PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quinta-feira, 20 de março de 2025

A FLOPADA DE BOLSONARO

 “menos de 20 mil pangarés”


Ai de ti, Copacabana! A avenida, o calçadão, a praia iluminada pelo sol, em mais uma manhã aparentemente comum. Foi mais um dia para eu fazer a minha caminhada. E já se via e ouvia os sinais de um fracasso. O que pela manhã eu chamava do que seria o stand-up comedy do “imbrochável”, antessala de sua condenação, foi nada e nada menos que uma ferida narcísica em um ego frágil, mau perdedor, golpista, que deprime com a desdita. 

O que rolou, de fato, foi uma flopada inesquecível, e que pode determinar uma trajetória descendente. Mais uma história incrível do homem que encolheu, assim como acontecera com Sergio Moro, uma redução de tamanho e de relevância progressiva, gerada pelos próprios atos.

Os sabujos ainda tentaram, em vão. Os mitômanos, no sentido de bolsonarismo raiz, e não do léxico do dicionário, repetiam “mito até o fim”, e estamos no fim, é o fim. O bolsonarismo, como movimento político, continuará como uma espécie de ser folclórico acéfalo, sem trocadilho, pois o mito, a cabeça do  monstro mitológico, está para ser decapitada.

Uma aposta canhestra num bananinha acovardado já virou choradeira de um lado, e piada de outro. O filho 02, o mais convicto dentre eles, já prepara uma farsa que pretende chamar de exílio político, tentando se refugiar nas barbas da alt-right norte-americana, mendigando atenção de Trump e do trumpismo, a saga vira-lata do bolsonarismo raiz, dos moradores de Orlando do culto do Lagoinha et caterva. 

A balbúrdia bolsonarista das eleições de 2018, por sua vez, foi uma versão bem pior de populismo demagogo de direita, em comparação ao que fora a febre em torno de Fernando Collor, o caçador de marajás. Eleição de Collor que pude ver com meus 7 anos de idade, como uma criança politizada tal um adulto, pois vivia numa família que respirava política, com meu avô, Rogério Medeiros, à época, como vice-prefeito de Vitória, no mandato do prefeito Vítor Buaiz, do PT (Partido dos Trabalhadores).

No caso de Fernando Collor a febre virou revolta e movimento de rua pelo seu impeachment, depois do escândalo do Fiat Elba, da Casa da Dinda, e de PC Farias. Collor teve uma queda radical de popularidade, agravando o que já vinha desde o congelamento da moeda e confisco da poupança, e culminando no movimento dos caras-pintadas, no período em que passava a série global Anos Rebeldes na TV, sobre o período da ditadura, retratando o movimento estudantil no contexto político da época, e depois a luta armada e a tortura.

No caso de Jair Bolsonaro, depois de uma CPI da Pandemia que terminou em pizza, de coisas escalafobéticas como receitar cloroquina, ser contra vacina, negar a ciência, fazendo uma  inversão de doppelganger da alt-right, que usa o mesmo léxico de democratas, mas com sinais trocados, pois seus discursos falam de “liberdade de expressão”, “ditadura judicial”, “defesa da democracia”, etc, não teve impeachment.

O bolsonarismo foi virando um movimento político que veio do personagem exótico de programas populares, com a pretensão de apresentar um bonachão que contava piadas sem graça de caserna, culminando depois na lacrada forçada que lançou a plataforma de Jair Bolsonaro para se eleger presidente, no voto para tirar Dilma do poder.

Foi com este voto barulhento e explanado do indigitado que os tambores do apocalipse zumbi, que viria, bateram suas baquetas clamando “Brilhante Ustra etc”. E a claque foi ao delírio, saindo às ruas, mais à frente, com cartazes de inglês de cursinho de internet de 100 reais, que dizia coisas como : “Militar Intervention Already!”. E depois maçadas históricas como os alienígenas de Porto Alegre e a fatídica oração ao pneu.

A sensação de fim de festa, em Copacabana, no entanto, depois daquela balbúrdia toda, me lembrou o início do poema de Carlos Drummond de Andrade, um mago da simplicidade universal, feitor de hits, que dizia : “E agora, José?/A festa acabou,/a luz apagou,/o povo sumiu”. E vimos um Jair Bolsonaro amedrontado, falando sobre a anistia do mini-exército brancaleone do 8 de janeiro, um conjunto de idiotas que não mediram as consequências dos próprios atos, massa de manobra de mentores que porfiavam sem parar.

Tal porfia, coisa de poltrões que vivem na moita, conspirando na surdina, como pusilânimes e mofinos que são, à caça de um pretexto, para se manifestarem como gênios que saem da lâmpada, evoluía desde o voto vencido diante das Forças Armadas, no plano de golpe militar e assasinato de Lula, Alckmin e Moraes. 

Tal trama falhou na partida, ao não se achar um táxi para começar o tal plano, repleto do ardil e azáfama golpista, que teve como um início evidente o convescote montado dos embaixadores, subvertendo qualquer cartilha fundamentada de diplomacia. Um circo dos horrores, uma farsa feita por uma direção canastrona.

O fim da festa do José da vez foi melancólico. 18 mil gatos pingados, em que o governador gaguinho do Rio de Janeiro, com sua fala ininteligível em que voam trezentos perdigotos por segundo, tentou forçar a barra com uma estatística retirada do cólon retal e disse que havia 500 mil pessoas.

Quer dizer, foi uma flopada lotada, delirante, só que ninguém viu. No caso, a matrix deu pau e revelou vazios existenciais fundamentais, aporias entre as gentes, totalizando menos de 20 mil pangarés de verde e amarelo, pois puseram um Cavalo de Troia na apuração, diria Bolsonaro em outro tempo, e pediria a recontagem, batendo na mesa. 

