PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 17 de abril de 2010

EGO ( FEBRE MORTIFICANTE)

Eu! Não sei quantas marchas fúnebres, sol irritante,

tenho que cair sem pés, mesmo cadáver, esquartejado!

A mente? Torpe desenganada, é a loucura suprema e incisiva.

Adoro cultuar o inferno, verbo estroina, vulgar derrota.

Minha febre? Constante queimar das dores.

Não sei o que quero e quero muito!



Mas, a alma é o calabouço do silêncio gritante, minha rota antiga.

Desço neste temor reverberante, fuga adentro,

tendo que esparzir novamente gases tóxicos e,

no meu estômago toda a mágoa,

nos pulmões o meu vício.

No coração arde chama eterna e esqueço de acendê-la!



Ó ventos imemoriais, tempo de tantas vidas!

De quando não se tinha o desgosto!

Sempre era primavera, verão contínuo,

outono envolvente e inverno de aconchego.

Agora? Só me resta fumar no inferno!

Morrerei de calor e depois de frio,

todos os sofrimentos serão impiedosos!

Mas, passeio por alamedas e tenho visões.

Meu dia é de Morfeu, a noite fria.



Não temerei o mistério, vou deglutir o universo!

Em verso megalomaníaco, sou eu, ego furioso!

Levo cem mil vozes sombrias comigo, falanges deformadas,

neste espaço com a minha cara inchada.



Descendo mais um pouco, encontro assassinos, estes gritam,

estorvos, vermes, demônios afogados!

No véu negro vivem em orgias extremas,

o festim é escatológico e degradante,

temos régias ornamentações de cadáveres.

Pelos rios da angústia, caminham bestiais, aos montes.

E este aqui, o verso, é reflexo dormente e febril

da peregrinação infame!

Amotinados, vários cegos. Não vêem o absurdo!

Quando penso estar livre, as ondas me arrebentam.



Eu, queda mortificante, febre contínua, claudicante,

desço sem esperar a cura. Minha alma é cega e inebriada.

Visões de planícies esperei e o fogo consumiu todas.

Ao meu lado, demônios vários, famintos de discórdia!

Meu céu é de infortúnio e já se infernizaram todos!

Deleite, falso contorno, alma que entorna êxtase,

é o concerto que se funda na semente do verso.

Eis o destino! A dilaceração!

Quebro e arrebento o meu cérebro

para encontrar o poema perfeito,

quando morrerei pensando ser Deus!



Ao fim, quando todos estiverem mortos,

serei fúnebre poesia esquecida no mar hostil.

Minha ira será sanada, minha inveja assassinada,

meu orgulho sentirá terrível humilhação,

minha luxúria se converterá em ratazanas transgênicas,

minha gula sofrerá fome de tripas,

evocarei toda a miséria da avareza,

e não descansarei jamais a minha preguiça.

Estarei na ilha, febre mortificante, sozinho e inválido.

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