inspiração da vida.

Os mestres de arte são maravilhosos,

Que o infortúnio se cale.

Já dou por feita toda desgraça,

Meu belo suspense foi embora.

Vamos atacar as musas,

Ó lembrança que me emociona!

Tenho vivido um despertar dos tempos.



Morrerei sufocado, presumo. Espero que não me contem estórias irrisórias, com os falsos condenados do hospício, os verdadeiros culpados do poder. Me dêem um crédito sem retorno, um testemunho de minha vitória.

Que seja qualquer enterro agora o dos vossos lamentos. Pois não sofram mais sede de amor. Me esqueço agora.

Neblinas, escuridão das retinas, o tempo que acordou em mim é feito de ouro. Possuídos pela miragem os poetas que vivem!

É breve o meu estímulo aos revolucionários. Sem ideologia, sem revolta. A truculência será evitada. Que morram todos os sofrimentos! O perdão das claras lamentações será engolido pelo orgulho. Vamos à festa! Os nobres e os súditos brigam por comida. Que sejam felizes os cordeirinhos, todos imbecis. Mas que tolice a minha! Entrei no céu sem lavar o coração. Meu castigo será infinito, nas trevas que tanto olhei.

Chorar, é bem o que eu espero. Pois é triste a caverna, suas luzes ausentes me jogam ao inferno, outra vez. Que os calores queimem. Estou farto, não criarei mais problemas.

É mesmo um clamor, o que a retina quer dizer. Os olhos fixos apontam para um lugar incomum, a leve emoção que nos alimenta, a coragem viria aos lares dos trabalhadores, quando tudo pareceria uma boa contemplação. __ Deves pagar o meu honorário, chefe gentil.

Digo com certeza que a dinâmica do prazer se faz de gozo eterno. Os sexos se misturam, o corpo e a alma ficam satisfeitos.

Vamos à força! Não sei dos desgraçados.

Quero reféns para o meu tédio, dormem os malditos. É tudo segredo ... não tinha certeza de minha biografia. O que me lança ao céu? Serão novamente mares de sangue? Não espero. Tenho poder! Mas é mentira, sou horrível, meus costumes são nojentos. É mesmo um refúgio, tais noites de vinho, mistérios lascivos, cantorias fúnebres, palcos repletos de nostálgicos, os capitães do naufrágio.

É a idolatria que neguei, meus pecados são menos graves. Louvada seja toda justiça! É tarde que reencontro esta luta, os mares não eram sangue! Que honra, meu Deus! É breve o que contemplei, ficaria louco por vários séculos. Os versos se incorporam agora, veja isto:



Temerão a minha conquista!

A obra se edifica em ninhos de ouro.

Que as cachoeiras chorem o que eu vi!

Os mares dourados de uma vida,

Me levem com todas as pinturas.

O carinho da sorte me lançou à sua queda.



Ventos de caridade, não estou só!

É a montanha que grita,

A estrada que canta.

Melhor ficar à espreita,

Para não perder os versos,

Pois um papel é sempre útil.



Vem minha flor maldita! Estou pronto.

Me afogue no tesouro que roubei,

Todos os ladrões queriam a minha riqueza.

Dou aos asnos os restos de minhas canções.



É belo o paraíso, certamente. Os ares do poema se renovam.

Venham, almas em que tudo se perdeu ... vamos esperar a fortuna. Quem me daria o descanso eterno? Pois julguei todo armamento, com o fogo de várias torturas. Estas são as rimas que deixo:



A muralha que cerca a solidão padece,

De seu brilho eu esperava a doçura.

Sem o meu céu um inferno escurece,

Jurei diante da loucura ...



Canta a vida! Meus versos vivem.

Que se atreva um idiota!

Velha vertigem, velha porta!



Diante dos embrutecidos,

Os notívagos esquecidos.



Diante do sol vermelho,

Um sorriso como um espelho.



Vai a noite dos bêbados!

Pelos sóis, pelas luas.

Pelas correntezas das ruas.



O drama se faz nesta senda.

Não há arte mais estúpida!

Bem ... dou uma gargalhada horrenda.

Que saibam da jovem música.



Os delírios estão em minha alma,

Não tenho paz, nem perdão.

O carvão amontoado do borrão,

Meus manuscritos de esmeralda.



Que nada! Venham ver de perto,

Os temores mais violentos do meu verme,

Que corróem toda morte de inverno.



Minhas brincadeiras são verdade.

EGO ( FEBRE MORTIFICANTE)

Eu! Não sei quantas marchas fúnebres, sol irritante,

tenho que cair sem pés, mesmo cadáver, esquartejado!

A mente? Torpe desenganada, é a loucura suprema e incisiva.

Adoro cultuar o inferno, verbo estroina, vulgar derrota.

Minha febre? Constante queimar das dores.

Não sei o que quero e quero muito!



Mas, a alma é o calabouço do silêncio gritante, minha rota antiga.

Desço neste temor reverberante, fuga adentro,

tendo que esparzir novamente gases tóxicos e,

no meu estômago toda a mágoa,

nos pulmões o meu vício.

No coração arde chama eterna e esqueço de acendê-la!



Ó ventos imemoriais, tempo de tantas vidas!

De quando não se tinha o desgosto!

Sempre era primavera, verão contínuo,

outono envolvente e inverno de aconchego.

Agora? Só me resta fumar no inferno!

Morrerei de calor e depois de frio,

todos os sofrimentos serão impiedosos!

Mas, passeio por alamedas e tenho visões.

Meu dia é de Morfeu, a noite fria.



Não temerei o mistério, vou deglutir o universo!

Em verso megalomaníaco, sou eu, ego furioso!

Levo cem mil vozes sombrias comigo, falanges deformadas,

neste espaço com a minha cara inchada.



Descendo mais um pouco, encontro assassinos, estes gritam,

estorvos, vermes, demônios afogados!

No véu negro vivem em orgias extremas,

o festim é escatológico e degradante,

temos régias ornamentações de cadáveres.

Pelos rios da angústia, caminham bestiais, aos montes.

E este aqui, o verso, é reflexo dormente e febril

da peregrinação infame!

Amotinados, vários cegos. Não vêem o absurdo!

Quando penso estar livre, as ondas me arrebentam.



Eu, queda mortificante, febre contínua, claudicante,

desço sem esperar a cura. Minha alma é cega e inebriada.

Visões de planícies esperei e o fogo consumiu todas.

Ao meu lado, demônios vários, famintos de discórdia!

Meu céu é de infortúnio e já se infernizaram todos!

Deleite, falso contorno, alma que entorna êxtase,

é o concerto que se funda na semente do verso.

Eis o destino! A dilaceração!

Quebro e arrebento o meu cérebro

para encontrar o poema perfeito,

quando morrerei pensando ser Deus!



Ao fim, quando todos estiverem mortos,

serei fúnebre poesia esquecida no mar hostil.

Minha ira será sanada, minha inveja assassinada,

meu orgulho sentirá terrível humilhação,

minha luxúria se converterá em ratazanas transgênicas,

minha gula sofrerá fome de tripas,

evocarei toda a miséria da avareza,

e não descansarei jamais a minha preguiça.

Estarei na ilha, febre mortificante, sozinho e inválido.