E a real é que quem sabotou Jair Bolsonaro foi ele mesmo, seu erro fatal foi ter feito pouco, e pior, piada de uma pandemia que matou quase um milhão de pessoas somente no Brasil, se contarmos o que as estatísticas não captaram na época. Simular asfixia e morte como piada foi algo estarrecedor, e que superou a sua lacrada forçada sobre Brilhante Ustra no voto para derrubar Dilma Rousseff. Foi o fim da picada que agora virou um fim de festa, e na minha caminhada, antes da flopada, bem cedinho, em que ouvi “Mito até o fim”, parece que este fim chegou.


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

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quarta-feira, 19 de março de 2025

CANTORIA LADINA

Nos contrafortes se choca o mar. 

O feudo freme, as cantorias 

dos ébrios, na servidão das máscaras

que fazem o velho jogo social.


Vemos os convescotes pobres

de free base e morfina, 

bebendo vinho na poesia.


Uma febre opiácea dos nenúfares, 

das lótus iluminadas, ao sol místico 

que deitava seu arrebol.


O poema iridescente, 

no arco do triunfo,

tem este cabedal, 

este frontispício.


Vem uma água benta alucinada,

blasonando seu florilégio,

seu vício de Pantagruel.


É o canto dos analectos,

as ladainhas de pascácios,

e os panegíricos e pantomimas

dos saraus enfumaçados.


Ali na vernissage dos

artistas depravados,

circulava, aos magotes,

o festival mambembe

dos canapés mordidos

com fúria famélica.


19/03/2025 Gustavo Bastos - Monster 

POETA VIVO

Ventos elísios, no canto do sol, a vida presente.

Veio o poema escarlate, na indômita selva

dos ares, da liberdade plena, com os vinhos

e a sede mortífera do deserto, com os pavios

curtos das explosões de uma bomba telúrica.


Treme a base dos exangues, os dizeres entre

as moitas, na ninhada de cobra de altares

que foram destruídos pelo tempo,

as arcas vazias, os tesouros não

estão lá, os navios estão tombados,

a carranca espanta uma alma triste

do umbral, e as penas capitais

soçobram, na anarquia de rum,

na vodka penhorada dos cossacos.


Vertente dos cantos de vitória,

os poemas desta estética nova,

com os vincos e frisos retos,

são como colunatas, e que

não envergam ao desastre

e ao infortúnio, e nem 

mesmo sob o jugo

da morte estará

os cantos imortais

do poeta vivo.


Gustavo Bastos - Vibe - 19/03/2025

quarta-feira, 12 de março de 2025

O INFERNO DE TRUMP (FINAL)

“O inferno de Trump é o caos diplomático como política de hegemonia”


Trump tanto é a voz como joga para esta América branca, racista, xenófoba, e que ainda tem o fetiche do Destino Manifesto, e do ineditismo norte-americano, como um lugar especial, do país mais poderoso do mundo, de uma hegemonia perene. 

E no caso da Europa ocidental, a ruptura é grave, tendo no centro do problema a questão ucraniana, com hipócritas como o presidente da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, que pede a renúncia de Zelensky, presidente ucraniano que a esta altura já acusou o golpe e admitiu a proposta trumpista, após a suspensão da ajuda militar norte-americana.

Este acordo de paz de fancaria, uma “pax americana”, é na verdade um arrego do governo de Zelensky, que tem tudo para retalhar a Ucrânia para os interesses dos Estados Unidos, na exploração dos metais de terras raras, para a produção de material tecnológico, ligas, chips etc. Mais uma vez, é a América grande de novo, e a América em primeiro lugar.

O rompimento com a Europa ocidental, por sua vez, representa o aspecto mais profundo e impactante desta guinada geopolítica norte-americana, trumpista, encerrando um paradigma que surgiu após o fim da Segunda Guerra Mundial, e que é um mergulho no escuro, pois os efeitos do fim da Otan, do racha do Ocidente ao meio, produz uma instabilidade política, comercial, econômica, que pode ter reflexos até em acordos ambientais e climáticos, dificultando o diálogo entre as nações, num mundo novo e pior, depois de ter almejado um mercado globalizado, de trocas comerciais racionais e de crescimento econômico mundial.

Donald Trump move as peças do jogo geopolítico segundo determinações e interesses próprios, privativos aos Estados Unidos. Ao menos é o que Trump acredita, que é o de estar impondo, a ferro e fogo, a hegemonia do Tio Sam. É o Big Stick na versão de tarifaços e gestos surreais contra o Canadá, em anúncios de anexação inauditas.

No caso de Trump, tais anúncios não são bravatas, mas uma carta de intenções, pois é tudo real no discurso mão dura trumpista. Os casos citados ainda se somam à ideia de um resort em Gaza, que é nada mais que a proposta de uma limpeza étnica, criando um balneário de ricaços, que pode virar um parque de criminalidade financeira e sexual.

A aliança com Benjamin Netanyahu, por sua vez, tem como objetivo a reafirmação da guinada sionista de extrema direita em Israel, que é um dos poucos países do mundo com bombas nucleares, e que representa um eixo norte-americano dentro do mundo árabe. 

E esta ideia de invasão de Gaza, portanto, é o clímax de uma postura segregacionista, que é uma pré-disposição trumpista e de seus eleitores supremacistas e racistas, podendo gerar uma nova geração de jovens malucos influenciados no ódio por organizações como o Estado Islâmico e outros, numa revolta renovada contra o Ocidente e os Estados Unidos.

Por sua vez, as investidas agônicas de um governo feito de miríades de decretos sem passar pelo Congresso, numa tática de estresse constante, pois é uma sucessão de movimentos sempre marcados pela dureza irracional, sob protestos de grupos de congressistas democratas, foram renovados agora com o primeiro discurso de Trump diante do Congresso norte-americano. Que foi mais um episódio desta tragédia mundial do trumpismo.

Lá no Congresso dos Estados Unidos, por sua vez, Trump teceu suas ideias e medidas governamentais sobre imigração, combate a transgêneros, além de planos como a intervenção no Canal do Panamá, na Groenlândia, passando por anúncios de tarifas amalucadas.

A coisa toda continuou, por conseguinte, com gestos estereotipados de ufanismos e chauvinismos baratos, patrocinando imposturas ridículas e sem legitimação internacional como a suposta mudança do nome do Golfo do México para Golfo da América etc. O que se viu no púlpito era o delírio de grandeza de um presidente, e que pode ser sintetizada no cartaz de uma deputada democrata, que traduzido para o português, dizia : Isso não é normal.

Por fim, o inferno de Trump é o caos diplomático como política de hegemonia, cevado por um discurso mão dura, e que ainda pode culminar em intervenções e invasões inauditas que, de tão fora da curva, parecem se tratar de bravatas, algo comum na política, mas que no caso de Trump é tudo muito sério e real. A carta de intenções está na mesa, e não se trata de uma teoria da conspiração da alt-right, pois esta é só a sua fonte ideológica de contraste e confusão. O que vemos agora, no entanto, é um ensaio geral do Big Stick, com todas as suas afetações.


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário :

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quinta-feira, 6 de março de 2025

O INFERNO DE TRUMP - PARTE 1

“Trump e Putin pensam e usam táticas imperialistas do século XIX”


Uma cena inusitada, bem bizarra, se desenhou no Salão Oval da Casa Branca. Era a encenação de uma humilhação. Nunca se viu um diálogo tão agressivo, ao vivo, para o mundo inteiro, entre governantes de países, em encontro pretensamente diplomático, mas que virou uma saraivada da hipocrisia e arrogância norte-americana, condensada em Trump.

Tal cena ganhou ares mais obscuros com J.D.Vance, em cima de um acuado Zelensky, representando o elo mais fraco, de mãos atadas, reagindo, pela última vez, a uma investida desmoralizante. E não se sabe se o desastre foi ensaiado, ou um verde jogado por um ardil trumpista, com a linha auxiliar de J.D. Vance, ou se a reação de Zelensky foi o que despertou os instintos narcisistas do atual governo norte-americano.

Da propalada e conhecida arrogância diplomática dos Estados Unidos, de seu imperialismo narcisista, tal cena é uma epítome do que se vê, historicamente, da conhecida hipocrisia da real politik deste imperialismo dos Estados Unidos, cuja única preocupação não se dá com valores caros como a paz, a comunhão das nações, ou coisa que o valha, mas o maior benefício, em sentido utilitarista, do próprio Estados Unidos.

A cena constrangedora e humilhante, num didatismo que parecia de inspetores escolares diante de um adolescente ou criança que se comportara mal, foi surreal. Era uma caricatura dantesca, e que representa agora uma virada do paradigma geopolítico mundial, que culmina com o derretimento da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). E o patético da cena toda era o de um presidente de uma nação de joelhos, num tipo de diplomacia de psicopatas, de uma presa acuada, que estava sendo estraçalhada por lobos, rapinas ou raposas políticas.

Esta virada diplomática trumpista representa a quebra do pacto da Otan, que é a coluna vertebral do edifício erguido nos acordos do pós-guerra, organização surgida depois da derrota do Eixo e do estabelecimento de um mundo bipolar da Guerra Fria. Esta criação da Otan, por sua vez, produziria uma reação do bloco socialista da época, com o chamado Pacto de Varsóvia, pacto este que foi extinto com a queda do Muro de Berlim, o desmantelamento da Cortina de Ferro e a dissolução da União Soviética.

A ruptura com antigos aliados, por parte da política trumpista, por sua vez, dá um sacode na ordem geopolítica mundial, cuja aliança se fecha em torno de Putin e de sua autocracia de gângster, com assassinatos de oligarcas e envenenamento de presidentes opositores. 

Putin é o líder russo mais longevo da História, ultrapassando Pedro, o grande, e Stalin, o ditador do totalitarismo soviético, este que fez um expurgo de inimigos, na tradição da KGB, que também operava nos bastidores, com técnicas escusas de gângster e quetais, com eventos criminais como a morte de Trotsky, que se encontrava exilado no México quando foi assassinado, por exemplo.

A partir do pós-guerra, em 1945, a chamada ordem mundial liberal passou a se fundar em órgãos internacionais, que regulavam tanto o direito internacional como os regramentos das relações internacionais, com a ONU (Nações Unidas), com sua Assembleia Geral e Conselho de Segurança, fortalecendo compromissos, normas e princípios, em que se estabeleciam o respeito à soberania, à integridade territorial, além da resolução pacífica de disputas e a rejeição do uso da força e a defesa dos direitos humanos.

Tal ordenamento internacional foi subvertido pelas invasões russas na Ucrânia, o que não foi um ineditismo, pois na História recente também tivemos a Guerra contra o Terror, do governo norte-americano de George W. Bush, contra o chamado Eixo do Mal, projeto que terminou na metade, sem as intervenções na Síria e no Irã, e com países como Iraque e Afeganistão virando verdadeiros atoleiros para as Forças Armadas dos Estados Unidos. 

Tais quebras de regras também já tinham ocorrido, também, na Guerra dos Bálcãs, com crimes de guerra do ditador sérvio Slobodan Milosevic, em Srebrenica, na Bósnia-Herzegovina, com flagrantes violações aos direitos humanos. Ordem mundial liberal esta que também se funda em valores como o do livre comércio, defendido por instituições como a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. 

Contudo, os Acordos de Helsinque, de 1975, que foram tratados assinados entre os Estados Unidos, a então União Soviética e as nações da Europa, para reforço da integridade territorial, inviolabilidade das fronteiras e a não interferência nos assuntos internos de cada país, estão sendo destruídos pelas tratativas entre Trump e Putin.

O que ocorre na restauração dos laços econômicos entre Washington e Moscou é algo semelhante a um novo Acordo de Munique, ou um novo Pacto Molotov-Ribbentrop, uma revolução diplomática que dissolve todos os princípios acordados e assinados nos Acordos de Helsinque. 

Trump e Putin pensam e usam táticas imperialistas do século XIX, podendo ter um paralelo com o que ocorreu na Conferência de Yalta de 1945, em que os Estados Unidos, a União Soviética e o Reino Unido dividiram a Europa em esferas de influência após o fim da Segunda Guerra Mundial.

Por sua vez, Trump coloca em prática o tarifaço, já com a reação do Canadá, do México e da China, numa tática que faz anúncios mão dura, podendo alternar com pequenos alívios, num jogo complexo que atua de modo disruptivo e que planta o caos diplomático numa dinâmica que pode, se tiver mesmo uma radicalização, ser autodestrutiva, desagregadora, muito mais para criar um mercado inflacionado, tenso, do que para um esperada vitória hegemônica dos Estados Unidos, como Trump acredita.

O viés econômico destes tarifaços de Trump é irracional, baseado no discurso mão dura, feito por emoções tóxicas, e que produz ruído, caos, mal estar, com um líder mundial de maus bofes, sofrendo de mal secreto, bufão, tarado, e que mantém esta imagem populista dentro de seu país, que é cultivada pelos mais idiotas da nação, como disse em coluna anterior.

(continua)


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

O XERIFE DO MUNDO

 “a China irá passar os Estados Unidos em tamanho de PIB”


A volta de Donald Trump ao poder norte-americano traz uma versão mais perigosa do que se teve em seu primeiro mandato. Após escapar de um atentado por um triz, Trump garantiu todo um desdobramento histórico, pois um atentado daquele seria uma divisão de rumos caso se concluísse tragicamente. 

Um rápido movimento de pescoço definiu, portanto, o que acontece agora e como os Estados Unidos chegaram até 2025. Temos o início do segundo mandato desta figura que, além de ter escapado da morte, é um presidente que sofreu processos diversos, e é mais um desses priápicos clássicos do poder, só não mais patético que Dominique Strauss-Khan.

A ideia dos Estados Unidos como xerife do mundo, consolidada no pós-guerra, no anticomunismo, na guerra fria e no macarthismo, ganha nova configuração com o segundo mandato de Donald Trump, trocando a iminência de consequências atômicas, por controversas batidas do big stick com tarifaços que, a médio prazo, podem fazer o feitiço voltar contra o feiticeiro.

A moeda política, para Trump, portanto, é mais valiosa que as consequências econômicas de sua guerra comercial. O seu capital político cevado pelo “drill, baby, drill”, da insana exploração do fracking, vem somada a uma retomada de prioridade para a exploração petrolífera, num renovado negacionismo ambiental e climático, com retiradas do Acordo de Paris e quetais, misturando bravatas e medidas efetivas, pois Trump só não peca por falta de clareza, deixando tudo à luz do dia.

A nova investida contra imigrantes ilegais que, até certo ponto, poderiam ser justificadas, acaba sendo distorcida por uma generalização xenófoba que termina com deportações de pessoas que não cometeram crimes, a não ser a ilegalidade da entrada no país, sendo tratadas como gado e até algemadas, chegando aqui no Brasil, por exemplo, com estes relatos de um tratamento violento, como se todos os deportados fossem bandidos e pessoas perigosas.

Ideias tresloucadas como anexações da Groenlândia e do Canadá, por sua vez, inauguram um imperialismo norte-americano movido a alucinações à moda Q-Anon, um dos braços de mistificações, fake news e teorias da conspiração que se associam à alt-right de Steve Bannon e sua tática do que Naomi Klein coloca como um espelho invertido da realidade, como um espantalho, mais bem traduzido por doppelganger.

Contudo, não estamos mais no auge da globalização e do mundo unipolar, nem diante da competência fiscal de um governo como foi o de Bill Clinton, o que ocorre agora é um caminho já traçado em que a China irá passar os Estados Unidos em tamanho de PIB (Produto Interno Bruto) e que vence a guerra tecnológica mundial, ao passo que os Estados Unidos tentam fazer acordos bilionários de investimentos na corrida pela inteligência artificial geral, a AGI, na sigla em inglês.

O imperialismo norte-americano, neste caso, se nutre agora do ego frágil de Donald Trump, numa tentativa de recuperar protagonismos que talvez não tenham volta, e toda a nostalgia do Destino Manifesto, por conseguinte, se tornará o produto cultural de uma nação autocentrada, e que um dia acreditou ser a convergência mundial para todas as coisas, uma espécie de eixo de tudo e colocando os parâmetros para todos os outros países, que é exatamente este tique de xerife do mundo, de que Trump agora padece, numa História que não se repete, mas rima, como dizia o escritor Mark Twain.

Por sua vez, ao lado da figura de Donald Trump, temos a persona histriônica de Elon Musk, que coloca mais um fator de disrupção delirante em campo, pois apesar dos progressos da Space X, um sucesso, contrabalançada com a crise da Tesla, temos esta figura que comprou o Twitter, mudou o nome para X, e se voltou para a extrema direita, com ecos de nazismo e apitos de cachorro, repetidos agora por Steve Bannon, o mentor intelectual da alt-right.

O papel de xerife do mundo, do big stick, parece agora ser uma miríade de medidas tarifárias, e internamente com o governo emitindo medidas para inundar a burocracia do país, tendo como alvos preferenciais a desconstrução das políticas woke e para o aumento das deportações de imigrantes ilegais. 

Esta ideação tipicamente norte-americana de xerife do mundo, um dos produtos do Destino Manifesto, só que ao nível global, que se configurou sobretudo no pós-guerra, por fim, nos dá a impressão de que agora se está ouvindo as últimas batidas de um big stick que pode, a qualquer momento, ser roído pelos chineses.

A China, por sua vez, com a disciplina confuciana e uma sutileza taoísta, já coloca o capitalismo liberal e a democracia representativa ocidental cambaleando diante de um capitalismo de Estado comandado por uma burocracia partidária comunista, uma cabeça de Jano que devora o sonho americano e que desafia paradigmas iluministas consagrados.


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.


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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

CANÇÃO DO CASTELO

A sorte ao chão se curvou,

no traçado, no rastro da serpente, 

toda enroscada em meu labor,

frutífera, lacônica espada do sol,

luciferiana chama que não se apaga.


Eis o poema, este febril canto,

na sétima centúria o plasma

se modifica, e os versos entremeiam

rios, e este sangue de rio, que é 

um mar castanho claro e escuro, 

que sangra no estuário 

de meu literário sono, 

eis o tempo.


Na ordem templária, 

descortinada toda alquimia, 

nascia a vinha de enxofre,

de cada castelo se tinha

a areia do fim.


Eu vi o rito esfarelado antigo,

bebendo vinho na noite astuta, 

na bem vivida litania.


Querem matar os asnos,

matar os camelos,

atirar nos pássaros.


As leoas pariram

Cérbero, e a tigresa,

mordendo os molares,

cruzou o gelo da Sibéria,

em busca de uma arraia

no Baikal.


Pois, não me surpreendo, estou chapado.

Lá no limo das estepes da Mongólia,

com a cara enfiada no ópio,

estava o novo escritor

destas fábulas azinhavres,

o tradutor fiel e profundo

deste tempo vil da vileza.


Gustavo Bastos, 26/02/2025 - SUBLIME

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

A CONVERSA FIADA VESTE TOGA

“a turminha do funcionalismo gourmet que vive em Downton Abbey”

Saiu agora uma reportagem de O Globo meio que sublinhando o que já sabíamos, que é o espírito corporativo e de casta do Poder Judiciário no Brasil. E isto se dá em todas as suas instâncias, incluindo até o Ministério Público, em um caso clássico, no qual a legalidade, por meio de normas infralegais, tais como portarias etc, serve a uma imoralidade disfarçada, normalizada, em que o teto constitucional de remuneração dos servidores públicos no país é subvertido sistematicamente.

Através de fundamentações casuísticas, para favorecer magistrados que atuam em causa própria, vemos um poder blindado até das reformas administrativas propostas, pois esta casta privilegiada não faz parte da Administração Direta do Executivo. Eles podem emitir suas próprias regras, para si mesmos, por decisões administrativas interna corporis. Ou seja, ali ninguém irá se prejudicar, muito pelo contrário, e ainda contam com a contribuição de um CNJ (Conselho Nacional de Justiça) que atua de maneira tíbia e hipócrita diante destes arbítrios perante o orçamento público.

Usa-se de uma miríade de medidas infralegais para dar um verniz de fundamentação jurídica para o que, na realidade concreta, é imoral. O positivismo de Kelsen no Brasil virou algo manobrável ao paroxismo, produzindo jabuticabas ao serviço de nababos de uma casta à parte. Este espírito de corpo de nossa Downton Abbey está repleta de penduricalhos, cevada de indenizações, pagamentos retroativos e licenças compensatórias, sendo fundamentadas por sofismas alimentados pelo despautério, pela desfaçatez e pelo cinismo.

Tais penduricalhos, muitas vezes, aparecem como rubricas que recebem o beneplácito de não serem descontados no Imposto de Renda, este leão feroz para os comuns dos mortais e um tigre de papel diante da muralha brâmane das damas de companhia, mordomos, copeiras, motoristas, cozinheira, métrie, babás, auxiliares de serviços gerais, piscineiros, toda a gama de benefícios para a turminha do funcionalismo gourmet que vive em Downton Abbey. O reino mágico de Alice.

Diante deste Mundo de Alice, em que se toma o chá mágico das cinco, o funcionalismo raiz, por exemplo, de professores, em alguns Estados da Federação, aguardam reajustes que, ao menos, atualizem valores da inflação, com alguns eternamente alimentando, ainda, esperanças vãs de verbas extraordinárias vindas do Fundeb, e que são efêmeras, passando a carreira inteira num rame-rame, até se aposentar, sem ver nada pingar na moringa.

O corporativismo sonso do Poder Judiciário, com efeito, é reverberado pela instância mais alta, o Supremo Tribunal Federal, com ministros que exalam vaidade, e que ainda justificam uma distorção que, nas contas de O Globo, somam R$ 7 bilhões, e que “considerando todos os valores de indenizações e direitos eventuais, o total chegaria a R$12 bilhões” (fonte : O Globo). 

Estes valores são equivalentes a verbas de gestão de um Ministério robusto da esfera federal, por exemplo, tal como o Ministério do Meio Ambiente, só que multiplicado por três, é um assalto. E as justificativas são enviesadas, em que magistrados se protegem mutuamente, fechados em copas. Este é o corporativismo sonso da Justiça brasileira.

Para agravar a crise moral, temos agora um sistema jurídico sob suspeitas de corrupção, com casos se multiplicando, sobretudo, neste último ano de 2024, envolvendo vendas de sentenças, que pune (quando pune) apenas com aposentadorias túrgidas, sem descontos, revelando um Poder Judiciário disfuncional e onívoro.

Tais magistrados suspeitos estão incrustados no sistema de tal forma, que o colapso destes rábulas assanhados travestidos de jurisconsultos, sendo protegidos por respostas protocolares de seus colegas, mesmo diante de escândalos em sete Estados da Federação e na segunda Corte mais importante do país, só pode advir de uma punição exemplar, e que demandará uma resposta sistêmica à altura do contorcionismo linguístico e da ginástica hermenêutica dos preclaros magistrados. 

Este jogo de poder, que não é limitado pelo CNJ, cria pequenos magistrados autoritários, tais como um desses descendentes de famílias tradicionais com sobrenome composto, vindos das capitanias hereditárias que, por sua vez, eram descendentes dos degredados de Portugal.

Tais degredados se tratavam de uma malta de ladrões e punguistas expulsos do Império, um sangue ruim, amargo, e que um de seus tataranetos deu uma carteirada, num fiscal, durante a pandemia, arrotando um francês macarrônico, para “humilhar” o fiscal que lhe estava notificando, em que o desembargador mimado rasgou a notificação, sendo gravado, no entanto.

Diante dos problemas fiscais do país, que não pode alavancar a sua dívida pública impunemente, pois não tem moeda conversível, as justificativas e fundamentações para tantos penduricalhos, que sustentam o Judiciário mais caro do mundo, é a hipocrisia a serviço do escárnio.

É uma casta privilegiada sambando na cara da sociedade civil assalariada, sobretudo do funcionalismo raiz, que é sempre o primeiro e talvez único a ser objeto destas propaladas reformas administrativas, diante de um Legislativo intacto, de cargos de poder e miríades de DAS (Cargo de Direção e Assessoramento Superior) e cargos comissionados se multiplicando. Diante de assessorias numerosas, a serviço, muitas vezes, de rachadinhas. 

E, por seu turno, no topo do sistema, temos um Judiciário intacto, incólume, com uma carapaça intransponível pela burocracia administrativa, e com a vista grossa de um CNJ que faz parte desta mesma estrutura de casta.

Contudo, a opinião pública começa a perceber o escárnio, pois a sanha é tanta, que agora o rei está nu, o rabo está para fora do tapete, e existe uma jamanta sendo cevada indefinidamente com verbas vindas do Tesouro, dinheiro do contribuinte, para sustentar a casta nababesca de Downton Abbey, com justificações bizarras de um corporativismo cínico, vaidoso e, eventualmente, com desembargadores arrotando na cara de fiscais e ameaçando jornalistas.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/colunas/a-conversa-fiada-veste-toga/ 


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

AMERICAN IDIOT

“O sonho americano é para os americanos”


Com a volta de Donald Trump ao poder, está também de volta o suprassumo do que conhecemos como o idiota americano. Este é uma mistura de MAGA (Make American Great Again), WASP (White Anglo-Saxon Protestant), Red Neck (Nuca Vermelha) e Jerk (Caipira). 

Os Estados Unidos é dividido entre regiões mais cosmopolitas, tais como Nova York, Chicago, Los Angeles, em que estes jerks são objeto de piada e de bullying, e as regiões onde estes chamados caipiras estão, que é predominantemente o Meio-Oeste (Mid West) e estes jerks representam a figura clássica do norte-americano alienado e idiota. 

Tal alienação pode se misturar a tendências conservadoras, e mais adiante, adquirindo tons reacionários, xenofóbicos e racistas. A Klu Klux Klan, por exemplo, é um movimento de supremacia branca que surgiu nos anos 1860, no sul dos Estados Unidos, acabando uma década depois, por ato de uma lei federal, e ressurgindo com o sucesso do lançamento do filme O Nascimento de Uma Nação, em 1915, de D. W. Griffith, neste mesmo ano, agora mais no Meio-Oeste e no Oeste.

Donald Trump é este norte-americano astuto, um populista que cai como uma luva para o norte-americano médio, sem falar nos abaixo da média, e que reverbera este ranço racista, xenófobo, da anti-diáspora, que coloca todo latino-americano, por exemplo, em uma condição de banditismo, merecendo nada mais que as humilhações da La Migra e um retorno para o seu país de mãos abanando e maldizendo o “sonho americano”.

Donald Trump, com o MAGA, quer resgatar este desejo de um Grande Estados Unidos, este cacoete meio que tese histórica ou ego narcisista de um “Destino Manifesto”, desde a Doutrina Monroe, que é este sonho de grandeza de nação, dos maiores e melhores do mundo, e que foi uma grande realidade no pós-guerra, mesmo com a ameaça da União Soviética, contudo, com a maestria de se tornar a maior indústria cultural do mundo, com o seu clímax sendo Hollywood. 

Donald Trump, depois de um período de globalização, e que foi uma espécie de Pax Americana, de ascensão de um mundo unipolar, em que o sonho do imperialismo nunca foi tão real, agora enfrenta uma máquina de copiar, piratear e de potência comercial insana que é a China. A China, que no mundo diplomático, alguns costumam dizer que “enquanto alguns não sabem o que querem, os chineses sempre sabem”.

O jerk é este americano médio, que almoça McDonalds, o MAGA que passou do sobrepeso e flerta com a obesidade, o idiota que tem fetiche pela bandeira dos Estados Unidos, o grande símbolo norte-americano, de um país que se beneficiou como nenhum outro país dos acordos de Breton Woods e depois, com a mudança para uma economia neoliberal, aproveitou o fim do padrão ouro e tornou o dólar a moeda conversível de troca de todo câmbio, o que autoriza aos Estados Unidos produzir uma dívida pública que pode ser alavancada como nenhuma outra, e que tem como um dos principais credores a … China.

O sonho americano é para os americanos, e não para os imigrantes, assim como é de César o que é de César e não de um plebeu que busca uma vaga numa empresa de limpeza e faz uma faculdade para, quem sabe, ser uma das exceções que deram certo no país que é feito para os norte-americanos brancos. O fato é que latinos ocupam empregos baixos, e o movimento negro, por sua vez, depois da superação da segregação literal que durou até meados dos anos 1960, lida agora com a violência policial com atos impulsionados pelo “I can`t breathe”.

O idiota astuto de pele laranja representa o americano médio, que é o americano idiota. E mais idiota que o jerk, que ao menos tem bens materiais, uma casa e um negócio, e pode ter tempo para bizarrices do quilate de uma “máfia dos tigres”, de um Joe Exotic et caterva, temos os idiotas brasileiros, em comitiva, que deram com a cara na porta na posse de Donald Trump.

Eduardo Bananinha et caterva, contando, claro, com a incansável Carla Zambelli, na sua eterna mendicância pela aprovação do chefinho magnânimo Jair Bolsonaro, fizeram papel de palhaço na corte de Donald Trump, e pior, saíram em fase de negação, continuando o périplo de rematados sabujos de um presidente de outro país que, last but not least, não está nem aí para o Brasil, que para os Estados Unidos é tão irrelevante quanto a caricata e pretensa diplomacia de guerra de Lula na Ucrânia, que virou mais uma piada contada por Zelensky.

Por fim, existe este idiota americano, e agora temos seus imitadores no Brasil, com bonezinho do MAGA, detonando um dos episódios mais ridículos da política brasileira, a guerra dos bonés, que se o doente em coma que Jô Soares fazia em Viva O Gordo acordasse, gritaria na hora : “Tira o tubo!”.


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

O GOLPE BOLSONARISTA - FINAL

 “o ex-presidente não pode se candidatar a nenhum cargo eletivo até outubro de 2030”


Além da tentativa de golpe no final de 2022, Jair Bolsonaro esteve envolvido em outros esquemas que foram noticiados nos últimos tempos, tais como o caso das joias e o da fraude dos cartões de vacinação. O esquema de negociação ilegal de joias por delegações estrangeiras à Presidência da República, por exemplo, teve Bolsonaro e outras onze pessoas sendo indiciadas em julho do ano passado.

Neste caso das joias, Bolsonaro foi indiciado pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro e peculato. No caso das fraudes dos cartões de vacinas, Bolsonaro, Mauro Cid e mais 14 aliados foram indiciados pelos crimes de associação criminosa e inserção de dados falsos em sistemas de informações. Este inquérito é o que envolve a suposta fraude de cartões de vacinação da Covid-19.

A investigação do caso dos cartões de vacinação, por sua vez, começou a partir da suspeita, por parte da Polícia Federal, de que Mauro Cid, além de outros assessores, teriam ajudado na emissão de cartões falsos de vacina contra a Covid-19 do então presidente Jair Bolsonaro e de sua filha. Tal falsificação, por fim, era a garantia da entrada de ambos nos Estados Unidos no final de 2022, antes da posse de Lula como novo presidente.

Mesmo com Jair Bolsonaro negando seu conhecimento sobre a falsificação, a Polícia Federal detectou registros do acesso da conta associada ao ex-presidente no aplicativo ConecteSus, o sistema do Ministério da Saúde que emite o certificado de vacinação, de dentro do Palácio do Planalto, por Mauro Cid, para a emissão de comprovantes falsos de vacinação contra a Covid-19.

Por tal acesso ter sido feito no próprio Palácio do Planalto, a Polícia Federal levanta a hipótese de que Jair Bolsonaro estava ciente de tudo. Além disso, tal fraude se estendeu à emissão de cartões para Mauro Cid, sua mulher e as três filhas do casal, e mais dois assessores do então presidente. Todo este movimento estava ligado à entrada dessas pessoas nos Estados Unidos.

Além desses indiciamentos, Jair Bolsonaro foi condenado a oito anos de inelegibilidade. Tal condenação, por sua vez, se fundamentou em dois processos separados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O primeiro foi em junho de 2023, que envolveu a condenação do ex-presidente por abuso do poder político no famigerado convescote que ridicularizou a diplomacia, o que se traduziu numa reunião de embaixadores estrangeiros, em Brasília, meses antes das eleições presidenciais, usando meios de comunicação do governo para persuadir das suspeitas e dúvidas levantadas contra a integridade do sistema eleitoral brasileiro. 

O segundo processo no TSE, por sua vez, se deu em outubro de 2023, desta vez tanto por abuso do poder político como agora também do econômico, uma vez que Bolsonaro usou recursos públicos nas comemorações do Dia da Independência do Brasil, em seu bicentenário, em 2022, para fazer campanha eleitoral.

Toda esta movimentação de contestação das urnas e depois a tentativa de golpe fracassada dos kids pretos, além da série de prisões efetuadas contra fanáticos bolsonaristas que depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília, numa tresloucada, porém orquestrada, tentativa de golpe, levou a uma radicalização cada vez maior de parte da população que aderiu às ideias extremistas  e reacionárias de uma direita anti-democrática e intervencionista, que muitas vezes pode se associar a um tipo de neo-fascismo, e nos bas-fonds mais obscuros, até ao neo-nazismo.

Foi neste contexto de radicalização que podemos inserir mais um caso exótico, tragicômico, em que um senhor, em surto delirante, morreu na Praça dos Três Poderes, deitado sobre um artefato que explodiu, isso depois de ter lançado explosivos na direção do STF. Este senhor vinha de uma saga de postagens nas redes sociais, nas quais atacava o STF e pedia urnas eleitorais auditáveis. 

Era um senhor em sofrimento psíquico, que ao fim deixou um recado de tom messiânico e se vendo como um tipo de mártir, no que escreveu : “Não chores por mim! Sorria! Entrego minha vida para que as crianças cresçam com liberdade (…) Aqui de cima posso ver claramente as cores do nosso lindo e amado Brasil, verde, amarelo, azul e branco. SOMOS UMA NAÇÃO ABENÇOADA!”. Este senhor se chamava Francisco Wanderley Luiz e já tinha sido candidato pelo PL.

N antevéspera do que seria a invasão dos Três Poderes em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023, Jair Bolsonaro, após a decretação do resultado eleitoral com a vitória de Lula, não reconheceu, de imediato, a sua derrota, rompendo a tradição política de manifestação pública dos candidatos após a divulgação do resultado das eleições.

Bolsonaro só se pronunciou 40 horas depois, com declarações ambíguas, dizendo : "Os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral. As movimentações pacíficas sempre serão bem vindas, mas os nossos métodos não podem ser o da esquerda, que sempre prejudicaram a população".

No caso da depredação das sedes dos Três Poderes, o episódio levou à detenção de mais de 2 mil pessoas nos dias 8 e 9 de janeiro de 2023, com 1,4 mil pessoas permanecendo presas nas primeiras semanas de 2023. A condução dos inquéritos foi conduzida pela PGR (Procuradoria Geral da República), realizando investigações em parceria com a PF (Polícia Federal), oferecendo denúncias contra manifestantes ao STF (Supremo Tribunal Federal).

Os casos aceitos pelo STF, por sua vez, fizeram que investigados passassem a ser réus em ações penais na Corte, com pelo menos 1.524 denúncias da PGR aceitas pelo STF e que viraram ações penais. Por sua vez, familiares e defensores destes réus contestaram que os julgamentos sejam feitos na Corte ao invés de serem feitos em instâncias inferiores.

Além destas contestações, tivemos iniciativas de parlamentares de direita que, por sua vez, atuam para o avanço de projeto de lei para a concessão de anistia a crimes políticos e eleitorais cometidos no contexto das eleições de 2022 e dos ataques de 8 de janeiro de 2023.

Sobre a PL da Anistia, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, criou no fim de outubro uma comissão especial para discutir o assunto. Com isso, ele retirou a PL da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ). Com isso, ele tira o tema do debate envolvendo a sucessão na presidência da Câmara, pois se trata de uma moeda para negociação do apoio das duas maiores bancadas da casa, PT e PL.

A comissão especial deverá ter 34 membros. Caso uma proposta seja aprovada ali, esta seria encaminhada, em seguida, para votação no Plenário. Não há, por enquanto, cronograma definindo a data de início do trabalho da comissão. Mesmo com a sensação de vitória para apoiadores de Jair Bolsonaro, com esta comissão especial, Lira também retirou a tramitação de outro projeto de lei de anistia, este de autoria do Major Vitor Hugo (PL-GO), da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

A questão da anistia virou moeda de troca no apoio a candidaturas à presidência da Câmara, com o PL condicionando seu apoio ao avanço da ideia, e o PT, o contrário. Agora tivemos as eleições dos presidentes das duas casas do Congresso para a nova legislatura, com Hugo Motta (Republicanos-PB) sendo eleito presidente da Câmara, e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) sendo eleito presidente do Senado.

No Senado, por sua vez, existe outro projeto de lei de anistia, este de autoria de Hamilton Morão (Republicanos-RS), que foi vice-presidente de Jair Bolsonaro. O projeto de lei está em consulta pública, com reclamações de parlamentares de oposição sobre a demora na tramitação no Senado. Para saber, a Constituição prevê que o Congresso Nacional possa conceder anistias. Contudo, também temos projetos que buscam uma anistia a Jair Bolsonaro no sentido de reverter a sua inelegibilidade,, pela qual o ex-presidente não pode se candidatar a nenhum cargo eletivo até outubro de 2030.


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário :

https://www.seculodiario.com.br/colunas/o-golpe-bolsonarista-final/

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

PARDON, MY FRENCH

Como é a palavra esta porra deglutida, que sai para fora,

depois do engulho, numa lufada, baforada, golfada.

Na dança dos corpos, semi-glote, palato, língua.


Semaglutida, na linfa, amígdala, impulsiva,

palavra várzea, motora, psíquica.

A poesia, esta matéria urdida, costura

da vida, tece o tecido e faz a pele de 

poeta, na poeira da areia do mar.


Faz essa messe, estourada, e tem 

viço, xinga, maldiz, atordoa.

Tem de tudo na palavra livro,

na palavra livre, do Deus me

livre, do me livre que eu sou

liberdade, pardon, my french,

coma esta bosta, tua quizila,

tua bazófia, morra na masmorra.


Este poema não é teu,

este poema é meu.

Toda esta palavra,

assim dada para mim,

tece minha messe,

meu caminho,

por todo o rito,

sem peia, dando

na moleira,

não cala,

não tem 

meneio.


Este meu castelo que fiz,

minha porta, minha janela.

Esta, minha casa, meu estro.


Pois, de cada fome, está cheio

o poema brio, repleto, pleno.

Um poema de sol, de lua,

assim assim, toda a sinistra,

a destra, na ambidestra

escansão.


Gustavo Bastos, 31/01/2025 - MONSTER